segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Desculpe, meu bem, hoje senti saudade. E nem tem romantismo por aqui!

charles chaplin | Tumblr | Edna purviance, Chaplin, Charles spencer chaplin
Desculpe, meu bem...

Essa semana, te fiz chorar.
E não foi por mal.
Se tu soubesses o quanto choro em silêncio, nem se importaria com algumas lágrimas.
E tu disse que eu mudei demais.
E disseste que eu nem sou mais capaz.
Concordo com você.
Me perdi.
Me esqueci.
Me larguei.
Deixei de sonhar.
A ansiedade me come pelas beiradas.
E a depressão me come por inteiro.
Já nem ligo mais.
Escrevo algumas cartas.
Digito algumas poesias.
Finjo que tudo não passou de um sonho.
De mais um dia ruim.
E continuo acreditando que todas as coisas horríveis serão curadas amanhã de manhã.
Tudo não passa de um pesadelo.
Tento acreditar nisso todas as noites.
E que venha o amanhã.
Tudo estará em seu devido lugar.
Todas as roupas estarão dobradas e guardadas.
Todas as cartas em uma prateleira organizada.
A cama estará arrumada.
Os lençóis estarão limpos.
Minha barba menos bagunçada.
O cabelo penteado.
E sentirei vontade de tomar o melhor banho do mundo.
E ficar horas embaixo da água pensando o quão boa é a vida.
As prateleiras estarão todas limpas.
O guarda-roupa organizado.
As latas e garrafas de cerveja espalhadas pelo quarto estarão no lixo reciclável.
Meu cachorro estará tranquilo, sem aquele olhar de desespero para saber se estou bem.
As coisas estarão como eu sempre quis.
Limpas.
Claras.
Simples.
E cheias.
Cheias de vida. Cheias de tesão. Cheias de vontade.
Iluminadas pelo amanhecer de mais um dia que bate na nossa janela e nos lembre do quanto temos que viver.
Do tanto que nos falta para acreditar e vencer sempre.
E o amanhã nunca chega.
Ou melhor...
ele chega.
Sempre chega.
Mas não da forma que a gente espera e procura e quer.
A tristeza me puxa, mais uma vez, pelas beiradas.
E estou longe de uma manhã feliz.

Vem aqui para casa.
Puxa a minha mão.
Diz que tudo ficará bem.
Mas diz olhando nos meus olhos.
Não da forma clichê e sem preocupação que todos falam.
Me abraça logo em seguida.
Me beija no rosto.
Diz que me quer por perto.
Diz que não vai embora.
Tira essa angústia do meu peito.
Me traz para perto de ti.
E faça eu sonhar de novo com cenas incríveis.
Meu coração está acelerado.
Faz ele se sentir calmo novamente.
E puxa a minha mão.
Deixa eu te sentir.
Deixa eu sentir a pele com pele.
Acreditar que posso confiar em outro ser humano, mais uma vez.
Eu não quero me perder.
Me ajuda a se encontrar.
Seja a minha cura.
Seja a minha calma.
Seja a minha paz.
E deixa eu deitar a cabeça no teu peito para acreditar que o mundo não está tão ruim assim.
Deixa eu vivenciar esse pequeno momento ao teu lado.
Sem falar nada.
Apenas sorrindo.
Em silêncio.
Bem quieto.
Bem quietinho.
E deixa eu sentir o que é ser importante, outra vez mais.
Deixa eu sentir o tesão de viver.
Deixa eu sentir a alegria do sentir.
E a leveza do estar vivo.
E de bem comigo mesmo.

Eu sinto raiva o tempo todo. 
Eu sinto tristeza todo o tempo.
E angústia a todo momento.
A cabeça não funciona direito.
As ideias já não batem comigo mesmo como batiam antes.
Eu me perco dentro de mim.
Me perco nas palavras.
Me perco nos momentos.
Me perco nos sentidos.
Me perco no que estou fazendo.
O que eu estava fazendo?

O que eu estava falando?

Não lembro bem.
Outra ideia que saiu por ai.

Cazuza lia as poesias mais lindas.
Bukowski escrevia os poemas mais incríveis.
Chaplin citava a tristeza como algo lindo.
E eu procuro apenas minha paz através de todos eles.
E através de minhas poesias não encontro nada.
Não sei de nada.
Não vejo mais nada.
E é tudo tão chato.
E ruim.
E bobo.
E entediante.

Quando foi que a vida virou esse capítulo tão chato sem nada a dizer?!
Quando foi que eu senti vontade de te ligar para ouvir tua voz e ser capaz de seguir em frente?!

Eu gostaria muito de ouvir a tua voz, mas eu nem sei mais quem é você.
Não sei onde escondi o meu amor.
Não sei mais onde escondi meus sentimentos bons.
Devo ter perdido em algum canto do quarto.
Ou até mesmo naquela esquina que passei outro dia.
Eu queria tanto encontrar o meu amor.
Coço a cabeça e as entranhas e sinto falta dele.
Mas não tenho forças para procura-lo.
É muito difícil conviver com ele.

Mas eu gostaria de ouvir tua voz para saber que tudo está e ficará bem!

O amor é isso...
A gente olhar para o lado, ver a cama vazia e sentir falta de alguém ali.
A gente sentir falta de um abraço apertado.
A gente sentir falta dos gemidos fortes e altos na hora do sexo.
A gente sentir falta de estar carente e ter alguém para preenche-lo.
A gente sentir falta de fazer outra pessoa feliz.
E, por mais que todas as coisas estejam escuras, ficar preenchido com um sorriso claro no fim da rua.
Talvez, isso seja o amor.
Escrever as poesias mais escrotas e se sentir bem com todas elas.

Eu sei que ninguém irá gostar dessa carta.
Não estou bêbado o suficiente para escrever.
Mas teimei comigo mesmo.
E escrevi.
E senti falta de quando eu acreditava estar feliz.
Ninguém irá saber que estou numa crise de ansiedade absurda.
E pensando em todas as formas possíveis de ir embora sem sentir nada.
Irão apenas subentender que estou apaixonado por alguém.
E essa carta está muito longe de ser algo sobre isso.
Eu deveria estar apaixonado por mim mesmo antes de estar por alguém.
Como é que pode alguém estar apaixonado por si mesmo com pensamentos de acabar com a vida como os meus?!

Acredito que você entendeu o espírito de toda essa coisa.
Se não entendeu, leve isso apenas como mais uma carta ruim que você perdeu cinco minutos de vida lendo.

Obrigado por chegar até aqui!

AH, SOBRE O QUE ERA A MINHA SAUDADE?!
Desculpe, meu bem, esqueci.
A ansiedade tem dessas coisas.
Mil perdões!

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

...sobre todas as vezes que fracassamos

Luna Buschinelli - Sobre a Série Sentimentos - YouTube
Texto simples.
Carta curta.
Comum.
Muito simples.
E eu nem quero que tu sintas tudo que existe aqui.
Mas quero que entenda.
E saiba que a minha ansiedade está mentindo para mim.
E para você também.
Na verdade, gostaria que sentisse cada palavra que eu te escrever aqui.
Para entender o quão simples os momentos são.
E o quão normal é fracassar.
E decepcionar as pessoas.
E nos decepcionar.
Tudo bem a gente não se sentir bem.
Tudo certo se a gente perde uma luta.
A gente não pode ganhar todos os dias.
A vida ficaria chata demais se fosse sempre assim.
São nas derrotas que a gente descobre quem realmente somos.
E tudo isso parece uma autoajuda.
Sem que eu queria ser algo em comum com isso.
Estou longe de ser.
Estamos longe de ser.
Estou longe de existir.
E de ti, existir.
Estamos vivenciando nossos caminhos no modo automático sem saber onde esse trem irá descarrilhar. 
Tudo bem a gente se sentir dentro desse trem o tempo todo do tempo que a gente se permite sentir.
E a nossa ansiedade está mentindo para nós.
Tu não és uma pessoa ruim.
Tu não vais machucar ninguém.
Você não tem a capacidade de machucar uma mosca sequer.
Mas a ansiedade mostra para nós quem nunca quisemos ser.
E ela mente bastante.
Mente.
Repete.
Que mente.
Que repete.
O tempo todo.
Do tempo do todo de um tempo que a gente nem tem.
E martela. Que martela. Que martela.
Repete tanto que perde o sentido.
E nos faz perder o sentido.
E acreditar que a vida não tem sentido.
O nosso cérebro não trabalhar a serotonina que seria necessária.
E a gente nem sente vontade de sair da cama para fazer algo a respeito.
E a ansiedade perturba. 
E mente. Que mente. Que mente.
E enclausura. 
As dores de cabeça começam.
O corpo todo dói.
Os pulmões não funcionam direito.
E o coração a gente quer arrancar de nós.
Mas é tudo mentira que a mente insiste em mentir para a gente.
Que prega peças.
E a gente mente para a gente que tudo vai ficar bem.
Novamente!
E mente. Que mente. Que mente. E perturba.

Deixa a mente mentir para a gente dessa forma que a gente nem se sente.

Porque a gente esquece nossos pais.
A gente esquece nossos amores.
A gente esquece nossas conquistas.
A gente esquece nossos amigos.
A gente esquece nossos orgulhos de viver.
A gente esquece nossos sorrisos.
A gente esquece os momentos bons.
A gente esquece os restaurantes preferidos.
A gente esquece as melhores canções.
A gente esquece nosso trabalho.
A gente esquece do nosso eu.
E pensamos apenas no nosso quarto, na nossa cama.
Corremos para casa.
Para se isolar de nós mesmos por medo.
Muito medo.
Tanto medo.
Que chega até ser bobo.
Vamos beber algumas cervejas?
Vamos beber algumas taças de vinho?
Quem sabe nos esquecemos das tormentas.
Vamos beber até que tudo passe!!!
Mas nada passa.
E a gente não esquece.
A mente que mente e insiste em nos colocar para baixo não deixa.
E a gente pensa em todas as formas possíveis de sair dessa tempestade.
Cansamos de nos molhar até nos afogar, não é mesmo?!
A mente prega peças para a gente acreditar que somos seres humanos horríveis.
E a gente acredita, sabiamente, nisso.
A gente se torna os gênios das notícias ruins.
E acreditamos que o futuro que nos basta é feito apenas de situações que nos colocam no fundo do poço.

A ansiedade está mentindo para nós.
Em dizer que somos pessoas horríveis.
Em mostrar que podemos nos foder pelo cu como todas as pessoas que fizeram maldades.
Em mostrar que estamos a beira de morrer na cama de um hospital qualquer.
A ansiedade está mentindo para mim.
Em mostrar que vou decepcionar todos os que amo.
E deixarei todos nesse mundo de um jeito, assustadoramente, maldito.
E todos irão me odiar.
E se esquecer de mim.
Porque eu sou uma pessoa ruim.
E fiz maldade com muita gente.
E acabei com muitos sonhos.
Era o que todos queriam, o meu fim.

A mente que mente para mim!
Para tu.
Para nós.
A ansiedade está mentindo para todos nós.
Eu sei que está.

Eu escrevo todas essas palavras para mim mesmo.
E eu gostaria que alguém dissesse que tudo irá ficar bem.
Que eu não sou uma pessoa horrível.
Gostaria de lembrar da sensação de deitar a cabeça no peito de alguém e sentir as mãos pelos cabelos.
E ser esquentado com o melhor dos abraços.
Pensar que eu sei amar alguém, novamente.
Mas a ansiedade está mentindo para mim dizendo que vou permanecer para sempre sozinho.
E que isolado ficarei até morrer.

É bem triste ser assim.

Todos os meus heróis se foram.
Acabaram com suas próprias vidas.
Depressão?
Ansiedade?
Apenas tristeza?
Não sei dizer. Nem eles saberiam, se pudessem.
E temos algo em comum, todos eles estavam devastado de criatividade antes de partirem.
Assim como eu, me sinto o gênio das palavras e cartas e textos.
Nisso ninguém pode me parar.
Meus dedos escrevem, escrevem e escrevem na mesma frequência que minha mente que mente que mente.
E tudo bem a gente se sentir derrotado algumas vezes.
Tudo bem a gente dar bola para nossos demônios e nos entregar para isso.
Ás vezes, a unica alternativa é se render.

E quantas vezes, apenas hoje, pensei em suicídio?

Não sei te dizer.
Não contabilizo mais.
Só quero te dizer que você é incrível. 
E a ansiedade está mentindo para você.

Ok?

OK, PORRA!

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Eutanásia de um jovem ancião (sou atestado de óbito esperando o tempo ter tempo para assinar)

Série Sentimentos — Luna Buschinelli
*Desculpa a falha de não conseguir escrever textos bons!*

Solta a minha mão.
Me larga.
Deixa-me tentar respirar pelos cantos desse enredo todo.
Tu tem noção do tamanho do nosso universo?
Somos apenas um grão de areia no meio disso tudo.
Nossos medos, aflições, amores, receios e virtudes não significam nada.
Nem para mim.
Nem para você.
Nem para ninguém.
E a gente espera algo que nunca vêm.
Um abraço forte.
Uma palavra amiga.
Um aconchego qualquer.
Uma notícia boa.
Uma saudade persistente.
A gente espera que os amigos nos telefonem.
A gente espera que a família nos entenda.
A gente procura falar sem ter que ouvir.
E gritar muito alto para que nos ouçam.
Mas ninguém nunca nos ouve.
A gente procura uma saída para tudo que se passa dentro de nós.
A gente não encontra essa saída.
E a gente só quer bater a cabeça em qualquer canto da parede até que tudo de ruim saía de dentro de nós.
A gente falha.
E a gente procura nossos erros.
Nossos defeitos.
Nosso passado.
Nossos sonhos. 
Nossos tormentos.
A gente procura os motivos.
A gente procura as causas.
E a gente falha no erro.
Nossa falha é procurar demais sem saber por onde começar.
De onde a gente deve partir?
Onde está o nosso fim?
Cadê essa tal felicidade?
E a gente esmaga a cabeça contra os travesseiros na esperança de que algo surja como um super herói sorridente pronto para nos libertar de todo mal.
A gente atravessa o nosso peito com esperança de que algo de bom ainda se encontre dentro de nós.
Mas a gente não encontra nada.
E nos pegamos atravessando noites e noites e noites sem sono, vivendo dentro do nosso próprio pesadelo.
Solte a minha mão.
Deixa eu me arriscar nesse abismo.
A escuridão pode ser melhor que tudo isso aqui.
Deixa eu apagar a luz.
Solte...
a...
minha...
mão!

Me deixa ser um pouco mais.
Me deixa ter um pouco mais.
Me deixa acreditar um pouco mais.
Apaga esse desespero que corrói o meu peito.
Traz o personagem de mim mesmo para dentro de mim que fazia eu sentir tesão pela vida.
E a gente acorda.
Olha para o teto.
Olha para os cantos do quarto.
E a gente enxerga que nada mudou.
O telefone não tocou.
Tua carta não chegou.
A família não te entendeu.
Os amigos sumiram acreditando que tudo está bem.
E a gente só quer desistir.
E jogar todas as coisas que construímos fora.
No abismo.
Acreditando que esse sim é o alívio que a gente sempre procurou.
Mas são nos telefonemas, nas cartas, na família e nos amigos que a gente pensa quando a gente mais quer desistir.
Meu coração não encontra sossego.
Meu peito está sempre carregado de raiva e tristeza.
Minha mente sempre me dizendo todas as coisas malditas que ela consegue dizer.
E minha alma mais apagada que todas as histórias contadas por pessoas importantes desse mundo.
Te escrevo esta carta na esperança de que tudo esteja bem quando eu termina-la.
Te escrevo essa carta na audácia de que tu estejas bem quando eu te entrega-la.
Que tu não se sintas da forma que me sinto.
Que tu não se identifique com estas palavras.
E se conseguires sentir o que eu sinto em cada palavra, te peço para não desistir de si mesmo como há tempos desistir.
Não apaga teu personagem de ti.
Não edita tua forma de formas erradas.
Não deixa essa nuvem nebulosa encobrir tudo de bom que tu és.
Não desiste como eu desisti de mim mesmo.
E acredita que tudo pode melhorar.
Que tudo pode passar.
Que tu podes amar alguém te novo.
Que tu podes sorrir de novo.
Que tu podes ler poemas e acreditar que aquelas histórias trarão borboletas para teu estômago novamente.
Eu sei, o sabor da vida é amargo demais.
Eu bebi esse azedo copo da vida várias vezes e só queria apagar a luz.
E escrever em meu jazigo "Vocês que se aguentem! Vocês que se virem! Essa porra não é mais minha".
Mas eu queria não decepcionar as pessoas.
Não queria deixa-las sentindo saudade.
Ou tristeza.
Ou solidão.
Até mesmo angústia.
E gostaria de dizer, as palavras que sempre temi em proferi-las, "eu te amo" para todas as pessoas que sempre estiveram aqui e que sempre passam por minha mente quando o assunto é crises de ansiedade.
Mas são palavras difíceis demais de serem ditas quando o coração já não sabe mais o que quer.

Eu não quero ser um sinônimo de auto-ajuda. Estou longe de ser algo assim. Sempre te escrevi isso. Sempre te disse que sou acidente grave. Barco afundado. Desastre que acabou com todos os dinossauros há um tempo atrás. Quero apenas que enxergue a pessoa que tu és. E que se sinta bem quando esta carta acabar. Que se lembre que tudo vai ficar bem. Que a nossa mente não está trabalhando direito esses dias. E está tudo bem não se sentir bem, meu bem. As pessoas não se importam com a forma como a gente se sente. Se preocupe com você. Cuide de você. Lembre-se sempre de quem você costumava ser e o que costumava sentir quando tudo estava bem. Tu és uma pessoa boa. As coisas ruins irão te acontecer. A gente vai perder o controle de muitas coisas incontroláveis, mas tudo irá ficar bem uma hora. Não deixe esse pensamento permanente te consumir e te confundir fazendo tu se esquecer de quem tu és. 
Não me leve a mal!
A nossa mente é nossa própria inimiga nesses tempos em que nada faz sentido.
Nossos monstros nos dizem quem e o que deveríamos ser e fazer.
Por mais que a gente lute e saiba que está tudo errado.
A gente insiste em acreditar que os nossos monstros estão certos.

E eles nunca estão!

Eu gostaria de te dizer adeus.
E te peço para soltar a minha mão.
Gostaria que me deixasse cair nesse abismo em que eu mesmo me coloquei.
E enxergar a escuridão.
Fiz uma rima boba sem nem pensar.
Para te dizer que eu não quero teu perdão.
Nem teu aconchego.
Nem seu abraço.
Nem teu apego.
Só queria teu telefonema para me dizer tudo ficará bem, novamente.
Mas eu sei que tu não sabes mais de todas as coisas.
Então, eu sei que tu irás me deixar gritar muito algo em silêncio.
E eu vou gritar.
Vou espernear. 
E pedir para tudo passar.
Ou que seja tudo um sonho.
Vou pedir para essa raiva ser passageira. Para a angústia não me levar.
Para a tristeza não me carregar. E a revolta não se alastrar.
Vou implorar para que eu consiga amar alguém, mais uma vez.
Para que eu me sinta, verdadeiramente, bem ao teu lado, outra vez.
E, quando eu estiver do teu lado, que eu esteja me amando por completo para saberes te amar como tu mereces.
Eu não quero desistir.
Mas eu quero me jogar.
Eu não quero ir embora.
Mas eu quero apagar a luz.
Eu não quero virar uma memória.
Mas eu quero sentir saudades.

Saudades de ser.
De ter.
De sentir.
De falar.
De amar.
De buscar.
De ser eu mesmo.
Saudades de amar muitas coisas.
E não ser esse vazio constante.
E te pedir para soltar minha mão.
Solte a minha mão.
Larga ela.
Deixa eu viver esse abismo.
Deixa eu apagar a luz.
E virar memória.
Mas eu lembrei que tem muita gente que me ama pelos cantos do planeta.
Droga!
Pensei mais neles do que em mim. Outra vez.
Para variar.
Esse sou eu, sempre pensando nos outros antes de tomar minhas decisões.

Não desiste não!
Tem muita gente que te ama.
Tua mente diz que a ansiedade depressiva constante nunca vai passar.
Mas ela vai passar.

Ela tem que passar.
Uma hora...ela tem que passar.
Ela vai passar.
Eu acho que vai passar.

Não desiste não!
Mas se desistires...
Me chama!
Eu largo tuas mãos junto das minhas.

Eu entendo tua dor.
Eu entendo teu vazio.
Mas sabe o que mais machuca do que a própria angústia?
Não entenderem, absolutamente, nada do que eu falo.

E escrevo.

As pessoas estão tão perdidas quanto eu. 
Eu cansei de escrever.
Poucos vão entender que desisti.
Muitos não vão se importar.
Alguns vão entender que eu quero pular da sacada esta noite.
Outros vão sacar que estou a beira de fazer isso.
De apagar a luz.
Talvez, a escuridão seja mesmo melhor do que tudo isso aqui.
Mas todos irão ler e me dizer "Nossa, tu escreves muito bem. Parabéns. Continua escrevendo".

Eles nunca entendem meus pedidos de ajuda.
Mas está tudo sempre bem, meu bem.
As coisas sempre ficam bem.
Uma hora tem que ficar.

Eu cansei de te escrever, queria te falar. 

Desculpa, novamente.

Eu cansei.

Cansei.

Escrevi.

Chorei. E cansei.

Mas nada mudou!

Como uma peça de teatro, as luzes se apagam.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Querida, o psiquiatra me demitiu pela terceira guerra mundial dentro da minha cabeça!

Luna Buschinelli - Projeto Curadoria
E o que eu faço, meu bem?!
Meu bem!
Sem ti.
E sem mim.
E não existe nada aqui dentro que faça eu ter autocontrole. 
Minha cabeça viaja em meus próprios pensamentos e sentimentos.
Nunca sei o que é real.
Nunca sei o que é ilusão.
Nunca sei se te quero.
Nunca sei se torço para que partas.
Meu bem, eu não sei mais o que fazer.
Te escrevo esta carta para que encontres em algum canto de meu quarto escuro.
E me mostre que sou capaz de sair dessa.
Que existe alguma coisa lá fora capaz de me deixar são novamente.
Cansei da falsa felicidade, meu bem.
Cansei de esperar a alegria bater em minha porta dizendo que tudo está bem de novo.
Cansei de sonhar com dias melhores onde todas as pessoas são e estão felizes.
Cansei, meu bem. Apenas cansei.
Cansei de ti. 
Cansei de mim.
Cansei das flores.
Cansei dos poemas.
Cansei das ruas, dos bares, das festas.
Dos amores. Dos romances. Das pessoas.
E a minha mente me mostra apenas o pior de tudo isso.
Sinto um medo repentino que chega e não se vai. 
Medo constante de que todas as coisas vão, finalmente, ruir sobre a minha cabeça.
E vem os tremores.
Vem os suores gelados como a neve.
Vem as dores no estômago.
A mente cega.
Os olhos embaçados.
E eu não sei o que fazer. 
Então, eu bebo. Bebo mais um pouco.
Escrevo. Escrevo muito mais do que costumo escrever.
E as mãos tremem. Nunca sei bem o que estou preparado para as pessoas capazes de lerem minhas cartas.
Penso em parar tudo que estou fazendo.
Quero fugir.
Quero sumir.
Quero desaparecer.
Acreditar que existe algum canto no horizonte que me faça ser eu mesmo novamente.
Não enxergo absolutamente nada!

Te escrevi mais uma carta para apenas eu mesmo entender o que se passa aqui dentro.
Quem sabe não consigo tirar esse borrão de nuvem escura de cima da minha mente.

- Querida, o psiquiatra me mandou embora!
- E o que dissestes a ele?
- A verdade, meu bem. Ouvi uma vez que se tu fostes sincero, a verdade te libertará.
- E qual a tua verdade, querido?

...
qual a minha verdade, meu bem?

Às vezes, quero tudo.
Outras vezes, não quero nada.
Vez ou outra, penso em tudo que sonhei.
Por muitas vezes, quero apenas desistir.
Às vezes, quero o nosso romance.
Muitas vezes, quero apenas ficar sozinho.
Existem dias que acordo e não quero ver ninguém.
Não quero me deparar com todas as coisas e pessoas do mundo e saber que existe muita maldade nele.
Mas o dia está tão lindo, eu deveria tanto sair para tomar um sol e fazer todas as coisas que eu deveria fazer.
E eu absorvo tudo que está lá fora.
Trago aqui para dentro.
Dentro de mim.
E é então onde mais me perco.
Eu sugo todas as coisas ruins do mundo e das pessoas e vivo acreditando que sou capaz de viver com tanta maldade.
Que eu poderia ser assim.
Muitas vezes, acredito que eu deveria ser assim.
Tão ruim quanto todas as pessoas que me fizeram chorar de alguma forma, em gritaria ou em silêncio.
Mas sinto que eu poderia ser como todas elas e viver muito bem comigo mesmo.
Mas eu sinto que não consigo.
Eu sei que não consigo.
Chega o ponto em que sofro.
E choro.
E tremo.
E sinto medo, muito medo, de perder o controle de mim mesmo e me tornar tudo de ruim que todas aquelas pessoas são.
Eu não quero perder esse controle de mim mesmo e me transformar em algo extremamente ruim da forma que o mundo não deveria ser.
É nesse momento que choro em silêncio, mais uma vez.
Fecho os olhos.
E imploro para não sair de mim mesmo.
Se eu tiver que sair, que seja para sumir para bem longe onde eu não possa sofrer tanto quanto tenho sofrido nessa luta constante em ser alguém melhor do que costumava ser.
Do que eles jamais serão.
E eu não quero ser algo ruim para ninguém.
E eu não quero que algo de ruim aconteça para ninguém.
E eu não quero ouvir histórias tristes sobre ninguém.
E o mundo é escuro demais para todos nós.
Isso me deixa tão, mas tão para baixo que já não me encontro em posição nenhuma de desejar coisas boas.
Se vocês soubessem o quanto isso me afeta, leriam todas as minhas cartas para continuarem sabendo como me posiciono em relação ao mundo e como eu deixei de escrever sobre romances bobos para alguém que escreve sobre todas as suas fraquezas quando as situações não estão nada bem.

Eu gostaria de te pedir para entrar.
Gostaria de te pedir para ficar.
E se sentar.
E tomar uma cerveja comigo.
Gostaria de te mostrar todos os poemas que escrevi noite passada.
Ou naquela noite em que eu estava me sentindo feliz.
Mas eu não consigo mais pensar que ficarás e fará com que eu sorria de verdade.
Não consigo mais olhar para o olho das pessoas e acreditar que algo de bom sairá de lá.
Eu não me sinto bem comigo mesmo já faz um tempo.
E não quero te passar essa energia.
É triste demais saber que estou passando tudo de ruim para alguém que não tem, absolutamente, nada a ver com meus problemas.
Mas eu gostaria de te pedir para ficar. Gostaria que ficasse.
Gostaria que entrasse e se sentisse a vontade.
Por mais que eu não me sinta a vontade com todas as coisas que o mundo me entrega.
Mas eu gostaria de te ver confortável.
Gostaria de te ver sorrindo.
Gostaria de te ver se sentindo bem ao meu lado.
E sim, eu te pegaria uma cerveja. Te faria um café.
Faria com um belo sorriso em meus lábios.
Voltaria.
Te entregaria tua bebida.
E perguntaria como foi o teu dia.
E sorriria, de verdade, ouvindo tuas histórias e teus problemas e tuas loucuras.
Mas saiba, meu bem, que dentro desse coração, nada está bem.
Está tudo escuro.
Apagado.
Vazio.
Solitário.
Triste.
E desapegado.
Mas é nesse coração que se encontra a força para não desistir de tudo que o cérebro insiste em me mostrar.
Mas é nesse coração que se importa com a forma que você se sente.
E é nesse coração, estrangulado pelo mundo, que se encontra a preocupação sobre como você se sentiria se eu desistisse de tudo essa noite.

E que não faz nada porque eu sei a decepção que seria para ti se eu partisse sem dar tchau.
Mas é nesse coração que se encontra a verdadeira solidão de saber que ninguém se importa com o que se passa aqui dentro.
E isso, meu bem, não me faz nada bem.

Mas está tudo bem, meu bem. Tudo está sempre bem. 
É assim que eles me enxergam. E é assim que eu gostaria de transparecer meus sentimentos mesmo quando tudo está apenas desmoronando dentro de mim.

Qual é a tua verdade, meu bem?