quarta-feira, 27 de março de 2019

E nesta colisão de sentimentos, percebi - entre gritos de socorro - que o acidente grave sou eu!

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Sentado em minha poltrona surrada, assistindo o nada da TV, comecei:
- Querida, eu já te disse o quanto esse meu coração é miserável?
- Todas as noites, meu bem.
- Mas, querida, eu já disse que odeio ele?
- Sim, meu bem, todas as noites.
- Querida, eu já disse o quanto odeio o amor?
- Sim, meu bem, bastante vezes.
- Mas, querida, qual o sentido dessa merda toda?
- Você me pergunta isso todas as noites, meu bem.
- E, querida, porque não sabes o que me dizer?
- Você tem que descobrir sozinho o motivo de todas as tuas falhas, meu bem.
- Eu sei, mas, querida, minhas falhas têm sido amar.
- Mas são essas falhas que lhe trazem cartas muito boas, meu bem.
- Mas, querida, ninguém lê essa merda toda.
- Eu leio, meu bem, eu leio. Quer mais uma cerveja? Estou te sentindo angustiado, meu bem, meu bem.
- Essa merda toda se resume em amar demais, ser largado alguma hora, sofrer demais, escrever demais e beber demais, demais e demais. A humanidade sempre deixando tudo por demais e demais e demais, querida. Meu coração existe sempre o demais e demais E DEMAIS, querida, querida.
- Se acalme, meu bem. Se acalme! O amor é só uma falha que tu não consegues evitar.
- Não, querida, eu sou a falha que as pessoas não conseguem evitar. Eu sou o acidente grave infestado de sentimentos absurdos num coração que mal cabe a si próprio. Eu sou a colisão mais fatal que alguém poderia ter neste exato momento.
- E quem é louco de dar de cara contigo, meu bem? Não passa de um bêbado solitário que pensa por demais e escreve por demais e bebe por demais, e todo mundo acha super incrível isso, quando, na verdade, tu não passa de meras cartas tristes sem nada a dizer na esperança de que te ouçam gritar de alguma maneira certeira ao coração de quem é capaz de ler tais palavras.
- Querida, eu já te disse o quanto odeio este filme. Já sei o final. O mocinho morre de tristeza por conta de sua amada. É trágico, trágico. Ele ama demais e toma veneno porque ela não sabe amar demais.
- Trágico, meu bem. Clichê trágico e patético. Trágico. Trágico.

Não ouse, querida. Não ouse me amar da maneira que sou. Não ouse experimentar o que tenho de melhor para te entregar. Não, não ouse. Não ouse sentir o que ouso sentir aqui dentro deste coração tão perdido quanto o seu. Não ouse navegar neste mar de sentimentos e se afogar no que ouso te sufocar. Não quero ter que te sufocar com todos os sentimentos aqui dentro cabíveis por você. Não, não quero, querida. Não quero que se fruste com minhas cantadas baratas e sorrisos sinceros. Não quero que se entregue para mim da forma como sempre planejei que se entregasse. Não ouse, querida, não ouse me ter em teus braços na esperança existente de que podes me largar no momento que quiseres, mas, se fores capaz de pensar assim, que me largue logo, querida. Me tira de teus braços e tuas mãos antes que sejas tarde demais para um coração tão perdido como todas as falhas existentes no mundo. E eu sou uma dessas falhas existentes no mundo. E mesmo assim tu diz me amar. E mesmo assim tu diz me achar incrível. E mesmo assim, querida, tu tens a capacidade de ler todas as minhas cartas e acreditar que sou este poeta maravilhoso e genial que eu nunca fui e serei capaz de ser. E, meu bem, meu bem, não ouse acordar ao meu lado numa manhã de domingo logo após uma noite cheia de loucuras e bebedeiras, porque, meu bem, a barba é mais bagunçada que todos os sentimentos contidos dentro de meu coração e o cabelo é tão desarrumado quanto as roupas que usei na noite anterior. E os poemas ficam pelos cantos do meu quarto na esperança de que encontrem algo definitivamente bom que possa me tirar daqui. Ah, minha querida, minha amada querida que tanto penso dia após dia e noite após noite, não ouse entrar neste navio de sentimentos, não ouse, querida, não ouse. Não ouse deixar que eu te afunde junto comigo, a última coisa que eu gostaria era de te enxergar na imensidão do oceano, afogada sem um fim pacífico. E olha, querida, a brincadeira com palavras que eu consigo exercitar ao lembrar de ti. E eu sinto, meu bem, que eu consigo escrever qualquer coisa quando eu penso apenas em teu nome, e isso é perigoso demais, porque é complicado demais e vivido demais e sentido demais e existente demais. E eu gostaria de te tirar de dentro de mim da mesma forma que você ousa me sentir dentro de ti, por mais que eu saiba que eu não passe de um passatempo dos mais sem graça em tua vida que muito têm para ser vivida. Querida, querida, não ouse me amar da maneira que pensas. Não ouse sentir qualquer coisa por mim. Não deixe teu peito bater mais forte do que o normal ao lembrar de meu nome. E se isso acontecer, fuja, fuja para bem longe, fuja para onde eu não consiga nunca mais te encontrar. Fuja para qualquer canto dos quatro ventos onde minha bussola não seja capaz de cair de encontro a ti, porque, meu bem, é perigoso me amar. É perigoso qualquer tipo de sentimento que bata dentro de ti sobre mim que não seja indiferença. Não ouse, meu bem, não ouse me ligar para ouvir minha voz cansada. Não ouse me mandar cartas na esperança de que responda todos os teus desejos. Não ouse, minha linda, não ouse vir me buscar para me salvar de qualquer coisa que pensas que estarei me afundando de encontro com a escuridão. Não ouse vir me procurar no cais dos sentimentos enquanto escrevo qualquer porcaria de poema que tu nunca irás ler. Não ouse lembrar de mim ao ouvir uma música romântica ou assistir um filme de clichê romântico. Não ouse sonhar com um futuro onde teu sorriso é o motivo dos meus sorrisos. Não ouse acreditar num futuro onde todos os meus poemas mais bonitos e clichês e nada melancólicos são feitos pela tua existência ao meu lado que muito têm para me entregar e me salvar e me tirar do fundo do abismo mais profundo que fui capaz de me enfiar a partir do momento em que meu último amor me matou da pior forma possível.

Mas, meu bem, queres desafiar a vida e a morte e os amores e romances e o futuro? Me ame. Me ame como quero que me ames. Lembre de mim sempre que acordar. Não me esqueça sempre que for dormir. E pense em mim. E me sinta. E me tenha dentro de ti até que teu peito exploda de saudades e eu vá te buscar para passar mais uma noite ao teu lado. E jamais largue minha mão e, se tiver que largar, que seja apenas para me abraçar e sussurrar em meu ouvido que jamais sairá do meu lado. E me ame. Me ame como se não existisse o amanhã. Me aperte. Me beije. Me tenha. E deixe que eu seja teu até que teu peito enjoe de mim. E, meu bem, se ele nunca for capaz de enjoar, me deixe do teu lado sempre que puder. E beba todas as minhas cervejas. E fume todos os meus tragos. E ouça todas as minhas músicas. E assista todos os meus filmes. E leia todos os meu poemas. E me ame. Me ame quando os teus dias parecerem em vão. Me ame quando estiver feliz o suficiente para compartilhar teus momentos comigo. E me abrace quando não tiveres mais nada para falar ou botar para fora. Se entregue. E use minhas roupas. Meus lençóis. Meus livros. Meus sentimentos. Use tudo que puder. Me use. Use da maneira que desejar. Como desejar. E não me esqueças. Não enquanto não enjoas de mim. E não quero que enjoe, mas, se enjoar, saberei que usou meu cais de sentimentos da maneira mais surpreendente que alguém foi capaz de usar. E, se me jogou fora, como todas as outras vezes me jogaram, sei que tu virará os mais belos poemas que alguns gatos pingados lerão pelo mundo afora. Use meus defeitos. Minhas qualidades. Minhas teorias. Minha vida. Meu coração. Minha alma. E saiba que tudo que eu puder compartilhar com você, serei capaz de te entregar com um sorriso no rosto, mesmo que eu saiba o fim de tudo isso, mas sempre estarei com um sorriso no nele e uma lágrima contida por saber que tu se transformará nos meus melhores poemas que nunca fui capaz de escrever antes.

E eu te amo por isso!

segunda-feira, 25 de março de 2019

Tua voz é a morfina que tenho pavor de tomar

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Madrugada fria. Telefone toca. Depois de tomar algumas cervejas, perco o temor dentro de mim em ter que atender ligações.
Atendi.

- Olá.
- Oi. Ah, é você, querida. Diga o que queres no meio de minha insônia.
- Senti um aperto em meu peito. Queria saber como está. Tudo bem?
- Ah, querida, na medida do possível. Vivendo da maneira que posso. Escrevendo sempre que posso. Bebendo sempre que preciso.
- E a vida, como ela se encontra?
- Mais perdida que todas as cartas minhas. Tens visto alguma delas?
- Vez ou outra. Tudo que escreve me deixa tão para baixo.
- Eu queria ser alguém melhor, meu bem. Gostaria de escrever coisas mais felizes que me levassem para algum lugar. Queria mesmo que não me enxergassem como o triste que realmente sou. Gostaria de colocar uma máscara e fingir todas aquelas coisas que todos eles conseguem fingir. Sentimentos. Amores. Paixões. Prazeres. Futilidades. Vazios. Tudo tão vazio, meu amor. Tudo tão raso. Tudo tão sem nada. Você se apaixona hoje e amanhã é facilmente descartado. Tu escreve uma carta romântica hoje e amanhã já nem se importam mais. Gostaria de enxergar a profundidade da alma de todas essas pessoas a ponto de entender a maneira que levam elas a não se importarem com nada. E eu sofro, querida. Sofro. E gostaria de não sair deste meu quarto tão vazio de mim, mas tão cheio de meus próprios sentimentos e pensamentos. E eu gostaria, meu bem, gostaria de ser lembrado pelas coisas tristes que ousei escrever um dia sempre pensando em outro alguém.
- Outro alguém que mal se importa com as coisas que escreve?
- Exato, querida. Outro alguém que não da a mínima para todas as coisas sinceras que escrevo. Se as pessoas não dão a mínima para sinceridade de sentimentos sentidos por nós mesmos, o que elas serão capazes de se importarem? Eu sou apenas a porra do ser humano que bebe e escreve cartas e poemas e poesias tristes pra caralho. Nada mais que isso.
- Meu bem, tens bebido bastante esses dias?
- Sempre que penso nela, querida. Sempre.
- Isso é perigoso, querido.
- Eu sei que é. Mais perigoso ainda é amar quem não dá a mínima para o que sentes. Mas desta droga chamada de amor eu já não tomo mais. Fui reabilitado. Me encontraram na pior sarjeta em que um ser humano como eu poderia estar, e eu lutei, relutei, me entreguei, me reergui, levantei, tive forças para escrever uma dúzia de cartas que ninguém nunca lerá. E me vacinei. Me vacinei relativamente com o amor do meu próprio amor de um amor que não quero entregar para amores nenhum.
- Beba menos, querido. Só um pouco menos. Sempre que te ligo, tu estas acordado na madrugada escrevendo e bebendo e sofrendo e sentindo. Me preocupo com você.
- Eu sei, meu bem. Eu sei.
- E teu romance?
- Eu quis algo mais sério. Sabes como sou. Entro em um romance e acredito que será tudo para mim. Reciprocidade e essa merda toda.
- E ela?
- Fugiu. Está por ai, mas sempre fugindo. Se esquivando. Se tornando inexistente aos meus olhares.
- E o que você queria?
- Eu queria algo a mais. Ser importante para alguém. Ser lembrado ao amanhecer. Não ser esquecido antes dela dormir. Gostaria de criar e inventar história juntos. Amores. Romances. Momentos. Restaurantes. Cinemas. Abraços. Beijos. Momentos em que fizesse o meu coração disparar como nunca disparou antes. Um amor que me fizesse perder o fôlego tanto quanto a ansiedade me tira os ares. Domingos sem fazer absolutamente nada, mas juntos. Entende, meu bem? Entende? Gostaria de juntar nossos cachorros. Planejar um futuro mesmo sem saber se o futuro ainda existe. Gostaria de não fazer nada, mas olhar para o lado e ver que tenho meu mundo em minhas mãos e meu coração nas mãos do meu mundo. Sinto falta dos sorrisos sinceros. Sinto falta dos beijos sinceros. Não beijos de uma noite qualquer. Não amores de uma noite qualquer e nada mais. Nunca fui desses. Nunca fui de amores vazios. Abraços vazios. Sexo vazio. Nunca fui de futilidades. Nunca fui de gostar pouco ou mais ou menos. Ou gosto muito ou não gosto nada. Esse é o meu problema.
- Quais os seus planos?
- Beber menos por saber que existe alguém que me ama de verdade, querida. Fumar menos por não ter ansiedade em pensar que nunca encontrarei uma droga sequer de amor. E sentir menos fraquezas de meus fracassos amorosos. Estou perto dos trinta, meu bem. Querendo ou não, tu começas a planejar certas coisas. Filhos. Casa. Amores. Domingos. Finais de semana. Mãos dadas. Almoços. Sorrisos. Alguém para tu amar e te amar. E isso me falta. Tenho tudo. Hoje posso dizer que tenho tudo. Tudo que sempre quis, da maneira que quis, e como sempre quis. Trabalho que amo. Família que amo. Amigos que amo. Dinheiro que não amo, mas sempre em meu bolso. Dinheiro suficiente para pagar tudo que devo pagar e ainda sim pagar todas as cervejas que posso e beber noite após noite. Mas, amor, cadê o amor no meio disso tudo?
- Você acha importante alguém para amar?
- Acho importante alguém para me amar. Acho importante acreditar na existência de um ser humano capaz de suportar todas as minhas paranoias e manias e defeitos e surtos e cervejas e poemas e poesias e loucuras e ainda sim continuar me amando. Acho importante alguém me entender da maneira que sou. Me olhar com a barba bagunçada, cabelo desarrumado, músicas tristes e cheio de teorias sobre universos e expansões de consciência e ainda sim continuar me amando. Que ature meus lábios com gosto de cerveja ou café. Que ature me ver de costas escrevendo minhas besteiras e me espere terminar, e que leia logo em seguida, e que goste. E que me abrace por trás e diga que sou incrível, mesmo que eu saiba que não sou absolutamente nada disso.
- Estas falando bastante hoje, não é? Logo você que odeia telefones.
- Estou bêbado, querida. Bêbados sempre falam tudo que querem. Isso é uma droga.
- Já falei para beber menos, meu bem. Isso vai acabar com você.
- Já me falaram para escrever menos também, disseram que isso irá me matar. Me matar de vergonha por eu ter tanta coragem em escrever tudo que ouse sentir aqui dentro. E escrever tudo que ouso pensar nessa mente tão perturbada quanto o mundo.
- Querido, tua mente é uma loucura. Você nunca para de pensar. Sempre pensando, pensando, escrevendo, bebendo, e pensando, pensando. Sua mente é uma fábrica sem fim de pensamentos e teorias e loucuras e amores e paixões e surtos e paranoias. Meu bem, você um dia irá enlouquecer.
- Por isso meus amores sempre partem. Elas enlouquecem antes de mim. E eu permaneço aqui da forma como deveria me manter, em sã consciência de toda minha insanidade perdida em romances sem um futuro promissor.
- Estas amando, querido?
- Meu coração está batendo um pouco mais forte do que deveria. Isso não é um bom sinal.
- Porque não é um bom sinal?
- Porque sempre que me senti assim ao lembrar de um nome, me afundei no pior dos abismos contidos dentro de mim.
- O que quer dizer com isso?
- Se eu lembro o nome dela, meu coração dispara. E eu desço até o mercado. Compro cervejas. E tragos. E escrevo. Isso não é um bom sinal. Essa garota está me deixando louco. E eu odeio me sentir assim. E eu sinto falta dela. Sinto falta daquele olhar. Sinto falta daquele sorriso. Sinto falta daquela sensação que sinto com ela ao meu lado.
- Querido, liga para ela.
- Eu tenho pavor de telefones. Odeio telefones. E você sabe disso.
- Beba mais uma cerveja, meu bem.
- Você não disse para eu parar de beber?
- É para um bem maior. Beba mais uma. Ligue para ela. Diga o que sente e como se sente. Você merece ser feliz, meu bem, meu bem.
- Querida, não gosto de estar nas mãos das pessoas. Muito menos ser descartável. Não gosto que me comparem com um passatempo. E que me esqueçam quando quiserem. E que lembrem de mim quando precisam. Quero ser um amor. Quero ser único, mesmo que eu saiba que ninguém é de ninguém. Mas quero ser o mundo de alguém. Egoísmo? Talvez. Escrotice? Talvez. Loucura? Claro. Mas não quero ser esquecimento ou uma droga que usam e jogam fora e compram quando precisa usar de novo por uma diversão passageira. Quero ser tudo. O todo. Quero ser sorrisos. Amores. Paixões. Quem sabe um vício. Mas um vício bom, aquele que te acalma e te entrega algo libertador. Não quero prender ninguém, mas quero saber que sou a libertação de outro alguém.
- Liga para ela, meu bem. Liga. Se ela não te amar como pensas, ela vai embora e tu deixarás, e permanecerá exatamente onde estas.
- Mas sozinho. Você tem razão. Obrigado, querida.

Desliguei o telefone. Desci para pegar mais uma cerveja. E bebi. Uma. Duas. Três. Escrevi mais umas três ou quatro cartas.

E não fiz o que tinha que fazer. A ligação. Mas fiquei esperando o telefone tocar na esperança de que fosse você. Eu sempre espero essa ligação. E o telefone não toca. E não me importo. E finjo não me importar. Que se foda. Que se foda, amor, que se foda! Viva tua vida como tens feito e eu, meu bem, jogo essa besteira toda fora até você ligar me dizendo que vai ficar, mas sei que isso não irá acontecer. Que se foda amor!

Joguei o amor no lixo, mais uma vez, antes que ele me jogue fora.

terça-feira, 19 de março de 2019

Esta prosa te diz tanto que até parece mentira!

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Onde já se viu uma prosa com tanta poesia? Isso que nem comecei a escrever. Essa é apenas a primeira linha de uma carta que diz muito sobre sentimentos tão perversos e assustadores que bate dentro deste ser tão perdido e confuso que aqui vos escreve. E eu sei que estou perdido. Perdido demais para escrever linhas que façam algum sentido. Uma prosa poética sem sentido contendo todos os sentidos de sentimentos que gostaria de te entregar. E gostaria que toda essa forma com que brinco com as palavras chegassem até você. Queria que chegassem agora, neste exato momento. E sei que não chegarão e, se chegarem, você jamais dará a mínima ou entenderá tudo que quero te dizer. E eu me perdi. Me perdi em todas as tuas curvas. Curvas perigosas até demais. Sem visão do que vem logo em seguida. Mas me perdi. Me perdi por conta desta visão turva que me assolou assim que botei o olho nessa imagem perigosa, mas até que me dei bem. Me dei muito bem. Comecei a beber muito mais do que bebia antes. Comecei a pensar muito mais do que pensava antes. E afrontei o perigo. E cai de cara. E surtei muito mais do que surtava antes. E pensei em te ligar. Afrontei o perigo de novo. E bebi muito mais. E te pedi para mim. Todas as curvas possíveis do teu corpo eu pedi para mim. E pensei nesta prosa. E escrevi essa prosa mentalmente com todas as palavras que eu desejava te entregar naquele exato momento. E meu coração bateu muito mais do que um dia terá batido antes. E bebi muito mais. Bebi. Muito, mas muito. Me afoguei em todas as cervejas que encontrei pela frente. E dirão que estou apaixonado. E perguntarão o que aconteceu. Eu tenho certeza que dirão e perguntarão, mas meu bem, meu bem, bem, bem, eu quero que se foda o que pensam, porque eu nem sei, exatamente, o que estou a pensar neste exato momento. Pensando em tuas curvas, pensando no teu olhar, pensando em você e de frente com está carta, deixo minhas mãos falarem tudo que o coração está sendo capaz de sentir neste exato momento. E, querida, saiba que nunca lerei nenhuma palavra que aqui está contida, porque eu nunca leio, mas sei que sinto, sei que estou sentindo, porque penso em teu nome e o peito grita assustadoramente aqui dentro. E algo queima, algo explode, e me mata. E tudo que eu jamais pensei em sentir bate aqui dentro como um estrondo que não sou capaz de evitar que acabe com tudo e todos a minha volta. E eu sorri muito mais do que costumo sorrir. E que se foda se eles pensam que é amor. Ou paixão. O que caralhos é isso que dizem ser amor? O que caralhos é isso que dizem ser paixão? Amor é um copo cheio de cerveja gelada e um belo blues tocando ao fundo. Isso sim é amor. Paixão é o sentimento que o melhor do blues consegue passar até chegar no ponto que tu sentes vontade de entrar na música e tocar cada nota contida nela. Mas, teu corpo, meu bem. Ah meu bem, teu corpo é a música mais bela que sou capaz de tocar até a última nota contida nela. E se tu me permites dizer, querida, me perdi em você e tu mal sabes disso. Quer palavras sinceras? Estou perdido desde a primeira batida no meu coração que saltou tão alto como um pulo de um gato vivido de dentro do meu peito ao lembrar apenas do teu nome. E todas as vezes que penso em ti, meu peito se torna este felino que não cansa de saltar até esquecer o motivo pelo qual ele estava saltando de lá para cá. PUTA QUE PARIU, teu sorriso me faz lembrar que existe o melhor de mim aqui dentro, mas deixa ele lá. Deixa quietinho. Não acorda ele. Deixa. Só deixa, querida. Não sei lidar com amores e paixões e, talvez, manter este sentimento adormecido dentro de mim seja a melhor maneira de preservar o meu pior sem sequer me machucar com todas as ilusões contidas em um romance como este. Amor, amor, preciso te fazer alguns pedidos antes desta prosa acabar...

...e se eu te pedisse para ficar? Te pedisse para entrar em minha vida? E se eu te pedisse para não ir embora? Te pedisse para esperar um pouco até que eu arrume meu quarto para você entrar? Toda a bagunça contida nele demonstra desesperançosamente o que sou de pior quando ninguém está aqui. E se eu te pedisse para vir aqui para casa? Te pedisse para dormir comigo está madrugada chuvosa? E se eu te pedisse para tomar aquelas cervejas restantes contidas na minha geladeira vazia? E te pedisse para compartilhar meus tragos? E se eu te pedisse para deitar na rede comigo na sacada e olhasse o céu escuro nublado enquanto meu cachorro passa por nós como quem não quer nada? E se eu te pedisse, meu amor, te pedisse para me beijar no silêncio do escurecer? E se eu te pedisse que não pensasse em mais nada, no amanhã, no depois, no que virá logo em seguida do beijo? E se eu te pedisse para dormir comigo? Te pedisse para segurar minha mão enquanto dormimos juntos? E se eu te pedisse para não pensar que terás que ir embora logo que amanhecer, porque precisamos seguir nossas vidas nesse mundo capitalista que tanto odiamos? E se eu te pedisse para ficar? Te pedisse para não ir embora, mas não da minha casa, e sim, não ir embora da minha vida? E se eu te pedisse para vir aqui para casa sempre que eu pedisse e sempre que quisesse? E se eu te pedisse para não me esquecer? Te pedisse para me amar? Te pedisse para sorrir ao lembrar do meu nome? E se eu te pedisse para morar dentro do teu peito da mesma forma que o meu se tornou tua moradia? E se eu te mostrasse todas as minhas cartas tristes sobre o amor, para que saibas que não sei viver um amor e que não sei amar e que não sei lidar com romances? E se eu te pedisse para me abraçar quando lembrar que romances nunca me fizeram bem, meu bem? E se eu te pedisse para acreditar em mim? Te pedisse para ter paciência com meus surtos e paranoias que nunca soube lidar, mas sempre em silêncio? Porque sempre que fico em silêncio, meu bem, são os momentos que tanto preciso de uma voz. E se eu te pedisse para ficar comigo aos domingos e que compartilhasse tua vida comigo e me dissesse todas as coisas bonitas que teu peito é capaz de me entregar? E se eu te pedisse o mundo, querida? Você me daria? Me daria sabendo que tu tens sido meu mundo nesses últimos dias? Ou me largaria? Me deixaria com saudades? Na saudade. Me deixaria sem ti. Sem mim. Levaria o meu melhor, sabendo sempre que dei o meu melhor e que fui capaz de deixar um romance arder aqui dentro de novo. E se eu te pedisse para me esquecer? Te pedisse para ir embora? Te pedisse para não entrar na minha casa? E se eu tivesse coragem de te pedir para não entrar tanto assim em minha mente? E se eu te pedisse para sair agora mesmo de minha vida e deixar esse pedaço destruído antes que enjoe o suficiente de mim e que peças você mesmo para que eu deixe você ir embora? Cadê a chave? Perdi a chave do portão da minha casa. Espera só um momento, meu bem, estou procurando. Irei achar. Estou procurando.
E achei...achei, meu bem. Vamos, eu abro a porta para ti. Deixo o portão escancarado. Só um minuto, meu bem. Só um minuto, querida.
Pronto!
Portas abertas. Portão escancarado. Pode ir embora. Meus romances são sempre livres para irem embora.
Ou fique! E se eu te pedisse para ficar, o que você faria?

- Seus textos são uma merda. Tudo tão poético. Tudo tão brega. Tudo tão démodé.
- Mas contém verdades e isso tu não podes discutir.
- Clichê romântico, mesmo que tristes.
- Mas eu sinto. E sou aquilo. É tudo de verdade. Só existe a verdade. A minha verdade.
- Trágico. Trágico. Trágico! Escreva coisas felizes.
- Escrevo o que me vem na telha, meu bem. Se você se importa tanto com isso, quero que se foda.
- Você está sendo rude, querido. Quer uma cerveja?
- Você está sendo fútil, querida. Quero sim.
Se levantou e foi pegar a cerveja. Voltou balbuciando.
- Trágico. Trágico. Clichê romântico. Super fora de moda. Acha mesmo que alguém se importa?
- Eu me importo!
- Acha que ficará famoso escrevendo todas essas tuas merdas?
- Não quero ficar famoso.
- E o que queres então? Escreves tanto e nem quer ficar famoso e ganhar dinheiro com isso?
- Quero ficar em paz.
- Com cartas démodé?
- Leia tudo de novo, querida. Leia tudo de novo. Você não entendeu um caralho sequer de palavra.
- Como assim, querido?
- Se o clichê romântico é ser sincero, então esse sou eu. Se o tal démodé é ser honesto com meus sentimentos, então esse sou eu. Se você não entendeu nada do que quis escrever, esse sou eu. Esse sou eu querendo que você se foda!
- Rude, querido. Rude. E trágico, trágico, trágico! O amor moderno descartável ainda irá te matar. Vai por mim, querido.
- Eu sei. Eu sei.

domingo, 17 de março de 2019

O título não é importante quando se mata o amor com as próprias mãos depois de engolir 5 cervejas (grandes)

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- E como anda esse teu coração?
- Batendo, querida. No mesmo lugar de sempre. Do mesmo modo de sempre.
- Mas, e esse teu olhar?
- O que tem ele?
- Estou te observando há uns dias, vejo ele tão triste. Tão distante.
- Tudo batendo no mesmo lugar de sempre, meu bem.
- E o teu amor, querido?
- O amor, ah, o amor. É essa flor murcha que não faço questão nenhuma de jogar uma gota d'água sequer para ver se ele revive aqui dentro de mim.
- Você consegue deixar até flores com um ar de angústia e solidão. E desespero. E tristeza. Mas com um toque de esperança vazia.
- Esse é o amor. Tragos de esperanças vazias. Porres de goles rasos. O amor é isso, meu amor.
- E a tua saudade? Qual é a tua saudade?
- De mim mesmo.

E eu tenho essa essência desesperadora de arriscar escrever sentimentos cheios de amargura como Bukowski fazia para se libertar de suas loucuras e romances. Tenho essa essência cheia de porres e tragos dentro de um quarto escuro em que apenas ouço o som do ventilador de teto girando sob minha cabeça, na esperança de que ele caia por cima de mim e acabe de uma vez por todas com esses sentimentos que tanto me fazem escrever. E este mesmo quarto, era o quarto em que eu caia de cara com o amor sempre que queria e podia e sentia. E essa é uma de minhas maiores frustrações. A de não ter aprendido amar o suficiente para não deixar ele escorrer pelas minhas mãos como gotas de sangue após um corte profundo. E este corte é na alma. Este corte é no coração. Desta vez, eu mesmo me cortei e costurei com linhas finas que logo serão rompidas por um amparo que não faço questão nenhuma que seja minha salvação. Que ele se rompa. Se rompa de uma vez por todas e me engula de vazios e tristezas, tudo exatamente como tem sido. E que eu sangre. Sangre até morrer, mas, se eu não morrer, que ele me entregue forças o suficiente para escrever tudo que ouso, deliberadamente, sentir aqui dentro. E minha cama continua bagunçada. E vazia. E meu quarto continua bagunçado. E vazio. E cheio de saudade. E cheio de saúde em depressão de demônios que insistem em me visitar noite após noite desde que deixei meu amor ir embora por aquela porta. A mesma porta que insisto em manter fechada dia após dia. E eu tenho esse dom de brincar com as palavras. Noite após noite. E eu enxergo isso por aquela porta. Pelas frestas que insistem em me levar até você ao lembrar do som de tua voz. Voz que eu queria esquecer. Nome que eu queria apagar. Sonhos inúteis de quando me tornei tão fraco em me sustentar através de um amor e deixa-lo ele tomar conta de mim até que me sugasse por inteiro e levasse embora de mim mesmo. E meu olhar se apagou. O coração se frustrou. A mente permanece mais doente. E dia após dia penso e repenso todos os jeitos de esquecer um sentimento que jamais deveria ter existido em nossas vidas. O amor. Mas é o amor que nos salva, não é mesmo? É o amor que combate guerras, desordens, mundos, infinitos, universos, pessoas, tristezas, solidão e fracassos. O amor nos salva. Mas também nos mata. Quando algo consegue te salvar, ele se encontra no direito de te destruir no momento em que ele quiser, e são esses momentos em que você está completamente despreparado para qualquer destruição que se possa ser transpassada para nossas vidas. E esse é o caos. O amor é um caos. E estou dentro dele. Perdido. Sozinho. Angustiado. E bêbado. Quem foi que disse que o amor é algo nobre? Quem foi que inventou essa merda? Quem foi que disse que o amor é o sentimento mais lindo que nós humanos podemos sentir uns pelos outros? Quem foi que deixou essa banalização se tornar algo tão universal a ponto de deixarem essa mentira nos tomar por completo até chegar no ponto em que acreditamos precisar dessa merda para sermos felizes? E felicidade é o complexo de inferioridade que o mundo foi capaz de nos dar. Felicidade e amor são deuses do caos que insistem em nos atormentar desde sempre.

- Seu quarto é uma bagunça, não é?
- Sim, uma bagunça.
- Porque tantas coisas espalhadas pelos cantos?
- Uma bagunça. Nos identificamos com nossos quartos de acordo em como estamos em vida.
- Não entendi.
- Quando você está triste, escuta músicas tristes, certo? Um bom blues ou uma porcaria qualquer. Quando está feliz, escuta músicas felizes. Que te colocam para cima. Que te alegram. Certo?
- De certa forma, sim.
- Músicas já falam por mim sempre que posso. Meu quarto fala por mim agora que posso. Um jogo pelo qual faço parte. Vida bagunçada. Cama bagunçada. Vida vazia. Quarto vazio. E quando digo vazio, não é vida vazia de mentalidade e sentimentos, mas sim de amores. O amor me tornou esse ser vazio pelo qual já nem sinto vontade de fazer parte de um plano qualquer. Coração triste. Cartas de amor espalhadas pelos cantos.
- Meu bem, meu bem, seu amor te fez tão mal.
- Não, meu bem, eu me fiz mal.
- Não te entendo.
- Eu me fiz mal a partir do momento que me entreguei por completo.
- A culpa não é tua, querido.
- Eu sei que não. A culpa nunca é de quem se entrega demais. A culpa é de quem aceita o amor de acordo com tua porcentagem. Se a porcentagem é muito alta e tu se entrega demais, saibas que tem total e completa culpa nisso tudo.
- Você está perdido, meu bem.
- Sim, estou. E por culpa do amor, foda amor, meu amor.
- Um dia o amor te encontra.
- Não quero que me encontre. Não quero deixar de estar perdido. Assim posso ser feliz comigo mesmo. Outra vez.
- O amor sempre nos encontra, meu amor. Ele bate em nossas portas. Debocha. Sorri. Entrega o que existe de melhor.
- E o pior também.
- Exato, mas a gente aceita. E vive isso. E sorri. E vive toda essa porcaria. E acha que aquilo é o que mais importa. Começo de amores é a coisa mais pura que existe. Não saber se irá dar certo. Conhecer um ao outro. Mal saber onde estamos nos metendo. Compartilhar nossas loucuras.
- Que se foda, amor. Que se foda!
- Você está tão para baixo, meu bem.
- Que se foda, amor. Que se foda, caralho!

E eu escrevi tantas cartas na esperança que chegasse até meu amor, e até a melhor delas nem deu em nada. E eu cansei de escrever. Cansei de arriscar. Cansei de botar meus riscos detalhados em palavras que muitas pessoas sentem, mas não são capazes de se expressar de tal forma. Cansei de esperar. Cansei de te esperar. Cansei de me sentir cansado ao deitar a cabeça no travesseiro e sentir o peso que carrego nos ombros. E a mente flerta com minha solidão. E o prazer flerta com minhas más vontades. E minha sanidade flerta com minhas loucuras. E eu digo que estou bem, muito bem, sempre bem, bem, bem. E não estou sendo sincero. Nem com você. Nem com eles. Nem comigo. E eu sinto essa dor, meu bem. Dor de perder. Dor de arriscar. Dor de escrever. Dor de poemas. Dor que vem da alma. Que cai de encontro com meu cais de sentimentos e é totalmente afogado por uma âncora que não suporto o peso para puxa-la para cima. Mesma âncora que afogou meus sentimentos mais sinceros que sempre fui capaz de sentir por um outro alguém. E eu fujo. Sorrio. Me escondo. Debocho. Olho para trás e não sinto absolutamente nada de quando sentia quando acreditava ser feliz. E corro. E desapareço. E minto. Minto muito. Para mim mesmo. E para os outros quando digo que estou bem. Mesmo quando me sinto completamente sozinho e sem ti e sem mim. E sem nós. E sinto falta. E sumo. E choro por dentro, mas sorrio por fora. E enfraqueço. E escuto minhas músicas. E bebo. Bebo muito, meu bem. Até te esquecer. Até entrar em um porre profundo de cervejas e tragos e tristezas e solidão. E continuo fugindo. E correndo. E sofrendo. E sentindo. Tão fundo. Tão profundo. Tão exato. E esse não sou eu, mas continuo. E escrevo. Escrevo muito, meu bem. Muito mesmo, querida, pelo meu bem, bem, bem. E brinco com palavras, sempre na esperança que eu encontre alguma graça nisso tudo. E tudo por causa de sentimentos que nos são entregues de graça. Por graça. E com graça. A graciosidade de todos os nossos sentimentos estão exatamente acumuladas no fundo da alma de um ser lunático que contém a esperança da felicidade eterna. Pobre ser iludido por um mundo em que nos esquecemos de amar. E todos eles dizem sofrer por amor. E dizem amar. E acham que amam, mas ninguém mais se ama. O amor verdadeiro foi destruído por nós mesmos. E se tu não acredita nisso, volte para a primeira linha desta carta, leia tudo de novo e entenda que se não tivéssemos matado algo tão puro há anos e anos atrás, eu não estaria escrevendo tal carta neste exato momento. Logo eu, louco solitário, escritor barato e ruim, bêbado por conta da saudade, louco por conta da insônia, que sempre acreditou em amores e romances e esperou o melhor dele. E hoje já não espero mais nada. O mesmo amor que acreditei ter dentro do peito e sentir de verdade, foi o que me deu o tiro no meio do peito e sorriu maliciosamente enquanto eu agonizava caído no chão. E eu que nunca tive medo de amar, mesmo sem saber lidar com o amor, me encontro chorando em silêncio em momentos de gritos acumulados dentro de um peito tão solitário quanto mendigos de rua esperando uma esmola para conseguir beber um belo porre barato. O amor é esse porre barato que não sou mais capaz de comprar ali no bar da esquina da minha casa. E eu sou o mendigo que nunca sequer pensou em pedir esmolas quando se trata de amor. Prefiro morrer de fome do que mendigar tua atenção. E se tu achas que levantarei minha mão para pedir algo de ti, estas certa. Te peço para se retirar desse coração enfraquecido pelo tempo. Ele bate fraco, muito fraco, bem fraco, mas ele está muito bem, meu bem, muito bem, bem, bem!!!

terça-feira, 12 de março de 2019

Me consumiu sem pensar no estrago. Logo eu, droga barata!

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E eu tenho um quarto bagunçado e algumas contas para pagar. Tenho garrafas e tampas de cervejas espalhadas por todo o cômodo e alguns aromas para disfarçarem o doce perfume de depressão contido nele. Tenho também algumas bitucas dos meus tragos em algumas latas por cantos quaisquer e algumas cartas de amor amassadas por outros. E mesmo assim tu quis me consumir. Tenho minhas loucuras impregnadas em minha mente como demônios que tentam em todo momento me colocar para baixo e sussurram aos meus ouvidos que eu não deveria abrir as portas para o amor. Tenho também meu cachorro que se perde por toda a bagunça contida dentro dele e prefere ficar na sacada para não sentir o cheiro forte da fumaça exalada pelos meus pulmões. E até ele me olha com desdem quando começo a escrever minhas cartas. Tenho sons de blues ecoando pelos quatro cantos escuros do quarto e alguns que fogem pelas frestas de minha porta já antiga e janelas de madeira que muito tem a dizer sobre mim. E tu ainda sim quis me consumir. Tenho também minhas tristezas espalhadas pelo chão. Minhas ansiedades e medos encrostados nas paredes. Os quadros com caricaturas contidas de um tempo em que tudo era perfeito, caçoam em silêncio de minhas ternuras incompatíveis a qualquer pessoa que possa, de fato, ter a ousadia em deixar o peito bater mais forte ao lembrar de meu nome. Meus tênis estão amontoados num canto perto do banheiro, assim como meu coração que já nem sabe como é bater forte por conta de meus romances tão amontoados quanto. E tu quis mesmo me consumir. Minha tv passa tudo quanto é tipo de inutilidade que não me lembre que sou capaz de ter um sentimento de amor e paixão dentro de mim. Filmes românticos são mudados imediatamente. Canções de amor são afastadas dos meus ouvidos. E dentro deste cômodo existe apenas uma regra "Não fale ou ouça ou escreva ou sinta o amor". Apenas. E eu acordo amedrontado em todos os domingos, peito apertado, janelas fechadas. Medos e anseios. Esquecimentos. O eu esquecido enfurnado dentro de um universo criado por mim e para mim e nada mais. E tu ainda quis me consumir. Meus livros estão nas prateleiras. Dizem muito sobre mim. Mas escondi todos que eu sei serem capazes de falarem sobre o amor. Minhas revistas nem as folheio mais, algumas delas devem conter algo sobre romances. E eu sei que existe. E minha barba? Amanhece tão bagunçada quanto minha mente solitária que não tem a menor vontade de sair de dentro de onde acordei. Meu casulo. Minhas tristezas. Meus momentos. Meu mundo. Meu esquecimento. E lembrando que posso esquecer do amor, lembrei que posso te esquecer. E é muito mais fácil eu lembrar de esquecimentos do que lembrar que preciso te esquecer. E é muito mais fácil eu fingir esquecer do que de fato esquecer tudo que sinto e tudo que já és para mim. E meu cômodo já conteve amor. Já existiu amor. Agora são só estilhaços de um coração totalmente quebrado que já nem faço questão de juntar os cacos. E sei que tu não estará, jamais, aqui para tentar junta-los. Nem sei se queres. Mas sei que me consomes. E eu te avisei sobre os riscos. E mesmo assim decidiu me consumir. Pobre alma barata perdida escondida dentro de um mundo criado por ele mesmo na esperança de fugir, diariamente, de amores e sentimentos que sei que sou muito do capaz de sentir. E eu já nem vejo mais graça em escrever cartas de amor para quem sei que se recusa a me escutar. E tu diz que sente saudades. Diz que quer me ver agora mesmo. Diz que não consegue ficar longe. E eu ignoro esses diálogos criados em minha mente. Mente tão perturbada quanto um amor inexistente em um mundo onde sete bilhões de pessoas são capazes de terem o teu amor. Amor tão sincero. Tão simples. Tão puro. Amor que eu gostaria. Que eu queria. Que eu pretendia não sentir tanto medo, mas sempre que penso no amor, estremeço até o último fio de argumentos demonstrativos de um corpo em perfeito estado de insanidade que aqui vos escreve. Que cretino! E mesmo assim, querida, tu ainda quis me consumir. E eu avisei. Deixei todos os sinais bem claro. E ainda os deixo. E te mando mensagens. Em minha mente. Na esperança de que me ouça. Na esperança de que vá embora dessa bagunça que é o meu quarto. Não quero te prender dentro dele e te amar como se fosse a última noite de nossas vidas. E sempre que penso em você estando dentro dele, fujo, fujo para bem longe, porque sei que a vontade de te pedir para vir e ficar é maior que o medo contido dentro desse peito afugentado pelo destino de amores que eu nunca quis fazer parte. E você ainda quis me consumir. Que porra, eu te avisei sobre os riscos. Porque sempre tão teimosa? Porque sempre tão carente? Porque sempre tão perdida na esperança de que encontres algo em mim? E esse teu coração pulsa de que jeito ao lembrar do meu nome? E ele pulsa de que jeito quando sabes que sou capaz de te esquecer de tal forma que não signifique absolutamente nada para mim dentro desse meu universo que gostaria que fizesse parte? E essa minha bipolaridade de te querer demais, todos os dias, todas as noites, todos os momentos e não querer te ver nunca mais na minha frente, como se sentes com ela? E eu pedi para não me consumir. E você consumiu. E sei que, de certa forma, se arrepende. Se arrepende de não deixar eu pedir para ficar. Para não ir embora. E eu quero que vás embora, mas não para tão longe de mim. Perto o suficiente para que eu volte atrás e te peça para cuidar de mim, mas não me consuma, só me cuida. Longe o bastante para que eu lembre que sou capaz de esquecer o teu olhar tão faminto de desejos e tentações. Esse olhar que me assassinou no primeiro instante em que pus os meus olhos a ele. Eu esqueci de batizar essa morfina de amores com teu nome na esperança de que não me ouças nunca mais. E eu não uso mais essa droga que batizei com teu nome. Só algumas vezes. Vez ou outra. Noites perdidas. Momentos perdidos. Em que choro. Em que lembro. Em que quero voltar a esquecer. E esse amor é muito maior do que tudo aquilo que posso consumir. E meus tragos e cervejas e insônias e blues são mais do que o suficiente para eu ser feliz o bastante sem o calor de teus braços. E mesmo assim, você me consumiu.

E me consome. Consome minha alma. Meu espírito. Meu corpo. Minha calma. Meu amor. Meu romance. Minha paz. Consome minha raiva. Meu ódio. Meu desdem pelo mundo. Minha insônia. Minha depressão. Minha ansiedade. Consome todas as minhas palavras. As cospe de volta para dentro de mim. Cospe tanto que sinto essa vontade absurda de nunca mais parar de escrever, para que assim, consiga te esquecer de uma vez por todas, caralho! Teu lugar no quarto está vazio. Nunca mais será preenchido por ninguém. Nem quero que seja. Nem faço questão. Sinto saudades, mas não falta. E quando sinto falta, sinto de mim. Não de você. E você me consome. Me consome mesmo estando com a barba toda bagunçada e o cabelo desarrumado e o coração partido. Me consome quando estou fraco. E tu és minha fraqueza. E me consome, logo eu, droga barata comprada em qualquer esquina ou em qualquer bar. Sou tua droga que tu consome a hora que quer e depois me joga fora como se não fosse absolutamente nada. E quando a abstinência lhe bate o peito? És o momento de mandar mensagem para o teu traficante enfraquecido conhecido pelo meu próprio nome. E o mais engraçado, é que tu me pegas logo em momentos que não sei para onde ir. Quando estou perdido. E aflito. E ansioso. E triste. E sem esperanças que eu volte a encontrar um amor que me faça verdadeiramente bem. Quando estou com a corda em meu pescoço, tu lembras de minha existência e me clama para ti. Quando estou pronto para engolir todos os meus comprimidos com doses elevadas de uma bebida qualquer, teu peito pulsa de encontro ao meu. E me consomes. Como bem entende. Como bem quer. E eu, de mãos atadas, permito. Só queria que o amor não batesse em minha porta e me obrigasse a escrever cartas entediantes e chatas e nada empolgantes sobre o amor, porque é assim que eles me enxergam, como o poeta que sofre demais por amor e não sabe nem o que quer dele. E, ah, quer saber, que se fodam?!

- Mas sabe qual meu maior vício, que me faz até mal se eu ficar sem?
- Álcool?
- Você!
- Sou a pior droga para ser usada.
- Para mim é a melhor, gostaria de usar todos os dias.
- Sou um estrago!
- É a minha cura.

E o amor bateu em minha porta. Atendi para dizer: PUTA QUE PARIU, SEU FILHO DA PUTA!

*

"Não pense que te culpo se só penso em ti
Faça o que quiser agora
Mas não me deixe de fora dos planos

Porque você não me espera lá fora?
Enquanto eu arrumo a casa mais uma vez
Pra você desarrumar
Se o que você quer eu tenho nas mãos

Não viva assim, pensando que é maior que eu
Se o que sente é menor
As terças hão de se inverter"

segunda-feira, 11 de março de 2019

Poema ao descaso (eu não sei ficar só)

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E eles falam que eu só escrevo sobre o amor sem ao menos lerem minhas cartas. É estranho. Nem sempre escrevo sobre o amor. Se tu leu minhas cartas e acreditou que todas as minhas palavras giram em torno disso, volte. Eu imploro. Volte. Leia todas. Entenda. Me entenda. Se entendeu que eu estou tão perdido quanto você. Volte! E entenda. Nem tudo é sobre o amor, mas quando escrevo sobre meus romances e coração partido e tudo de ruim que vivi em prol de amores que acreditei ser meu mundo, é quando eu mais preciso de ajuda. É quando penso em desistir. Não amar. Me render. Implorar por socorro. Fugir e suplicar anseios de uma alma que não sabe para onde ir. Estenda-me a mão. Não me sinto bem. Estenda-me teus braços para um abraço que me acolherá e me levará para o melhor caminho que não seja a escuridão. E entenda, entenda de coração, é difícil não escrever sobre algo que eu mesmo assassinei. Consegue me entender?
E eles dizem para eu parar de escrever tanto. Dizem para eu parar de fumar minhas besteiras. Dizem para eu beber menos. E veja só, me pego escrevendo depois de uns tragos e bebendo numa segunda-feira cinza em que não acordei bem. E tudo por conta de um amor. E eles não sabem que passei meses sem conseguir deitar direito em minha cama por conta de um amor. Porque o perfume de um romance ainda estava nela. E eles não sabem que mal conseguia entrar em meu quarto sem derramar uma lágrima sequer por conter partes e estilhaços de um tiro que dei em meu próprio coração. Coração esse que foi destruído e jogado fora por conta do acaso do meu descaso com romances que eu mesmo fracassei em ser forte em aceita-los. E eu me culpo por todas as minhas lágrimas. Me culpo por sentir falta. Me culpo por sentir saudades. Me culpo por não saber amar. Me culpo por ter jogado tudo fora da forma mais absurda possível por não saber lidar com meus próprios sentimentos. Me culpo por ter sido jogado fora. Me culpo por deitar em minha cama e sentir falta de uma companhia que continha um amor sincero. Me culpo. Estupro minha mente e a destruo da pior forma possível dia após dia. E eu não sei amar. Não sei lidar comigo mesmo. E eu quero desistir. E eu já desisti. E é difícil demais levantar a cabeça do travesseiro que tanto foi compartilhado e aceitar que estou só. Sem ti. Sem ninguém. Sem um romance. E eu já não quero isso. Não quero compartilhar minhas loucuras com alguém que pensa me amar. Quero compartilhar minha bipolaridade com quem me aceita como sou e que sabe me amar. Pois eu não sei me amar. Não mais. Se é que um dia soube. E eu penso todos os dias em desistir a partir do momento que abro os olhos e lembro que sinto falta de algo. Algo em mim. Algo em ti. Algo no mundo. E esse amor corrompido por mim é escrito diversas vezes em cartas minhas que contém trajetos e desprezos de um amor estraçalhado por mim mesmo. E eles nunca irão me entender. Isso já entendi. E eles sempre acreditarão e falarão que sou aquele que sofre demais por amor. Que bebe demais por tão pouco. Que sofre demais por um descaso. Que pensa demais em quem não está nem ai para o seu coração enfraquecido pelo tempo. E eles tem total razão. Esse sou eu. Eu sou assim. Sozinho. Solitário. Pensativo. Bêbado por causa da saudade. Triste por causa de amores. E minha depressão toma conta de mim. E ela me apaga por completo de um mundo que eu queria enxergar mais colorido e não consigo. E eu gostaria de escrever mentiras sobre minha vida, mentiras que contém tudo de bom que o mundo supostamente pode me dar. Gostaria de ser como músicos que escrevem canções bonitas e pessoalmente não são nada daquilo. Gostaria de escrever textos e mais textos lindos só para fantasiar uma vida de relações e pensamentos super vangloriados pelo ser humano que sonha com um final feliz. E eu gostaria que existisse um final feliz. Gostaria de não olhar para minha cama e ver que estou sozinho. E sentir falta de um amor que preenchia o meu quarto por completo. Gostaria de não olhar minhas roupas e ver que elas não estão sendo compartilhadas com mais ninguém. De olhar fotografias e enxergar o eu sozinho em todas elas. Gostaria de lembrar da voz que me entregava paz e tranquilidade. Lembrar do olhar que me entregava carinho e aconchego. Gostaria de sentir o cheiro de um corpo que me preenche por inteiro. E lembrar que ainda sei amar. Queria o calor infernal que seja capaz de me lembrar que ainda sei amar. E esse vazio que me consome por inteiro não é capaz de ser esquecido jamais. E eu penso em desistir. Eu quero desistir. Mas não quero que sofram. Não quero que chorem. Não quero que sejam obrigados a me esquecer da mesma forma que fui obrigado imensamente a esquecer o meu amor. Não quero mesmo que chorem por alguém tão triste como eu. Veja bem, não sou egoísta, eu penso bem mais nas pessoas que não entendem nada do que quero dizer do que em mim mesmo. Acredita nisso? E mesmo que eu as entenda demais, elas nunca me entendem. E julgam. E julgam. E me insultam. Em formas de brincadeiras e piadas e carinhos. Mas eu sei que me julgam por continuar sendo esse burro bêbado que ama demais. E ainda sim, não sou egoísta de acabar com tudo da forma que planejo em minha mente. Eles sentiriam falta desse jovem idoso burro que não sabe amar. E que, quando amou, errou por diversas vezes até ser esquecido. E o teu amor não aceitou teus erros, por mais que eu tenha acertado incansavelmente inúmeras vezes. É tão triste estar só. Sabe o que é mais  triste? Não ter a esperança de olhar o mundo lá fora e encontrar, em meio à bilhões de pessoas, alguém que preencha, de fato, este vazio diário que insisto em sentir.

- Você escreve tão bem, né? Até parece que tem coração!
- Não entendi o que quis dizer.
- Olho para você e vejo um ser humano tão forte. Tão indestrutível. Tão sem se importar. Olho para você e sinto que nem se importa com isso de amor.
- Você não entendeu nada do que escrevi, querida. Volte! Sabe essas músicas românticas que tu escuta e super venera o músico acreditando que ele é aquilo?
- Sei.
- Sabe esses escritores baratos que escrevem clichês sobre amor e tu quer viver aquele conto de fadas?
- Sei.
- Sabe esses filmes românticos que tu assiste e sonha em ter um igual, com final feliz, e acha o escritor do filme o ser humano mais amável do mundo?
- Sei sim. E o que tem?
- Dificilmente eles são aquilo em vida. É tudo para vender. E eles conseguem. Ficam ricos. Vende muito. Ficam famosos. Viram artistas, famosos, escritores e tudo mais. Mas é tudo mentira. Eles escrevem aquilo, mas não vivem aquilo. Não são aquilo que escrevem. E isso torna a arte muito mais triste do que ela realmente é. Não pelo conteúdo e sim por mentiras. Por serem mentiras. E eles são de mentira.
- Você é assim?
- Não. Essa é minha maior tristeza. Eu vivo tudo aquilo que escrevo. E não me importo de ser um pé rapado que nunca ganhou nada com isso. Mas eu vivo tudo aquilo que escrevo em todas as cartas minhas. E sinto. Sinto muito mais do que aquilo que escrevo. Sinto até chegar o ponto de não conseguir escrever mais. Essa é minha maior tristeza, mas esse é o meu maior valor. E não me importo. Não me importo.
- Você escreve sempre quando está bêbado, meu bem?
- Eu só escrevo quando estou bêbado, querida. E infeliz. E me sentindo sozinho. E num ponto tão imenso de solidão que fico entre o suicídio e as escrituras. Nunca escreverei algo quando estiver verdadeiramente feliz.
- Você escreve tanto.
- Entendeu a moral da história?

E eu gostaria de não sentir essa falta absurda de ser amado. E não amado por formas carnais em que querem matar teus próprios desejos contidos dentro de um peito vazio. Amado na forma mais simples de amor. Amor sem interesses. Sem exageros. Sem pedir nada em trocar. Gostaria de ser amado em uma cama apertada que mal caiba nós dois e teu cheiro se encontre nela sem que eu fique com medo de dormir onde você esteve. Sinto falta de acordar e saber que o amor sincero existe. Que abraços longos e apertados continuam sendo verdadeiros sem serem descartáveis. E eu vivo nos velhos tempos onde andar de mãos dadas significa muito mais do que o próprio sexo. E eu não sou de amores vagos. Amores vazios. Amores rasos. Não quero isso. Nunca fui disso. E eles não me entendem. Não sou de só beijos ou só sexo. Sou de amores. Sou do puro. Do verdadeiro. Do simples. De aceitar a outra pessoa como ela é e ainda sim sorrir. Sou de abraços quentes. Beijos longos. Mensagens ao amanhecer e de desejos ao anoitecer. Sou de escrever sobre ti, sobre mim, sobre nós. De planejar. De querer. De entender. De compartilhar. Sou esse poço de profundidade obscura que tanto pensa em ser amado da forma mais simples que existe. Sem cobranças. Sem exageros. Com defeitos, mas aceitáveis. Somos esse corpo preenchido de defeitos que o universo nos deu, mas que saibamos entender o lado um do outro num extremo abraço apertado e um beijo que signifique muito mais daquilo que o mundo é capaz de nos dar. E ninguém vai entender tudo isso que quero escrever. E irão dizer que são só palavras bonitas para surpreender alguém. E não. Não é nada disso. Leia de novo. Leia devagar. E entenda. Eu odeio o amor, mas quero ser amado. Eu odeio romances, mas quero viver um. Eu odeio sentir borboletas em meu estômago, mas estou sentindo todas elas neste exato momento e assassinando uma por uma. Eu odeio suicídio e penso nele o tempo todo. Entendeu a moral da coisa toda?

 E eu poderia escrever sobre minha vida suja. Sobre bebidas. Tragos. Tristezas mundanas. Até sobre prostitutas. E cafetões. E a vida suja de um mundo que não sou capaz de viver. Poderia escrever sobre mentiras. Clichês. Felicidades. Alegrias. Amigos. Bares. Poderia escrever sobre qualquer coisa cabível em um mundo em que eu só receberia elogios e dinheiro, mas prefiro escrever sobre você, sem citar teu nome, receber todas as criticas que recebo e ainda sim, aceitar que meu coração ainda é capaz de bater por alguém.

Sabe todas essas palavras? Nunca chegarão ao meu amor da forma que quero, e ainda sim, insisto em escrevê-las. E eu me sinto tão só, sem nunca ter aprendido a ficar tão só. E eu não quero aprender. Mas tenho que aprender. Eu preciso aprender. E eu choro ao me lembrar disso. Eu preciso aprender ou o caminho para a escuridão será extremamente curto e não pensarei mais sobre egoísmo e pessoas e choros e lágrimas e saudades. Eu preciso aprender, antes que seja tarde demais. Mesmo sabendo que o teu descaso me deixou pensativo sobre tudo ser tarde demais. Eu sou descartável. Fui jogado fora. Sem reciclagem. E estou no fundo dessa lixeira sem uma mão para me resgatar, porque, quando me encontram, enxergam a tristeza vazia que sou e não conseguem me salvar. Triste, você não acha? A escuridão seria menos triste que todos os versos meus, e você não derramaria uma lágrima sequer pela minha memória. Esta é a parte mais triste nessa vivência toda. Teu descaso é o que me faz ser só. E esse poema cheio de palavras fortes não significa mais nada.

E mãe se pergunta porque eu bebo tanto. Amigos me perguntam porque fico tão distante. Pai me pergunta porque fico tanto tempo sozinho. E eu digo que estou bem. Mas não estou bem. Definitivamente não estou bem. Preciso de ajuda. Mas estou bem. Eu estou bem. E minha mãe volta a dizer "Se não estiver bem, conversa com mainha, viu?".

quarta-feira, 6 de março de 2019

E eles disseram que ela é uma música triste sem nada para me dizer. O pior é que amo blues!

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- O que você faz antes de escrever?
- Fico sozinho.
- E o que te leva a escrever?
- Me sentir sozinho.
Silêncio. Dei um gole na cerveja.
- Mas...
- ..."mas você escreve tanto"?
- ...sim. - respondeu baixinho com a voz engasgada.
- Exato. É ai que está todo sentido da coisa.

E eu queria flutuar por este meu jardim sem um peso em minhas costas. Navegar em águas desconhecidas sem essa tristeza em meu coração. Queria sonhar dentro do sono dos justos de todas as pessoas que exibem seus sonhos mais fantásticos num mundo onde tudo é surreal. E eu vejo todas aquelas pessoas me contando sobre sonhos extraordinários e incrivelmente alucinantes e eu penso "Não consigo sonhar, não mais". E eu queria não ter que passar por balcões de bares e pedir uma cerveja sabendo que ao final dela escreverei mais uma carta triste sem nada a dizer para pessoas que não dão a mínima para toda essa merda que sou capaz de escrever em apenas alguns minutos. E bebo. E bebo. E escrevo. Escrevo demais. Bebo muito mais. Me embriago. E deito em minha cama com algum blues do mais triste tocando baixinho. E leio Bukowski. E Nietzsche. E Kubrick. E Chaplin. E leio poemas. E leio poesias. E bebo dilemas dentro de uma mente cheia de pensamentos sobre o fascínio alucinante que seria voltar a sonhar. E eu gostaria de apenas conseguir dormir. Dormir de verdade. Não sonhos com intervalos pequenos. Não cochilos que intervalos minúsculos ou noites inteiras acordados sem saber o que fazer ou para onde ir ou para onde sonhar. E vejo meu jardim tão obscuro quanto todos os romances que fui capaz de passar. E eu gostaria de não escrever mais sobre essa merda. E eu gostaria de escrever histórias clichês sobre isso que chamam de sentimentos mútuos por outra pessoa. E existe isso? Existe um sentimento tão profundo quanto o amor ou são só sonhos em nossas mentes carentes de sentimentos e presenças? O amor é como a felicidade? Em poucos momentos. Felicidade não existe, porra! Existem momentos de alegria. O amor é isso? O amor é um Deus? Que ninguém nunca viu ou ouviu ou tocou, mas muitos acreditam. MUITOS! E eu deixei de acreditar em toda essa merda desde que perdi meu amor. Se é que essa merda um dia existiu também!
E eu queria poder sonhar. Queria poder viver sabendo que não teria esse peso em meu coração de que um dia tive meu amor em minhas mãos e deixei ele escorrer por minhas entranhas. Porque eu sei bem que não sou mais capaz de amar. Sei que não sei mais como amar. Me perdi. Não sei onde me encontrar. Estou num sonho de outra pessoa que nem sei quem é flutuando por jardins com romances mortos e navegando por águas que nunca ousei passar antes. E esses são meus poemas. Esses são meus pedidos de socorro. E todos eles continuam não dando a mínima. Acabei de ter uma das piores crises mais absurdas de ansiedade. Meu peito gritou e surtou e pulou para fora de minha boca. E eu perdi o ar. E perdi o fôlego. E perdi as forças. E me perdi. Me perdi dentro de mim mesmo mais perdido que todas as flores perdidas em canteiros que ninguém se importa. Todos passam em frente a esse canteiro, mas ninguém o nota. Ninguém quer saber. São só flores. São só fôlegos. São só ares. São só ansiedades. É só mais uma vida. Vida jogada fora pelo meu amor. E desde que ele se foi, confesso, tudo está o mais belo cemitério de tédios e poemas e flores e paixões onde não sei o lugar exato que devo me encaixar. E todos eles continuam dizendo "Sua carta está muito boa", "Você escreve tão bem", "Triste, mas tão lindo", "Nossa, a pessoa que estiver com você deve ser uma pessoa de sorte de estar com alguém que revela tão bem teus sentimentos". OH CARALHO! Eles não entendem. Nunca irão entender a essência da merda toda. E não por serem idiotas ou ignorantes ou enxergarem só a beleza das coisas, mas...mas...mas porque eles não se importam, porra! Todos fingem se importar, mas se meu peito explodisse, se eu fosse para a mais profunda escuridão de uma vez por todas, sofreriam durante alguns dias, meses, quem sabe um ano. Seria lembrado pelas coisas boas que um dia fiz para as pessoas ou pelas risadas que arranquei delas ou até mesmo pelas cartas e livro que escrevi. Por ser quem eu sempre fui. Por falar todas as coisas do jeito que sempre quis. E por manter as pessoas que me importo sempre aqui comigo. Aqui do meu lado. Mas me esqueceriam. Lembrariam de mim vez ou outra. Sorririam ou socariam um móvel qualquer ou falariam "Ah é, aquele filho de uma bela puta existiu". Nada além disso. Nada mais que isso. Somos poerias estelares feitas para serem esquecidas. E quando tudo acaba, esquecimento se torna nosso segundo nome. E venha tratar isso como um drama ou melancolia qualquer. Não. Não. Não. Não tem absolutamente nada a ver com essa porcaria toda. E sim, com verdades que tanto guardamos dentro de todos nós. Existem verdades cabíveis dentro de nós mesmos que ninguém é capaz de revelar. Mas existem verdades sobre todos nós que o mundo precisa enxergar. E essa é a verdade de todos nós. Não passamos de flores murchas profundamente esquecidas dentro de nós mesmos nesse mundo que é como o nosso jardim. Viramos adubos e uma mancha escura num universo paralelo muito, mas muito distante daqui, cuja escuridão toma conta de todos nós. Apenas.

Já leu minhas cartas? Lembre-se delas quando eu partir.

- Você está bem?
- Sim.
- Bem de verdade?
- Acredito que sim.
- Não estou  te sentindo bem. Toda vez que olho para ti, vejo lágrimas distantes em teus olhares.
- Eu estou bem.
- Mas...toda vez que olho para ti, estas com a cabeça para baixo como de quem quer dizer alguma coisa e não sabe como.
- Por isso eu escrevo.
- Mas ninguém se importa com as coisas que tu escreve.
- Eu sei. Por isso escrevo. Um dia elas irão se importar.
- O que quer dizer?
- As pessoas são assim. Elas sabem que as pessoas passam por problemas. Elas sabem. Eu sei que sabem. E elas não tem a capacidade de perguntar para a outra pessoa se ela precisa de algum tipo de ajuda. Uma conversa. Um abraço. Um silêncio. Um amparo. É triste demais.
- É triste demais. Quer uma cerveja?
- Quero sim.
- É triste demais ser triste demais.
- É triste demais estar triste demais. Esqueci qual foi a última vez que estive verdadeiramente bem.
- Esqueceu mesmo ou finge esquecer?
- Finjo não lembrar.
- Você acha que a gente precisa de um amor para ser feliz? Alguém para compartilhar nossas vidas, tudo que a gente faz. Conquistas, sonhos, cama, cheiros, comida, perfumes, sabores, banhos, romances, livros, músicas, calor, sexo, amor? Acha mesmo que fomos feitos para isso?
- Não sei, meu bem. Mas meu peito arde por saber que escrevi a porcaria de uma carta em 12 minutos e ninguém irá entender porcaria nenhuma do que está escrito nela.
- Elas entenderão, querido. Um dia.
- Aumente o som, querida. Mighty Sam McClain é bom demais para tocar baixinho e essa cerveja está boa demais para conversas fiadas.

"Baby, você me machucou
e eu sei que te machuquei
nós dois prometemos
para sempre ser verdadeiro

Senhor, talvez o amor fluirá
Eu disse quando a mágoa acabar, querida
E toda a dor se for
Talvez eu reaprenda como amar novamente

Quando a mágoa acabar
Querida, quando toda a dor se for"