terça-feira, 16 de junho de 2020

Eu, tu, o mundo e a sensatez do cansaço

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- Porque as pessoas sempre perguntam sobre nossos trabalhos. Sobre nossas vidas. Sobre nossa família. Se estou namorando. Se já tenho filhos. Quantos carros eu comprei. Quanto dinheiro eu ganho. Se já paguei todos os meus boletos?
- O que você quer dizer com isso?
- Porque as pessoas nunca perguntam se estamos bem. Se estamos felizes?
- Ah, cara, a vida é assim mesmo. As pessoas são assim mesmo.
- E, veja só, tu és apenas mais um conformado com o mundo. Isso me entristece.
- Você que acordou deprimido, meu amigo.
- Só acho que a vida não deveria ser lida como se fosse tudo uma lista a se fazer. Só acredito que as pessoas que falam que se preocupam, deveriam apenas se preocupar e perguntar se você está feliz. Elas nunca perguntam. Elas só querem saber do dinheiro, dos boletos, do trabalho, dos carros, das casas, dos filhos. É muito mais incrível quando a pessoa não se importa e caga para você, do que ela fingir que se importa perguntando todas essas coisas.
- Prefere que as pessoas caguem para você?
- Prefiro a sinceridade do que a falsa esperança de que as pessoas se importem com o que se passa aqui dentro.
- É justo. Nada mais justo, mas a vida é assim mesmo.

Carta escrita depois de tomar oito cervejas geladas e grandes.
Depoimento ruim de quem não sabe o que fazer.
Mas tem muito que falar.
E não me importo com pontos e erros e muito menos me importo com os acertos.
Só preciso escrever tais palavras antes que a última gota dos olhos saltem para fora.
E eu preciso encontrar todos os sentimentos feridos que estão aqui dentro. Que não foram cicatrizados. E eu cavo todos eles com uma colher pequena de chá.
A vida é assim mesmo.
E eu estou cansado.
Muito cansado.
Escreverei essas palavras de cansaço para que elas me levem para algum lugar.
Porque eu me perdi.
Eu nasci, eu me perdi, eu morri e me senti só. Diversas vezes. Só hoje.
E estou só. Todos nós estamos
Eu quero te agradecer, querida.
Eu quero te pedir desculpas, meu bem.
Desculpa, meu bem, se te fiz chorar.
Desculpa se não respondi tuas mensagens. Eu quero mesmo é ficar longe.
Errar só.
Me sentir só.
Estar só.
Não quero me preencher das besteiras que o mundo me traz toda vez.
Mas eu sinto uma saudade imensa desse mundo podre e fétido.
Sinto falta dos bares.
Dos cigarros amassados.
Dos vinhos e das cervejas e goles aos santos.
Das gritarias.
Dos absurdos.
Do sorriso que a garota do mercado da esquina me entregava.
Dos sabores dos restaurantes das redondezas.
Das festas que faziam eu me sentir mais sozinho do que o comum assim que elas terminavam.
Dos amores e desamores.
Sinto falta dos romances.
Dos corpos suados se esfregando juntos numa sexta-feira a noite.
Dos sorrisos que demos depois do orgasmo.
Sinto falta de sentir medo das ruas desertas de São Paulo.
De me arrumar para ir de encontro á você.
De olhar para as estrelas no meio da avenida e saber que elas também se sentem só.
Olhar para as ruas e encontrar o olhar da menina de olhos grandes me olhando sem saber o porque.
Das mentes perturbadas.
Dos loucos.
Dos mendigos.
Dos idosos.
Dos suicidas.
Dos bêbados.
Dos abutres das empresas que sugam nossas almas sem ao menos a gente saber o porque.
Estou sentindo falta de estar só estando rodeado de gente.
Das músicas dos elevadores. Dos livros perdidos que todos tocam e ninguém lê.
Das músicas dos botecos. Onde os malucos se encontram e cantam alto.
Dos goles nas garrafas compartilhadas.
Estou sentindo falta de sugar esse mundo como um vampiro e ter uma incrível ressaca no dia seguinte.
Sentindo falta desse teatro em que sou apenas um fantoche com muita coisa a dizer, mas que ninguém sente vontade nenhuma em escutar.
De pedir o chope na hora do almoço e olhar todas as pessoas ao redor e saber que tudo está onde deveria estar.
De me apaixonar.
De ser ferido.
De saber que escreverei mais poemas sobre um romance que não deu certo.
Eu sinto falta do mundo que eu nunca gostei.
E eu estou cansado, meu bem.
Estou exausto.

- O mundo nunca se importou com a gente, meu bem.
- A gente só precisa lembrar se as pessoas estão felizes. Pelo menos as que a gente diz se importar.
- Porque tens isso na tua cabeça, querido?
- Eu só acho que as pessoas se importam com tuas próprias felicidades e alegrias, isso é fato do ser humano, mas quando alguém se mata de tanta tristeza, são essas pessoas que falam "Eu não sabia que ele estava tão mal". E são essas pessoas que nunca perguntam como anda o coração e a cabeça das pessoas que elas dizem se importar. Que elas dizem amar. São essas pessoas que se arrependem de não terem perguntado algo com afeto antes do pior acontecer. Eu só gostaria de entender qual a dificuldade das pessoas se preocuparem com a felicidade das outras.
- Meu bem, elas não se importam. E pare de beber, já foi o suficiente por hoje.

Desculpa, meu bem. Não tenho estado bem.
E essa não será uma das minhas melhores cartas.
Mas quero te dizer que ainda estamos aqui confinados na sensatez do cansaço.
E que nossos corações ainda continuam batendo bem devagarzinho.
E nossos estômagos se empapuçando de todas as besteiras comestíveis que podemos colocar para dentro.
Desculpa, meu bem. Estou fugindo de tudo que me suga. De tudo que me atrasa. De tudo que me estressa ou me estremece.
Estou fugindo dos tóxicos. Estou fugindo dos que eu sei que não se importam. Estou fugindo dos amigos que não são tão amigos assim. Estou fugindo das pessoas de coração amargo. De alma atrasada e de mente que se encontra na cela mais escura.
Estou fugindo dos amores. Estou fugindo dos problemas. Estou fugindo do que me entrega frio e borboletas na barriga. Estou fugindo de tudo que não é viável nesse momento em que vivemos. Eu não quero te amar, porque eu não estou sabendo me amar nesses dias. Posso acordar com outra ideia amanhã. Posso acordar com outra sensação. Com a sensação de que tudo irá ficar bem um dia, novamente. De que tudo não passou de um pesadelo de alguns meses. Posso querer te amar incondicionalmente e me arrepender de ter me afastado de todas as pessoas que eu julguei errado, ou certo, não sei. Mas hoje, eu quero apenas me olhar no espelho e não me sentir um estranho dentro de mim mesmo. Quero enxergar diante dos meus olhos e sorrir por dentro sem antes me sentir um verdadeiro lunático cansado que não sabe mais por onde vai. Quero conseguir me ver e não sentir vontade de desistir como tem sido há uns 3 ou 4 dias. Quero me enxergar e saber que tudo dentro do meu coração está em seu devido lugar.
Não quero mais estar cansado.
Não quero mais acordar cansado.
Não quero mais dormir cansado.
Enquanto o cansaço não vai, eu deixo essas minhas palavras por aqui.
Deixo minhas palavras pesadas para que eu me sinta um pouco menos cansado. Talvez esse seja o meu fardo, sentir demais e demonstrar de menos. Querer demais e falar pouco. Ser demais e não expor quase nada. Talvez, o meu fardo seja simples de ser reparado. Talvez, meu coração seja fácil de ser costurado. Talvez, minhas feridas sejam comuns de serem cicatrizadas. Não sei até então.

- Para de flertar com o suicídio, está bem?
- Tudo bem. Tudo estará bem.

Desculpe, meu bem, por beber tanto. Por escrever tanto. Por pensar tanto.
Por tantos "tantos", eu morri um pouco mais e quase me esqueci de quem eu sou. Por isso, escrevi tanto para chegar nesse fim de carta para dizer que não estou bem.
Estou cansado.
Com saudade.
Perdido. E só.
Muito só.
Cansado! Mente que mente. E muito só.
Eu não estou nada bem e precisava te dizer antes que seja tarde demais.
Existe alguma coisa no fundo do meu coração que implora para desistir, mas também existe algo que luta e grita e suplica me mostrando que logo voltarei para esse mundo putrefato sendo o fantoche de muitas palavras que sempre fui.
Eu não estou bem, meu bem.
E desculpa se não escrevi palavras bonitas que todos gostam de ler. A vida não é esse conto de fadas que todos esperam. E a dança só tem ritmo quando a música mais linda está tocando, mas essa música das nossas vidas deixou de tocar faz um bom tempo.
Nasci e morri, mais uma vez.
E estou só.
Até que chegue o fim.
E lá, continuarei só.
Eu não estou bem.
E o que me deixa mais calmo é lembrar que as estrelas também vivem só.

A vida é assim mesmo, meu bem.
É tudo uma grande peça de teatro e eu sou um dos personagens tristes e dramáticos.
Com um fim previsível.
E um romance chato.
Sem flores dessa vez.