quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

(Des)Romantização da ansiedade

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E a gente não sabe bem o que está acontecendo.
Quarta-feira de cinzas.
A gente acorda. Abre os olhos. Enxerga o mundo cinza.
Mais cinza do que o normal.
Não é pecado a gente pensar assim.
E a gente sorri.
Sorri para o mundo. Sorri para o cachorro. Sorri para as janelas.
As frestas inundadas de gotas por causa da chuva que aconteceu a madrugada passada mostra que o dia será muito mais do que cinza.
O cinza.
Cinza. Cinza. Muito cinza. Quase preto.
Apagado. Apegado. Chorado.
Que comece mais um dia. Que a gente faça todas as coisas que temos para fazer, como escovar os dentes, lavar o rosto. Quem sabe um bom banho quente. Pode ser um banho em que a gente pense na melhor roupa, mas a gente não quer usar aquela roupa, a gente não se importa, mas a gente pensa nela. Quem sabe não encontramos alguém na rua, algum conhecido, alguém importante, alguém que se importe, alguém que sorria, que abrace, que seja, que esteja. Que te sinta. Que te deixe entrar. Que te pede para ficar. A gente nunca sabe quem a gente pode encontrar em um dia cinza.
A gente sai do banho. A gente esquece a combinação de roupa perfeita para um encontro do acaso.
Ah, mas a gente não se importa, lembra?
Desodorante. Perfume. Aquela ajeitada no cabelo.
A gente se olha no espelho e cai de encontro com o pior de nós.
Eca!
A gente não se importa. Outra arrumadinha no cabelo. E a gente sorri.
Um café. Um chá. Um pão. Uma bolacha.
Um belo café da manhã, quem sabe?! Com alguma companhia, quem sabe também?!
Mas o dia está cinza e a visão mais cinza ainda. Estamos ali. Sentados. Tomando café. Alguém está falando com a gente, nos desejando bom dia, mas a gente não se importa. A gente mal escuta, mas a gente sorri. Estou sorrindo. Eu te sorri. Você me sorriu. E eu te vi, com a visão turva, mas eu te vi. E tu me viu. E sorriu.
Enchi o estômago com café e bisnagas e bolachas e "bom dia", mas o estômago empapuçado de besteira estomacal pelo carnaval e café da manhã não faz tanta diferença quanto o vazio da alma que me corrói por dentro.
E a gente sai para o mundo.
Carro. Ônibus. Metrô. Chuva. Pessoas. Gente. Muita gente. É gente demais. Sorrisos, alguns. Tristezas, várias. Não importa.
Chuva caindo. Caindo chuva. Cinza. Céu cinza. Muito cinza. Visão mais cinza.
Entrei no carro. Coloquei um mapa para onde eu deveria ir.
A gente precisa se encontrar. E sorrir. E ser. E surpreender. E sorrir. Sorrir. Sorrir.
Foca nisso, viu?!
E a gente coloca uma bela canção.
Música, música sempre ajuda. Ajuda muito.
Calmaria. Gritaria. Não importa, mas ajuda. E sorrir. Sorrir ajuda. Ajuda muito.
Continua. Continua. CONTINUA!!!
Força. Você é capaz.
Coloque as mãos ao volante e sorria e cante a música bem alto, muito alto. Como se quisesse gritar.
E veja todas aquelas pessoas lá fora do carro com tuas vidas passando para lá e para cá.
O estômago começou a gritar pelas besteiras estomacais, não é?
Empapuçado?
Acho que não. Acho que são as paranoias te dando dores de barriga, mais uma vez.
Isso é um saco, tu não acha?
Dirija. Dirija. Sorria. Cante. Cante. Sorria. Não se esqueça. Sorria.
E continue!!!

- Bom dia, tudo bem?!
- Nossa. Acabei de entrar no meu trabalho, tudo tão automático que mal percebi.
- Como é?!
- Oh, nada, esqueça. Bom dia. Como passou o carnaval?!
- Cara, eu fiz uma viagem maravilhosa. Fui para o litoral, cachoeiras, muitos amigos. Tomei tanta cachaça. Você tinha que ver...

...

Ela me falou mais algumas milhares de coisas que não me lembro bem.
E eu sorri. Achei aquela viagem incrível.
Ou será que foi um passeio?
Ela foi viajar?
Estava sozinho?
Mas eu sorri. Acho que ela entendeu que eu entendi.
Odeio ser grosseiro.

...

A gente grita.
Que surta. Que surte.
Que chora. Que cava.
Que sente. Que implora.
Que nutre. E apaga.
Que paga. E estraga.
E estranha. Que apanha.
Que dói. E corrói.
E é tão mais forte que a gente.
E a gente não entende bem o que está acontecendo, meu bem.
Os olhos parecem que vão saltar de nós.
As mãos tremem. O corpo apaga. E surta.
E a gente sente tudo por dentro de nós, mas o vazio corrói.
E a gente sorri. Continua trabalhando. Estudando. Vivendo. E tentando.
Mas a mente não deixa. A mente grita mais alto que a gente.
E a gente pensa em desistir.
OH DEUS, eu cansei de contar quantas vezes eu pensei em desistir só hoje.
Mas a gente sorri. E eles falam que nossas roupas estão lindas. Eu mal escolhi o que vestir.
E que nosso perfume está perfeito. Que apega. Que fica. Que sente de longe. Eu mal sei qual perfume borrifei em mim.
Que estrangula. Que mata.
Que traga. Que bebe.
A gente grita. Grita muito.
Grita alto. Em silêncio.
Tudo em silêncio.
Que sufoca. Que abate.
Que fica. E não some.
E faz a gente sumir de nós mesmos. Onde foi que me perdi aqui dentro?!
A gente sente enjoos repentinos. As mãos ficam dormentes, mais dormentes. A mente apaga e foca apenas em coisas e situações e pessoas e momentos ruins. E a gente só pensa naquilo. O corpo dói. A cabeça pesa. A gente quer chorar, mas a gente não chora. A gente nunca chora, porque não temos forças para isso. Deixa a vida continuar assim. Uma hora passa. Acaba. Que paga. E apaga. E some.
Uma hora. Outra hora. Alguma hora.
As mãos agora estão geladas, a gente já não consegue prosseguir com o trabalho sendo tão eficaz quanto outros dias, mas a gente faz. E as pessoas elogiam, mas a gente sabe que não fizemos um ótimo trabalho. A gente sorri. Sorri com força. E elas lançam sorrisos para nós de volta e agradecem.
Pensamentos ruins. Sentimentos ruins.
"OH QUE ÓDIO DE MIM. Eu sou um inútil. Eu estou ridículo. Não consigo nem sofrer direito ou viver direito. QUE ÓDIO. QUE RAIVA. QUE RAIVA".
Eu gritei isso para mim mesmo!
Não. As pessoas não podem ouvir ou saberem que estou em minhas crises ou momentos de fraquezas, elas irão usar isso contra mim.
Silêncio. Se cala. Se acalma. Respira. Que tudo volta ao normal.
Eita, falta de ar invadiu os pulmões. A gente tenta puxar o ar com um pouco mais de força, mas o peito dói. O coração corrói e incha. A gente coloca a mão no peito e sente. E pensa "Eu estou vivo, olha, é isso mesmo, estou sentindo algo, por mais que seja dor, sou capaz de sentir algo". E a gente respira. E lembra e pensa em coisas boas.
Boas. Muito boas.
Cachorros. Família. Amigos. Trabalho. Romances. Filmes. Besteiras comestíveis. Cervejas. Cigarros.
Não.
Esses últimos não são tão bons assim.
Estou me acabando por inteiro com todas as minhas cervejas e tragos.
"QUE LIXO DE PESSOA QUE EU SOU!"
Eu gritei. Mais uma vez. Em silêncio.

A gente não entende muito bem o que está acontecendo.
E eles não enxergam bem o que está acontecendo.
Aquela garota da recepção que me deu bom dia me disse que eu estava muito bem hoje.
Calmo. Tranquilo. Quieto, mas tranquilo. E que eu estava muito bem com a roupa que eu estava usando, que dava até vontade de me abraçar e me apertar o dia inteiro.
E eu sorri.
E pensei "Será que ela sabe quantas vezes pensei em desistir da vida só enquanto ela fala comigo?", e eu sorri, agradeci.
E dei por conta de que as pessoas não sentem o que eu sinto, elas mal enxergam.
PUTA QUE PARIU!
Solidão. Solidão. Solidão.
Me senti mais sozinho que o normal. E isso me afetou.
A gente se sente sozinho, mas estamos sozinhos e morreremos sozinhos.
E a gente pensa em quais pessoas sentirão nossa falta.
CARALHO, estamos sozinhos. Não sou grande coisa para minha família. Não sou grande coisa para os meus amigos. Meu trabalho não é minha vida. Minhas artes ficarão por algum canto.
É tão triste.
Meu estômago começou a doer de novo.
Quase anoitecendo. Lembrei que só tinha tomado aquele belo café da manhã.
E estava gostoso.
Para onde mesmo aquela garota disse que tinha viajado?
Não prestei tanta atenção.
E sabe o que é foda? A gente pensa em todos os nossos erros nesses momentos.
O dia em que terminamos com a pessoa que a gente dizia amar.
O dia em que eu dei uma resposta mais grossa para minha mãe.
E a vez em que levantei a voz para o meu pai?
Não tenho falado com meu irmão há dias.
Será que eu fiz alguma coisa para algum de meus amigos para eles não me mandarem mensagem?
Será que eu dei comida para o cachorro antes de sair de casa?
CARALHO, será que eu dei comida para ele? E A ÁGUA?!
Preciso arrumar meu carro. Preciso guardar dinheiro. Preciso pegar meus exames. Fazer outros exames e cuidar mais de mim.
Preciso pensar em algo para fazer no meu aniversário.
Será que todos os meus amigos irão?
Nossa, eu ficaria devastado se, pelo menos, meus melhores amigos não fossem. Machuca!
O que eu estava pensando?
Será que tenho que fazer algo agora?
Porque meu estômago queima e meu coração pulsa desse jeito?
Qual era mesmo a música que me deixava mais calmo?
ME DIZ. ME DIZ. ME DIZ, PORRA!
E eu gritei.

Gritei em silêncio.
E fui para o banheiro.
E chorei. Quietinho.
Eles não viram. Ninguém me viu lá.
Eles nunca me enxergam nesses dias.
É normal. É natural.
E eu gritei mais um pouco.
E enxuguei os olhos.
Sequei as lágrimas. Me olhei no espelho.
Gritei em silêncio novamente. Senti enjoos.
Vomitei. O estômago doeu.
Me limpei, outra vez. Me ajeitei. E sorri.
Sai do banheiro. Dei de cara com um cliente e ele disse "Linda sua camisa, hein?".
Eu disse "Obrigado" e sorri.
Sorri, mais uma vez!

...

- Nossa, filho, você está com um sorriso incrível hoje. Fazia tempo que não te via assim, tudo bem?
- Tudo sim, mãe.
- Estou te sentindo tão bem, filho. Fico feliz.
- Obrigado, mãe.
E sorri.

E subi para o meu quarto.
Meu cachorro me viu. Fez festa.
Eu tinha colocado comida para ele. E ele latiu agradecendo.
E eu peguei ele no colo para dizer que tinha tido uma crise hoje.
Ele latiu.
E eu sorri.
Fui para o banheiro. Me olhei no espelho.
Coloquei Bad Dream do Eddy Clearwater para tocar. Dei de cara com meu quadro do Bukowski e lembrei que em sua lápide está escrito "NÃO TENTE". Bukowski sabia das coisas.
E eu pensei em suicídio outra vez antes de adentrar no chuveiro com uma bela cerveja em mãos.
Eu olhei para a cerveja e lembrei "Preciso me cuidar". E escrever.
Preciso escrever.
E escrevi.

A solidão é triste. Ter pessoas ao seu redor e se sentir totalmente sozinho o tempo todo é mais triste ainda. Ansiedade e depressão me comem pelas beiradas e lutam para ver quem termina o prato do dia primeiro. É cansativo.

Por falar em comer, preciso empapuçar o meu estômago com algo comestível.
Deixa para depois dessa cerveja.

A água cai quente sob minha cabeça e me acalma.
Então eu penso "Estou bem. Estou bem. Tudo bem" e sorrio.
Chaplin era triste, mas sempre sorria.
Não sou tão grande e jamais serei, mas posso fazer o mesmo.

...e sorrio.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Deixa o nosso amor para outros carnavais

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Te deixei entre confetes.
Te perdi entre os blocos.
E te desejei entre os mais clichês.
Clichês!
Esses clichês que a gente insiste em vivenciar.
Clichês.
Muitos clichês através de confetes coloridos mais tristes que minhas lágrimas.
E eu te encontrei pelas ruas. O famoso "por ai". E foi por todos esses meios que eu te deixei.
Te larguei por ai. E te deixo por ai. Porque aqui, aqui dentro do peito, você ficou.
E desde que veio morar aqui dentro, minha vida se tornou um inferno.
Porque eu sei que, dificilmente, tu irás embora daqui.
Mas confesso que tens sido meu melhor inferno, pelo menos escrevo minhas cartas e crio alguma coisa relacionada com esse sentimento.
O clichê.
Clichê do acaso por acaso que a vida colocou por descaso de apenas um olhar.
E o teu olhar penetra em mim como purpurinas em nossas roupas.
Carnavais são tão chatos.
Tão monótonos.
Tão clichês!
Clichês, mais uma vez.
E outra vez.
Mais uma vez mais.
Eu estou bebendo, mais uma vez, e deixando as minhas mãos falarem por mim coisas que eu gostaria de te dizer.
E eu gostaria de te dizer que eu acho carnavais chatos e clichês e monótonos demais, mas a gente tem a oportunidade de se encontrar num boteco ás seis da manhã para tomar algumas cervejas e jogar conversas fora.
E o nosso descaso é que a gente nunca faz isso.
E eu gostaria de fazer alguma coisa semelhante ao fato de sentar num boteco, abrir uma cerveja e te dizer como foi o meu dia, logo depois de ouvir como foi o teu dia. E saber sobre todas as coisas ruins que têm acontecido em nossas vidas, claro.
A vida não é feita de confetes e o lado obscuro de todo universo cai por nós dia após dia.
A gente pode se encontrar. Tu me tens. Me tens até demais. E a gente tem um copo americano e uma garrafa imensa de cerveja para desperdiçar em nossos estômagos ás seis da manhã.
Mas o meu telefone não toca.
E tu não me escreve.
E também não me chama ás cinco da manhã em minha janela para esquecermos de tudo á nossa volta e fugir para qualquer bar de esquina.
E eu perderia o meu pavor de telefones para apenas escutar a tua voz me pedindo para fugir.

Clichê. E eu perdi as contas de quantos clichês citei nas memórias acima.

- Tu não terminou a última carta, meu bem?
- Me faltou uma palavra.
- Apenas uma?
- E qual é a palavra?
- Não sei, querida. Não consigo encontra-la.

Eu sinto falta dos clichês.
Eu sinto falta dos romances.
Ás vezes é bom viver clichês.
E melhor ainda viver um romance.
Eu não vivo clichês românticos.
Perdi meu romantismo em algum bloco de carnaval.
Deixei em algum boteco ou restaurante.
Não me lembro bem. Esqueci como se faz.
Alguém pode me ajudar com meus clichês e fazer meu estômago sacolejar com tanta borboleta nele?
Clichês? O que são clichês?
Romantismo "clichêtismo"? Que porra de palavra é essa que eu inventei?
Romantico Clichêtista?
Não entendi essa merda. Alguém consegue me entender?
Sentar na varanda. Observar as árvores. Entregar um beijo. Tomar um beijo.
Receber um beijo na varanda olhando as árvores.
Sentir o vento. Olhar todas aquelas folhas caindo das árvores.
Olhar os pássaros. Sorrir com os pássaros. Receber outro beijo. Entregar um sorriso.
Sair da sacada.
Voltar para a cama. Sorrir para o teu romance. Chamar o teu romance. Deitar de conchinha com o teu romance ás nove da manhã de um domingo ensolarado e pensar que o mundo não tem mais problemas.
Oh, caralho, isso é tão clichê.
É clichê demais pensar que a vida é essa maravilha só porque estas amando alguém ou que alguém simplesmente é capaz de te amar tanto a ponto de esquecer todas as tuas falhas. Isso faz com que os nossos mundos fiquem perfeitos.
Dizer eu te amo. E fazer promessas.
Promessas como por exemplo "Eu vou te amar para todo sempre".
Não. Você não vai. Mas entendemos o clichê romântico.
Almoçar juntos com nossos pais e ouvir eles dizendo que somos o casal mais lindo e perfeito do mundo e que não esperam a hora de nos casarmos para viver uma vida de clichê romanticista juntos.
Muito clichê.
Terminar o almoço. Lavar as louças. E sorrir. E fazer piadas.
E voltar para o quarto.
E deitar na cama. E sorrir. Sorrir mais uma vez.
E deitar de conchinha. Escolher um filme.
E discutir pelas escolhas que nós fazemos de filmes diferentes de nossos gostos diferentes.
Não sorrir tanto assim.
E essa pequena briga vira uma discussão.
E a gente não sorri mais. E a gente chora. E esperneia. E discute. Discute. Discute.
Qual era o motivo mesmo do princípio da discussão?
Ah, isso mesmo, sua mãe não gosta de mim. Esse era o motivo inicial da discussão.
E ela vai embora, emputecida, da minha casa.
Eu deixo. Não sou ninguém para obriga-la a ficar.
Pego uma cerveja. Abro a cerveja.
Subo para o meu quarto.
Abro a porta da sacada e sento na sacada.
Sozinho. Chorando. Com uma cerveja nas mãos.
Esqueci qual era mesmo o motivo inicial de toda aquela discussão.
Ah, isso mesmo, o meu cachorro mijou no tapete dela e ela acha que a culpa é minha.

Eu não vou ligar. Eu tenho pavor de telefones.
Ela não vai me ligar. Ela não engole o orgulho por mim.
E a gente finge que tudo está bem, meu bem.
E a gente finge que a gente não sente nada.
E a gente finge que toda essa porcaria não soa tão clichê.

Qual era mesmo a palavra?
Eu esqueci a palavra de todos os meu versos.
Existe uma palavra que conclui todos os meus versos.
Ou era uma frase?
Qual era a frase mesmo?

Só sei que meu coração está deprimido o suficiente para não querer se envolver num clichê romântico. E minha depressão me impede de sorrir verdadeiramente. E isso me machuca, porque eu tento. Eu tento muito. E eu quero viver um clichê. Eu poderia viver um clichê. Eu sei que poderia, mas eu não encontro mais forças por essas ruas e avenidas. Na verdade, não encontro forças nem em cima de minha própria cama. E essa doença que prega peças e me deixa em peças não me permite viver como eu gostaria.
Seria muito bom ter alguém para me livrar de minhas tristezas, não seria?
AH, MEU CARALHO, quase vomitei com tanto clichê em uma só frase.

E veja bem, deixa nosso amor para outros carnavais, não sou a melhor pessoa para amar.
Nem sei ser amado.
É um sentimento grandioso demais para mim e eu me perco em sorrisos.
A vida têm sido um inferno desde que eu vi o teu.
Mas é o meu melhor inferno.

- Meu bem, o que você não sabe dar?
- Como assim, querida?
- Você me disse esses dias que não sabe dar algo, qual era a palavra?
- Clichês?
- Não. Essa não era a palavra, mas poderia ser a palavra que faltou em teus últimos versos.
- Não lembro, querida, eu te falo tantas e tantas coisas.
- O que você não sabe dar, meu bem?
- Amor.
- ISSO, ESSA ERA A PALAVRA, CACETE!!!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Entre, vamos tomar um café e costurar nossas feridas!

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Venha.
Bata em minha porta.
E eu abrirei com sorriso no rosto.
E te pedirei para entrar.
Entre.
Não se acanhe. Não se afobe. Não sinta a timidez.
Apenas entre.
Eu abro minhas portas para que venha se sentir bem.
Isso. Entre.
Sem pressa, mas se apressa, o mundo está triste demais para ficarmos lá fora.
Venha.
Sente-se.
Ali. Na melhor poltrona de minha casa. A mais confortável.
Como se tivesse sido feita para ti.
Queres um café?
Eu te faço.
Quem sabe um copo d´água?
Eu te pego.
Ou então, uma cerveja gelada?! Aquela do fundo da geladeira, quase que esquecida por Deus.
Queres?
Para ti eu trago.
Isso. Sente-se. Olhe os quadros. Olhe os cantos de minha casa.
Acenda um cigarro.
Tu gosta de dar uns tragos?
Acenda o cigarro. Jogue para o ar. Fume. Fume muito. Fume mesmo.
Cigarros nos decifram quando não temos nada a dizer.
Ligue a TV.
Não gosta de assistir os noticiários?
Desligue a TV.
Tudo que passa nela é chato e imbecil demais.
Isso. Não se acanhe. Sente de pernas abertas. Sinta-se livre para fazer e falar o que quiseres.
Tu estas em casa. E eu não me importo com os teus defeitos.
Apenas sinta-se em casa.
Ligue o rádio.
Isso. Sintonize a gente com o que existe de melhor, a música.
Coloque um belíssimo blues. Quem sabe um jazz?!
Gary B.B Coleman está tocando The Sky is Crying, essa canção é incrível.
Vamos senti-la?!

Por falar em sentir, como anda o coração?
Como estão os sentimentos?
Onde estão os teus amores?
E a tua vida sexual?
Tudo anda tão louco quanto a tua cabeça?
Mas...
Quero dizer...
mas e tua vida amorosa, como anda?
Me conta.
Diga-me o que quiseres.
Aqui dentro deste lar não existe um julgamento sequer sobre nada neste mundo.
Aqui dentro somos putas, maconheiros, loucos, alcoólatras, loucos, poetas, drogados, gays, lésbicas, fumantes, românticos. Doidos e doidos e doidos.
Somos tudo que quisermos ser aqui dentro da minha casa. Somos apaixonados. Exaltados. Deixa para andar perdidos com as mãos no bolso lá fora. Lá nas esquinas, lá nas calçadas. Deixa para sermos julgados lá no mundo, porque o mundo não entende absolutamente nada de nós. Deixa toda essa porra lá fora.
E se sinta a vontade no meu sofá.
Porque aqui a gente pode.
Tinsey Ellis está tocando Kiss of Death, ouça bem esse solo de guitarra chorosa enquanto pego o teu café.
Quero dizer, queres um café?
Uma cerveja?
Uma água?
A casa é tua.
A casa é nossa.
E você é incrível!

- Meu amor, meu amor, que porra é essa?!
- Pensei numa coisa absurda, meu bem.
- E estas escrevendo tuas coisas absurdas?
- Se eu não escrever, enlouqueço, querida.
- Porra, mas ninguém nunca entende tuas coisas quando estas bêbado deste jeito.
- Ninguém nunca entende nada das coisas que eu escrevo, caralho.
- Então porque escreves tanto? Todas as noites eu recolho papéis amassados da porra do teu quarto e tenho que jogar tudo na lixeira do teu banheiro.
- Se eu não acreditar nas coisas que eu escrevo, quem vai acreditar?
- As pessoas devem te achar um imbecil.
- Mas sou O Imbecil que consegue escrever tudo que sente, senão já teria partido deste mundo, meu bem.

E teus amores, meu bem?
O que tens sentido e escondido dentro deste coração que tanto escreve?
E eu penso que não sei muito bem, meu bem.
E eu penso que jamais serei capaz de amar novamente.
E é difícil olhar para todas aquelas pessoas lá fora e não conseguir enxergar uma só alma que faça com que eu me sinta feliz e amado como um dia fui capaz de sentir.
E é triste demais escrever tanto sobre o amor e não ter mais a capacidade de senti-lo.
Porque eu cansei de me sentir doente por conta de amores.
E eu cansei de pensar na morte por conta deles.
Eu tenho experimentado novos sabores, novos gostos, novos restaurantes, novos temperos, novos sintomas apenas para não ter que cair de encontro com um novo amor. Porque eu sinto medo, muito medo. E traumas, muitos traumas.
Meu estômago quer exalar borboletas, meu coração exala medos. Minha mente exala tristeza. E no mesmo caminho me encontro.
E todos os dias eu tenho um novo encontro, uma cama enorme e solitária pela qual me deito e me sinto sozinho. Solitário. Pensante. E triste.
Não por carência!
E sim porque eu não sei mais amar como um dia fui capaz.
A cama está vazia no momento.
O coração também.
A barba está bagunçada.
A vida também.
E eu peço para essas feridas serem cicatrizadas de uma vez por todas.
Eu gostaria de acordar e sorrir por apenas lembrar do nome de alguém.
Mas esse brilho está longe demais de ser encontrado por mim.

Eu poderia escrever milhares e milhares de poemas e cartas.
Mas o que eu mais gostaria é de encontrar um romance que me fizesse esquecer de todos eles.

Espera um momento!!!
Meu cachorro gostou de você.
Continue ai. Isso.
Não vá embora. Fique aqui. Leia minhas besteiras.
E me entenda.
Fica mais um pouco. É só o que eu te peço.
Posso te oferecer outro café.
Cerveja?
Água?
Me fale muito mais sobre você. Muito mais.
Estou disposto a te ouvir a noite toda.
Ainda mais com Stoney Curtis tocando Blues Without You.
Deixa eu te entender e te ajudar a costurar tuas feridas abertas.
Tenho feito isso todos os dias.
Pelo menos até eu encontrar alguém que seja capaz de fazer isso por mim.

Acho que enterrei meu ego junto com meu dom de amar.
Tu viste por ai?