quarta-feira, 25 de setembro de 2019

A gente mente que não sente nada

Resultado de imagem para luna buschinelli

Ferida aberta. Não cicatrizada. Ferida que apaga. Que estraga. Que mata. Me traga.
Ferida que entrega. Me apega. Me esquece. E me adoece.
Que não cicatriza nunca. Que enfraquece. E me despe.
Que me cospe. Me arranha. Me morde. Me espanca.
Ferida que me mata. Me renasce. E me mata de novo por puro prazer.
Ferida aberta que surge, ressurge, me segue e não me supre.
Que mantém o vazio constante aqui dentro deste peito ferido que um dia abriu alas para o amor.
Que sorriu e se entregou. Que alegrou e se peitou. Que surgiu e se perdeu.
Por onde?
Não sei.
Não importa.
Não dou a mínima.
E a gente mente que não sente nada.
E eu sinto até demais. Porque o meu peito por horas atrás estava palpitando como se fosse explodir.
E eu quero por demais. Mas não sei bem o que eu quero.
E eu ainda amo alguém sem saber como amo. E onde amo. E quando amo. E até onde amo no peito que quando pensa em ti quase surta de tanta ansiedade.
E eu penso até demais. E te quero por demais. E sinto muito por sentir demais. E não me importo por te querer demais. Só queria te tirar da minha mente um pouquinho que fosse por um instante que fosse, para apenas sentir alguns minutos de paz que há um tempo já não sinto.
E desde que saiu por aquela porta deixando todas as tuas coisas bagunçadas em minha cama, eu sinto essa falta constante que aperta, que laça, que apaga e me traga aqui dentro de mim. E ela diz "Sinta muito. Sinto muito. Por ti. Não por mim". E isso me mata pouco a pouco.
E eu bebi mais uma vez para te esquecer e lembrar que aqui dentro do meu peito por ti não bate mais nada. E falhei em acreditar que enchendo a cara, outra vez mais, eu iria esquecer do teu sorriso que há um tempo já não vejo. E nem quero ver. E eu continuo sentindo.
E continuo olhando para baixo com vontade de chorar e não conseguindo. E em ti eu penso como o melhor caminho que eu tomei o rumo errado. E dentro desse teu peito já não bate um sentimento por alguém tão pequeno quanto eu. E o tamanho da bala que poderia acabar com tudo neste exato momento é menor do que aquilo tudo que ecoa dentro deste teu jardim enegrecido com o tempo.
E eu sinto essa tua falta constante. Que estraçalha. Me entalha. Me estraga. Me atrapalha. E eu gostaria de te encontrar para dizer que em todos os minutos que se passaram desde que fechaste as janelas do teu coração, tenho pensado constantemente no som da tua voz me dizendo que minha casa precisa de um ar para respirar.
E toda vez que eu penso no teu nome, perco o ar. E o ar já não passa aqui dentro, por mais que eu abra todas as janelas e todas as portas de minha casa, teu ar já não entra mais aqui. E meu quarto já não tem o teu cheiro. E meu banheiro já não tem tuas tranqueiras. E minha barba amanhece sempre bagunçada e continua do mesmo jeito porque já não tem teu carinho para me levantar a autoestima que muito não tenho.
E eu minto, meu bem. Eu minto muito bem, bem, bem. E eu digo que te esqueci, quando de fato jamais te tirei de minha cabeça. E todos dizem que eu ainda sei amar. Que existe algum ponto deste peito enfraquecido que ainda sabe amar e se entregar. Mas como se ama quando todo meu amor está nos braços de quem nunca se importou?
E eu gostaria de te dizer, querida, que eu minto muito bem quando todas as notas dessa nossa canção tem teu nome nos acordes. E que eu escrevi essa carta apenas deixando os meus dedos falarem por mim enquanto entrego goladas e mais goladas num caneco imenso de cerveja ao meu lado. E eu jamais lerei essas minhas palavras. E eu jamais colocarei os meus olhos em tudo que escrevi para ti e sobre ti. Porque em algum canto desta prosa, existe alguma mentira que eu não sei bem contar. E se esta carta caíres em teus olhos, tu saberás muito bem qual foi a mentira mais descarada que contei sobre nós.
Tu me conheceste bem o suficiente para saber que sempre menti que não sinto absolutamente nada.

- Meu bem, você está escrevendo bastante esses dias, você não acha?
- Estou cheio de ideias e inspirações. Me sentindo um verdadeiro artista.
- Meu bem, você sabe que todas as pessoas que disseram adeus de forma inesperada estavam inspiradas em fazer algo, não sabe? Teu cantor preferido era um deles.
- Quem sabe eu não faça algo grandioso escrevendo as minhas besteiras.
- Meu bem, você está bebendo mais que o normal esses dias, você não acha?
- É para minha inspiração ficar melhor, querida. E tens funcionado, você não vê?!
- Vejo muito bem, meu bem. Tu tens se cuidado?
- Tu me cuidas, querida.
- E tens se sentido bem esses dias, meu bem?
- Não sei ao certo. Tenho me sentido sozinho o tempo todo, mesmo rodeado de gente. Existe alguma coisa aqui dentro que chora e grita e sofre e se lamenta, mas eu não sei bem o que é. Não consigo enxergar nada que se passa dentro de mim.
- Sabe que todas as tuas inspirações se sentiram sozinhas antes de partirem, não sabe?
- Sei bem, querida. Mas não me sinto tão sozinho assim.
- Você nunca foi dos melhores mentirosos, meu bem. O que se passa ai dentro?
- Não entendo, querida. Existe alguma coisa aqui dentro de mim que faz com que eu me sinta sozinho o tempo todo. O tempo todo. Todo tempo. E existe alguma coisa aqui dentro de mim que sente uma vontade perturbadora de chorar e chorar e chorar, mas quando eu tento, nada sai de dentro de mim. E eu quero gritar, mas não consigo. E eu quero correr, mas não tenho forças. E eu busco ajuda, mas não sei onde. E isso me suga cada vez mais para baixo. E meu abrigo tem sido minhas cartas para dizer da falta que sinto.
- Do que mais sentes falta?
- De mim mesmo.
- Meu bem, eu vejo teu olhar marejando pelos cantos da casa, sem saber, sem entender. E vejo o sorriso forçado de quem quer viver e não sabe como. E teu sorriso tens sido tão triste. Tens dormido bem?
- Não lembro qual foi a última vez que eu dormi horas e horas a fio e acordei disposto. Talvez sejam os sonhos.
- Queres conversar sobre eles?
- Não sei bem.
- Tens algo que queres botar para fora? Pode me falar que de mim tu não consegues esconder nada.
- Não sei bem, meu bem. Apenas sei que vai chegando essas horas da noite e vai batendo uma angústia...longa...pesada...solitária...e triste.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

23:54h. Poema escrito ás pressas depois de degustar três cervejas grandes!

Imagem relacionada

Já parou para pensar que tem alguém pensando em você?
Agora.
Neste instante.
Pequeno instante.
Instante que a gente não dá a mínima.
Mas lá. Lá no horizonte. Lá de longe, existe alguém pensando em ti.
E a gente não dá a mínima.
E a gente nem pensa. E a gente nem se importa.
E eu...veja bem, e eu bebo uma cerveja toda vez que penso em ti.
E eu penso em cerveja toda vez que tua voz cansada me dizendo algo que eu gostaria de escutar ecoa em minha mente.
E eu penso em cerveja toda vez que eu quero te esquecer.
E vou atrás de cervejas. E compro cervejas.
E bebo uma. Não te esqueço.
Erro meu.
E bebo duas. Em ti penso.
Outro erro meu.
E bebo três. E penso mais ainda.
Mais um erro meu.
E toda vez que eu bebo para te esquecer, sinto vontade de escrever essas cartas semanais horríveis que a ti escrevo. E aqui está mais uma.

- Suas cartas são uma merda - ela me disse.
- Eu sei, querida. E não me importo.
- Porque continua escrevendo essas porcarias de velho babão e bêbado apaixonado?
- Porque assim eu me sinto vivo, de alguma forma, querida.
- Isso não faz sentido. Ninguém se importa, porra.
- E porque eu deveria me importar com isso, caralho?
- Você passa horas e horas bebendo e escrevendo essas porcarias para ninguém se importar?
- Eu me sinto vivo sempre que escrevo, querida. E a minha forma de escrever é o jeito que eu faço para tirar algo um pouquinho mais de dentro de mim.
- E as pessoas, porra?! ELAS NÃO SE IMPORTAM, PORRA!!!
- E que caralhos eu tenho a ver com esta porcaria, que se FODA as pessoas, porra!

E eu bebo uma cerveja para te esquecer. Lembro do gosto dos teus lábios.
E eu bebo outra cerveja para te esquecer. Penso no gosto de teu corpo.
E eu bebo mais uma cerveja para te esquecer. Lembro da tua voz que há um tempo já não ouço.
E eu bebo para te esquecer. E eu bebo para me sentir vivo. E eu acabo com uma, duas, três cervejas para que elas acabem comigo. Encontrei algo, sabiamente, reciproco.
E todas as vezes que eu penso em escrever algo, o cheiro de bebidas e tragos invadem a minha mente. E eis o meu tormento. Porque eu sei que, por mais que eu faça de tudo para te esquecer, você nunca sai dessa mente conturbada que tanto insiste em sonhar com o teu toque e tua voz macia me pedindo para voltar. Me dizendo que depois de tanto tempo, todas as coisas em casa foram arrumadas para que a gente se sinta bem e confortável novamente.
E todas as vezes que eu penso que te esqueci, você me invade a mente para lembrar que os meus pesadelos estão todos guardados embaixo da cama, tapando os olhos dos meus sonhos que choram feito crianças por não conseguirem invadir minha mente e me deixar sonhar no sono dos justos.
E todas as vezes que eu começo a sonhar com você, eu pulo assustado e suado e chorando da cama e pedindo colo de minha mãe para que ela sim me diga que tudo não passou de um pesadelo. E eu gostaria que você sussurrasse em meus ouvidos me dizendo que tudo isso não passou de um pesadelo.

- E, querida, veja bem, quem se importa com essa bobagem toda? Uma, duas, três cervejas. Mas que porcaria é essa que eu escrevi, porra.
- Eu te avisei!
- Não faz sentido toda essa merda, meu bem. Porque existe alguma coisa aqui dentro do meu coração que insiste em me dizer que eu ainda sou capaz de amar alguém de novo.
- E o que te impede de amar de novo e parar de escrever essas porcarias?
- Eu mesmo. Ela mesmo. Não sei. Nós mesmos. Existe alguma coisa dentro do meu coração que quer sentir o gosto da liberdade, mas ele tem um medo danado de sair para esse mundo e nunca mais encontrar alguém interessante o suficiente para morar aqui dentro. Tu me entendes?
- Que diferença faz, porra?!
- Meu bem, a diferença é que eu sou a única pessoa que estraga tudo no meio disso tudo.
- O que você quer dizer?
- O que eu quero dizer é que eu não dou mais a mínima para romances. Consegues me entender?
- E porque escreves essas merdas todas as semanas?
- Existe alguma coisa dentro do meu peito que insiste em me dizer para escrever todas essas coisas que um dia a liberdade bate no meu peito.
- Ora, ora, mas veja que besteira!
- Uma besteira que deveríamos pensar bem, você não acha?
- Você escreve todas essas porcarias simplesmente para ninguém?
- Não. Muito pelo contrário, existe alguém nas minhas entrelinhas.
- E quem é?
- Meu ego.
- Ora, porra, isso não faz sentido nenhum, querido.
- Veja bem, se eu não me sinto bem comigo mesmo em questões amorosas, porque caralhos eu deveria me sentir bem nos braços de outra pessoa que acha que sou tão romântico quanto minhas cartas?
- E você não és romântico?
- Sim, sou, até demais, mas depois que perdi meu passarinho chamado amor, faço questão de ser romântico comigo mesmo.
- A pessoa certa não bateu mais em tua porta?
- Mas, querida, que coisa mais patética. PESSOA CERTA, PORRA?! Não existe PESSOA CERTA!
- Você desacredita do amor tanto quanto desacredita de Deus. Isso pode de trazer problemas.
- No amor, não existe pessoa certa. Existem duas pessoas, suficientemente dispostas, que se juntam para enfrentarem seus medos e erros e problemas juntas. Existem duas pessoas cheias de amores e problemas mentais e afetivos que encontram algum abrigo nos braços uma da outra. E pelo jeito que a carruagem anda, a pessoa que seja suficientemente capaz de lidar com minhas paranoias e erros e falhas está longe de me abraçar como um dia me abraçaram.
- Seu problema é o medo.
- O medo é o que nos protege de coisas ruins.
- E te afasta de coisas boas.
- Mas as ruins estão lá. Sempre lá. Distante. Muito distante.
- Queres outra cerveja, velho escroto que se acha escritor?
- Por gentileza.

Meu bem, deixa só eu te declarar um constante sentimento aqui dentro de mim.
Tudo bem?
Veja isso. Leia isso. E entenda isso.
Certo?
Vamos lá!
Eu pensei em te escrever todas as coisas mais belas que existem nesse mundo. Pensei em te ligar. Pensei em te escrever. Pensei em te dizer todas as coisas que existem e batem aqui dentro desse peito de vinte e oito anos que já sofreu o suficiente para um velho de oitenta e oito. Eu pensei em te pedir para voltar. Te pedir para ficar. Te pedir para entrar em minha casa e nunca mais sair de dentro dos meus braços. Pensei em te escrever para não sair do meu lado nos domingos que mais me sinto solitário e triste. Deprimido e sozinho. Pensei em te pedir para me cuidar com tuas mãos tão pequenas como a distância de nossos corações. E eu pensei, meu bem, pensei em te escrever pedindo para ficar aqui dentro de mim como ninguém jamais ficou dentro desse jovem velho peito esquecido por você. Eu pensei em te ligar e te pedir apenas para ouvir todos os problemas que eu tenho passado. E todas as paranoias que eu tenho vivido. E lembrar da força que você pode me dar para não enfraquecer perante ao mundo que sempre me trouxe tudo de ruim. E eu queria te pedir para ser minha base e minha força todas as vezes que eu penso em desistir do mundo e partir daqui de uma vez por todas. Mas eu queria te dizer também e te escrever e te ligar para dizer que eu ainda não fiz qualquer besteira na esperança de que eu seja capaz de ficar em braços teus até sermos apagados com o tempo. Mas eu também pensei em te escrever e te ligar e te dizer que tudo isso não passaria de egocentrismo meu pelo fato de saber que vives tua vida tão bem sem mim quanto todas as borboletas solitárias e fortes e lindas desse mundo. E a ultima coisa que eu quero é estragar a tua vida e a tua alma e teu coração e a tua paz. E eu gostaria que soubesses apenas que sinto muito orgulho de ti. E que sejas capaz de amar outro alguém como eu nunca serei capaz.

E tu, já parou para pensar que existe alguém pensando em ti neste exato momento? Ás 00:24h da madrugada?!

A gente não dá a mínima, não é mesmo?!

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

...aqui e agora, perdoo todos os meus pensamentos

Resultado de imagem para luna buschinelli

Calma!
Não entre.
Espere. Não entre.
Não agora. Espere mais um pouco.
Estou arrumando todas as coisas da minha casa.
Calma!!!
Não entre. Me espere. Espere.
Estou arrumando todas as coisas da minha casa para você entrar e bagunçar de novo.
E eu te pedi para voltar para casa. Te pedi para esperar.
Calma. Não entre. Não se apresse. Me espere.
Não me atormente. Nem se atormente. Não se manifeste. Nem me manifeste.
Espere. Calma. Muita calma. Aqui, agora. Assim. Bem assim. Do outro lado.
Aguarde!

Se entregue. Me entregue. Me espere. Me soberbe. Me ame. Me espere mais um pouco. E venha até mim. Me usa. Me usurpa. Me corroa as entranhas. E digas que sentiste minha falta tanto quanto sinto da tua. Me espante. Me encontre. Me assuste. Me persiga. Me ache quando eu mais estiver perdido. E eu estou perdido. E bêbado. E deprimido. E emotivo o suficiente para te escrever tal carta que amanhã ou depois jogarei no lixo. E você não entende a mínima. E nem quer entender.
E entenda. Me entenda. Me compreenda. E não se surpreenda. Essa é a minha mente. E eu sento aqui  de frente com esta página em branco, bêbado, muito bêbado, e sozinho, e escrevo. Te escrevo. E te surpreendo. E você passa em minha mente. E escrevo. Continuo te escrevendo. Meus dedos de velho louco e poeta falam por mim e eu não dou a mínima para o que irei te entregar, porque aqui existe o meu melhor, mas também existe o meu pior. Como blues. Uns alegres. Outros tristes. Como poemas. Uns entendíveis. Outros nem tanto. Como álcool. Saboroso, mas te mata. Como tragos. Te acalmam, mas também te matam. E eu caio de encontro ao pensamento que me leva até você e sinto que estou cada vez mais distante como se tu fosse uma agulha no palheiro que eu não faço questão nenhuma de dar de caras. Distante. Pensante. Desgastante. E o pensamento constante de que esse é o instante que eu deveria amassar essa carta e coloca-la na estante. E você jamais acharia.
E minha depressão, meu bem? Tão constante quanto todas as folhas que caem pela cidade cinza amontoada de gente que não sabe o que quer.
E minha ansiedade, querida? Tão decorrente quanto todas as tristezas que as pessoas são capazes de jogar em folhas mortas pelos cantos mais coloridos da cidade.
E eu penso. Reflito. Insisto. E sinto. E choro. Te escrevo. E bebo. E fumo. E não te vejo. E arrumo minha casa para que você venha bagunçar, mas eu te pedi para voltar para cá e você não veio. Eu acredito ouvir o som da tua voz toda noite em que deito em minha cama, mas é apenas o som do ventilador de teto me dizendo que está tudo bem. E os demônios embaixo da minha cama são as únicas coisas que me abraçam sorrindo me dizendo que amanhã será um novo dia. E eu persisto, reflito, re-sinto, re-choro, e te escrevo de novo. E bebo. E fumo. Outra cerveja. Outro trago. E eu não te vejo.
Meu bem, meu bem, você ficaria surpresa com a quantidade de bobagens que penso dia após dia.
E a noite?
Minhas noites têm sido piores que os dias, meu bem. Minha cabeça ferve de tanto pensar. E eu sinto. Sinto muito. Sinto demais. E escrevo demais e choro demais e vejo demais e ouço demais. E te apago demais. E é tudo tão nublado quanto o dia ensolarado que se encontra lá fora. Os pássaros cantam, mas eu deixei de escuta-los. Os carros cantam, mas eu deixei de escuta-los. O mundo grita, e eu deixei de escuta-lo.
O que escutas então?
Uma voz me dizendo que eu preciso ser forte.
Mas isso é muito vago, não acha?
Acredito que não. Ainda estou sendo forte.
Mas isso é muito raso, não acha?
Acredito que não. Ainda estou levantando e vivendo a vida.
E o que mais querias?
Deitar em minha cama, me enrolar em meu casulo e não ver mais nenhum ser humano por pelos menos uns 7 anos.
Mas isso é muito pesado, não acha?
Claro que acho. Eles não me deixariam viver em paz por pelo menos 7 minutos.

- Meu bem, você já está bêbado novamente?
- Não estou bêbado, querida.
- Estas bebendo sozinho em plena quarta-feira.
- Mas ainda não estou bêbado, meu bem.
- Mas já está escrevendo essas porcarias que ninguém nunca entende.
- Mas ainda não estou bêbado.
- Você disse que iria se cuidar, não disse?
- Eu estou me cuidando, meu bem. São quase onze horas da noite e eu ainda não estou bêbado.
- Mas estas bebendo.
- Mas o fato de não estar bêbado é realmente importante, não é?
- O que queres da vida?
- Um pouco de paz, meu bem.
- E o que seria paz para você? Chegar em casa tarde da noite depois de um dia cansativo de trabalho, beber sozinho, ouvir esses seus jazz estranhos sozinho e escrever sozinho?
- Isso é blues, querida. Jazz não me entrega inspiração nenhuma para escrever, eu já tentei.
- É tudo a mesma coisa, caralho. Assim como tuas cartas, são sempre a mesma coisa.
- Tu tens lido minhas cartas, querida?
- Acredito que faz umas 9 cartas passadas que não leio mais.
- As coisas mudaram por aqui, meu bem. Mudaram bastante - e apontei para minha cabeça.
- O que queres dizer?
- Existe alguma coisa aqui dentro que está mais triste que os meses passados.
- E dentro do teu peito?
- Tentei enxergar alguma coisa.
- E então?
- Não enxerguei nada!

Amor, me encontre. Paixão, me ache. Paz, me procure. Porque eu deixo as coisas acontecerem de alguma certa forma e já não corro atrás de nada. E toda vez que eu acho que encontrei um romance certo, eu sorrio de verdade. Me sinto calmo. Me sinto bem. Me sinto leve. Me sinto em paz. Mas existe alguma coisa dentro de mim que faz questão de estragar todas as coisas boas, em relação a isso, que me entregam uma certa solidão. E eu já não me importo mais com a solidão como me importava há uns meses atrás.
Tempo do tempo perdido no tempo que tenho para te entregar de um tempo que eu gostaria de voltar para te dizer que tudo que passei ao teu lado não passa de um tempo que eu gostaria de voltar para te dizer que todos os minutos que andei gritando aos quatros ventos que o melhor dos tempos eu passo ao teu lado já não me invade mais a cabeça num tempo espaço corrido que tanto me faz correr para longe de ti. Entendeu alguma coisa? Quem se importa.
Espere. Me espera. Me acalma. Se acalma.
Abra a porta. Entre. Feche a porta. Me veja. E eu sorrio.
Me entrega. Se entrega. Me espera. Te entrega.
E veja, meu bem, que a espera do tempo foi necessária para nos mostrar algo.
O QUE?
Que o tempo não cura merda nenhuma!
O TEMPO CURA TUDO!!!
Não. O tempo é como a gripe. A gente acha que estamos livres e que nunca mais sentiremos essa merda novamente.
E ENTÃO?
E o tempo passa. A gente acorda um dia. Toca nas flores em nossos quintais. A gente sorri. A gente acredita que estamos bem, mas um dia a nuvem escura de uma doença que a gente nem sabe decifrar o nome invade nossas mentes e todos os nossos demônios começam a falar aqui dentro.
E O QUE ACONTECE?
Estamos de cama novamente. Sem se importar com o trabalho. Com o tempo. Com a família. Com os amigos. As coisas que gostamos de fazer já não nos satisfazem. E a gente não se importa com mais nada. E tudo fica tão cinza. Cinza. Quase preto. Quase tudo se apaga.
E O QUE VOCÊ FAZ?
Eu bebo. E escrevo. E tento não surtar. E escondo tudo atrás de cervejas, tragos e poemas.
E O QUE TE CAUSOU ISSO?
O amor, talvez.
O AMOR?! VEJA, CARA, VOCÊ CLARAMENTE NÃO ESTÁ BEM.
Eu estou muito melhor que outras crises que tivemos.
VEJA, CARA, VOCÊ ESCREVE ESSAS COISAS. PEDE AJUDA. ESCREVE CARTAS DE SOCORRO E QUASE NINGUÉM SE IMPORTA.
As pessoas se importam, elas só não sabem como demonstrar.
O PASSADO É UMA MERDA, CARA!
A gente bebe para esquecer essa merda, mas a gente nunca esquece.
TENS PENSADO EM SUICÍDIO?
Todos os dias. E ninguém está ali para me ajudar.
E ISSO APERTA AI DENTRO DO PEITO.
Todos os dias. E eu sempre me sinto sozinho.
UMA HORA TUDO PASSA!
Menos essa voz aqui dentro me dizendo como devo ou não me sentir.
VOCÊ, CLARAMENTE, NÃO ESTÁ BEM!
Já estive melhor, mas essa é apenas uma crise em que eu escrevo uma carta onde ninguém irá se importar e eu bebo e me sinto sozinho, solitário e triste o suficiente para fazer apostas comigo mesmo de que eu conseguiria escrever uma merda qualquer até as 23 horas de uma noite qualquer.

Falhei por dois minutos.
E QUEM SE IMPORTA, PORRA?!

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

O sonho que te traz para perto é o mesmo que te cospe para longe

Resultado de imagem para luna buschinelli


Sonho. Disfarçado. Transmutado. Apagado.
É o sonho amaldiçoado. Condenado. Sabotado.
Que me fez acordar sufocado. Suado. Indesejado. E aprisionado.
E eu lembrei que não te esqueci. E lembrei em como te perdi. E lembrei do que sinto por ti.
E isso me levou para muito mais longe de ti.
E eu me perdi.
Ao lembrar que em algum lugar eu consigo te encontrar.
E escrever sobre ti minhas melhores poesias.
Que mostram sempre o meu pior sobre ti.
E eu gostaria de lembrar que te esqueci, mas apenas lembro que não sou feliz desde o dia em que partiu.
E me disse adeus.
E eu gostaria de te ligar para saber como andam as coisas?!
Gostaria de perguntar se o teu sorriso tem sido tão falso quanto o meu, dia após dias?!
E gostaria de saber se sempre finges amar outras pessoas como um dia me amou?!
Porque eu faço isso.
E eu gostaria de tentar entender onde estão tua poesias que um dia pensou em escrever.
Tentar entender o que foi que me deixou tão distante de ti.
E tentar lembrar onde foi que tuas mãos se afastaram das minhas e transformaram essa vida num piloto automático em que nada e tudo faz sentido.
E eu gostaria mesmo de saber como tens entregado o teu melhor sorriso, meu bem.
Gostaria de saber se sentes tanto minha falta como sinto a tua ou se apenas sou um quadro abstrato no teu livro de uma linha só que não mais contém o meu nome.
E gostaria de saber se tens superado os teus vícios depois que parti de tua vida. E gostaria de saber se tens fumado mais, bebido mais, se cuidado menos e amado menos ainda.
E gostaria também de tentar entender onde foi que a gente se perdeu e como nos perdemos. E que todas as cartas que eu escrevo todas as pessoas pensam em um único e exclusivo nome, o teu, mas geralmente eu só escrevo, meu bem, só cuspo tudo para fora na esperança de que aches algum poema meu e me diga que eu devo me cuidar tanto quanto tu deves estar se cuidando.
E me lembrar que minhas cartas nunca fizeram tanto sentido para ninguém. E gostaria de ouvir tua voz me dizendo que tudo que eu escrevo ninguém se importa, e os que se importam apenas acham uma coisa, quando na verdade, de fato, é o oposto de tudo que estou sentindo.
E eu gostaria, meu bem, de te enxergar em minha porta, abrindo a geladeira, pegando uma cerveja para mim e me dizendo que sentiu falta dos meus lábios com gosto de cerveja tocando os seus.
E dizendo que sentiu falta da minha pessoa tanto quanto sentiste falta de meus poemas que nada tem para dizer.
E eu gostaria, querida, de saber quais são suas canções preferidas hoje em dia. Teus restaurantes prediletos. E onde enterra teus domingos sem minha voz cansada te dizendo que não quer ir embora do teu lar.
E eu gostaria de te aceitar longe, mas tão longe de mim como se encontra nesse exato momento, mas a voz que me pede para não desistir da vida desde que partiu, é a mesma voz que me pede para ter paciência de encontrar um novo amor, porque o seu tu já não é capaz de me dar. Não da forma que eu sempre quis.
E eu gostaria de apenas olhar o teu jeitinho de ser pela janela da sala e te ver indo embora pela selva de pedra como a pessoa perfeita que és para esse mundo imperfeito.
E desde que se foi, a selva de pedra tens sido tão cinza quanto todos os prédios que insisto em ver todas as manhãs.
Mas isso teu sorriso e jeitinho de ser colorem as esquinas em que não passo mais na esperança de nunca mais te encontrar.
E meu coração estremece ao lembrar que posso dar de caras com você mais uma vez. Outra vez.
Outra vez mais.

- Meu bem, mal começou a semana e você já está bêbado?
- Não estou bêbado, meu bem. É apenas para matar o calor.
- E o tempo.
- E o tempo. Sim. O tempo. Tempo que nunca passa. Tempo que me estupra. E não me liberta. E quando eu acho que passou tempo suficiente, vejo que nunca é suficiente. E isso me intriga. Me mata. E eu sinto vontade de perder todo o tempo do mundo com qualquer besteira para apenas me lembrar porque estou vivo, e perder tempo é uma besteira, meu bem. Porque o mundo apenas me mostra que tudo mudou, que minha vida mudou e que meus amores sempre irão embora, mas o mundo continua.
- O que queres dizer, querido?
- Quero dizer que se eu fizesse a merda de acabar com a minha vida agora, neste exato momento, bebendo esta cerveja, amanhã o mundo lá fora continuaria o mesmo. O carteiro estaria em greve. Os banqueiros estariam indo para seus bancos. Os barbeiros para suas barbearias. Os músicos para seus estúdios. Os ônibus continuariam suas viagens, os aviões, os navios, os carros, as motos. Os bares estariam abrindo suas portas, as lojas de roupas, os shoppings, os botecos, os puteiros, as bocas de fumo. Tudo. Tudo estaria em seu devido lugar, sendo sempre o que foi. E eu estaria morto, e ninguém sentiria falta.
- Eu sentiria falta.
- Por um breve tempo. Depois me tornaria uma lembrança.
- Você não sabe o que diz, meu bem.
- Você lembraria de mim vez ou outra. Mas a morte é como o amor, meu bem. A gente se entrega, se apaixona. A gente se ama. E se torna tudo na vida de alguém. Mas o tempo passa e tudo acaba. A paixão acaba. O amor se apaga. E a gente parte da vida um do outro como se nunca tivéssemos nos conhecido. E a cada dia que passa o amor se apaga cada vez mais. E um dia, quando percebes, somos apenas estranhos que passaram na vida um do outro em algum momento. Viramos estranhos. Porque a morte seria diferente?
- Na morte a gente não se encontra por ai.
- Isso você tem razão. É o que faz da morte algo muito mais fácil do que um amor inacabado.
- Queres outra cerveja, meu bem?
- Sim, quero. E aumente o som, por gentileza, esse blues de Luther Allison é perfeito.
- Bad News is Coming, não é?!
- Exatamente, perfeita canção para uma segunda-feira quente.

Com os olhos fechados, ouvi o canto dos pássaros e o sol batendo pelas frestas da janela.
Acordei. Me peguei em teu quarto.
Olhei para os lados. Você não estava aqui.
Ouvi o silêncio da casa. Percebi que não tinha ninguém.
Levantei. De samba canção e a barba bagunçada.
Lembrei que precisava cortar os cabelos.
Fui até a cozinha para ver se tinha café. Não tinha.
Abri a geladeira. Peguei um suco de laranja amanhecido que estava lá.
Abri o armário. Peguei um copo. Coloquei o suco no copo.
Ainda ouvindo som dos pássaros, tomei o suco.
Vendo tudo que sempre enxerguei direto da sua sacada.
E sorri. E há muito tempo não sorria desta forma.
E meu coração respirou.
Te mandei mensagem perguntando se iria demorar. Você logo respondeu que estaria indo para casa.
Meu coração acelerou. Meus olhos se encheram de lágrimas. De felicidade.
Fui para o banheiro tomar um banho.
Eu não iria trabalhar naquele dia e o resto do dia seria nosso.
Tomei um banho. Me arrumei. Me perfumei. Preparei o teu café.
Te esperei.
Liguei a TV. Me deitei em seu sofá.
E te esperei.
Com o peito vibrando de ansiedade para te ver.
Ouvi o barulho da porta. O seu molho de chaves. Você abriu a porta. Entrou. Trancou a porta.
E sorriu.
O sorriso mais maravilho de todo o mundo.
E eu surtei, por dentro. E meus olhos se encheram de lágrimas. E eu sabia porque estava te esperando.
Te abracei. Te beijei. Te disse que tinha feito o café.
Você disse que eu estava lindo naquele samba canção com flores ridículas estampadas.
Sorrimos.
Te observei tomando café e me dizendo como tinha sido sua manhã agitada. Senti falta da sua voz. E do seu cheiro de quem acabou de chegar da cidade grande.
Você disse que queria tomar um banho. Foste para o banheiro. E antes de entrar, olhou para trás, sorriu e disse para eu te esperar.
Sorri.
E te esperei.
Na sua cama.
Tu saíste do banho. Com sua melhor camisola. Me viu em sua cama e sorriu.
Veio até mim. Sorriu, mais uma vez.
Te puxei pela cintura. Você deitou em cima de mim. E me beijou.
Me beijou e esquecemos do mundo lá fora.
E eu chorei. E para ti sorri.
E você me perguntou o que eu tinha.
E eu te disse "Você precisa saber que eu pensei em você todos os dias da minha vida desde que te conheci".
E você chorou e deixou a tua gota mais forte cair sob meu rosto.

Acordei. Suado. Sufocado. Atordoado. Chorando.
E eu pedi. E chorei. E implorei. E surtei.
Não.
NÃO!!!
Era apenas um sonho.
E eu não queria acordar.
Por lembrar o motivo do meu sorriso estar sempre apagado.
E lembrar o quanto finjo estar bem.
Por fingir que todos os meus poemas são só poemas.
Mas é muito mais que isso.
É um pedido de socorro.
E um pedido para que volte e me lembre que eu ainda sei amar.

- Qual foi a vez que esteve verdadeiramente feliz?
- Sei bem a resposta, só não quero te escrever.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Consegues me ouvir, querida?!

Imagem relacionada

Te pedi um momento. Você me deu segundos.
Te pedi cigarros. Você me deu cinzas.
Te pedi cerveja. Você me deu latas vazias.
Te pedi poemas. Você me deu clichês.
Te pedi saudade. Você me deu descaso.
Te pedi amor. Você me deu desprezo.
Te pedi abraços. Você fez questão de me mostrar seus braços abaixados.
Te pedi desejos. Você me deu a falta deles.
Te pedi para não ir embora. Você me fez te mostrar a saída.
Te pedi para ter calma. Você me disse que a calma já havia se esgotado.
Te pedi. Te pedi. Te pedi.
Você não tinha nada para me entregar.
Flores mortas!

E eu estou perdendo o meu momento. Fumando todos esses cigarros. Bebendo todas essas cervejas. E escrevendo todos esses poemas que ninguém nunca irá ler. E a minha visão está sempre ficando embaçada quando penso em escrever alguma coisa, ainda mais quando é algo sobre ti. E eu já não sei mais o que escrever. E eu já não sei mais como escrever. E isso tem se tornado algo derradeiro. E eu sinto saudade. Sinto falta. Sinto tua falta. Te queria aqui comigo. Mas sinto que meu amor não é o suficiente para teu amor. E o que eu queria mais era os teus abraços me pedindo para ficar e me dizendo que tudo não passa de um pesadelo. E eu gostaria que fosse um pesadelo. E eu morro de desejos de que não se vá. Não dessa forma. Não sem antes me pedir para ter calma o suficiente para não te esquecer jamais. E que me lembre todos os dias que eu não fui e nunca serei capaz de te esquecer tal como já desejei. E você é irreparável como todas as flores mortas no jardim de minha casa sem nada a me entregar.

- Acredito que estou perdendo a fé na humanidade, meu bem.
- E você já teve fé nessa porra de humanidade, caralho?
- Um dia eu tive.
- Ah, conta outra. Você é a pessoa que menos tem esperança na humanidade. Você nada diz, mas está em seus olhos. Você é essa pessoa triste e melancólica porque já não acredita em mais nada e mais ninguém.
- Ah, querida, vez ou outra a gente tem que tentar.
- Tentar o que, caralho? Você nunca acreditou na humanidade. Mal acredita em si mesmo.
- Eu acredito em mim, querida, senão mal escreveria.
- É, tu tens escrito bastante ultimamente. O que tens acontecido?
- Não sei, meu bem, existe uma voz pertinente que fala ao meu ouvido todas as noites e não me deixa dormir.
- E o que essa voz te diz?
- Para eu acreditar mais na humanidade.
- E isso te tira o sono, caralho?
- Claro que me tira o sono, porra. A maior ignorância que alguém pode cometer é no ato de acreditar e confiar em outro ser humano.
- Mas...e o amor?
- Lá vem você com essas merdas. O que tem o amor, caralho?
- Você não acredita mais nele?
- Acredito. Todos os dias. Senão já teria me mandado desse mundo.
- Então você acredita em alguma coisa.
- Somos obrigados a acreditar. A sociedade de entope todos os dias com merdas e mais merdas e somos forçados a acreditar em alguma coisa. O amor é uma delas. O amor é um pássaro preso em nossos corações pronto para ser libertado, mas a gente nunca liberta.
- Uma hora ele escapa.
- E ele não sabe conviver com o mundo lá fora e acaba morrendo. Morrendo de fome. De sede. De tédio. De perda. Ou alguém simplesmente atira em teu coração e ele cai do céu como se nada mais em sua volta existisse, mas está tudo lá, o amor uma hora morre e o mundo continua sendo o mesmo.
- E depois?
- Depois a gente se entope de cerveja e cigarros e poemas e blues e não quer mais saber de nada.
- E se transforma nesse velho chato e ranzinza, escritor de meia tigela que você se transformou.
- Exato. Você está sempre certa, querida.
- Tens dormido, meu bem?
- Nada bem.
- Tens comido, meu bem?
- Quando lembro.
- Tens se cuidado, meu bem.
- Quando lembro, nada bem.
- Tens se sentido para baixo, meu bem?
- Todos os dias.
- E ansiedade?
- Companheira.
- E depressão?
- Sempre me levando para o mesmo abismo.
- E suicídio?
- Tentando não pensar.
- E o amor, meu bem?
- O amor é um companheiro que tento não me lembrar dele pois me leva sempre para o mesmo esconderijo da alma.
- Você precisa se cuidar mais, caralho.
- Você está sempre certa, querida.
- Para de encher a cara, seu velho escroto.
- Sempre certa, querida. Sempre.

Te pedi rascunhos. Você me deu poesias.
Te pedi conselhos. Você me deu listas.
Te pedi cigarros. Você me deu maços.
Te pedi abraços. Você me deu todos.
Te pedi cerveja. Você me deu fardos.
Te pedi carinho. Você me acalmou.
Te pedi flores. Você comprou todas as que podia, regou e cuidou de todas elas.
Te pedi para me ler. Você me decifrou.
Te pedi para não me perder. Você me encontrou.
Te pedi para me ouvir. Você fez uma música.
Te pedi para me sentir. Você me embrulhou dentro de ti.
Te pedi para ser. Você foi muito mais.
Te pedi perfeição. Você sorriu.
Te pedi nobreza. Você sorriu.
Te pedi felicidade. Você sorriu.
Te pedi amor. Você sorriu.
Pegou o telefone. Discou meu número. Me ligou

Eu atendi.
Tremendo, pois tenho pavor de telefones.

- Alô!
- Alô?
- O que é o amor para você?
- É a porra de um sorriso que não sai nunca da minha cabeça, caralho!

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Porra, meu bem, poesia é tão démodé!

Imagem relacionada

- Você disse que ia se cuidar, caralho!!!
- Mas eu estou me cuidando, querida.
- Enchendo o cu de cerveja e fumando que nem um filho da puta???
- Só algumas cervejas e alguns tragos, querida.
- Você já está bêbado, seu filho da puta. E mal te enxergo através dessa cortina de fumaça que te cobre os pulmões.
- Confie em mim, querida. Confie em mim.
- Eu não confio em você quando se trata de álcool, seu filho da puta. Você precisa se cuidar.
- Estou me cuidando, meu bem. Estou me cuidando. Pode me trazer uma cerveja?
- Você não tem mais jeito, porra.

E as paranoias me consomem. O álcool me consome. O amor me consome. A poesia me consome. E eu escrevo. E escrevo. E escrevo. E tento me cuidar, mas não tem mais jeito. E os tragos me consomem. E o blues me consome. E eu me encontro perdido novamente. E a gente espera algo do amor. A gente espera um amor. A gente espera uma saída. E a gente encontra. E a gente se entrega. E a gente se apega. E a gente acredita que aquele é o seu final feliz. Mas a gente emburrece. E ficamos cegos. E a gente acredita que qualquer amor que caía sobre nós por acidente é o que nos salvará de nós mesmos. E a gente sorri. E a gente se arruma. E a gente melhora. E a gente se sente bem. E a gente anda pelas esquinas como se tivéssemos encontrado o amor de nossas vidas. E a gente acredita nisso. E a gente espera. Espera até demais. E acredita. Acredita até demais. E se perde. E nos damos conta que esquecemos nossa bussola no bolso de alguma jaqueta surrada no canto de nosso quarto. E a gente se perde e mesmo assim continua caminhando de frente com uma tragédia anunciada. E a gente surta, mas a gente não demonstra. E a gente continua acreditando que o amor nos tirou de casa para nos salvar. E a gente não ouve sua risada maliciosa ao fundo de nossas orelhas. E a gente caminha acreditando que estamos amando e que todos os nossos acidentes passados nos mostraram algo bom o suficiente para nos fazer crescer. E a gente vai. A gente segue em frente. Em frente. Em frente. Sempre em frente. Correndo riscos. Sabendo dos riscos. E sempre em frente. Sorrindo. Sentindo. Pensando. Gostando. Amando. E então...a gente colide. Acidente. Trágico. Sofrimento. Lamúrias. Tristezas. E trágico, mais uma vez. E o a gente não é mais a gente!

Ela me ligou...

- Queria te encontrar.
- Para quê, meu bem?
- Para te dizer que estou com saudades. E dizer que já não te sinto tão bem quanto umas semanas atrás.
- E eu gostaria de me sentir bem como há semanas atrás.
- Tu voltastes a escrever. Isso não me deixa tranquila.
- O que queres dizer com isso?
- Você nunca está bem quando escreves demais. E quando bebe demais. E sozinho. Sozinho. Sempre sozinho.
- Cansei de me sentir sozinho, querida.
- Você não está sozinho.
- Mesmo rodeado de gente, sempre estou sozinho. Aqui dentro. Sozinho. Sozinho.
- Sei que não estas bem.

Talvez eu não seja a pessoa certa para amar. Eu penso demais. Eu sinto demais. Eu crio demais. Eu escrevo demais. E eu amo demais. E eu olho para todos os cantos do meu quarto e penso em escrever sobre o que estou sentindo. E se te tenho aqui em meus braços, penso em te escrever logo que vais embora. E se eu não te tenho aqui comigo, penso em te escrever para pedir que volte. E eu olho para qualquer coisa que passe por minha visão míope e crio uma carta que seja feita por meus sentimentos para você. Arrumo minha cama e penso o quanto queria você aqui para bagunça-la comigo. Tomo meu banho e penso no quanto te queria comigo. Me seco pensando no quanto queria estar te olhando de perto passando a toalha por teu corpo e pensar que essa é a visão mais maravilhosa do mundo. Me visto pensando que eu queria você aqui para tirar minha roupa e me mostrar que o mundo lá fora não importa. Volto para o banheiro, penteio minha barba com o pensamento de que você poderia estar bagunçando ela com teus beijos. Volto para o quarto e procuro o relógio que combina com a minha roupa pensando no tempo que falta para o tempo me colocar de volta com o teu olhar. E esse tempo me assusta pois a saudade me assusta. E o tempo me assusta por mostrar que o tempo não foi forte o suficiente para me tornar forte o suficiente para te esquecer. Acaricio o meu cachorro que não late em vão e penso que eu, você e ele seríamos uma família. Pequena família. Meu mundo. E desço para comer alguma coisa, procuro alguma coisa na geladeira, nos armários, nas gavetas. Encontro algo para comer antes de partir e me alimento. Mastigo algo com o pensamento de que poderíamos estar planejando o que jantaríamos juntos, você riria da minha cara por lembrar que não sei cozinhar nada, mas nada bem. E pediria para deixar em tuas mãos. E eu não lutaria contra isso. Te diria que sim com um sorriso no rosto e te beijaria logo em seguida.
Acendo o fogo. Coloco o bule em cima da boca do fogão. Espero ficar quente. Esquentou. Coloco meu café requentado em uma xícara branca qualquer. Esquentei demais. E lembro que isso tem sido uma das poucas coisas que têm me esquentado por dentro. O café está bom. Requentado, mas bom. Minha cabeça dói levemente pela ressaca de ter bebido algumas cervejas na noite passada para te esquecer. E eu lembro que não lembro se você gosta de café.
A gente não é mais a gente.

- Querido, tens reparado que as tuas cartas não estão fazendo muito sentido ultimamente.
- E quem se importa?
- Ora, veja bem, eu me importo.
- Porque?
- Tuas cartas são como blues, tristes, mas não fazem sentido.
- Porque eu me importaria com isso, meu bem?
- Você não se importa com o que as pessoas pensam dos teus textos?
- Nunca me importei com isto.
- E mesmo assim elas te acham grande coisa. E mesmo assim essas pessoas acham que você é um puta escritor.
- Eu nunca me achei lá grande coisa, meu bem.
- Mas você precisa entender que as pessoas caem de encontro com tuas cartas e elas são capazes de ler tuas porcarias.
- E quando elas serão capazes de me entender?
- Elas te entendem, querido.
- Não. Elas não me entendem. Todas as minhas cartas existem um pedido muito grande de socorro e ninguém nunca da a mínima. Todas elas acreditam que é sobre amor e romance e saudade.
- E não são?!
- Bem, talvez. Mas o ápice de minha tristeza é o longo período de solidão. E eu me sinto sempre tão só, meu bem.
- Poesia é tão chato, querido.
- Porque pensas isso?
- Porque elas nunca terminam com um sentido concreto. A gente sempre tem que ficar pensando e pensando e pensando e nunca chega a conclusão nenhuma.
- Eu amo poesia, meu bem.
- Eu sei que ama. E por falar nisso, querido, a última que escreveu ficou muito boa.
- Oh, obrigado, meu bem.

Démodé é acreditar que o amor irá pulsar em meu peito novamente.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

...saudade, é o que eu matei de fome e joguei em algum lixo de minha casa

Resultado de imagem para luna buschinelli desenhos

Se acalma. Me acalma. Respira. Me tira ou me atira. Me tira de tua vida ou me atira em teus braços. Me escolhe. Me encolhe. Me esquece ou me acolhe. Me traga. Me apaga. Me solta ou me apega.
Saudade. Translúcida. Estranha. Constante. Preguiçosa. Você e eu quero você. E eu sempre quis você. E eu sinto saudade de nós. De mim. De ti. Do blues. Dos tragos. Das cervejas. Dos poemas. De ti. De ti. Em mim. Por mim. E pra mim. Sem ser minha. Só minha. Não quero. Jamais quis. Te quero como um todo. Em liberdade. Liberta. Discreta e linda. Como sempre foi. E incrível. E para mim. E aqui. E agora. Me expõe. Me impõe. Foge para mim. Seja para mim. Pelo menos essa noite. E nada mais. O amanhã não importa. Porque eu te encontrei e te despi com os olhos, não com olhos perversos, mas com o olhar de quem quer te ver, apenas te ver, e te enxergar por completa. Linda. Preciosa. Querida. Amada. Protegida. E liberta. Estranha e linda. Esquisita. E linda. Do teu jeitinho. No meu jeitinho. Do nosso jeitinho. Me acompanha. Me descompanha. Tira-me do compasso do teu despasso sobre o completo passo de nossa dança em minha cama bagunçada que tanto precisa do teu jeito, teu cheiro, teu preço, teu peito, tua ternura, teu sorriso. Tanto quanto eu preciso. E eu quero deixar de ouvir minha cama implorar por tua companhia. Ela grita tua companhia muito mais que meu grito raivoso por lembrar que te perdi, te senti, te lembrei, te esqueci. E te escrevi. Ah, como eu escrevi. Me morde. Me mastiga. Me engole. Deixe-me passar por tuas entranhas até que lembre que sou capaz de passar por um fio sequer de dentro do teu corpo. E lembre-se que te escrevi. Por ti bebi. Por ti traguei. Por ti dormi bêbado e acordei de ressaca na esperança de que uma luz acesa de dentro de mim encontre uma saída para te esquecer e te deixar ir embora. Me apanha. Me desmonta. Me ataca. Não na maldade, não com raiva, não com teu olhar de destruição. Me apanha de ternura. Me desmonta com teu sorriso. Me ataca com teu amor. E quando o amor deixar de bater por mim dentro de ti, que seja quando eu te tirar do sério e tu me queira longe. Longe. Bem longe. Distante. E que esse amor volte. Volte depressa. Depressa. Depressa. Constante. Sorrindo. E brincando. Nos tragando e nos ameaçando por sermos tão feitos um para o outro tal como um abraço verdadeiro não pode ser dado sozinho. Se acalme. Me acalme. Transpasse. Não se desgaste. E não se vá. Não. Não. Agora não. Volte sorrindo e me odiando, mas só um pouquinho. Venha para os meus braços e lembre que tudo que fiz para te irritar foi para ver esse teu jeitinho. Jeitinho. Mais uma vez. Jeitinho. Só teu jeitinho. Que eu quero que seja O Meu Jeitinho. Teu jeitinho todinho para mim. E eu quero te ver mais uma vez. Outra vez. E eu te escrevi. Te escrevi tudo e esqueci de quase tudo. Tal como lembrei que posso te esquecer. Facilmente, não sei. Não agora. Mas posso te esquecer. Fácil como o amor nos torna fáceis e fracos e dispostos a qualquer merda que ele nos entregue. Mas deixa, deixa eu te lembrar que sou capaz de te lembrar que ainda não te esqueci. Deixa eu te lembrar que, vez ou outra, me pego pensando em ti, em nós. Por nós. E eu te escrevi para apenas te dizer que eu não esqueci de lembrar você que não sou tão feliz sem tuas palavras matinais me pedindo para ficar. E te deixar me entrega um aperto, querida.

- Tens escrito como antes?
- Não tanto. Desacelerei.
- Isso quer dizer que estas melhorando. Isso é um bom sinal, não é?
- Não. Não tenho melhorado. Isso é um sinal apenas de que estou juntando minhas melhores palavras para escrever algo grande.
- Mas, querido, você nunca foi desses.
- Eu sei.
- Estas tentando se enganar novamente?
- Sempre me pego fazendo isso.
- E o que ganhas com isso?
- Dependendo de minhas respostas, as pessoas me fazem menos perguntas.
- Tens amado alguém?
- Talvez.
- Ainda se lembra o que é amar alguém?
- Talvez.
- E o que é amar alguém?
- Uma névoa passageira pela madrugada que nos entrega uma coberta quente de saudade logo que ela vai embora.
- Acreditas mesmo nisso?
- Talvez.
- Ah, querido, a vida não é feita de "Talvez". Precisamos ter certezas absolutas do que queremos e como queremos e onde queremos e quem queremos.
- Acreditas mesmo nisso?
- Acredito.
- Tua vida deve estar sendo tão chata quanto a minha, meu bem.

Amor. Te trago. Te apago. Te puxo. Me estrago. Não me entrego. Não te quero. Não te venero. Não te espero. Amor amargo. Esculhambado. Batido. Surrado. Esquecido. E perdido. E eu não te quero. Não te acalmo. Não te peço. Não te imploro. E isso é triste. E eu escrevo palavras na esperança de que eu acredite em todas elas. Amor. Não preciso de ti. Te esqueci de te sentir. E isso me atrapalha. E eu me sinto sufocado. Perdido. Esquecido. Amargo. Esculhambado. Batido. Surrado. E poeta. Poetas sabem escrever sobre o amor, mas isso é contraditório, porque poetas são os que mais sentem e sofrem e mentem. Escrevi algumas palavras tristes sobre o amor na esperança de que eu não saia do meu ritmo e te mostre que eu ainda sei manter a tonalidade de todas as minhas cartas. Mas eu te pedi para ficar e você foi embora. Te abri a porta de minha casa e você nem quis entrar. Te puxei para os meus braços e você me empurrou para longe. Te pedi um beijo e você disse que agora não dava. Te pedi para ser o meu tempo num todo completo de um tempo perdido por completo e você disse que não tinha tempo. Te deixei partir. Não me esforcei. Nem te implorei. Jamais faria isso. Amores sentidos de verdade jamais nos dão trabalho. A gente não implora. A gente não grita. A gente não esperneia. A gente não luta. Amores simples e calmos vieram para serem sentidos e agarrados com todas as nossas forças, o amor quando entra dentro de nosso peito não tem que ser esperado por toda uma eternidade para que possamos sentir, de alguma maneira, o menor que seja. Amores não vieram para serem batalhados. Não estamos numa zona de guerra. E nem quero ser esse tipo de soldado. Amores não foram feitos para que corramos atrás, o tempo todo, todo tempo, mas, se eu tiver que correr, que seja para te perguntar onde foi que deixei meu último poema de amor inacabado para te entregar num amanhecer de domingo qualquer e fazer você sorrir antes mesmo do café.

Termino essas palavras com lágrimas em meus olhos para te dizer que eu te puxei para mais perto ao escrever tais palavras que foram feitas única e exclusivamente para ti. E o que tu irá fazer? Me tirar ou me atirar?

- Quer uma cerveja?
- Não posso beber, querida.
- Você me dizendo isso, seu cretino? Qual a piada da vez?
- Estou tomando medicamentos e não posso beber por alguns dias.
- Já vi que irás surtar, não aguenta ficar um dia sequer sem escrever.
- Posso escrever sóbrio, meu bem.
- Tuas cartas ficam uma merda quando estas sóbrio, querido. Ainda mais sóbrio, amando e com a saudade apertando em teu peito a ponto de sentir essa ansiedade absurda que te deixa com falta de ar e sem saber para onde andar, seu poeta bêbado e escroto - e ela caiu em risos.
- Meu bem, veja bem, eu escrevi esta carta e eu estava completamente sóbrio. Não estava com uma gota sequer de álcool na boca. Veja o que achas!
- Passe para cá.

Colocou o cigarro na boca. Deu mais um gole em tua cerveja. Pegou a carta. E começou:

"Se acalma. Me acalma. Respira. Me tira..."

 Encostei a cabeça no sofá e esperei teu julgamento. Mas não tem importância.