quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Depois de te olhar nos olhos

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Caminhei meus passos.
E todos eles deram até você.
Te encontrei.
Te vi de longe.
Surtei por dentro. Com calma.
Sorri verdadeiramente por fora.
Chorei com força por dentro.
Tu me viste.
E não se contentou.
Cheguei mais perto. Tu se descontentou.
Mas me olhou.
E isso me matou um pouco mais.
E sorriu.
Me fez sentir.
Sentiu meu sorriso, pois escondi muito bem o meu choro.
E o meu pedido de que venha pegar tuas coisas que deixei bagunçadas no meu quarto.
Mas queria pedir também para pegar, mas não ir embora.
Coração explodiu.
Coração apertou.
Coração chorou.
E eu senti toda aquela dor que eu senti há um tempo atrás.
E percebi que ela está muito mais forte em mim do que tudo que ousei sentir por ti. Um dia.
Mas que talvez ainda sinta.
Aqui dentro.
Bem aqui dentro.
Muito aqui dentro.
E eu aperto o peito apertado para que ele se acalme e não chore.
Para que ele não surte e não se desespere.
E eu te pedi um abraço. E você me deu. Descontente. Estranha. Distante. Mas me deu.
E esse foi o momento mais assombroso que esse ano poderia me dar.
Novamente.
E tu olhou em meus olhos e me perguntou como estão as coisas. Eu sorri. Sorriso largo. E disse que estava me virando. Tu disseste que estava tudo bem. Se virou e foi embora.
Outra vez.
Mais uma vez.
Outra vez mais.
E eu chorei.
Coração sufocou.
E eu te perdi da minha vista, mais uma vez mais.
E eu percebi o quanto dói te amar tanto assim. Nas escuras. Escondido. Sem poder falar ou gritar para o mundo que dentro de mim ainda bate um amor que tanto me fere.
E te encontrar abriu mais ainda a ferida que nunca havia cicatrizado.
E isso está me matando cada segundo mais.
Eles dizem para mim "Seja forte. Você precisa ser forte", mas eu só penso em desistir depois que meus olhos caíram de encontro aos teus.
E eu bebi muito mais.
Dei alguns tragos a mais.
Escrevi muito mais.
Chorei muito mais.
Pensei muito mais.
Ansiei muito mais.
E a tontura me invade a cabeça. E as dores no estômago empapuçado de besteiras queima como nunca queimará antes. Me sinto cansado. Me sinto exausto. Me sinto distante. E eu só queria soltar para ti tudo que existe dentro de mim, mas minha voz se cala sempre que insisto em ouvir o teu nome. É triste demais ter a quem amar e não poder nem sequer falar. Espero que penses que não te amo mais. Espero que penses que estou muito melhor sem ti. E que todas as coisas que passamos não significam mais nada. E espero que penses que meu peito não dói e dilacera toda vez que caio de encontro com nossas lembranças. Espero que penses que eu não sinto tua falta todos os dias. E que eu não pense em você todas as porras de dias em momentos em que acredito estar feliz, mas são esses momentos em que caio com alguma alegria que vejo que não estou feliz estando longe de ti. E ser feliz sem ti será muito, mas muito difícil de se suceder. O coração não respira já faz um tempo. Os pulmões não carregam o ar como eu preciso. O estômago não responde minhas dores. E a mente não te esquece nem por um decreto.

Eu não irei mentir, nem para ti nem para ninguém, eu já quis muito deixar de existir nesse mundo em que já não tenho tua voz cansada para me dizer que tudo não passou de um sonho ou de uma piada muito sem graça. E não irei mentir sobre todas as vezes em que perco as forças quando meus amigos falam para eu te ligar e saber como andam as coisas. Me sinto mal. Me sinto fraco. Me sinto incapaz. E eu sinto todas essas sensações ruins sobre uma pessoa que, um dia, me fez sentir ser o homem mais incrível e feliz do mundo. Essa luz se apagou faz tempo. Minha luz se apagou faz tempo. Perdi a minha essência a partir do momento em que fui capaz de deixar você sair da minha vida. E essa porra machuca para um caralho?! Tu não fazes ideia. Teu sorriso foi o suficiente para me mostrar que teus passos foram dados para um caminho em que minhas pegadas não estão ao lado das tuas. Pensei em desistir diversas vezes depois que te encontrei, mas eu gostaria muito de ver teu olhar mais uma vez por qualquer canto que for. Humilhante, mas verdadeiro. Triste, mas esperançoso. E foi muito bom te sentir outra vez.
E saber que ainda existe aquele teu jeitinho brilhante dentro de ti fez com que eu me tornasse um pouco menos amargo do que eu costumava estar. As coisas vêm sendo muito difíceis sem ti, meu bem. Espero que saiba disso alguma hora.
E eu escrevo essas minhas últimas palavras do ano e te dedico cada palavra. Essa carta poderia apenas ter seu nome, mas não sou corajoso para me entregar assim. Não dessa forma. Mas tenho aqui todas as minhas últimas palavras do ano e são todas sobre como me sinto em relação a ti, outra vez.

- Você é a última pessoa que eu gostaria de ter encontrado aqui!

E essas palavras me arrasaram e fizeram o meu ano acabar ali mesmo. E a minha vida. E a minha alma. E a minha essência. E o meu sorriso. Tudo emudeceu e se apagou como num passe de mágica. E todo o brilho de esperança que eu tinha dentro de mim de, um dia, me sentir, verdadeiramente, bem, morreu em teus braços quando se virou e foste embora de minha visão.
Eu estou cansado.
Cansado de lutar.
Cansado de tentar.
Cansado de pensar.
Cansado de sentir.
Cansado de estar e ser vazio.
Cansado de te imaginar.
Cansado de te esperar.
Cansado de me sentir cansado.
Cansado de pensar no fim.
Cansado de querer o fim.
Como eu quero agora.
Como eu quis ontem.
Como eu quis logo depois que te vi.
E eu gostaria de botar este fim.
De alguma forma.
Já pensei em todos os modos e maneiras e momentos para não mais existir.
Mas todos eles continuam me falando "Seja forte, por favor. Apenas seja forte".
Meu estômago queima. Minhas entranhas se colidem. Meus sonhos estão apagados. Minha boca amarga. Meus olhos cheio de lágrimas. Minha mente está muito cansada para continuar. Minhas mãos não aguentam mais escrever. Estou cansado. Exausto. Morto. Cansado. Cansado. Cansado.
Cair de encontro a ti fez toda a dor ser re-significada. E isso está acabando comigo.

Tenha um ótimo ano.
O fim de uma década.
O fim de outro ano chegou.
E eu desejo qualquer coisa boa para quem estiver lendo essas minhas palavras.
Mesmo sabendo que você que está lendo não se importa com nada escrito aqui.
Em pouco tempo esquecerá todas as palavras e tudo o que quis decifrar e dizer aqui.
Eu gostaria de esquecer facilmente. Dessa forma. Desse jeito.
Não vou mentir, mais uma vez, meu ano acabou há alguns dias atrás.
Meus dias também.
E eu só penso na desistência.
Cansei de ser forte.
Cansei de escrever.
Cansei.
Estou exausto.
Ame! Com cautela, mas ame! E não se esqueça dos perigos. Nunca. Jamais.
Mas ame. Ame muito.
Porque eu faria tudo outra vez.
Eu era realmente feliz naquela época onde eu era capaz de amar de verdade.

Feliz ano novo.
Deixo aqui mais uma carta ou poema ruim que insisto em escrever.
Mas isso é bom. Encontrei um alivio. E isso me faz ter certeza que não pensarei tanto assim em deixar de existir. Não hoje. Não agora.

Obrigado por esse ano. Aprendi muita coisa.

Terminei meus últimos versos. E talvez sejam mesmo. E eu chorei escrevendo cada palavra.
Gostaria de proferir teu nome sem espinhos entraram no meu peito.

Amém!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

...enfim, me despeço!

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Por mim. Por ti.
Por nós. Por vós.
E o coração esquisito como todas as estranhezas que o mundo lá tem.
E o estômago esburacado com tanta merda mastigável que fui capaz de digerir.
E que não disse nada.
Apenas digeri.
E deixei aqui dentro junto dessa vontade absurda de pegar o telefone e te ligar para saber como estão as coisas.
Minhas mãos tremem ao pensar em ouvir a tua voz me dizendo que tudo está bem.
E eu sei que estas bem.
Mas isso não me incomoda, não como deveria, não como todos pensam que eu deveria pensar em ficar feliz com tuas más noticias. Eu nunca quis isso de ti por sempre querer o melhor de ti.
Não. Não me incomoda.
O que me incomoda é saber que estas melhor sem mim em ti.
É saber que teu coração bate tão forte para o mundo quanto batia por mim.
E machuca mais ainda saber que teu estômago não está tão empapuçado de tanta ladainha de todos aqueles romances que a gente insiste em se arriscar a se entregar quanto o meu.
Tanta besteira intragável entra por um ouvido e sai pelo outro que já desisti, mais uma vez do amor.
Da mesma forma que tu tens desistido de nós.
Da mesma forma que tenho desistido de mim.
Mas eu gostaria, meu bem, de te escrever está carta para te dizer que tenho insistido em não lembrar de você, porque isso machuca por demais.
E eu gostaria de te dizer também que meus olhos choram sangue toda vez que minha mente cansada insiste em me lembrar de você. Eu lembro que não sou capaz de te esquecer e isso faz com que eu me torne um fraco.
E desde que coloquei meus olhos em você, tu tens sido a minha maior fraqueza.
E todos sabem disso.
Sempre souberam.
E eles sempre irão comentar pelas minhas costas que não sou capaz de deixar de amar você.
Nisso eles estão certos.
Eles estão errados, meu bem, quando falam que sou forte o suficiente para apagar tudo isso daqui de dentro e te esquecer e superar e seguir em frente quando, na verdade, me sinto cada vez mais fraco por saber que não sou tão forte estando cada vez mais longe de ti.
Eu não sou forte sem você. E esse é o clichê romântico de adolescente que tenho vivido dia após dia.
E esse clichê machuca. E machuca até demais.

- Sinto que estou beirando a desistência. Não me aguento mais. Não aguento mais.
- Você precisa ser forte, cara. Você precisa continuar forte. Não desiste.
- Tem dias que é tão difícil. Tão difícil.
- Eu sei. Continua forte, cara. Continua forte. Não abaixa a cabeça. Não olha para o fim.
- O fim é apenas o que enxergo. Está difícil não pensar em outra coisa. Quando penso nela, lembro do fim. Quando lembro do fim, penso no meu fim. E isso me deixa tão, mas tão para baixo.
- Não desiste!
- Vai chegando essas horas da noite e vai batendo uma angústia.

Coração angustiado.
Estômago empapuçado.
Mente esburacada.
Olhos derramando lágrimas de sangue.
Ouvi o rádio tocando uma música qualquer.
E na TV qualquer porcaria se passava.
Ouvi o latido dos cachorros de rua.
Olhei pelas frestas do meu quarto e enxerguei luzes laranjas das calçadas que iluminam nossas noites.
E eu pedi para algo me iluminar.
Mas tudo sempre se apaga quando peço qualquer tipo de ajuda.
Voltei para o que estava focado em fazer.
Ah sim, veja bem. Oh sim, uma carta.
Mais uma carta.
Mas essa era uma carta diferente.
Estranha carta. Outra carta. A última carta.
E eu pensei em tantas coisas para te falar, mas não escrevi nenhuma delas.
Você nunca lê.
Porque, meu bem, se eu te escrevesse o melhor poema, tu jamais se importaria.
E mesmo que eu te fizesse a melhor das canções, tu nunca ouviria.
E sempre que eu penso em te ligar, lembro que não fazes questão nenhuma de ouvir minha voz.
E eu minto para os meus amigos que tudo aqui dentro está bem.
Eu sorrio de mentira para que percebam e acreditem que não estou sofrendo com a tua distância.
Eu bebo e minto que é para me divertir quando, na verdade, eu bebo para te esquecer.
Eu escrevo minhas cartas e minto que tudo está definitivamente em seu lugar quando, na verdade, tudo está mais bagunçado que todas as prateleiras do meu quarto.
Eu sei, querida, eu sei que você me pediu para ser forte. E saber a hora de parar. E olhar para frente e enxergar meu futuro porque, de acordo com tuas palavras, eu sou uma pessoa incrível e tenho muita coisa linda para viver, mas eu não enxergo um palmo a frente sem visualizar o caos do teu olhar sobre mim em julgamento por todos os erros entre nós que cometi.
E eu sinto saudades desse teu olhar. Não o que me julga, mas sim o que me perturba por saber que tens o melhor olhar de todo universo seguido de um belo sorriso que me pede para ficar e não te deixar.
E eu preciso te dizer, meu amor, que tenho vivido da pior forma do mundo, não por fora, mas aqui por dentro. Meu coração é mais angustiado que o de todos os poetas que já se passaram por nós. Meu estômago é o mais esburacado e ressecado do que todos os que foram capazes de amar que existiram no mundo. E ainda sim, eu continuo tentando seguir meus caminhos sem a tua direção.

Eu tenho tentado, meu bem. Juro, estou tentando ser cada vez mais uma pessoa melhor. E ter um coração bom e olhar para as pessoas como artistas de sentimentos bons. Juro que tenho tentado me manter em forma. E me cuidar mais. E me ajudar mais. Mas todas as manhãs o meu corpo arde para se levantar porque sabe que não tem suas mãos para me ajudar a enfrentar todos os sufocamentos que o mundo nos entrega. E esses dias eu lembrei que eu poderia estar tendo o pior dia da minha vida. Tudo poderia estar errado. Estragado. Inflamado. Abusado. Absurdo. Imundo. Perdido. E mal falado. Tudo. Mas eu saberia que quando caísse de encontro com teus braços, nada disso lá fora faria algum sentido para mim.
Os teus braços me mostravam todas as coisas boas e perfeitas que o mundo é capaz de ter. Eu encontrei a perfeição em apenas um só coração e deixei toda essa merda escorrer pelo ralo. E hoje, meu amor, me sinto culpado o suficiente para te dizer adeus de vez. E te pedir para que não fiques triste jamais, porque eu lembro que todas as vezes em que te vi triste, o mundo choveu tuas lágrimas e tudo ficou cinza. E quando você abria um sorriso no dia seguinte, eu abria as janelas e todo o poder do sol e o céu azul estavam exalando sob nós.

Eu sinto tanto tua falta. Mas tanto.

Eu odeio despedidas, meu amor. Você sempre soube disso, não é mesmo?!

- Eu te conheço, meu bem, sei o que se passa ai dentro de ti.

Sim, você sempre soube.
E eu derramo todas as minhas lágrimas por todos os dias lembrar que te perdi, amor da minha vida.
E eu me despeço, enfim!
A gente odeia despedidas, mas chega uma hora que elas são necessárias, não é querida?!
Acho que te escrevi minha última carta.
E sei que não irei me arrepender dela.
Sei que entreguei meus melhores - e piores - sentimentos, mas é tudo por você e para você.
E as três palavras que jamais entregarei, VERDADEIRAMENTE, para outra pessoa, sou capaz de escreve-las e dedica-las de corpo, alma, mente e espírito para ti: Eu te amo.

Adeus, meu bem.
Você me faz muita falta para continuar lutando como tenho tentado.
Adeus!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Cais dos sentimentos - por todas as vezes que chorei em silêncio!

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Eu segurei tuas mãos geladas embaixo das cobertas e as apertei com força.
Você se juntou mais forte a mim.
E eu chorei em silêncio.
Apertei tuas mãos um pouco mais forte.
Você respondeu de volta com o mais macio aperto.
E acariciou os meus dedos.
O frio passou. O choro congelou. O coração respirou.
E minhas palavras o vento te levou.
Palavras soltas que eu imploro já faz um tempo.
"Não vá embora. Não me deixa assim. Não tenho forças sem você".
E tu respondestes com o mais macio aperto de mãos que alguém poderia me dar.
E cruzou tuas pernas entre as minhas.
E colocou tua cabeça em meu peito dizendo o quanto sentiu minha falta.
Eu pedi mais uma vez para você me deixar ficar.
Você balançou a cabeça que sim.
E neste balanço teu perfume subiu e invadiu minhas narinas.

Acordei.
Suado.
Assustado.
Chorando.
Coração acelerado.
Mente esgotada.
Boca amarga.
Peito sangrando.
Alma em pedaços.
Olhei para todos os lados e não te enxerguei.
Novamente.
E eu chorei.
Sufoquei.
Surtei.
Lutei e relutei.
Apaga esse pensamento da minha cabeça. Apaga. E apaga. E apaga.
A tontura me invadiu.
A falta de ar piorou.
Meu grito silencioso ficou mudo e vazio.
Meus passos eu já não aguentei dar.
Minhas mãos formigavam.
Minhas forças se esgotaram.
E eu entrei em coma dentro de minhas próprias lembranças.
Me afundei em meu casulo e olhei para dentro de mim mesmo.
Viajei. Fui para oceanos e mares e rios. Fui para o espaço e planetas e viajei em cometas.
Voltei para o cais dos sentimentos onde eu sempre te encontrei.
E senti frio. Muito frio. E o peito sufocou. E minhas mãos ficaram mais trêmulas.
E eu senti o inverno que invade meu coração desde o dia que se foi.
E eu olhei para frente e encontrei o farol que tanto olhávamos juntos.
Consegui sorrir.
Cheguei na beirada do cais dos sentimentos. A brisa do mar deixou o clima muito mais frio do que era capaz de sentir. Não me importei. Arranquei os sapatos. Sentei na beirada do cais. Coloquei os pés dentro do mar calmo e lembrei de você, mais uma vez.
Pensei em te escrever. A famosa história clichê de criar uma carta, colocar dentro de uma garrafa e soltar no mar para que um dia ela chegue até você e faça meu coração respirar por você saber tudo que ainda ouso sentir sobre nós. Isso me entristece, porque não importa quanto tempo irá levar, minhas palavras jamais chegarão até você e cada vez mais o tempo passa e o tempo do meu tempo se encontra aflito por não saber a hora de parar. E meu peito não sabe mais como continuar. E a gente tem muito medo de não aguentar mais e falhar por conta de sentimentos que nós mesmos criamos.
O farol estava aceso e girando da forma como ele sempre faz. Passando por meus olhos e fazendo eu enxergar uma luz nos meus caminhos. Olhei para o lado, mais uma vez, e não te vi. Senti vontade de vomitar. Senti vontade de colocar tudo aqui dentro para fora. E então, uma lágrima escorreu dos meus olhos. Me tira daqui, eu pensei. Me leva para bem longe daqui. Não deixa minha vida acabar. Não deixa eu partir para muito mais longe do que estou de ti. Não. Não deixa.
Olhei para o mar. Desci um pouco mais meus pés. E senti muito mais frio do que deveria. Minhas lágrimas secaram. Meu coração desacelerou. Meus sentimentos sucumbiram. E minha mente foi tomada por uma escuridão sem um ponto sequer de clarão ou fechos de luz.
E então, eu percebi que realmente não importa quanto tempo passe, meus sentimentos e pensamentos jamais chegarão até você e terei que continuar fingindo meus sorrisos e saudades todos os dias em que acordo. Minhas cicatrizes estão todas abertas. Minhas feridas estão sangrando. E eu não me importo de estar indo embora pouco a pouco.
A minha maior tristeza não é partir para a última viagem. A minha maior tristeza é tomar esse caminho sabendo que você não sabe mais que existe alguém que te ama com todas as forças e que nunca esqueceu do som da tua voz.
E eu gostaria de segurar as tuas mãos e pedir para deixar meu coração respirar ao teu lado por saber que você é e sempre será a minha maior fraqueza, a minha maior ferida e o meu maior tormento.
E eu já não tenho mais forças de escrever todas as minhas palavras esperando você voltar.
E eu já não sei mais como olhar para o farol no meio do mar e enxergar você.
E eu já não sei mais encostar no cais dos sentimentos e sentir você.
Te perco cada vez mais e tenho medo de continuar.
Muito medo.
Meu peito tremeu forte o suficiente para eu me deixar deitar nesse cais, ainda com os pés no mar, olhar para os céus e pensar em jogar o resto do meu corpo naquela escuridão fria. Fechei os olhos e me imaginei afundando com as mãos para cima. Nessa esperança de que me puxes e me salve, a escuridão tomou forma completa sob a minha vida.
E ela acabou.

"Deixa eu ficar!"

Acordei.
Acordei de mais um sonho lúcido.
Dessa vez, sonhei acordado.
E isso têm se tornado cada vez mais triste aqui dentro.

- Estou te sentindo muito para baixo, filho.
- Me sinto fraco. E com muito medo.
- Quer me falar alguma coisa?
- Não consigo esquecer ela. Toda vez que eu penso nisso, sorrio vazio e me sinto infeliz.
- Como está sua depressão, filho?
- Cada vez pior. Muito pior. E tudo se multiplica quando lembro dela.
- Você tem que ser forte, filho. Muito forte. Tudo isso depende de você. Só de você.
- Eu já perdi as forças. E desisti tantas vezes.
- E sobreviveu a todas elas. Escreveu hoje?
- Eu só escrevo quando não estou bem e nem isso tenho mais vontade.
- Você tem que ser forte, filho. Conversa comigo quando perder as forças, ok?
- Ok.
- Não desiste, filho.

A falta de ar tomou conta de mim.
E eu cansei de chorar tantas e tantas vezes em silêncio.
Peguei meu telefone e pensei em te ligar, mas isso me desmontaria mais ainda.
Tua voz sempre foi minha fraqueza.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Sinto que estou num mar onde você me jogou sabendo que eu não sei nadar

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- Querida, sabes quantas vezes minhas paranoias me mataram hoje?
- Não sei, meu bem. Quantas?
- Perdi as contas, querida. Perdi todas as contas.

Tenho medo de terminar os meu versos.
Tenho medo de terminar esta carta.
Medo de que não chegue até você como anseio que chegue.
E as palavras já não fazem sentido para mim, mas algo aqui dentro implora para que todas elas cheguem até você e te lembrem que não sou capaz de te esquecer.
Me tira daqui, querida.
Me leva para longe.
Para muito longe.
Pegue minhas mãos geladas e me leve para bem longe daqui.
Para outro universo. Para outro oceano.
E salva esse coração que já se perdeu há algum tempo.
Me leva para bem longe, muito longe. Onde ninguém possa nos encontrar e me faça acreditar que eu jamais te esqueci. Me faça acreditar que tudo não passou de um sonho e que todas as minhas palavras ainda não são em vão.
Consigo proferir o teu nome, mas ainda não consigo escreve-lo em minhas cartas. E ainda sim, sinto um medo perturbador de continuar todas as minhas cartas sempre que insisto em lembrar que todas as minhas palavras são proferidas para ti. E isso me atormenta dia após dia.
E a insônia vem me visitar muito mais do que você costumava fazer. E eu acordo suado todas as noites no meio da madrugada e me vejo sonhando com teu rosto e tentando lembrar o som de sua voz.
Que essas palavras ecoem madrugada a dentro e toquem teu coração de alguma forma, por mais breve que seja, para que lembres, meu bem, para que lembres que sou absolutamente incapaz de te esquecer.
Tu me fez sentir, querida.
E não importa quanto tempo essas minhas palavras ecoem por todas essas esquinas e madrugadas. Não importa que tu não me ouves mais e nem sequer lembre o tom de minha voz dizendo em teu ouvido que eu era feliz ao teu lado. Não. Não importa. O que importa é meu sussurro desesperado para que penses que sou incapaz de viver sem o calor de teus braços. E isso me assusta, mais uma vez.
E eu tenho medo, querida. Tenho medo de não me sentir como um dia tu foste capaz de fazer com que eu me sentisse. Tão bem. Tão puro. Tão feliz. Tão simples. Tão tudo no meio do nada. Tão nada no meio do tudo. E todas as vezes que tu foste capaz de fazer com que eu me sentisse forte, quando no fundo era só fraqueza, não sai de minha mente. E o teu sorriso quando tudo se encontrava perdido não sai da minha cabeça aflita por saber que este sorriso jamais cairá de encontro ao meu novamente. E o meu tormento é saber que minha voz muda não ecoa através do teu coração para que sinta que o meu coração não é suficientemente capaz de viver longe dele.
E eu gostaria, querida, gostaria de receber noticias tuas que me fizessem acreditar que o amanhã mais lindo existe no fim de todas as coisas sem cores que o mundo está sendo capaz de me entregar desde que foste embora.
E te pedir para ficar está muito longe do que eu posso oferecer. Não sou mais capaz de te prender a mim. Nem nunca quis isso. Sempre desejei que fosses livre para fazer o que quiseste. Mas gostaria de não ter sido covarde suficiente para soltar tuas mãos e deixar que enfrentasse esse mundo sozinha, mesmo sabendo que tu és e sempre será forte o suficiente para derrubar qualquer muro capaz de nos travar por nossos caminhos.
Tu nunca mais irá me ouvir. E isso não me assusta, apenas me entristece. Não adianta o quanto eu escreva e peça e implore e chore e me desespere, tu nunca mais irá me ouvir.
Espero que passes bem, meu bem. O teu sorriso foi a melhor coisa que eu enxerguei em toda a minha vida e é esse sorriso que não sai nunca da minha mente.
Eu tento enxergar em outros sorrisos o sorriso teu, mas nenhum, nunca, jamais, será igual. E nenhum sorriso nunca, jamais, me trará a paz que o teu sempre foste capaz de me entregar.
Tu me fez sentir, meu bem.
E, mesmo que eu tenha muito medo de continuar, sigo caminhando na esperança de que um dia eu possa te encontrar. Mesmo que eu saiba que nossos poemas já não são tão parecidos como sempre foram.
E isso me deixa incapaz de ter coragem suficiente para olhar, novamente, eu teus olhos e acreditar que não são eles que sempre me deram força suficiente para enfrentar esse mundo que tanto me derruba.

- Meu bem, você está bem?
- Não. Não estou bem.
- Sabes que beber faz com que todas as lembranças e memórias que tu queres esquecer acentuem ainda mais em tua mente, não sabe?
- Eu bebo para esquecer, mas sempre me pego chorando ao fim da noite.
- Se cuida, meu bem. Se cuida!

Me deixa ficar.
Me deixa ficar aqui te esperando.
Me deixa ficar aqui acreditando que tu irá bater em minha porta.
Me deixa ficar aqui esgueirado sonhando com o dia que me abraçará.
Me deixa ficar aqui terminando meus versos e poemas e cartas e tristezas.
Me deixa chorar. Me deixa surtar. Me deixa lembrar que não te tenho.
Me deixa implorar. Me deixa sozinho. Me deixa fingir esquecer.
Será que nós dois somos capazes de fingir tão bem que esquecemos?
Me deixa ficar, querida.
Me deixa ficar aqui lembrando do teu sorriso.
Me deixa ficar aqui lembrando do teu abraço.
Me deixa ficar aqui lembrando da tua voz.
Me deixa ficar aqui lembrando dos teus sonhos.
Me deixa ficar aqui lembrando dos teus medos.
Me deixa ficar aqui lembrando que não sou capaz de continuar sem você.
Me deixa ficar aqui lembrando que eu choro sempre que lembro teu nome.
Mas me deixa ficar aqui lembrando que eu sempre engulo a seco ao lembrar todas as coisas boas que passamos juntos.
Deixa eu ficar, meu bem. Deixa eu sorrir. Deixa eu chorar. Deixa eu sofrer. Deixa eu viver, sozinho, os sonhos que tivemos juntos. Deixa eu deprimir. Deixa eu não dormir. Deixa eu sentir medo. Deixa eu me desesperar.
Deixa eu caminhar os meus passos sabendo que não tenho mais os teus para me guiar.
Deixa eu viajar para o espaço sabendo que tu não é mais o oxigênio que pulsa em meus pulmões.
Deixa eu me jogar dentro do oceano sabendo que tu não é mais o bote que salva minha vida.
Me deixa ficar aqui pensando que tu irá me ouvir mais uma vez e bater em minha porta para dizer que sentiu minha falta todo esse tempo.
Por mais breve que seja, deixa eu sentir. Deixa eu sentir. Deixa. Me deixa sentir.
Deixa eu chorar. Deixa essas gotas caírem por meus olhos e limpar os dedos cansados de tanto digitar. Deixa eu sentir essa dor. Deixa eu sentir que não tem mais saída. Deixa eu acreditar que minha vida acabou. Deixa eu viver esse luto eterno e me esquecer que ao teu lado eu vivi uma eternidade momentânea que ninguém pode apagar.
Deixa eu beber. Deixa eu me afogar na tristeza. Deixa eu enlouquecer e acreditar que nunca mais amarei outro alguém. Deixa eu escrever. Só deixa.
Me deixa ficar aqui acreditando nesse medo que tanto me afronta.
Me deixa, meu bem, mas não da forma que me deixaste. Não da forma que foste embora. Deixa eu ser esse escritor louco enquanto você me observa e me acha o ser humano mais bobo do mundo. E me entrega as palavras que eu sempre quis ouvir.

"Eu não vou te deixar. Eu não vou mais embora.".

Me tira de casa, meu bem.
Me tira daqui.
Me leva embora.
Me leva para o teu colo.
Apaga o choro. Apaga a tristeza.
Faça eu engolir minhas palavras.
Deixa eu entrar na tua vida para a nossa não morrer.
Deixa eu ficar, meu bem.
Me peça para ficar.
Diga que tens medo de que eu parta tanto quanto eu tenho medo de que se vá.
Deixa eu ficar.
Cura essa tristeza.
Volta para a minha vida e faça eu deixar de mentir para os meus amigos que está tudo bem quando, na verdade, eu não me encontro bem.
Me tira daqui, querida.
Me leva para muito, mas muito longe disso tudo.
Algum lugar muito perto de você.
E me faça deixar de ser esse ótimo mentiroso.
Porque eu minto, querida. Eu minto muito bem quando eu digo para todos que estou muito bem. E que te esqueci. E que te superei. E que deixei de me importar.
E toda vez que eu minto, meu peito sangra e morre mais um pouco. Um pouco mais.
E outra vez.
Outra vez mais.
Mais uma vez.
E eu senti. E eu sinto. E eu sentirei.
E todas as vezes que eu minto sobre não ter mais você dentro do meu peito, eu faleço um pouco mais.
E o que tem me matado não são meus porres, nem minha depressão, nem meus tragos, nem meus poemas, nem meus romances, mas sim fingir todos os dias que você não significa mais nada para mim.

- Querida, eu pensei, mais uma vez, em por um fim nisso tudo.
- E porque já não o fez?
- A salvação está em mais uma carta com palavras em vão jogadas ao vento. Por mais breve que seja essa carta, meus sentimentos foram inclusos nela. Isso é o que me faz continuar. Não importa quanto tempo passe. Não importa quantas vezes eu chore. Não importa quantas noites eu passe sem dormir. Não importa quantas manhãs eu acorde sem conseguir levantar da cama por estar triste e cansado o suficiente para enfrentar o mundo. As minhas palavras foram escritas, por mais que eu tenha deixado de acreditar em todas elas. E isso, algum dia, me trará algo bom.
- Algum dia, meu bem. Algum dia.

Me faz sentir.
Por favor, me faz sentir.
Eu sorrio todas as vezes que lembro da gente.
Me fez sentir!

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

A carta mais triste do ano!

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- Desculpe, querida, estou bêbado novamente!
- Eu cansei de te ver assim.
- E eu cansei de fazer promessas que nunca irei cumprir.
- Limpe essa bagunça depois. Teu quarto vive cheio de garrafas vazias e folhas amassadas.

O medo se mostrou para mim de novo e me deixou inseguro.
O medo me atacou novamente e me deixou sem ver futuro.
E eu me sinto, querida, me sinto louco e insano por não saber o que fazer.
E o meu peito se encontra tão vazio quanto todos os canteiros de jardins mortos pela cidade grande.
E eu me sinto morto por dentro. E essa depressão irá me matar uma hora. E eu sinto que não aguento mais. E eu penso em desistir. Penso em me entregar. E ela toma conta de mim como sombra que me encurrala no canto mais escuro do meu quarto.
E eu converso com essa sombra. E ela sorri. E eu imploro para essa sombra ir embora de onde eu mais deveria descansar. E ela gargalha. E eu me ajoelho perante mim mesmo e peço para que eu aguente firme tudo que o mundo tem para me entregar de ruim. E que a minha mente não continue me cegando a ponto de não enxergar um palmo sequer a minha frente.
E essa bagunça eu tenho visto desde que você desarrumou a minha vida e foi embora, querida.
E eu não te culpa. E também não me culpo. E não te julgo. Assim como sei que nunca me julgaste. Mas eu sei que toda a bagunça dentro do meu coração se fez a partir do momento em que partiu e desuniu o meu mundo do seu para todo sempre.
E eu sinto, querida, sinto muito. E eu quero, meu bem, quero muito músicas lentas para acompanhar o meu choro depressivo para onde quer que ele vá.
E eu te espero e te pinto e te escrevo em todos os muros cinzas da cidade cinza. E mesmo assim tu não me enxerga.
E eu te mostro e te enxergo e te entrego o meu melhor sabendo que tu nunca mais verá o que eu tenho para te entregar.
E nesse momento, meu bem, o medo me cega por completo, mas eu ainda sou capaz de deixar minhas mãos fluírem e te escreverem tudo que eu sempre desejei e angustiei aqui dentro de mim. Esse é um dom que eu não posso desperdiçar.
Mas eu sinto, querida, eu sinto que as palavras já não são capazes de me salvar e me curar como um dia tu foste capaz de fazer. E elas já não me entregam a calma que um dia foste capaz de me dar. E isso me atormenta dia após dia. E isso me assusta como nunca me encontrei assustado antes.
O meu maior tormento é conseguir dormir um pouco e acordar sabendo que tu não estas mais aqui para me acalmar quando o meu peito apertar. E disso eu tenho medo, meu bem, porque só tu sabia como parar essa alma angustiada até que ela respirasse novamente.
E eu sinto esse sufoco dentro de mim que não passa.
E eu sinto essa raiva constante dentro de mim que não para de gritar.
E eu sinto essa tristeza nada breve que insiste em bater em minha porta e me mostrar que nada aqui dentro se encontra bem o suficiente para eu seguir para um futuro e horizonte só meu.
E eu sinto vontade de gritar o tempo todo e te xingar e me xingar e tirar do peito essa angustia que eu gostaria de entregar para ti, pelo menos por um dia, para que saibas o que é estar no meu lugar quando eu não vejo saída para mais nada.
E isso é triste, minha querida, tão triste quanto todas as coisas que sou capaz de escrever e sentir e pensar e enfrentar aqui dentro de mim.
O que mais me incomoda é saber que o teu sorriso está sendo entregue para outras pessoas enquanto eu sinto essa vontade constante de vomitar todas as minhas tristezas para que o mundo inteiro saiba o que eu carrego aqui comigo.
E o que mais me emburrece é saber que não sou mais capaz de amar outro alguém e ter esperanças pelo que vem lá na frente tanto quanto todas as faltas de ar que sinto e todas as tonturas que tenho quando lembro que a ansiedade de dias melhores me invade o coração a ponto de que eu não sinta nem minhas mãos.
E eu corro para qualquer canto solitário para tentar me acalmar e lembrar que o meu mundo, aqui dentro da minha mente, pode ser muito melhor do que esse que tenho no presente.
Te esquecer têm sido um fardo constante que eu não posso mais carregar.

- Porque você se humilha tanto em tuas cartas?
- O que queres dizer com isso, meu bem?
- Tu se entrega. Tu se abre. Tu mostra todas as tuas fraquezas para o mundo.
- E o que isso tem a ver com humilhação, querida?
- Isso vem sendo uma fraqueza sua. Quando teus inimigos quiserem saber de tuas fraquezas, é só lerem teus textos. Tens que tomar cuidado.
- Eu não me importo com meus inimigos. Eu nem sei se tenho essa merda. E nem me preocupo em ter. Deixa todos eles saberem o que sinto. Tantos tentaram me destruir. Tantos tentaram me ver chorar. Tantos tentaram me ver sangrar. E muitos outros tentaram me moldar e me mudar, mas nunca conseguiram. Muitos tantos outros tentaram ver a minha morte, mas só um certo alguém conseguiu ver e ouvir e sentir e ter tudo isso de mim. O que eu tenho para escrever não passa de desabafos que eu já não me importo tanto assim. Foda-se o que eles pensam!
- Tu és muito do corajoso, caralho.
- Coragem é para quem ainda saber amar. Coragem é para quem ainda sabe mentir. Coragem é para quem ainda sabe sentir. Coragem é para quem ainda se sente feliz, mesmo com o mundo estando por um triz.

Essa não será a última vez que eu entrego todas as minhas fraquezas e desistências, tão pouco será a última vez em que eu entrego uma carta com um rio de lágrimas nos olhos. Também não será a última carta que estarei a beira da desistência. Tão pouco será a última carta em que eu escreverei rangendo os dentes de tanta raiva. Raiva que insiste. Persiste. Esmaga e me mata. Raiva que aflige. Que estraçalha. Que me esmigalha. Essa também não será a última carta em que escrevo ouvindo os blues mais tristes e lentos que o mundo e outras pessoas tristes foram capazes de me entregar. Tão pouco será a última carta em que eu escrevo completamente bêbado e deprimido e angustiado e ansioso. Ansiedade prematura que me mata pouco a pouco e não me deixa renascer. E eu queria mãos vivas e quentes para me tirar desse fundo de poço em que me encontro. E eu queria sorrisos sinceros e lindos para me tirar desse pântano frio e triste em que me encontro. Eu gostaria de uma voz cansada me dizendo que tudo irá ficar bem e que todas as coisas ruins que penso e passo e vejo e sinto não passam de angustias presentes que logo acabará. E que minhas paranoias não passam de loucuras que minha mente insiste em criar para fazer com que eu fique sempre na defensiva contra mim mesmo. Eu tenho tanto para dizer, mas todos insistem em não me ouvir. Eu tenho tanto a falar, mas todos insistem em achar todas as minhas cartas lindas demais. E eles nunca me ouvem. E a minha maior humilhação é gritar aos quatro ventos tudo que eu gostaria que escutassem daqui de dentro e que me dessem muito mais do que um sorriso de que escrevi apenas mais uma boa carta. E eu gostaria de andar sozinho pelas ruas sabendo que existe alguém lá fora que pode me salvar de toda essa teimosia paranoica que insiste em bater diariamente na minha mente. Mas eu ando por todas aquelas calçadas e não encontro ninguém capaz de me tirar de onde eu mesmo me enfiei. E todos os demônios encrostados em minhas costas caçoam de mim e me deixam cada vez mais para baixo, me afundando num mar profundo de tristeza, solidão, ansiedade e depressão.
Não existe nada nem ninguém para me salvar. Não existe nada nem ninguém que veja todas as minhas cartas apenas como algo lindo. Eles não entendem meus sentimentos. Eles não entendem meus medos. Eles não entendem meus erros.
E eles não sabem que eu gostaria de muito mais do que palavras bonitas quando eu me sinto completamente sozinho.
Como agora.
E eu me encontro mais sozinho do que qualquer fodido pelo mundo.
Hoje eu entendo o que quiseram me ensinar sobre solidão.

- Cara, tu já chorou hoje?
- Várias vezes. Sem derramar uma lágrima sequer.
- E tu já gritou hoje?
- Muitas vezes. Sem demonstrar um som sequer.
- E tu já sangrou hoje?
- Bastante vezes. Sem sujar um chão ou roupa sequer.
- Tu já sentiu medo hoje?
- O suficiente para meu estômago doer e eu correr para o banheiro achando que é merda, mas a única merda que existe é na minha mente. E ela, disto, está cheia.
- Tu já se sentiu sozinho hoje?
- O suficiente para todos eles não verem eu fazendo todas as outras coisas que tu citaste antes.
- E o que farás agora?
- Eu desistirei.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Os espelhos de ti que procurei em outras pessoas estão todos quebrados


- Tens algo para me falar?
- Eu sempre tenho, querida. Eu sempre tenho.

E te escrevo mais está confissão.
E te escrevo em busca de redenção.
E te escrevo porque em ti encontrei a perfeição de um amor imperfeito.
E escrevo essa por todas as vezes em que disse que te amava.
E por todas as vezes que colei meu rosto ao teu e senti teu calor.
E te escrevo por todas as vezes em que te tirei do sério ou te deixei envergonhada.
E te escrevo por todas as vezes que bebi e tu tiveste que cuidar de mim.
E essa também é por todas as vezes em que eu escrevi sobre ti.
E por todas as vezes em que tive um surto de ansiedade e tu me acalmaste.
E por todas as vezes em que pensei no meu fim quando a depressão me sangrava.

Te escrevi um poema a base de um surto.
Este é o poema.
E não sei onde ele irá parar.
Nem quando irá parar.
E eu não quero que este poema acabe.
Não com as palavras que tenho em mente.
Nem com os sentimentos que tenho no coração.
Porque eu sinto muito medo, meu bem.
Medo constante. O mesmo medo que eu sentia toda vez que eu pensava em te perder.
E, veja bem, meu bem, onde é que viemos parar.
E eu não quero que este poema pare. Não agora.
Não.
Não neste momento.
Porque eu tenho tantas e tantas palavras para te entregar.
E não sei como acentua-las da forma que tu sempre preferiu.
E eu sinto falta do teu sorriso.
Do teu jeito.
Do teu aperto.
Dos teus desjeitos.
E eu tenho passado por bares e restaurantes diferentes a procura de novos sabores e temperos para esquecer tuas comidas preferidas.
Tenho passado por lugares em que nunca passamos juntos para tentar mudar meus rumos.
Tenho ouvido músicas diferentes para esquecer as tuas preferidas.
E a minha mente fica completamente atordoada quando ela lembra que não te esqueceu.
E eu não me importo.
Só não quero que este poema acabe.
Não agora.
Não assim.
Não dessa forma.
Porque eu tenho muito o que falar, mesmo que eu saiba que você já não me ouve mais.
E eu lembro bem que tu sempre amou todas as histórias que eu te contava.
Mas você nos fez o favor de esquecer todas elas.
Porque eu larguei da tua mão. E tu largou do meu coração.
Mas saiba que esse coração apertado e angustiado ainda se encontra sendo o teu mais precioso lugar.
E a minha mente tem sido o inferno pelo qual passamos muito tempo juntos.
E isso me mata tal qual este poema que logo se acabará.
E assim que ele acabar, me depararei com minha sobriedade de bebidas e ansiedade de tua falta.
Logo irei me deparar com o vazio de meu quarto e o vazio mais escurecido do meu peito que tanto insiste e tanto surta e tanto demora para se curar.
E eu não quero que esta carta se acabe.

- Você precisa se cuidar, meu bem.
- Tenho me cuidado muito bem, querida.
- Pare de beber tanto.
- Tenho me cuidado, meu bem.
- Pare de se cobrar tanto.
- Venho tentando meu bem.
- Tens dormido o suficiente?
- Algumas noites.
- E essa cabeça, como está?
- Louca, querida. Louca.
- E esse teu coração, como está?
- Acreditas que esses dias me peguei pensando em nós dois?
- E o que sentiu?
- Um aperto que há muito não sentia e, cada vez que lembro, existe algo aqui dentro que fala que ainda não tem nada certo.
- E em qual conclusão chega?
- Em absolutamente nenhuma. Existe algo aqui dentro que me diz que essa história de amor que tanto falam morreu faz tempo, mas existe algo aqui dentro que insiste em tentar amar de novo.
- Tens que tomar cuidado para não se machucar.
- O problema não é esse, essa ferida não me incomoda, o que me incomoda é quebrar o coração dos outros.
- Se importa mesmo com isso? Tens se tornado tão egocêntrico depois que deixou de acreditar no amor.
- Por vezes me importo bastante. Por vezes sei que não sou o culpado.
- E outras vezes?
- Sinto que não tem ninguém para me salvar desse vazio constante aqui dentro, então deixo de me importar e volto a sorrir como se tudo estivesse bem.
- Do que mais sentes falta?
- De como eu me sentia verdadeiramente feliz há uns anos atrás, mesmo acreditando que felicidade não exista.

E eu sinto tanto medo, querida.
Por isso insisto em te escrever.
Para que eu possa me sentir um pouco mais perto de ti.
E acreditar que te superei como deveria.
E lembrar que te esqueci como eu gostaria.
E eu sinto tanto medo, meu bem.
Que não existem garrafas vazias que preencham esse peito ansioso.
E não existem tragos que te apague para longe.
E não existem pessoas como você que preencham esse vazio constante aqui dentro de mim.
E conversando comigo mesmo, me deparei que esta redenção vem de mim mesmo.
E que pode demorar o tempo que for. E levar os sentimentos e pessoas que forem, que eu não te esquecerei tão brevemente.
Porque teu cheiro ainda está em mim. E teu gosto em minha boca. E teu jeito em minha mente. E tuas palavras em meu coração. E eu gostaria de te dizer que todas as palavras que um dia ousaste em me dizer, boas e ruins, elas não saem da minha vida como feridas que jamais serão cicatrizadas. E essa ferida aqui dentro é enorme. E ela me faz beirar a insanidade e a capacidade de pegar teu número de telefone para te ligar e te dizer tudo que tenho passado depois que saiu por aquela porta.
E as pessoas insistem em me dizer que foi melhor assim, mas eu sinto em tuas vozes embargadas que não era exatamente aquilo que elas gostariam de me falar. E eu sinto no olhar vazio delas a forma como elas gostariam de ver nós dois juntos pelas esquinas de nossos mundos, mas isso jamais acontecerá. Nossos mundos evoluíram para viverem separados. E acho que isso não podemos negar.

- PUTA QUE PARIU, não vais me dizer que ainda sente falta dessa porra?
- Todos os dias.
- Liga para ela então, caralho. Fala como tens se sentido. Estas sempre na mesma fossa e não existe nada que alguém consiga fazer para te tirar dela.
- Aprendi a conviver.
- Liga para ela, caralho. Fala que sentes falta.
- Ela sabe, meu caro. Ela sabe.
- NÃO, PORRA, as pessoas nunca irão saber dos seus sentimentos se tu sempre fugir deles como tu sempre faz.
- É melhor assim, cara. É muito melhor. Ninguém sai machucado.
- A gente nasceu para amar as pessoas. Esse é o dom da vida. O melhor dos sentimentos.
- QUE PORRA DE LIVROS VOCÊ ESTÁ LENDO PARA DIZER ESTA MERDA?
- Tenho lido alguns romances clichês. Uma hora essa merda tem que acontecer.
- Puta que pariu, cara.
- É melhor um romance clichê do que uma fossa penetrante e vazia como a sua.
- As pessoas tem esse dom mesmo de criarem esperanças em situações, sentimentos e pessoas. E nada de bom nunca acontece.
- Da mesma forma que nada de bom no amor acontece com você.
- Exatamente. Porque eu nem tento. Já não tenho mais forças para tentar. E toda vez que eu vejo que não irá dar em nada, é nesse momento que eu não gasto energia nenhuma.
- Fodido por fodido, eu e você sairemos vivos.
- Pare de acreditar no amor que tu saíra vivo.
- Pare de acreditar no vazio. Trato?
- Nada disso, porra. Único trato que eu faço é com o garçom do bar para me servir o máximo de cervejas possíveis que ele conseguir. Essa porra de amor que vá para a casa do caralho.
- Então para de usar as pessoas para esquecer esse teu amor sem cura.
- EPA, CARALHO, mas que porra de merda é essa que tens falado??? Eu nunca usei um caralho de pessoa sequer. Isso não se faz, cara. Mesmo com o ser humano mais filho da puta do mundo. Ninguém merece isso.
- Qual a merda que fazes então?
- Eu não sou mais capaz de entregar os sentimentos que as pessoas querem. E já não faço mais tanta questão assim de esconder esse meu defeito. A minha falha é procurar em outras pessoas tudo aquilo que encontrei em uma e saber que jamais me sentirei daquele jeito. Os espelhos sempre quebram e cada espelho traz sete anos de azar em meus romances. E de azar meus romances estão cheios.
- Tu precisa lidar com essa merda e precisa de um novo amor, cara.
- Tu bebeu chá de burrice hoje, caralho? QUE SE FODA O AMOR, CARA!

Acredito que cheguei ao fim de mais uma carta.
E não por falta de sentimentos.
Mas sim por falta de palavras.
Eu lembrei de um dia lindo e ensolarado em que eu amava outro alguém a beira do mar.
E isso me esganou as entranhas.
Lembrei que todas as pessoas são capazes de amar, inclusive eu.
Só preciso reaprender como é que se faz, mas, por enquanto, não faço tanta questão assim.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Breve carta da frustração

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- Querida, pegue o teu amor e vá embora da minha casa!
- Tu tens certeza disso, caralho?
- Teu amor me come pelo cu e me estraçalha pouco a pouco, porra.

Não me ouça.
Não se vá.
Não deixe que eu te deixe ir.
Não agora. Não assim.
E eu não quero que se vá.
Me entenda.
Me compreenda.
E me aceite.
Me respeite como te respeito.
E entenda que eu nunca quis deixar meu amor ir embora.
Quando eu te pedir para ir embora, não se vá, é quando eu mais preciso de ti.
Quando eu te disser que não me importo, não se culpe, é quando eu mais me importo.
Quando eu te implorar para não me amar, não deixe isso entrar em teus ouvidos, é quando eu mais preciso do teu amor.
Quando eu te demonstrar que não sinto tua falta, não vá para mais longe de mim, fique, me abrace, me entenda e silencie teu peito junto ao meu, porque é quando eu mais sinto tua falta.
Quando eu enlouquecer, não se assuste, é quando tu és a única terapia necessária para me tirar da insanidade.
Eu sou esse ser catatônico, querida. Acidente grave sem um resgate para a salvação.
Doença sem medicamento.
Tristeza sem a cura.
Estranhezas sem perdões.
Depressão sem esperanças.
E eu te peço, meu amor. Não se vá.
Mesmo quando o que eu mais quero é gritar e te pedir para ficar sozinho.
Sem ti. Sem mim. Sem ninguém.
E quando eu estiver bêbado o suficiente para te escrever, leia todas as minhas cartas, porque todas elas contém teu nome em todas as entrelinhas.
E quando eu estiver de ressaca e não for esperto o bastante para me lembrar de quaisquer palavras que escrevi sobre ti, me lembre de todas elas e me faça passar vergonha por lembrar que sou capaz de te amar como nunca amei ninguém.
Me perdoe, querida. Talvez eu não tenha mudado tanto assim. Ainda continuo deixando a barba bagunçada e meu quarto mais bagunçado ainda quando lembro que não te esqueci. E continuo bebendo todas as minhas cervejas na esperança de que algo sobre ti se apague de uma vez por todas dentro de mim. E eu continuo te escrevendo. Noite após noite. Dia após dia pensando em todos os teus sorrisos e refletindo sobre tudo que eu gostaria de te falar. E escrevo.
Escrevendo. Escrevendo. Escrevendo.
Sozinho. Solitário. Solidão.
E poemas são escritos por mim em todos os momentos que tento te esquecer.
Tens reparado em quantas e quantas cartas tenho feito nesses últimos tempos?
Não se vá, meu bem. Não se vá!
Tu sabes que sempre fui esse escritor bêbado e louco, estranhamente mal compreendido, mas que amas com o fundo da alma. Tu sabes, querida. Tu sabes bem.
E eu quis te escrever essas palavras sem nem pensar nas consequências de tais.
E espero que me entendas e enxergues que eu gostaria de te pedir para ficar quando mais sinto que o meu mundo irá cair.
AGORA!
E tu podes pensar que sou egoísta o suficiente para te escrever e te pedir para ficar apenas quando sinto necessidade ou precisão, eu não me importo.
Mas sei que tu sabes bem que és a única que me tira do fundo desse abismo em que me encontro desde que partiu de minha vida.
Não sou egoísta por sentir que tu és a única cura para todas as minhas doenças.
Me perdoe!

- MAS QUE CARALHO, VOCÊ ESTÁ BÊBADO DE NOVO!
- Me desculpa, meu bem. Preciso escrever!
- Para de escrever essas porcarias só quando está bêbado, porra.
- Tudo bem, querida. Não irá acontecer novamente.
- Você me disse essa mesma merda há dois dias atrás.
- Há dois dias atrás eu estava aflito.
- MAS E AGORA, CARALHO? ESTÁ O QUE?
- Deprimido.
- E bebes para se acalmar? Para esquecer? Para melhorar?
- Bebo porque esqueço todas as coisas que queria lembrar e quase sempre lembro de todas as coisas que eu queria esquecer.
- E adianta?
- Ter uma memória boa machuca demais, meu bem. E sempre que lembro de todos os momentos em que acreditei ser feliz, sinto um vazio profundo e entrego um sorriso de profundo vazio.
- Tu precisa escrever.
- Preciso. Só um pouco mais, meu bem.

Depressão.
E essa talvez seja minha pior confissão.
E o fim de um carta sem uma verdadeira razão.
Sempre te assemelhei com a minha depressão.
Vezes acolhedora. Outras assustadora.
Vezes companhia. Outras solidão.
Vezes ensinamentos. Outras falhas.
Vezes linda. Outras triste.
Te assemelho a minha depressão por saber que no fundo de todas os sentimentos vazios, tenho aqui tua presença que me faz acreditar que eu posso ser feliz de novo.
E eu te entrego esse vazio para que possa ser preenchido da forma que tu sempre preencheu.
E eu te assemelho a minha depressão, não por ser algo triste e doloroso, mas sim por me ensinar que no final do túnel existe algo belo e bonito para me tirar de algo que eu mesmo me coloquei.
E o amor é o clichê romântico que está em nós por livre e espontânea consequência.
Eu te dedico a minha depressão e todas as minhas cartas para que saibas que tu me salva de todas as crises sem nem mesmo imaginar.
Ainda lembro de ti e sorrio rios de lembranças boas.
E isso ninguém apaga.
Assim como todos os poemas que ousei escrever.
Ninguém nunca apagará o que já foi dito e escrito.
A flecha lançada ainda continua em nossos corações.
E nada mais poderá ser desfeito.
E nessa crise depressiva em que me encontro, te dedico todas as minhas palavras para que saibas que tens me salvado mais uma vez de te dizer um verdadeiro adeus.

- Porra. Caralho!!! Você escreveu mais uma carta triste pra caralho, hein?!
- Só para me lembrar que não estou bem.
- E escrevendo todas essas coisas tristes que ninguém dá a mínima, você se sente melhor?
- Não me importo com o que entendam ou deixam de entender, me importo com o que eu tirei de dentro de mim. Essa é a essência da porra toda.
- Essa é tua única salvação, escrever?
- Se eu não escrevo, enlouqueço. E todos pensam que meus textos são cartas de alguém apaixonado morrendo de amores. Eles estão sempre errados. A humanidade está sempre errada.
- Mas você só escreve sobre o amor, caralho.
- Leia bem, meu parceiro. Leia devagar. Atentamente. E entenda. Nem só de amor vive um bêbado poeta.

Existe aqui mais uma carta ruim pra caralho que eu não dou a mínima em ler cada palavra.
Entendeu alguma coisa?

domingo, 3 de novembro de 2019

Poetas e bêbados quebram corações

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Você pode fingir que não sente minha falta.
Você pode fingir que não se importa.
Você pode fingir que não se interessa.
Você pode fingir que não pensa em mim.
Você pode fingir que não sente meu gosto em teus lábios.
Gosto amargo de cerveja aflita que corrói minhas entranhas.
Você pode fingir que não se sente desconfortável por eu estar longe.
Você pode fingir que não sente saudade do som da minha voz.
Você pode fingir que não me deseja mais.
Você pode fingir que não sente falta da minha roupa com o cheiro dos meus tragos.
Cheiro amargo de fumaça aflita que corrói meus pulmões.
Você pode fingir que não sou a primeira pessoa a passar por teus pensamentos pela manhã.
Você pode fingir que não me ama.
Você pode fingir todas as coisas.
Você pode fingir e contar todas as mentiras necessárias para mostrar que está bem.
Você pode tudo. Você pode todas as coisas.
E eu te escrevo isso todos os dias.
Você é incrível. Você é o todo. Você é tudo.
E você pode ser incrível fingindo que não me ama mais.
E você pode fingir que não sente falta dos meus poemas.
E você pode fingir que não sente falta da minha cama bagunçada.
E você pode fingir que não sente falta da minha bagunça interna.
E você faz parte dessa bagunça. Porque tu me bagunça. E bagunça até demais.
Só não me ensinou o jeito certo para arrumar tudo aquilo que tu bagunçaste como uma tempestade passando por nossas cidades.
E você pode fingir que eu nunca te quis como quero agora.
Você pode fingir que eu não te amo.
Você pode fingir tudo que desejas.
Mas não podes fingir que o meu desejo é você.
E eu sei que você não pode fingir que meu coração não é teu.
Você jamais conseguirá mentir essa verdade, porque tu sabes muito bem que meu peito bate por ti.
E para ti.
E você pode fingir que todas as minhas cartas não são para você.
Eu não me importo.

E eu finjo muito bem também, meu bem!

- Cara, elas disseram que você não sabe amar.
- Elas dizem muitas coisas sobre mim, tu não achas?
- Mas, cara, tu sabes amar?
- E que poeta nesse caralho de mundo sabe amar, porra?! A gente falha nessa parte para ter o que escrever.
- Tu não achas isso um tanto quanto triste demais?
- Eu acho para caralho, mas o que posso fazer? Sou poeta e não aprendi a amar, parceiro.
- Isso me lembra uma música.
- Nossa querida Cassia, meu bom. Por isso ela bebia tanto. E se drogava tanto. E escrevia tanto. E foi embora tão cedo. Porque ela era uma boa poeta e não sabia amar.
- Tu precisa se cuidar, meu parceiro.
- Eu sei, meu bom. Eu sei. Agora me traga o maior caneco de cerveja que tiveres nessa porcaria que tu chamas de bar.
- Eu disse para se cuidar, caralho!
- Estou me cuidando. Cuidando da minha vida, meu bom. Faça o mesmo.

Eu posso fingir todas as coisas, só não posso fingir que meu coração foi feito para amar.
E eu bebo. Eu fumo. Eu enlouqueço.
E te escrevo. E te esqueço.
E usurpo minha mente com uma falta sorrateira que é existente por você e para você.
E eu sinto falta de correr riscos em estar amando outro alguém. E eu sinto falta do estômago latejando pela quantidade de borboletas que me comem vivo. E eu sinto falta de ter em quem pensar. E eu sinto falta de ter sobre quem, verdadeiramente, escrever. E eu sinto falta de me jogar no abismo das desilusões amorosas.
Mas deixa o meu cupido lá quietinho. Deixa ele descansando e me mostrando que a vida poder ser muito mais do que isso. Deixa meu coração me mostrar em dias de sol que ele se permanece gelado como a ponta do everest.
Deixa tudo aqui dentro como se encontra há tempos.
Deixa eu aprender a lidar com essa forma de olhar para os olhos de outro alguém e enxergar de longe que meu coração quer me dizer alguma coisa, mas mesmo assim não ouvir uma palavra sequer do que esse órgão burro quer me dizer.
O cérebro sempre foi muito mais sábio.
E deixa eu me afogar em todas as cervejas que eu puder e quiser para esquecer que lá fora existe o amor da minha vida, mas que eu já não faço questão nenhuma de procura-lo. Essa merda sempre me leva para o fundo do poço e aqui estou.
Eu me encaixo muito melhor no mundo quando não estou amando ninguém. Eu me conecto muito melhor com o universo quando estou em minha mais sã consciência de sentimentos que não podem ser revelados por ninguém e para ninguém.
E assim, eu me encaixo num padrão de poetas solitários que nada querem viver perante o amor.
Mas isso é perigoso, meu bem.
Muito perigoso.
Porque todos eles falam que eu estou bebendo e escrevendo demais. E eu vejo bem que não me importo com esses julgamentos, porque eles estão certos.
E todos eles me falam para eu tomar cuidado senão acabarei me matando. E eu digo para todos eles que todo mundo se mata de alguma forma.
E eles sabem que é verdade.
Só estou cansado de me enganar desse jeito e tentar acreditar que não vivo sem um amor batendo e pulsando aqui dentro deste peito gelado com o tempo.
A quem estou tentando enganar?
Eles falam que poetas e bêbados não sabem amar e quebram o coração de quem passa por tua vida.

Imagina eu que sou os dois.

E eles dizem que eu tenho medo de amar. Eles estão certos.
E eles dizem que eu sinto falta de amar. Eles estão certos.
E eles dizem que eu tenho a quem amar. Talvez estejam certos.
E eles dizem que eu estou sendo burro. Não sei se estão certos.
Mas meu coração me diz para eu ser o maior filho da puta quebrador de corações que eu puder, até encontrar alguém forte o suficiente para juntar todos os cacos do meu que se encontra pelo meu quarto.

Coração é um bicho burro, não é mesmo?!

- Já parou para pensar que tem alguém lá fora capaz de te amar como nunca imaginou?
- Não!
- Já parou para pensar que você finge todas as coisas quando existem sentimentos dentro de você, mas quando escreve não consegue disfarçar nada?
- Sim!
- Tu encontra algum sentindo nessa porra toda, caralho?
- A gente mente que não sente nada. E fica tudo bem assim.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Te confesso um assassinato?!

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- Ela disse que não lê tuas coisas porque tu só falas de amor!
- Eu não sei falar de amor, querida.
- Mas é o que ela pensa.
- Ela não sabe o que eu penso.
- E o que tu pensas?
- Se ela lesse as porras de minhas cartas como tu lê, ela saberias o que penso.
- Mas você deixa tão a desejar em tuas cartas.
- O que queres dizer com essa porra?
- As pessoas sempre leem tuas cartas e esperam sempre mais e mais e cada vez mais. E elas terminam e ficam com cara de merda esperando um final revoltante feliz, mas é só uma revoltante desgraça sem um fim específico.
- Viu?! Tu lê estas merdas e consegues me entender.
- Não, querido. Eu não consigo te entender.
- Será que eu já fiz algo lindo para o mundo? Será que eu deixei alguma carta que lembrarão de mim para sempre e me consagrarão como um digno escritor? Será que...?
- Não, querido. Pare com essas besteiras. Tu jamais deixarás de ser esse escritor de quinta categoria, bêbado e largado as traças.
- Você sempre me entregando tuas forças, não é?
- Tenho mentido para ti?
- Nunca. Ainda bem que sabes que nunca tentei provar nada para ninguém com minhas cartas.
- E porque escreves essas merdas?
- Porque eu tiro ela um pouquinho mais de meu coração sempre que escrevo.
- Ela é tua maior ferida?
- Não. Ela é só mais uma de minhas feridas. Me deixe escrever, querida. Só um pouco mais.
- Eu sempre deixo, meu bem. Eu sempre deixo.

E quantas vezes eu esperei o telefone tocar e tu nunca ligaste?
E quantas vezes escutei tua música preferida e percebi que também era a minha?
E quantas vezes me peguei lendo algo que tu adorava e quis te dizer o que achava?
E quantas vezes assisti teu filme preferido e, mesmo achando uma merda, sorria por lembrar que você adorava?
E quantas vezes eu desejei te ligar para ouvir tua voz e tu fez questão de apagar ela de minha memória?
E quantas vezes eu senti o teu perfume no ar e percebi que tu não usas mais desse aroma?
E quantas vezes almocei no teu restaurante preferido e percebi que você já não come mais as mesmas coisas?
E quantas vezes passei por tua calçada e percebi que tu já não mora mais no mesmo bairro?
E quantas vezes eu desejei te escrever e reparei que você não dá a mínima para o que escrevo?
E quantas vezes pensei em você, e sorri, e percebi que para ti sou apenas um laço cortado?
E quantas vezes eu te esperei e percebi que jamais irá voltar para os meus braços?
E quantas vezes cheguei em casa e acreditei que te encontraria deitada em minha cama, assistindo tuas besteiras ou fazendo teus trabalhos e nada encontrei?
E quantas vezes eu falei sobre ti e sorri, mas percebi que os teus sorrisos já não são mais por mim?
E quantas vezes eu te matei dentro de mim e percebi que são assassinatos momentâneos?
E quantas, e quantas vezes te escrevi nesse caralho e percebi que tu já não sabes ler meus poemas?

Eu te pensei. De ti lembrei. E eu bebi. Por ti traguei. E sobre ti chorei. E por ti esqueci. E eu pensei em te apagar da minha memória, porque pensar em você me machuca demais. E eu te bebi. E eu te traguei. E eu te chorei. E eu te lembrei. E eu te esqueci. Como sempre esqueço. Mas vejo teu nome em cada esquina que passo e lembro que tu sempre gostou de andar pelas ruas de São Paulo e me dizer o quanto tudo aquilo era incrível. E esses dias eu senti falta de te mostrar o mundo e ouvir você dizendo que eu sou o melhor guia da tua vida. E eu senti falta de olhar para você e ver teus olhos grandes brilharem por olharem todos aqueles prédios da cidade grande.
E, meu bem, eu não arrumei nada desde que foste embora. Eu deixei toda essa bagunça no mesmo lugar de sempre. Tudo tão bagunçado, mas tudo tão nosso. Teu cheiro. Teu jeito. Teu gosto. Teu beijo. Teu queixo. Teu despejo. Teu desejo. Tudo teu aqui dentro de mim. E eu percebo, cada dia mais, que meu coração ainda é o teu lugar. E que dentro desse peito ainda bate algo forte sempre que lembra do teu nome. E quando teu nome invade minhas entranhas, tudo dispara tão ferozmente que eu tenho que enjaular todas as feras obtidas dentro de mim para que não me machuquem mais.
E eu percebi, meu bem, que tua falta dificilmente será apagada de dentro de mim. Não importa o que eu faça. Não importa como eu viva. Não importa o que eu sinta por outras pessoas. Tua falta corrói minhas entranhas a ponto de te dedicar todas e quaisquer poesias. As melhores e piores. As mais linda e as mais assustadoras. E eu volto a tragar todas as minhas fumaças na esperança de que eu envelheça rápido para te esquecer com o tempo. E eu volto a beber todas as minhas cervejas para que cada gole me leve cada vez mais distante de ti. E eu não me importo de me maltratar um pouco mais para te esquecer um pouco mais. Esse é meu próprio castigo por ter te deixado ir e ter mantido essa saudade dentro de mim.
E eu me machuco. Me sequestro. Me enlouqueço. Me esqueço. E escrevo. Escrevo muito. Mas muito mesmo. Duas. Três. Quatro. Cinco cartas em apenas uma madrugada. E bêbado eu sou muito mais capaz de lembrar de você do que sóbrio. E tu nunca se importou com o meu jeito bêbado de ser, tu dizia que já tinha se acostumado com meus lábios com gosto de cerveja e eu sempre sorria quando me dizia isso. E eu sempre senti vontade de te trazer para perto de mim e te dizer que sempre serás a mulher de minha vida. Quando foi que eu me esqueci dessa merda?

- Você ainda escreve essas merdas?
- Todos os dias!
- E o que isso te traz de bom, querido?
- Um pouco de paz.
- Isso não significa nada. O que esperas?
- Que eu a assassine cada vez mais de dentro de mim.
- O que sentes quando lembra do nome dela?
- Tremores. E falta. E vontade de beber.
- E o que sentes agora que lembraste o nome dela?
- Vontade de beber.
- E os tremores?
- Já sei lidar com eles.
- E a falta?
- Persistente, mas já sei lidar com ela. Ela me bate e eu a espanco e chuto-a pelo cu.
- Mas essa vontade de beber é mais perigosa que todos os outros sintomas.
- Não, meu bem, o amor é o sintoma mais perigoso do que qualquer outro.
- E o que fez com ele?
- ESTÁS DE BRINCADEIRA, PORRA??? Eu matei essa merda faz um belo tempo.
- FODA-SE O AMOR, QUERIDO!
- FODA-SE O AMOR, PORRA!

Eu gostaria de escrever algumas palavras bonitas e dizer que tudo isso é para alguém, mas...estou bêbado o suficiente para admitir nesta droga de carta.
Obrigado. E foda-se!
Ficou com cara de merda esperando um final revoltante feliz? Se fodeu!

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Querida, tu sabes como arranco teu nome de mim sem sangrar?!

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- O que me atormenta não são as lembranças, meu bem?!
- E o que te atormenta, querido?
- Lembrar da ausência de quem um dia tanto esteve aqui.

E eu te trouxe palavras.
Mesmo com o sentimento de que nada deveria te escrever.
E eu te trouxe minhas melhores palavras com meus piores sentimentos.
E de ti já nem peço nada.
Eu pensei em todas as palavras que eu gostaria de te entregar assim que eu te encontrasse, mas eu assassinei todas as borboletas dentro do meu estômago sempre que eu escutava teu nome.
E eu pensei, meu bem, pensei muito sobre como te olharia sem te demonstrar desejos.
Como eu manteria o tom da minha voz sem demonstrar desespero.
E em como eu seguraria meu coração tranquilamente para não te mostrar as consequências de tua partida.
E eu penso muito, meu bem, penso muito no fato de um dia te encontrar para te dizer tudo que senti e tudo que passou depois que foste embora.
E lembra, querida, lembra do dia em que te vi saindo por aquela porta e não fiz absolutamente nada para te deixar ficar? Porque eu lembro, baby, eu lembro todos os dias.
Eu te olhei no auge do meu amor. Tu fechaste os olhos no auge de meu sofrimento.
E eu escrevi teu nome em todas as entrelinhas de todas as minha cartas com o intuito de te entregar, mas eu simplesmente escrevo e amasso e jogo no fundo da lixeira mais próxima.
Cartas esquecidas com o tempo de um tempo em que não sabemos mais lidar porque tudo isso já caiu no nosso esquecimento.
E essa é a minha forma de te escrever, te de apagar, de te esquecer.
Por breves momentos te esqueço como uma carta apagada com o calor de um isqueiro.
E tudo se transforma em cinzas.

Eu me castiguei por não te esquecer.
Bebi todos os dias em que fui capaz.
E os que não fui capaz, engoli tragos para lembrar de um calor aqui dentro.
Apenas me castiguei e me matei um pouco mais.
E eu me maltrato sempre que lembro teu nome.
E eu me culpo sempre que sinto teu perfume.
E eu me abstenho do mundo sempre que ouço tua voz na minha mente.
Eu não arrumei minha cama, meu bem.
Eu não arrumei tuas coisas.
Eu não ajeitei nosso canto.
Eu não ajustei nossos relógios para cronometrarmos nosso retorno.
Eu não limpei meus sapatos.
Eu não joguei nossas fotografias fora.
E meu cachorro ainda sente tua falta.
Eu não exclui nossas canções.
Eu não deixei de toca-las.
Eu não deixei de passar pela tua rua e lembrar das vezes em que sorrimos por ela.
Eu não esqueci o gosto do teu beijo.
Eu não me desfiz do calor do teu abraço.
Eu apaguei teu número de telefone, mas eu sei dele decorado.
Eu escrevi milhões de cartas e coloquei teu nome nelas.
Eu me desfiz de todas elas, mas ainda têm o seu nome ali nas entrelinhas.
Eu não joguei a cópia das chaves de minha casa que eu tinha feito para ti.
Eu não tomei aquelas duas cervejas que comprei para ti.
Eu não fumei teus tragos preferidos. Eles estão lacrados.
Eu não ajeitei minha barba para te ver. Nem penteei meu cabelo para você me ver.
E nem joguei fora o nosso passado.
Uma coisa temos em comum, meu bem, jogamos apenas o nosso futuro numa lixeira qualquer. Da mesma forma que eu faço com minhas cartas sempre que elas são para ti e por ti.
Obrigado por esse amor!

- Que caralho, você está bêbado de novo!!!
- Não leve a mal quando eu digo que sinto falta de algo, meu bem.
- Velho inútil que fica enchendo o cu de cerveja sempre que estas para baixo.
- Não me entenda mal, querida, quando eu digo que queria alguém de volta.
- E lá vai você nesse caralho de teclas escrever mais trocentas cartas tristes e não dedicará a ninguém. Depois vai ficar se remoendo e se matando na cerveja e na saudade.
- Sinto falta de tuas doces palavras, meu bem. Onde elas estão?
- BEM NO OLHO DO SEU CU, PORRA!!! Porque não começa a se cuidar mais?
- Mas eu me cuido, meu bem. Veja bem, uma cerveja, mais duas cartas. Outra cerveja, mais quatro cartas. E assim por diante, quem sabe não escrevo mais alguns livros antes mesmo de morrer e seja capaz de deixar um legado de tristezas e melancolias e cervejas e romances?! A gente nunca sabe, meu bem. Essa é uma nova forma de se cuidar. Bem vinda ao novo mundo!
- Você mesmo acaba com o teu mundo, cretino!
- Exatamente!!! Eu dei tanto valor para meus sentimentos e romances que eu destruí todos eles por não saber agir e lidar com toda essa merda.
- Você é escroto!!!
- Veja como a coisa toda funciona, sempre que eu acredito estar amando piamente alguém, eu vejo que não sinto nada, quando na verdade eu deveria estar sentindo demais. E eu acredito tão sabiamente que estou sentindo algo, quando de fato não estou sabendo lidar com nada. E meu vazio é preenchido por um curto momento, até que eu me pego na beirada de um abismo que eu mesmo me jogo. Estás me entendendo?
- Você não sabe amar ninguém!
- Não, muito pelo contrário, todas as pessoas que eu amei, me entreguei de verdade e foi tudo sincero. Todas as pessoas que passaram pelos meus braços e sentiram o calor de meus lábios, eu entreguei o meu sentimento mais sincero. O problema da sinceridade é justamente esse, meu bem, as pessoas não são fortes para lidarem com sinceridades extremas, isso vale para o meu amor aqui dentro. Acredito que amo pouco quando na verdade estou amando de verdade e me entregando por completo, eu encho o copo da pessoa até transbordar e logo em seguida eu travo por não saber lidar.
- É nesse ponto em que você desanda.
- É nesse ponto em que o romance se torna algo perigoso, a gente nunca sabe se estamos transbordando ou deixando vazio. Eu nunca sei!
- E tu acreditas no que?
- De que eu deixo sempre o vazio quando de fato estou acreditando sabiamente que estou preenchendo.
- E depois?
- E depois meus romances escorrem pelos meus dedos.
- E então?
- E então eu bebo. E escrevo.
- Tu parece que gostas de se sentir e estar assim.
- Não. Na verdade, eu odeio. Odeio essa sensação de estar apaixonado e amando alguém quando não posso, de fato, fazer absolutamente nada. Eu amo não estar sentindo nada. Não pensar em ninguém. Não querer ninguém. Sinto que estou no caminho certo quando não tem romances em meus dias, porque eu não me encaixo com a sociedade e isso me entrega muito conforto aqui dentro. Romances e amores são perigosos, e esse é um jogo em que não quero mais fazer parte.
- Queres um blues?
- Sim, e uma cerveja, meu bem. Preciso escrever mais um pouco.
- Claro, eu busco para ti e aumento o som. Mas deixa eu te fazer uma pergunta antes.
- Manda, querida!
- Tu tens amado alguém esses dias?
- Que não seja a mim mesmo?
- Sim! - se levantou e ficou me olhando.
Dei mais um trago. Mais um gole em minha cerveja e respondi.
- Mas é claro que tenho amado. A gente sempre está amando. Essa é a grande jogada que tanto me perturba. Um royal flush de sentimentos!

Coração é muito mais do que eu posso suportar.
Porque eu deveria te ligar quando desligaremos a chamada?
Porque eu deveria te escrever quando irás jogar fora as palavras?
Porque eu deveria te querer quando debochas do que sinto?
Porque eu deveria te desejar quando não me queres por perto?
Porque eu deveria te olhar quando desvias todos os olhares de mim?
Porque eu deveria te procurar quando em mim já não pensas mais?
Porque eu deveria te salvar quando sorri ao me ver no abismo derradeiro de sentimentos?
Porque eu deveria te amar quando tu nem sabes mais quem ama?
E você já se perdeu faz tempo por ter tantos sentimentos confusos dentro de ti e não saber mais o que é vazio e o que é preenchimento.
E eu já nem me importo com isso. Nem te julgo. Nem tenho poder para fazer algo assim porque sou tão perdido quanto você.
Só não dedico mais minhas palavras para ti pois sei que elas já não têm mais serventia nenhuma dentro desse teu coração. E eu nem vejo mais motivos em te escrever tais palavras que te façam querer ficar.
Nem quero!
Porque eu deveria te escrever quando tu enxergas somente as tuas verdades?

Eu me perdi tentando te encontrar. E olha só o que conseguimos.
Eu te trouxe palavras, meu bem. Tu me trouxeste garranchos.
Mas eu sei ler bem, e todos esses garranchos me mostravam o quanto me queres longe.
Apaguei do meu coração a droga repentina que eu batizei com teu nome. Amor!
E eu sangrei. Sangrei muito. Sangrei demais.
E você não deu a mínima.
Talvez seja tarde demais.
E eu não dou a mínima.

Pensei em te levar flores, mas todas elas morreriam até eu te encontrar.
Pensei em todas as palavras que eu te falaria, mas todas elas sumiriam até eu te encontrar.
Pensei tanta coisa quando na verdade eu tinha te esquecido. Lembrei que sou capaz disso.
Fiquei aflito!
Você choveu em mim o suficiente para eu não sentir que essa tempestade foi embora.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Te engravidei de amor. Tu me abortou solidão

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- Tu não tens noção da dificuldade que és começar uma de minhas cartas?!
- Continue escrevendo!

E eu te imagino.
Te domino. Da mesma forma que dominas meu coração.
Te apago. Me apago. Te abalo. Me embalo.
Te escrevo. Te esqueço. Te odeio. Te beijo.
Mas aqui. Te beijo aqui. Em minha consciência.
Beijo de despedida. Que entrega. Que altera. Que exala. Que diz adeus.
Que não se importa!
E eu te imagino.
E te peço. Me nego. Me entrego. E te odeio. Te odeio muito. Com todas as minhas forças.
E meu estômago dói ao pensar em você.
E minha cabeça lateja ao lembrar de você.
E eu já não me importo mais com tua existência que nada tens para me entregar.
E talvez eu seja egoísta demais em pensar que tua existência já não signifique nada para mim.
E talvez eu não me importe.
E tudo mudou de uma hora para a outra.
Sentimento bipolar. Perdido. Depressivo. Egoísta. Surrado. Maltrapilho.
E a gente não se importa com essa merda de amor que nos fode pouco a pouco pelas beiradas de nossos próprios cus.
Foda-se o amor, meu amor. A gente não dá a mínima para toda essa ladainha.
E eu minto. Te minto. Te imagino. Te insisto. Te escrevo. E minto. Minto muito. E finjo.
E a gente esquece.
Uma hora a gente esquece. E meu peito esquece. E minha mente esquece. E minha alma aprende.
Aprende a te esquecer. Aprende a não pensar em você. Aprende a te esquecer, novamente!
Mas existe um pingo de sentimento ali dentro que se chama angústia de te ter tão longe.
E a gente não se importa com nenhum caralho desses.
Porque o amor é mais uma besteira que a gente insiste em escrever e ver e ter. Essa merda é covarde demais para se manter por muito tempo dentro de nossos corações.
Nossos corações tem mais o que viver do que apenas sentir amor e amor e amor.
Mas essa merda nos salva de alguma forma, eu sei que salva, porque todas as vezes em que pensei em você, eu sorri. E de alguma forma, meu coração acelerou sempre que pensei em te ver entrando por aquela porta e ouvir tua voz cansada me dizendo que sentiu tanto a minha falta quanto a falta de amor que existe no mundo.
E a gente não quer saber do mundo quando temos a quem amar. Porque o mundo está lá fora tocando todos aqueles blues tristes e despejando cervejas pelas estradas e tragos pelas nuvens, mas a gente não dá a mínima para isso tudo quando se tem alguém para abraçar.
Mas você, meu amor, você me ensinou bastante a te amar, mas não me ensinou a te esquecer. Me ensinou bastante a te querer, mas não me ensinou a te perder. Mas você, meu bem, me ensinou o pior dos sentimentos, o descaso, e esse é difícil superar.
Descaso no acaso de um caso que eu tive por acaso em teus braços e hoje eu apenas jogo na próxima lixeira de qualquer esquina em que eu te encontrar.
Foda-se o amor, meu bem. Foda-se o teu amor!

Se é que ele um dia existiu, porque tu mentes tão bem, meu bem.

- Não, espera, espera, CARALHO. Não acredito nesta merda que estou vendo.
- O que é, porra?
- Você está escrevendo demais, cara!
- E o que tem, porra?
- E voltou a beber demais, cara!
- E o que tem isso, caralho?
- E teu humor tens exalado uma certa tristeza e melancolia. Teu sorriso está distante. Teu olhar mais distante ainda.
- Qual o problema nisso, seu merda?
- E toda vez que as pessoas falam sobre o amor, você trata esse assunto com desdém.
- Foda-se o amor, meu parceiro.
- Tu tens amado alguém. PUTA QUE PARIU!!!!
- Deixa essa merda para lá. O amor é apenas um passatempo chato e entediante que a gente insiste em jogar.
- O amor não é um jogo.
- Mas as pessoas usam dele como um jogo. E essa é uma perca de tempo em que não quero mais participar. Isso é chato pra caralho, porra!
- Para de escrever essas merdas deprimentes. É tudo triste pra cacete.
- E quem se importa, caralho? Todas aquelas pessoas, elas leem meus textos, mas elas não se importam de verdade com tudo aquilo. Eu posso falar que irei me matar amanhã por causa de uma droga de amor ou romance, e elas apenas dirão que é tudo lindo pra cacete. Elas romantizam demais minhas cartas e perdem a essência da porra toda.
- Você é muito corajoso em escrever essas merdas, cara. Devo confessar isso!
- Foda-se, cara. Foda-se!
- E se tuas cartas afetarem alguém de alguma forma?
- Foda-se, cara. Foda-se!
- Você é corajoso, meu parceiro. Muito corajoso.

Eu respirei o teu ar e você me sufocou.
Eu dancei tua dança e você mudou de música.
Eu escrevi sobre ti e você trocou de página.
Eu segui o teu caminho e você mudou de rumo.
Eu tentei te encontrar e você quebrou a bussola.
Eu abri todas as janelas para respirarmos e você mudou de ambiente.
Eu bebi tuas cervejas e você odiava beber.
Eu fumei teus cigarros e você detestava me ver fumando.
E eu te escrevi novamente, te escrevi tudo que sei. Te escrevi tudo que quero e tudo que sinto. E você debochou. Me deixou de lado. E me esqueceu. De certa forma, me esqueceu. E teu desprezo me diz muito mais sobre tua falta de amor por mim do que todos os sentimentos contidos em nossos lares. E a gente não entende, mas também não dá a mínima.
Deixa eu socar todas as paredes da minha casa para desfigurar a falta que eu sinto de ti.
Deixa eu deitar a cabeça em meu travesseiro e gritar que te odeio como tudo tens sido.
Deixa eu beber e beber e tragar e tragar para me castigar por ter te amado.
Deixa eu escrever todas essas cartas chatas e monótonas para demonstrar o que sinto por ti.
Mas deixa, deixa, meu bem, me deixa te esquecer como tenho feito. Deixa. Deixa, meu bem, me deixa te apagar da minha memória como uma falta capaz de ser suprida.
Teu amor por mim foi tão barato quanto uma cerveja gelada comprada no boteco da esquina. Daquelas que custam 4,99 ,e mesmo assim, eu acho barata demais.

- O que tens pensado, meu bem?
- Em todas as vezes que a tive.
- E isso é ruim, querido?
- Não. Não é ruim. Mas tenho pensado bastante em todas as vezes que a tive.
- Queres entregar detalhes? Podes me dizer, estou bêbada o suficiente para esquecer amanhã.
- A forma como nos deitávamos era incrível.
- hm...
- A forma como eu a chupava era maravilhoso.
- Continue...
- A forma como eu segurava o corpo dela em minhas mãos era perfeito. A forma de nosso encaixe. Nossas bocas. Nosso suor. Nossas mãos. Nossos corpos. Pele com pele. E eu a chupava de um jeito jamais imaginável. Era incrível.
- Tens pensado bastante nisso? Soa como se apenas quisesse e sentisse sexo.
- Não. Não é isso. Eu jamais quis sexo vazio, mas apenas lembro de nossos bons momentos. A forma com que ela sentava em mim e dizia que tinha sentido minha falta era perturbadoramente magnífica. E o meu desejo aumentava sempre que ela dizia que sentia saudades. Isso é estranho.
- Tu acreditas em amor?
- Mas é claro que não!
- E que caralho de sentimento é esse que sentes a essas horas?
- E eu lá vou saber, caralho? Só sei que não me importo.
- Se não te importas, porque pensas tanto?
- Porque era assustadoramente incrível!
- Peça para ela te visitar então.
- Não. Esse amor é muito barato. E eu não tenho tempo para amores baratos. Amores simples são diferente de amores baratos.
- Porque pensas tanto nesta merda então, querido?
- Assustadoramente incrível, meu bem. Incrível. Mas já não dou a mínima para amor barato.
- Queres uma cerveja?
- Claro, por favor. Aquela que paguei 4,99.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Meu bem, meu bem, você faz uma puta coleção do que eu quero evitar!

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E não sabes a falta que me faz.
E não sabes que nunca te quis longe.
E não sabes quantas vezes te escrevi e pensei em te pedir para ficar.
Mas eu deixei você ir e não vejo problemas nisso.
Deixo que vá.
Deixo que viva.
Deixo que sinta.
Deixo que persista.
Deixo que de mim não se lembre.
Deixo. Te deixo. Me deixo. E enlouqueço.
Mas em ti deixo o sentimento de que te esqueço.
E eu, vez ou outra, penso em te ligar para te dizer certas coisas.
Dizer que eu chorei e você não viu.
Que surtei e você sorriu.
Que eu enlouqueci e você encontrou tua sanidade.
Que eu senti saudades e você não sentiu falta.
Que eu te escrevi e nada você leu.
Que eu te busquei pelos quatro cantos do planeta e em nenhum deles tu estavas.
Que eu sonhei com você e em teus sonhos nunca estive.
Vez ou outra, penso em te escrever para te dizer certas coisas.
Coisas que penso, que insisto, que sonho, que invento.
E eu gostaria de te entregar todas as cartas minhas na esperança de que não se vá.
Mas de ti não quero o pouco. Muito menos o mais ou menos. De ti quero o todo. O puro.
O simples. O existente. E o que não cabe dentro de ti, muito menos se apague.
E eu gostaria de te dizer, meu bem, que hoje me sinto muito bem por você estar bem. E que nada apague a chame que um dia tivemos deitados em cama minha.

Deixo que não vá.
Deixo que não viva.
Deixo que não sinta.
Deixo que não persista.
Deixo que de mim se lembre sempre que puder.
E de tua vida nunca quis sair. E minhas mãos cansadas escrevem o que esta mente mais cansada ainda gostaria de te entregar.
E eu insisto no prazer de te pedir para ficar e jamais fará do meu sentimento por ti ser tão escuro quanto todas as fumaças do mundo.
Meu bem, meu bem, eu te pedi tanto, mas tanto. Te pedi muito mais do que podia me dar, mas nunca te soltei uma palavra sequer do que eu sempre quis de ti. E isso já não nos importa. Eu te deixei ir sem ao menos lutar ou insistir por teu pequeno sentimento por mim. E a gente já não se importa com esses desejos contidos um pelo outro dentro de nós mesmos. Deixe que esse amor miserável se apague de nós dois em algum momento de nossas vidas.
Mas eu te escrevo, querida, para que não esqueça nossos momentos em que nossos corpos foram esquentados um pelo outro. E nossas bocas tocaram nossos céus como se não existisse o amanhã. E te peço para nunca se esquecer que ao apagar da minha luz do quarto, acendemos chamas que nunca serão apagadas aqui dentro de nós.
E da mesma forma que o teu perfume não sai de mim, espero que jamais cuspa o meu gosto contido em tua boca. E lembre-se que quando sentires saudades, meu quarto permanecerá no mesmo lugar esquecido por todos os deuses inventados num universo qualquer.

- Você precisa lembrar de não esquecer que o teu amor foi embora.
- Mas eu tento amar da minha forma e nunca consigo.
- O que tens vivido não tens sido amor, mas sim paixões. Teu amor está muito longe de seres encontrado novamente.
- Meu maior defeito é não dar a mínima.
- Você se importa muito mais do que pensas. Só escreve o bastante para acreditar que não sentes, quando na verdade, sentes muito mais do que gostaria.
- E bebo muito mais do que precisaria.
- Tu bebes na esperança de que esqueça teu amor de uma vez por todas, mas se encontra sempre pior e pior e pior. E você se afunda muito mais na bebida no que em teu amor, e é isso que te mata pouco a pouco.
- Meu amor está lá fora, meu bem. Só cansei de procura-lo. Quando a gente acha e acredita que encontramos o amor, ele escapa por nossas mãos e escorre por nossas entranhas nos degolando devagarzinho. Todas as pessoas que eu insisti em amar me entregaram recordações do que eu não quero viver novamente.
- E o que queres dizer com isso?
- Quero dizer que preciso de um amor calmo e tranquilo. Os amores que insisti em dar uma chance, me entregaram mais dores de cabeça do que minhas próprias ressacas.
- Não estas pronto para amar.
- E quando estive?

Eu te pedi aqui perto, muito perto, perto o suficiente para que nossos corpos suados jamais se afastassem, enquanto o teu beijo quente passa pelos meus lábios na esperança de que alguém entregue aquela frase obscura que contém três cretinas palavras ecoassem pelos cantos do quarto. E isso nunca aconteceu.
E eu te digo, meu bem, te digo que sinto sua falta mais do que eu gostaria.
Te digo que eu bebo por lembrar de ti muito mais do que gostaria.
E eu entristeço quando o sabor do álcool sobe para minha cabeça, porque sei que não estará aqui para cuidar de mim como um dia fizeste.
E eu lembro do teu sorriso e sorrio escondido.
E eu lembro do teu choro e choro perdido.
E eu lembro do teu amor e amo sofrido.
E eu lembro do teu abraço e sofro em conflito.
Meu bem, meu bem, tu não farás noção nenhuma do que minhas palavras querem tanto te dizer, mas eu queria que soubesses que jamais planejei te ver longe de mim.
E existem algumas coisas mais que gostaria de te entregar.
Não leve a mal. Isso é tudo que posso te dar.
Não me leve a mal. Isso é tudo que posso te oferecer.
E não leve a mal se não sei te amar como gostaria e como deveria.
Mas eu bebo por sentir falta do gosto de teus lábios.
E fumo por sentir falta dos teus abraços.
E ouço blues porque sinto falta do cansaço da tua voz me falando sobre o seu dia.
E eu choro escondido por passar momentos sozinhos em que eu gostaria de compartilhar contigo.
E eu escrevo muito por essa saudade sufocante não sair de dentro de mim desde que partiu.
E eu penso em ti sempre que meus dedos agem da forma mais errada escrevendo cartas e mais cartas que nunca chegarão a ti. Não como eu gostaria. Não como eu planejaria. E eu gostaria que todas as cartas minhas invadissem teu coração tal qual tua falta invade o meu.
E eu sofro por lembrar que você jamais voltará para meus braços e deixará escorrer uma lágrima me dizendo o quanto sentiu minha falta nesses dias em que estive longe.
E o que mais me machuca é saber que não consigo te amar da forma que você merece. E o que mais me corrói é saber que não consigo te amar tanto, mas tanto, a ponto de deixar de lado meus defeitos e esquecer dos teus defeitos que tanto me incomodam.
E eu gostaria de te amar da forma que planejamos, mas meu coração apenas sente essa necessidade de te deixar partir porque eu sei que não sou mais capaz de entregar meu amor mais sincero.
E isso a gente não se importa mais. Porque a gente entende que meu peito jamais baterá tão forte quanto um dia ele bateu. E não pelo fato de eu não querer. E não pelo fato de não te amar tanto quanto queres, mas pelo fato do meu peito ser medroso o suficiente para não se entregar para mais ninguém.

E esse tens sido meu maior defeito. Te deixei escorrer por meus dedos não pela falta de amor, mas sim, pelo medo contido em minhas entranhas que é muito, mas muito maior do que todo amor que eu seria possível e passível de te entregar. E todas as cartas que eu escrevi já não significam mais nada. Perdi meu super poder em amar as pessoas como um dia desejei. Não sei se tu me entendes.
Ou se um dia entendeu.
Mas hoje já não me preocupo tanto assim como esses entendimentos. Cabe a mim o valor de amar ou de te deixar ir.

- Sentes que conseguirá amar novamente?
- Faz um bom tempo que sinto que jamais conseguirei ser capaz.
- E porque escreves tanto sobre o amor?
- Porque ainda me encontro na esperança de que uma chama aqui dentro pode se acender de novo.
- Mas quem lê tuas cartas acredita sabiamente que és capaz de amar. E que sabes amar. Não entendes isso?
- Eu nunca dei esperanças nenhuma para as pessoas em relação ao meu jeito de amar. Eu tenho a capacidade de amar, claro que tenho, mas não quero tirar isso de dentro de mim e me machucar novamente daqui uns meses ou anos. Isso é muito mais do que posso suportar.
- E o que fazes?
- Amo de acordo com a minha maneira.
- Mas acreditas que seja por isso que as pessoas sempre vão embora?
- Não, acredito que as pessoas vão embora pelo fato de que não entrego e não falo aquilo que elas querem. Eu gostaria muito de entregar minhas melhores palavras para algum romance meu, mas não sei até quando aquilo irá durar, e isso me faz não gastar muita energia.
- Tens vontade de amar?
- Não. Tenho vontade de deixar de amar.
- Isso quer dizer que tu tens amado alguém?!
- A gente sempre estará amando alguém. Por bem ou por mal. Isso é o que nos deixa mais perto de nós mesmos, se chegares um dia em que algum ser humano não amas outro alguém, esse ser humano faleceu faz um bom tempo.
- E tu acreditas que sejas mais triste deixar de amar ou amar alguém por demais?
- Acredito que sejas mais triste o ponto em que me encontro, amar sem conseguir e poder expressar todas os sentimentos reais que em mim bate.
- E porque não fazes isso?
- Ah querida, deixa o álcool me amar um pouco mais. Talvez seja o que vale a pena.
- Vais acabar se matando!
- Talvez seja por isso que valerá a pena.

Se eu te pedir para sair, tu ficas?
Se eu te pedir para não me amar, tu me amas?
Se eu te pedir para não ter paciência, tu me acalmas?
Se eu te pedir para não sentires falta, tu vens me visitar?
Se eu te pedir para não me ligares, tu decorarás meu número?
Se eu te pedir para não me desejares, tu virás me beijar?
Se eu te pedir para não me lembrares, tu virás me avisar?
Se eu te pedir para não seres minha, tu amanhecerá em minha cama?
Se eu te pedir para não enxugares minhas lágrimas, tu virás me confortar?
Se eu te pedir para não veres meus olhos tristes, tu será meus sorrisos?
Se eu te pedir para não leres minhas cartas, tu irá teimar e lerás todas?
E ainda sim, gostaria de pedir todas estas coisas ao contrário, mas você és inteligente demais para saber que sou o acidente mais grave de tua vida. E ficarás longe. E em mim não pensará. E por mim não amará. E por mim nada sentirá. E eu te entendo, te compreendo, e não me surpreendo por saberes que tens feito a escolha mais certa de tua vida, que és ficares longe de tudo que sinto por ti.
Mas se sentires tanta saudade quanto sinto de ti, volte, meu bem, volte para minha vida e deixa eu te contar tudo que tens acontecido enquanto esteves longe.

Mas me avise, meu bem, me avises se fores voltar, eu preciso arrumar o meu quarto para veres que tenho me virado bem. Enquanto tu não voltas, meu quarto se encontra mais bagunçado do que minha vida amorosa e tudo que eu gostaria de te entregar de bom aqui dentro.
Me avise, meu bem, me avise. E deixa eu te mostrar que ainda sei como amar.
Mas se não voltares, espero que esteja sempre bem. E que acorde sempre com o teu sorriso maravilhoso e tua forma esplêndida de ver o mundo. Do teu jeito.
Do teu jeitinho!