segunda-feira, 22 de junho de 2015

Depois de tempos

Depois de tempos encontrei um tempo para confessar. Confessar aquilo que sinto há tempos e não encontrava um tempo sequer do meu tempo para cuspir tudo para fora. E sempre me faltou coragem em apenas falar tudo aquilo que ouso sentir. Escrever sempre foi a melhor forma e sempre será.
Depois de tempos encontrei um pequeno tempo para confessar minhas angustias em uma pequena carta. Carta de desabafo. Carta ofegante. Carta sofrida. E que depois que eu terminar esta carta o tempo leve embora tudo de ruim que ouso sentir. Só o tempo e as palavras são capazes de fazer tais coisas com a minha pessoa.
Depois de tempos encontrei o arrepio das palavras passando por meus dedos, assim como o arrepio que sinto em beber um belo gole daquela cerveja gelada e o arrepio que sinto por cada nota de música clássica tocada aos meus ouvidos, enquanto deixo as palavras serem moldadas e cuspidas pouco a pouco de dentro de mim. Há tempos não fazia isso e há tempos tudo mudou.
E dentro desse quarto escuro que me encontro enxergo a clareza de todas as coisas. O meu quarto. O meu mundo. A minha fronteira para outra dimensão criada apenas por minha imaginação e teorias. Há tempos não durmo direito e há tempos deixei de me importar com isso. Minha insônia nunca foi passageira e há tempos ela vem tornando os meus dias longos e minhas noites curtas. Sempre foi assim. E existe algo dentro do meu peito querendo aquela certa liberdade que nunca tive. E eu quero que saia de dentro do meu peito, mas nunca sei exatamente o que se encontra dentro dele. E dói, eu sinto muito que dói. Sempre esqueço que meus demônios estão todos em casa, escondidos embaixo de minha cama. Deixa eles por lá mesmo!

Há tempos não escrevo e depois de tempos criei um tempo. E tudo porque o tempo toma todo o tempo do meu tempo, mas isso sempre foi a forma normal e criativa de se viver. O tempo machuca e cria lembranças e pensamentos do futuro dentro de uma cabeça fortemente cansada. O tempo cria teorias e filosofias dentro de um órgão tão pequeno, mas tão genioso, mas isso machuca. Dói e dói muito. Porque há tempos venho criando imagens de pensamentos futuros dentro de minha cabeça que dentro deles se encontram minha vida sem algumas pessoas e sensações e momentos como os que tenho agora. Olho para as rugas e mãos cansadas sendo formadas no corpo de meu pai de criação e imagino minha mãe quase com rugas e mãos cansadas sem ele. E há tempos penso no tempo depois dessa teoria, o que seria de minha mãe sem meu pai e o que seria de mim sem minha mãe. E sofro. E dói. E machuca.
A vida é curta e dolorida. O tempo é longo e tortuoso. As pessoas dizem e escrevem que o tempo é curto, mas isso é a mais pura mentira contada há tempos. O tempo é mais longo do que vocês pensam e por vivermos até demais ele soa como sendo rápido demais. Acredito que se o teu tempo está passando depressa demais é apenas porque você está aproveitando a vida demais ou desmerecendo ela demais para que lhe entregue um bom tempo do tempo dela, eis então a sensação de que a vida passa rápido demais. Só que, parando para raciocinar, olho para todas as pessoas que querem viver por 100 anos ou mais, eu já estou bem triste e deprimido vivendo com 24. E sofro. E dói. E machuca.

Escrevo uma curta carta depois de tempos e escrevo apenas para dizer que o tempo da vida que tenho hoje está me torturando pouco a pouco. Fico deitado abraçado com minha mulher por horas e horas, vezes tardes e noites inteiras e não sofro tanto quanto quando estou sozinho. Coloco minha alma dentro do meu quarto, dentro desse mundo isolado e esquecido por muitos e lembro que tenho uma alma sofredora e angustiada que por tanto luta. Minha mente fica desvencilhada com tanto pensamento confuso e certeiro, mas ainda bem que sei lidar e ainda bem que voltei a ter o tempo do meu tempo em saber escrever no tempo certo. Estou cuspindo palavras mais uma vez e tenho a certeza absoluta que alguém me chamará de gênio pensante de novo por estar escrevendo tais palavras, mas eu não passo de porra nenhuma além de um jovem velho confuso, ansioso, com receios e medos. Pensante de um futuro que a mim cabe tanto, mas o medo muitas vezes me segura na cama ou apenas dentro de casa.
Penso no meu futuro e tenho a visão de sentar ao lado de minha mulher amada, seguro uma de suas mãos, ela sorri para mim, abaixo a cabeça e sinto o perfume dela exalar por minhas pequenas narinas, logo em seguida fico pronto para dizer:
- Ainda serei tão feliz quanto todas essas pessoas lá fora!

Depois de tempos encontrei o tempo do meu tempo para escrever tais palavras repetitivas de mim mesmo e coragem para confessar que ainda não me encontro em plena felicidade que mereço e almejo, mas estou no caminho certo. Minha amada é a força que sempre me faltou e o amor que sinto por ela que corre por dentro de mim é o brilho para cada momento de escuridão, só tenho medo suficiente de um dia não ser forte o suficiente e deixa-la aqui jogada e sozinha nesse mundo dilacerador, mas, se um dia isso vier a acontecer seja lá qual for o motivo, que ela carregue para sempre minhas palavras de 'eu te amo' dentro do peito dela.
E que o tempo demore o tempo suficiente para tirar meus pais e meu irmão de mim, eles são a outra grande metade de minha força, mas que se um dia isso vier a acontecer ou ao contrário, que eles sempre se lembrem que eu os amo.

Depois de tempos, finalmente, eis aqui minha triste e sincera confissão. E que eu arranje mais tempos dos meus tempos. E que eu tenha vários e vários outros tempos para passar meus tempos com os tempos deles e escrever logo em seguida. E se liberte, mais uma vez, pássaro triste que se aloja em meu coração.