quinta-feira, 30 de abril de 2020

Corona vírus me lembra que o medo de morrer sempre foi perda de tempo!

luna buschinelli (@LunaBuschinelli) | Twitter

- Estou te sentindo mais quieto esses dias, o que aconteceu?
- Nada, tudo sob controle. Só quero uma cerveja.
- Está tudo bem mesmo? Porque se não estiver, converse com mainha, ok?

Homem não chora, eles disseram.
Foda-se, eu estou chorando.
E não me importo com isso.
E saiba que escreverei todas essas palavras com lágrimas nos olhos.
Tudo bem a gente não se sentir bem. E tudo bem também a gente fraquejar.
Não tem problema a gente ser humano. Não tem problema a gente expressar sentimentos.
Ou, até mesmo, ficar em silêncio.
Não tem problema a gente surtar. E espernear. E morder o travesseiro. E chutar o travesseiro.
E socar as beiradas de nossas camas por vontade de querer nos socar por dentro.
Não tem problema o coração acelerar. O peito apertar. As mãos ficarem frias.
O estômago doer e fazer com que tudo que saia de dentro de você seja líquidos e mais líquidos de todas as bobeiras e pensamentos comestíveis que a gente consome. Que nos consome.
Não tem problema a gente sentir medo. A gente se sentir sozinho. A gente pensar na solidão. Não existe problema nenhum a gente sentir medo pelos nossos pais. Não tem problema nenhum a gente se sentir inseguro. Não tem problema nenhum a gente consumir álcool para conseguir nos entender melhor. Ou apenas um chá. Ou fumar alguma coisa. Quem sabe se masturbar. Quem sabe transar com alguém que esteja seguro suficiente para poder ir até você. Não tem problema nenhum a gente sentir imensa vontade de preencher o nosso peito com todas as coisas vazias que nos levam a acreditar que estamos inundados de tudo que existe de melhor nessa vida. Não. Não tem problema a gente achar que todos os meios que estamos seguindo são os certos ou, simplesmente, pensar que todos os meios que nos levam para algum lugar seja errado, mas que está tudo bem. Se eu cheguei até aqui, por todos os meus meios, não tem problema. Desde que não façamos mal a ninguém. E tudo bem acreditar nisso. Tu és tua própria sabedoria e fonte de formas ilimitadas para ser e viver algo melhor. A gente sabe disso. E não tem problema a gente errar de vez em quando. Ou muitas vezes. Ou todas as vezes. Não tem problema a gente ser humano, lembra?
E errar faz parte da gente.
E chorar faz parte da gente.
E ter medo faz parte da gente.
E toda essa gente não se importa com que a gente sente.
Porque eu deveria continuar escrevendo todas essas coisas quando, no fundo, ninguém se importa?
Pense bem, eu poderia escrever todos os meus erros e medos e anseios aqui e agora. Poderia te escrever coisas lindas e maravilhosas que fariam com que todas as minhas palavras tristes e melancólicas se transformassem em arte. Todos que se depararem com esta carta falariam que eu tenho um dom incrível de sair de uma tormenta e fazer um papel na sociedade que pouquíssimos são capazes de fazer. ARTE. Eu já fui exaltado nas ruas e nas esquinas e nas redes como um poeta incrível, e todos eles estão errados. Todos os que me chamaram de poeta e louvaram isso estão errados. E tudo bem a gente estar errado. Eu escrevo todas as minhas coisas achando que sou capaz de salvar alguém de um abismo sem fim, quando ninguém dá a mínima. E tudo bem eu acreditar que faço um bem maior para a sociedade. Quando, de fato, estou apenas desabafando sobre crises constantes de tristeza e ansiedade e depressão para pessoas que aparentam entender e sentir tudo que ouso sentir. E eu me sinto ligeiramente feliz quando essas pessoas se identificam. Mas eu não sou um poeta.
Não como eu gostaria de ser.
Não como eu gostaria de escrever.
Não como eu gostaria de ser visto.
Sou apenas um velho jovem que cospe cartas, sem ler, ao mundo. E tudo bem eu pensar que posso salvar alguém, algum dia, com todas essas palavras.
Mas o que me limita é saber que não sou capaz de salvar nem a mim mesmo, quanto mais outras pessoas. E que eu não tenho capacidade nenhuma para estender uma palma sequer para tirar alguém do fundo do abismo, quando é nele que estou toda vez que caio de frente com todas as minhas palavras.
Tudo bem a gente acreditar que sairemos dessa ilesos. Sem nenhum arranhão ou sem nenhum dano em nossas mentes já afetadas pelo tempo. A gente é humano. Pensamos demasiadamente em coisas boas e uma vida eterna e, claro, que seremos felizes, algum dia, mas a gente, como seres humanos, nos esquecemos que o abismo é onde passaremos nossa eternidade escura, sendo, um dia, felizes ou não.

- Será que eu já entreguei cartas boas?
- Tu sempre entrega cartas boas, meu bem.
- Não. Não é isso que eu quero dizer.
- O que queres dizer então, querido?
- Será que eu já entreguei palavras das quais as pessoas realmente se importaram? Será que eu escrevi coisas que as pessoas realmente se preocuparam e se perguntaram o porque de eu escrever cartas assim, invés de apenas se importarem com o que elas sentiram naquele momento?
- Eu acho que não, querido. Não desta forma.
- Porque eu deveria me preocupar com isso?
- Tu não se preocupas, meu bem. Tu sabes as pessoas que já preencheu o peito de alguma forma, só tens medo de que elas não tenham entendido tudo que queria dizer.
- Eu sempre peço ajuda nas minhas cartas e ninguém vem me salvar.
- Porque as pessoas não se importam, meu bem. As pessoas amam enxergar pessoas sofrendo e tudo de bom que elas fazem em cima disso, mas o que realmente bate dentro de você, ninguém se importa. E acho que, depois de anos escrevendo, tu deveria estar acostumado com isso.
- Não. Nunca me acostumo
- Tu irá morrer esperando coisas boas das pessoas, meu bem. Isso também é o que irá te matar.
- Preciso continuar escrevendo, querida. Se um dia eu esquentar o coração de alguém, talvez eu pare.
- Não é apenas esquentar corações que tu almeja, meu bem. Uma das coisas que mais tu lutas é que as pessoas te entendam, fiquem com o coração quente o suficiente para perguntarem, com sinceridade, se você está bem quando tu mais precisa de ajuda. Porque são nesses momentos que tu escreve.
- Eu preciso de uma cerveja, querida.

O álcool está me matando.
A falta de fumar minhas besteiras está me matando.
A raiva dentro de mim está me matando.
A expectativa em mim de criar algo bom está me matando.
E eu estou chorando.
Foda-se, eu estou chorando.
A tristeza está me matando.
Os pensamentos negativos estão me matando.
Não saber o que escrever está me matando.
No momento, as lágrimas estão me matando.
Cada gota que cai, o coração arde mais um pouco.
A ansiedade está me matando.
A depressão está me matando.
A ideia de encostar uma arma em minha cabeça me da forças para continuar.
E colocar o dedo no gatilho e ver que o medo de morrer sempre existiu.
E que isso sempre foi perda de tempo.
E pensar em inúmeros remédios passando pela minha garganta até chegar no estômago está me matando.
Seria mais fácil tomar veneno?
Seria mais fácil subir na sacada e pular?
E pensar em me matar está me matando.
Não pelo fato de partir, mas pelo fato de lembrar que morrer sempre foi muito fácil.
Viver que é difícil. Difícil para um caralho. E a gente se esquece disso. Talvez seja bom a gente passar por crises e perceber que a gente tem muita coisa lá fora para aproveitar e viver e ter e sonhar e sentir e amar.
Esqueci de falar sobre o amor nessa carta. Que milagre, não é mesmo?
A falta de amor está me matando.
Amar alguém está me matando.
E querer alguém está me matando.
E sonhar com um possível amor no futuro está me matando.
E a falta de romantismo está me matando.
E a forma com que a gente finge não se importar com romances está me matando.
E minha mãe orando pedindo a Deus um mundo melhor está me matando.
E meu pai se fazendo de forte está me matando.
E a minha visão míope sem conseguir enxergar um futuro próximo está me matando.
E ter meus amigos longe demais está me matando.
Viu só como eu consigo mudar rapidamente de assunto quando se trata de amor?
Não porque eu quero. Não porque eu não me importo. Não porque eu não esteja amando. E não porque eu não me importe com outro alguém que passa pelos meus sonhos todas as noites, mas sim por eu não querer fazer parte de um romance num mundo doentio em que todas as pessoas estão doentes. Não por um vírus, e sim doentes pela falta de amor. Porque todas as pessoas esqueceram como que faz para amar. E as que sabem ou acham que sabem, como eu, fingem não se importar em amar o próximo. Deixa a gente seguir esse erro e adoecer cada vez mais. Porque é muito lindo tu fingir não se importar com o que bate em teu coração. E é muito lindo tu fingir que os poemas e músicas e livros e filmes não se parecem exatamente com o que está batendo dentro de ti. E deixa as lembranças boas de um futuro que poderia existir irem embora de uma vez por todas. Porque o amor não vale a pena. E a gente não é mais capaz de amar. O jogo do amor se tornou um grande monumento de ego e orgulho para ver quem finge se importar mais.
O lado bom é que eu perdi esse jogo faz tempo.
Então, apenas deixa o meu amor aqui dentro bater um pouquinho mais.
Enquanto todas as pessoas fingem que não amam.
Meu coração sempre vai bater por alguém. E por esse alguém, eu sempre irei escrever poemas, mas eu não quero fazer parte de um jogo. Quero fazer parte do que é real, antes mesmo de alguma crise de ansiedade forte bater em mim e fazer com que eu desista de vez.
Pelo menos, fecharei os olhos uma última vez e saberei que tudo que vivi foi de verdade.
Mentiras não me surpreendem mais.

Então, meu amor, vamos gozar antes que o mundo acabe.
Vamos viver antes que o mundo se parte.
Vamos ler todos os livros que pudermos.
E assistir todos os filmes que forem possíveis.
Vamos lembrar de todos os amigos antes que o mundo acabe.
Vamos assistir todas as séries cabíveis.
E beber todo álcool que a gente for capaz de consumir.
Vamos fumar tudo que estiver ao nosso alcance.
Vamos ouvir todas as músicas antes que o mundo acabe.
E que, quando acabar, esteja tocando a nossa canção preferida.
Vamos praticar todos os exercícios que pudermos.
Vamos trabalhar muito, mas muito mesmo, antes que o mundo acabe.
Vamos fingir ser produtivos.
Escrever todas aquelas coisas produtivas para nossos chefes que não se importam com a gente.
Vamos publicar relatórios incríveis para fazer nós mesmos acreditar que estamos produzindo em massa e fazendo um bem para a humanidade.
Porque ela realmente se importa com tudo que você produz.
E a humanidade se importa com todas as coisas que tu tens feito para sair dessa numa melhor.
Vamos fazer yoga antes que o mundo acabe.
Vamos publicar todas as nossas fotos nas redes sociais antes que tudo desabe.
Vamos assistir todos os vídeos ao vivo possíveis antes que aqueles famosos morram por algum motivo.
E vamos publicar algo construtivo na internet para fazer as pessoas pensarem que você é incrivelmente foda nessa quarentena, quando na verdade, tu deveria e poderia estar apenas pintando suas unhas, dando um abraço no cachorro, jogando alguma coisa. Qualquer coisa simples assim.
Vamos apreciar as folhas caindo das árvores e os pássaros cantando na janela, talvez seja a última vez.
Vamos fazer todas essas coisas antes que tudo acabe.
Antes que o mundo acabe, vamos ser fúteis. Vamos comprar milhares de cuecas e calcinhas e celulares e comidas caras e roupas caras por algum aplicativo. Vamos gastar o que não temos. O mundo está acabando mesmo. Foda-se!
Vamos ser egoístas. Vamos ser clichês. Vamos ser irresponsáveis. Vamos xingar o presidente, isso sim! Sempre.
E vamos ser irônicos, claro.
Vamos convidar alguns amigos para virem em casa e fazer uma pequena festa, vamos mostrar para o mundo que somos corajosos e incentivar outras pessoas a fazerem isso também.
Vamos nos importar com o namoro de algum famoso e fazer piadas e mais piadas em cima disso.
Até porque é muito divertido rir da ideia de alguém estar se fodendo com o amor. Nós somos seres humanos extremamente evoluídos quando o assunto é amar. E isso faz todo sentido.
Vamos acreditar que o fim está próximo e nos esquecermos de nos transformar em pessoas melhores.
E vamos nos esquecer de mandar mensagens sinceras sobre como estão nosso amigos e familiares.
Vamos ser mesquinhos e fingir que a gente não se importa com nenhum deles.
Foda-se. O mundo está acabando. Tudo está se partindo. Tudo vai desmoronar a qualquer momento.

E foda-se se eu estou chorando.
Eu escrevi todas essas palavras e nem eu mesmo sei ao certo o que querem dizer.
E tudo bem eu me sentir assim.
Ontem a tarde, eu estava morrendo de medo da morte.
De madrugada, eu estava desejando a morte.
Hoje, eu acordei com o pensamento de que pensar na morte é uma perda de tempo quando você não mandou "Tudo bem com você?" para ninguém que tu diz se importar.
Nem para os amigos.
Nem para teus pais.
Nem para teu romance.
E existe um pássaro amarelo depressivo dentro do meu peito que não me deixa voar em liberdade para ser capaz de fazer essa pergunta sincera para todos que eu gostaria. E ficar bem com as respostas ou tentar ajudar caso seja uma resposta triste.
Esse pássaro não quer voar.
Então, deixa ele aqui dentro quietinho.
Madrugada passada, a morte encostou em meu ouvido e disse "Eu te amo".
Eu não acordei bem, e tudo bem a gente não se sentir bem, mas uma pergunta ou uma frase pode mudar tudo. Toda a trajetória de um futuro pode ser mudada e revelada através de uma pergunta surpresa e sincera, mas a gente nunca sabe de onde irão vir essas perguntas. A gente nunca sabe quem realmente se importa. Então, eu me disponho a ficar quietinho comigo mesmo e meu pássaro amarelo, enquanto as pessoas se deparam com mais uma "arte" minha através da melancolia.
E mesmo que eu tenha pensado na morte ou em suicídio e feito minha depressão e ansiedade falarem mais alto do que eu, espero que essa minha carta faça alguém ter uma mudança incrível de trajetória de pensamentos e sentimentos quando eu mais estou indisponível para te fazer mudar e acreditar que és capaz de sair desse fim de mundo.
Espero que eu tenha aquecido o teu coração.
E que tudo esteja bem.
Isso é tudo que tenho para te entregar quando não vejo mais saída de todas as coisas e quando penso que o mundo não se importa.

Isso é tudo que eu tenho a dizer, por ora.


quarta-feira, 22 de abril de 2020

Querida, tive uma recaída... (essa sim é uma carta romântica!)

So Now? by Charles Bukowski (read by Tom O'Bedlam) - YouTube
- Meu bem, estou sentindo falta de sexo - e abriu outra cerveja.
- Linda, tu sabes que o álcool demora dez minutos para chegar ao cérebro, não sabe?
- E o que tens isso, meu bem?
- Está muito cedo para dizer essas coisas.
- Meu bem, notei que tens mudado tua maneira de escrever. Estou certa?
- Acredito que sim, linda.
- Foi proposital, meu bem? Tens mudado de propósito?
- A gente nunca muda de propósito, querida, sempre existe algo que nos faz mudar. O amor é um belo exemplo de como a gente sempre muda.
- Ou como a vez que mudei de assunto porque teu pau só tem apenas o toque de tuas próprias mãos nesses tempos e isso está te deixando louco?
- Como você é suja, querida. Te admiro por isso.

Como faz para começar uma carta romântica?
O que eu devo fazer para escrever coisas românticas?
Eu deixei para trás todo esse melodrama em que não me encaixo mais e esqueci como faz para suportar tais coisas.
O que a gente deve fazer quando estamos trancafiados?
O que a gente deve esperar?
Sentir?
Ter?
Sonhar?
Amar?
Querer?
Quem se importa com o amor quando a gente não pode nem sair de casa?
Seria egoísmo ou bobeira o suficiente pensar que estou disposto a amar alguém mesmo sem poder sair do meu próprio quarto?
Com certeza seria. E vou limpando o meu quarto que me deparei em todas as coisas que eu deveria esquecer. Fotografias. Cartas. Lembranças. Roupas. Tralhas. Garrafas de cerveja de um tempo em que eu sofria por amor. E todas aquelas recordações de um tempo em que eu acreditava estar feliz ao lado de alguém. O triste é perceber que isso já não incomoda tanto como um dia incomodou. E essa dor contida no peito de quem um dia amou, é diferente da dor que costumava bater quando a gente acreditava que nada disso aqui dentro teria um fim.
A dor do amor vai e volta, cabe a nós mesmos decidir a intensidade dela.
Quando a gente sorri lembrando de coisas boas é que a gente já não se importa tanto quanto as vezes que derrubamos lágrimas por causa de outro alguém. E tudo bem chorar. E tudo bem sorrir. E tudo bem sofrer. E tudo bem ter o peito apertado lembrando de algo bom. É natural. É extraordinário. E não existe nenhum mal nisso. Tudo bem se entristecer ao lembrar de momentos ruins. Tudo bem chorar ao lembrar de dias ruins. Tudo bem abaixar a cabeça e pensar que poderia ter sido diferente e acreditar que todos os dias que passamos ao lado de outra pessoa foi em vão, mesmo que a gente saiba que não foi. Mesmo que a gente saiba que algo dali se encontra aqui dentro e nos fez crescer de alguma forma. Tudo bem sentir. Tudo bem. Não existe mal nenhum em amar. Não existe mal nenhum em sonhar com o amor perfeito. Ninguém irá te julgar por isso. Triste é a pessoa que ama e finge que não sente nada. E talvez eu tenha me tornado essa pessoa, aquela que ama, mas que finge que não sente nada. E eu esqueci do momento exato em que comecei a ser assim, mas também não tem problema. Toda forma de fugir do amor é uma blindagem por conta de coisas que passamos lá atrás e que não queremos passar de novo. Por mais tolo que seja teus atos, uma hora o amor te pega. E tu se perde. E tu se esconde. E olha para o céu. E olha para os lados. E não acha a saída perfeita para lidar com tudo que está pulsando dentro de você. E tudo bem a gente se sentir assim. Um sorriso, muitas vezes, te salva quando você está pensando no fim da linha. Triste mesmo é a pessoa dona desse sorriso não saber o que ela já tens feito por você, mas tudo bem também, meu bem. Sorrisos são perfeitos, a gente nem tanto.

Onde foi que eu parei?
Onde foi que eu me perdi nesta carta?
Eu deveria escrever algo sentimental. Aquele tipo de carta que toca na alma e que faz as pessoas se sentirem apaixonadas. Que faz com que as pessoas se lembrem dos pares românticos que elas tem por aí.
Puta que pariu, não lembro como que faz para escrever uma carta romântica.
Estamos todos perdidos dentro de nossas próprias casas e a gente percebe que todas as dores começam a fazer sentido no teu corpo.
Aquele cansaço de não ter mais o que fazer.
E a gente bebe para esquecer. A gente bebe para fingir que está tudo bem.
E a gente não pensa direito por pensar demais.
Arruma o quarto e acredita que está tudo bem lá fora.
Ajeita o cabelo. Ajeita a barba. Ajeita os quadros.
Se olha no espelho.
E a gente bebe mais.
A gente espera um sinal de que as coisas serão normalizadas, mas a gente consome tanta besteira comestível dos jornais e da TV e da internet que a gente se perde mais um pouquinho.
E a gente fica sem entender.
E sem planejar.
A gente coloca o pensamento fixo em nossas mentes de que isso tudo uma hora vai acabar. Amanhã estará tudo bem de novo. Quem sabe depois de amanhã. Mas o amanhã nunca vem. E isso martela mais ainda em nossas cabeças e faz com que a gente se sinta fraco.
Mesmo que saibamos que não somos tão fracos assim.
A gente vai para a varanda. Toma um ar na sacada. Fecha os olhos. Sente o ar. Inspira o ar. Sente o vento batendo em nossos rostos e pensa "Vai ficar tudo bem". E outras dores caem de encontro com a gente. O joelho que lateja. As juntas que não respondem tão bem assim. O cansaço repentino de subir alguns degraus da escada da garagem. Uma gordurinha aqui. Uma barriguinha maior ali. A cabeça já não aguenta mais assistir filmes e séries. Os dedos não suportam mais o contato com o controle do vídeo game. E os olhos já estão cansados o suficiente para olhar para qualquer tela possível. Ter sinal de internet te deixa entediado. E a gente vai levando. E a gente vai existindo. E inventando. E reinventando. E surtando.
Quem não surtou nesses tempos difíceis que atire a primeira pedra diretamente em meu olho esquerdo.
A gente vai até a cozinha ás dez da noite e come a primeira besteira que encontra pela frente. Quando a gente vai de volta para o quarto já são três e meia da madrugada e tu ainda nem dormiu. E a gente pensa "Eu deveria estar dormindo" seguido de um "Pra quê? Foda-se, não tenho nada demais para fazer amanhã mesmo". E a gente volta para a varanda e começa a observar o cachorro que depois dessa loucura toda começou a latir em vão, então a gente pensa "Se até o cachorro enlouqueceu, quem dirá eu?". A gente volta para o quarto e já são sete da manhã. Que tal outro episódio daquela série? Que tal ouvir uma música? Que tal curtir mais algumas fotos em uma rede social qualquer? Eu deveria estar trabalhando em alguma coisa muito importante para salvar o mundo. Eu deveria estar fazendo algo para os meus projetos futuros. Eu deveria estar produzindo coisas incríveis, mas logo em seguida a gente reflete e chega a conclusão de que a gente não precisa fazer todas essas coisas geniosas agora. Senta, relaxa, se acalma, respira. Está tudo bem não ser absolutamente nada produtivo nesses momentos de loucura e dificuldade. Estamos em tempos que não precisamos provar nada para ninguém, principalmente para ti mesmo. Se acalma!
NÃO SURTA, PORRA!!!

Onde caralhos foi que me perdi nesta carta?
Eu deveria estar escrevendo coisas incríveis sobre o amor.
Mostrar que meu coração está batendo fortemente ao lembrar de um nome.
Escrever histórias incríveis sobre como sonhar com o momento perfeito ao lado de alguém que nem sei se me quer tanto quanto eu quero ela.
Onde foi que eu perdi minhas palavras sinceras?
Onde foi que eu deixei aquela falta de ar ao saber que esse romance pode dar certo?
Espera.
Veja bem.
Uma crise de ansiedade invadiu meu peito agora e estou com uma pequena falta de ar.
Sinto falta de quando eu sentia isso apenas em momentos românticos.
Espera um pouco. Eu já volto!

- Tens ideia de como será tua próxima carta, meu bem?
- Não. Não tenho. Nunca planejei as linhas de minhas cartas. Não faço ideia do que vem.
- Como sabes que sairá algo bom?
- Minhas cartas? Minhas cartas nunca são boas, caralho. Nem eu as entendo.
- Querido, tu sabes que as pessoas não pensam isso delas, não é mesmo? Tu sabes que sempre escreve coisas boas e incríveis e lindas. E as pessoas te elogiam muito por isso.
- Meu bem, eu posso sentar na privada nesse exato momento, colocar toda essa bosta de besteiras comestíveis e cervejas para fora e ter uma grande ideia sobre qualquer porcaria e cuspi-las nos meus textos, ainda sim, as pessoas irão achar que eu sei bem sobre tudo que estou falando.
- Querido, tu faz ideia que já salvou pessoas de um surto ou momento depressivo por escrever tuas coisas logo depois de cagar?
- Não. Nunca pensei por esse lado.
- Para de fugir das tuas próprias coisas, meu bem. Bota toda essa merda para fora, se sinta bem e faça as pessoas se sentirem bem. Elas estão precisando.
- Mas eu não sou a melhor pessoa para fazer outras pessoas se sentirem bem. Nunca fui desses.
- Nesses momentos, meu bem, qualquer forma de arte salva as pessoas de suas próprias loucuras. E o que tu faz, querido, o que tu escreve, é lindo. Tu consegue deixar aquela sensação de que as pessoas não estão sozinhas mesmo elas estando na merda. Ou todos nós. Sai dessa tua caixa de tristeza e depressão solitária e mostra isso para o mundo antes que tudo acabe.
- Estas certa. Vou cagar!

Não seria egoísmo meu pensar em amor nesses tempos.
Muito menos loucura.
Ou até mesmo insanidade.
Eu já perdi todas as minhas esperanças em romances perfeitos e ainda assim espero por ele.
Não pelo fato de querer viver um sonho, mas sim pelo fato de perceber que a pureza de coisas boas é o que nos salvam em momentos trancafiados como esses.
A gente espera uma mensagem quando estamos tristes.
A gente espera uma lembrança quando estamos nos sentindo sozinhos.
A gente espera um ato de bondade quando estamos para baixo.
A gente espera um abraço a distância quando sentimos falta de nós mesmos.
A gente espera que sintam nossa falta quando estamos pensando na morte.
E tudo bem se apaixonar mesmo no meio de tanta loucura.
Tudo bem sorrir quando a gente deveria chorar.
E eu perdi o meu dom de escrever cartas românticas. Tudo bem por isso também.
Não pelo fato de que não sei mais como se faz para amar, sim por eu não sentir mais vontade de escrever todas aquelas cartas clichês na esperança de que vão me tirar do fundo do abismo em que eu mesmo me coloquei. Minha visão míope já me permite sair de um labirinto que eu fiz questão de entrar. E tudo bem se a gente não sair dele hoje.
Meu coração já tem um lugar encaminhado e, por mais que eu não saiba o caminho, me sinto bem com isso. Deixa o futuro me mostrar todas essas coisas clichês. Deixa o universo conspirar a favor de todos os meus amores e romances. Deixa a própria vida me mostrar tudo que eu deveria ou não viver. Eu já não tenho tanta vontade assim de usar todas as minhas cartas para encontrar os meus romances ou me encontrar. Eu uso meus momentos de loucura, solidão, tristeza, depressão e recaídas para escrever palavras para pessoas que se sintam no mesmo nível de perdição que eu. E se eu for capaz de ouvir delas que elas se sentiram bem com tudo que eu escrevi logo depois de cagar toda besteira comestível e cerveja empapuçada, eu me sinto muito bem de ter feito algo por elas. O meu coração já sabe o caminho para voltar para casa, mas esse gosta desse labirinto de não saber como amar. E eu já não me importo com isso também.
As mãos suadas ao receber uma mensagem.
O coração acelerado ao ser lembrado.
O peito ofegante por um convite feito as pressas.
O sorriso sincero ao lembrar que tudo pode dar certo.
Ou o frio na barriga em pensar que tudo pode dar errado.
Tudo isso faz sentido. De alguma forma, eu sei que faz sentido. E a gente sabe que faz.
Não existe nada melhor do que receber algo como "Vamos tomar uma cerveja juntos quando tudo melhorar? Quero te ver!" não te deixa outra escolha que não seja acreditar que tudo pode, finalmente, dar certo. E tudo bem se não der também.
Só deixa o universo me mostrar que minha vida amorosa é muito mais do que minhas cartas românticas que nunca serão entregues a ninguém por nunca ter um endereço certo para manda-las.

E tudo bem se eu sorrio ao lembrar do teu sorriso. Meu maior defeito não é esse.

Viu como eu ainda sei amar?
Começou a ficar meloso, não acha?
Vamos parar por aqui.
Espero que tenha entendido o espírito da coisa.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Tem alguém que sente tua falta por aí... (essa ainda não é uma história romântica)

Je ne l'ai jamais vu bourré » : un entretien avec l'éditeur de ...


- Meu bem, você dormiu para esquecer teu amor?
- Não, querida, dormi porque não consigo escrever quando ainda está claro.
- Como assim, meu bem?
- Alguma coisa sobre a lua em cima da minha cabeça, as coisas funcionam melhores. Alguma porcaria dessas.
- Meu bem. Meu bem. Não há mal nenhum em se apaixonar, meu bem.
- Tu romantiza muito as tuas coisas, meu bem.
- E tu problematiza muito todas as tuas coisas, querido.
- Preciso de uma cerveja.
- Venha, vamos buscar e conversar sobre todas essas coisas. Temos tempo.

meu amor,
coração está pequeno como o de uma flor
mas só no tamanho
porque eu sinto ele imenso de sentimentos que mal consigo escrever
e eu queria te contar sobre todos os meus clichês
clichês de coração pequeno
que se encontra grande
no corpo de gente grande
e talvez, tu não me entendas
e talvez esta carta mal tenha pontos certos nos lugares exatos
mas sei que algum clichê vai entrar no teu coração
e irás pensar na falta
falta de ti
falta de mim
falta de nós
falta deles
falta de abraços
falta de beijos
falta de sexo
e de desejos
falta de carinhos
falta de sorrisos
falta até dos choros
falta.
E eu quero que saiba sobre a falta que me faz.

Meu amor,
eu tentei fugir de todos os clichês enquanto tenho estado nessa ressaca passageira do mundo.
Mas não fui capaz de fugir de todos eles.
Eu disse para mim mesmo que não sentiria tua falta, e talvez tu pense que eu sinta tua falta.
E eu não sinto.
Eu disse para mim mesmo que não beberia tanto, mas perdi a conta de quantas garrafas de cerveja eu esvaziei quando comecei a me dar conta da tua falta.
Eu chorei na sacada da minha casa olhando o nascer do sol.
Eu abracei o meu cachorro e disse que jamais iríamos ficar longe um do outro.
Eu fechei os olhos e ergui a cabeça para o céu pensando que tudo não passa de um engano.
Que amanhã tudo estará bem.
E eu disse para mim mesmo que não iria escrever estando nesse repouso mundial, mas dei por mim e percebi que escrevi trinta e sete cartas em apenas duas semanas. E isso é demais até para mim.
Eu tirei fotos de flores.
Eu limpei meu quarto.
Eu baguncei o meu quarto.
Eu joguei fora as garrafas vazias.
Eu bebi mais.
E deixei todas as garrafas vazias novas nos mesmos lugares que as antigas.
Eu assisti filmes de terror. E me assustei.
Outros achei uma bosta.
Eu assisti filmes românticos. E me apaixonei.
Também chorei. Mesmo sendo clichê demais.
Outros eu achei uma porcaria.
Eu respirei fundo quando o meu peito tava pequenininho e apertado.
Eu chorei no banho para aliviar o aperto aqui dentro.
E eu fui dormir de tanto chorar.
Acordei com os olhos inchados e sorri com o pensamento de "Foi apenas mais uma crise boba".
Voltei para a sacada e me emocionei com o canto dos pássaros.
Lembrei de todas as pessoas perdidas e doentes pelo mundo.
Deixei a emoção tomar conta de mim e derramei algumas lágrimas.
E pensei em beber mais algumas cervejas, mas eu tinha acabado de acordar, então esquentei a água para mais um chá.
Empapucei o estômago com todas aquelas besteiras comestíveis.
Aplaudi o pôr do sol. Meu Deus, isso é MUITO clichê.
Mas nada tão clichê quanto sentir o coração apertadinho ao lembrar de um nome.
Nada tão bobo quanto o coração sufocado ao pensar em um sorriso. E essa carência repentina me incomoda porque eu nunca sei quando ela irá passar.
Não são os clichês que são os grandes problemas da humanidade. A gente comete todos eles, mas a gente se sente bem. Os clichês nos fazem bem e a gente precisa deles para se sentir vivos. O grande problema em todos nós é entrar num jogo romântico sem ao menos ter a intenção de amar. E eu já não tenho mais idade para isso.
Sou esse jovem idoso que não ama, não por medo de me apaixonar, e sim por não ter a mentalidade e moral de entrar em jogos que não foram feitos para mim. Acredito que romances não sejam isso. Acredito que o amor não seja brincadeiras tristes ou saudáveis para ver quem ama mais. Isso não existe. Isso não é amor. Isso não é romance. É apenas um jogo de egos no qual não quero e não gostaria de participar.
Mas, veja bem, meu bem, existe alguém lá fora que sente a tua falta.

- Romantizar tudo é um grande problema, querida.
- Problematizar tudo é um grande romance, meu bem.
- Romances são sempre um problema.
- Porque você insiste em dizer isso, meu bem?
- A gente não vai chegar num consenso nunca, não é mesmo?

meu amor,
Acordei tão mal que se eu pudesse sair para o mundo, não saberia para onde ir.
E eu gostaria de te dizer que vai ficar tudo bem.
Gostaria de te pedir para esperar um pouquinho as portas do mundo se abrirem.
Gostaria de te escrever poemas como os quais Cazuza escrevia.
Mas não sei se te amo tanto assim a ponto de te escrever histórias incríveis.
Eu perdi o meu amor por um canto qualquer no mundo e não vejo mais sentido em fazê-lo entrar por minha porta.
E eu cheguei tão perto, mas tão perto de deixar esse mesmo amor entrar em minha casa, que um sorriso se pôs em meu rosto quando resolvi te conhecer melhor.
A gente não ama as pessoas, meu bem. A gente ama a forma com que elas fazem a gente se sentir. E percebas que aquela frase que diz que o "Amor não é egoísta" é a forma mais branda de ver a necessidade da burrice humana caindo sobre todos nós. E eu não me importo em amar. Veja, bem, meu bem, eu não odeio o amor, eu apenas odeio a forma com que as pessoas dizem nos amar, sendo que no coração delas o amor é só uma brincadeira para os teus egos serem inflados em cima de uma pessoa que elas mal conhecem. E isso me frustra. O amor perfeito que o Cazuza lapidava em tuas letras não existe. Amar as pessoas como se não existisse o amanhã como Renato Russo dizia está fora de cogitação. Mas porque a gente insiste em se apaixonar por pessoas com mais problemas que os nossos? Porque a gente está tão perdido quanto todas essas pessoas. E, veja bem, meu bem, quando a gente se apaixona, quando a gente pensa que está amando, não é pelo fato da pessoa ser aquele alguém em nossas vidas, é pela forma com que ela faz a gente se sentir até que a gente perceba que não precisa mais dela.
E eu disse que não te ligaria. E te liguei.
Eu disse que não te escreveria. E te escrevi.
Eu disse que em ti não pensaria. E penso a todo instante.
E eu disse que não esperaria algo de ti na madrugada. E eu sempre espero.
Não espere algo de alguém que está bem sem você. Jamais esqueça que as pessoas só te procuram pelo fato delas se sentirem bem e não para te fazerem bem.
É triste ler palavras como essas, não é mesmo?
Neste exato momento tu pensaste em alguém que faz você se sentir exatamente assim. E eu sei o quanto dói ter o coração dilacerado pelo nosso próprio amor. Mas não existe problema nisso, fomos feitos para viver esse tipo de coisas. E não há problema em se apaixonar. Não existe problema nenhum em se entregar para outro alguém. Não tem problema tu escrever, tu ligar, tu ir atrás. Não, não há. Liga. Busca. Fala. Sente. Ouve. Chora. Implora. Entrega o teu melhor. E quando eu digo "O teu melhor", eu falo O TEU MELHOR, não os teus clichês. Não o que tu acha que deveria guardar. Não guarde nada. Entrega. Seja sincero. Abrace. E ame tudo aquilo que estas abraçando. No fim, sempre existirá um fim, tu fez tudo que deveria fazer exatamente onde e com quem tu deveria fazer. E não há mal nenhum em se entregar.
O mal de nossos corações está onde a gente deixa o orgulho falar mais alto sem ao menos vivenciar um momento que poderá ser único.
Ligue.
Fale.
Abrace.
Escute.
Escreva.
E ame.
E se deres errado, tu verás que fez tudo que tinha para fazer. E não há mal nenhum em errar quando achamos que estamos fazendo tudo certo. Nosso erro é não tentar. Nosso erro é se apaixonar e se calar. Nosso erro é não acreditar que aquela, exatamente aquela, pode ser a pessoa que sentirá tua falta quando não puderes mais olhar para ela e abraça-la por tempo indeterminado ou para sempre.
O que tu cativas dentro das pessoas que tu ama é o que deixarás na terra.
Veja bem, meu bem, lembrou de alguém que sentes tua falta?

- Tu tens ficado cada dia mais quieto nesses dias loucos, querido.
- Estou pensante. Nada mais que isso.
- Tens sentido falta de alguém, meu bem?
- Não sei se é falta, querida, mas todos os dias o coração aperta tanto.
- Tens sentido ele pequenininho?
- Tanto.

E o que a gente faz quando o coração aperta?
E o que a gente faz quando murros de desespero na parede não te aliviam a alma?
E o que a gente faz quando beber já não traz a solução?
E o que a gente faz quando o choro é mais apertado que o peito?
E o que a gente faz quando o grito já não sai de dentro?
E o que a gente faz quando o silêncio dói os ouvidos?
E o que a gente faz quando as palavras já não fazem sentido?
E o que a gente faz quando a solidão já não te traz paz?
E o que a gente faz quando o sono implica em sonhos dos quais não queríamos sonhar?
E o que a gente faz quando as mãos tremem tanto que mal consegues sair do lugar?
E o que a gente faz quando os olhos ecoam tudo aquilo que queríamos esquecer?
E o que a gente faz quando nos sentimos o tempo todo sozinhos?
E o que a gente faz quando a gente não lembra de quem pode sentir tua falta?
Eu já não sei.
Por isso te peço, leia esta carta, mas não siga os passos meus.
Leia estas palavras, entenda-as, sinta-as, mas não siga tudo que eu quis te dizer.
Verás que estou tão perdido quanto você.
E verás que o amor é o único caminho que poderemos seguir para que alguma salvação ainda exista.
Eu apenas, das trinta e sete cartas que escrevi, escolhi essa para dizer que não me sinto bem ao lembrar que não lembro de ninguém ao ver filmes românticos passando na TV. Eu sei a falta que faz todos aqueles sentimentos, mas eu sei que aquele alguém perfeito que todos lapidam está longe demais de chegar ao meu coração que já não sabe mais o que quer, como quer e quem quer.
Eu lapidei o amor do meu jeito e vejo que esse molde está longe demais de ser quebrado por alguém que sabe o que quer tão bem quanto eu. E eu acreditei que sabia amar, quando na verdade, eu não sabia absolutamente nada do que estava fazendo.
E eu acreditei que amava quando pegava o telefone na madrugada e digitava um número para dizer que sentia tua falta.
Passaram-se anos desde a última vez que fiz isso. E não me importo em sentir essa falta. Eu me importo de sentir falta de como eu me sentia naquela época em que eu acreditava que o amor verdadeiro tinha sido escrito para mim.
Soa egoísta?
Com certeza, mas sabe porque, meu bem?
O amor é egoísta e todos sabemos disso. A gente só finge não saber porque sabemos que, além de egoísta, o amor é o sentimento mais lindo que existe na face da terra.
Deixa eu escrever isso mais uma vez, a gente sente falta de como a pessoa fazia a gente se sentir antes mesmo dela ir embora. Se tu parar para pensar e chegar a conclusão de que sente falta de como a pessoa fazia VOCÊ se sentir, tu não amava ela de verdade, você se amava porque ela fazia tu se sentir bem.
Agora, veja bem, meu bem, se tu sente falta da pessoa por completo mesmo quando tu se sentia mal por ela estar mal pelas milhares de situações que o mundo nos coloca a prova, tu amava de verdade e ela deveria saber disso da tua boca. Mesmo que sejas tarde demais.
O amor é simples.
A gente que complica tudo.
A gente que exagera em tudo.
A humanidade foi feita para cometer exageros em cima de exageros.
O amor é facilmente explicado por todos os estudiosos e especialistas, a mente e o cérebro do ser humano não.
O amor é muito mais do que apenas se sentir bem. É ouvir. É escutar. É cuidar. É estar. É ter. É ver. E enxergar. E saber que, apesar de todas as dificuldades, tu estará lá sem titubear. Não existe luta. Não existe esforço. Não existe complexidade. No amor é tudo muito fácil. É tudo muito compreensível. E, veja bem, meu bem, a convivência que é complicada, porque somos seres humanos com hábitos e gostos e atitudes diferentes, isso já não tem nada a ver com o amor. O amor entra quando tu percebe que mesmo diante de todo inferno, existe algo lindo do teu lado. Tal qual uma flor no meio de um lixão.

E entenda, se tu conseguiste entender todas as minhas palavras até aqui, não leve todas elas para o coração como um cristão leva a bíblia a sério e a risca. Quando eu falo de amor, eu sou tão perdido quanto você por ter escolhido o caminho errado entre todos os romances várias e várias vezes seguidas. E eu não quero que essa carta soe como autoajuda porque eu, mais uma vez, ODEIO toda essa porcaria de autoajuda. É um porre e todos sabemos disso.
Mas eu quero te fazer enxergar que em algum canto lá fora, existe alguém que realmente sente tua falta. E, as vezes, tu nem sabes disso.
E eu te falo isso por carregar alguém em meu peito todos os dias que mal sabe que eu sinto essa falta constante aqui dentro, mas a gente já não se importa em saber. A gente!
Eu carrego comigo uma falta que aperta, que mata, que cega, que cala e que mata novamente. E eu gostaria muito de ter a coragem de discar o número do telefone para dizer tudo isso para ela, mas a gente nunca tem essa coragem.
Qual é a tua falta em meio a tanta loucura?
E veja bem, meu bem, nesse exato momento tem alguém sentindo a tua falta e tu nem sabes disso.
Isso tudo é muito louco, não é?!

- Tu já escreveu alguma coisa que odiou, querido?
- Eu odeio tudo que escrevo, querida - abri outra cerveja.
- Porque tu deixa essa ferida aberta em ti, meu bem?
- Não tenho escolha. Essa dor nunca vai embora.
- Se tu odeias tanto tuas coisas que escreves, porque continua escrevendo?
- Por necessidade, querida. Apenas isso.
- E qual é essa tua necessidade?
- Eu me salvo toda vez que escrevo uma carta, meu bem. Acredito que se não fosse esse meu dom de transformar em cartas todas as minhas tristezas, eu já estaria morto.
- E as pessoas que insistem em ler tuas coisas, querido?
- Meia dúzia de gatos pingados que me salvam novamente depois de escrever estas cartas.
- O que queres dizer com isso, meu bem?
- São as pessoas caretas, os covardes, os que não sabem amar, os loucos, os poetas mudos, os artistas cegos, os alcoólatras, os fumantes, os desgraçados, os que sofrem. São as pessoas que pedem piedade por eles e por mim. Os que me entendem. Os que eu salvo, muitas vezes, com apenas uma linha de minhas cartas que fazem eles enxergarem uma luz no fim do túnel. São os homens que choram. As mulheres que amam. Os gays. As lésbicas. Os fortes de pele escura. São os fracos. Os carentes. Os drogados. As prostitutas. São os perdidos. Os que amam sexo. Os que odeiam uma transa sem sentido. São os miseráveis. Pessoas pequenas de almas grandes. São pessoas inseguras. Os que não acreditam em nada. São os derrotados. São os que esperam o amor cair do céu. São os insetos que vagam com pernas pelo mundo e acreditam em qualquer bela poesia por ai. Eu me encaixo dentro de todas essas pessoas. São as pessoas do mundo em que me enxergo. Caretice é não saber amar, meu amor. Covardia é não querer amar, meu bem. Mesquinho é aquele que lê uma poesia e não se sensibiliza. E eu quero estar sempre no meio dessa meia dúzia de gatos pingados que me salvam sempre que falam "Tu é foda e me salvou com mais uma carta". E eu tenho o dom de transformar esse meu tédio em arte, por mais que não entendam. E eu não dou a mínima quando falam que nunca serei famoso escrevendo essas porcarias.
- Quer outra cerveja, meu bem?
- Por favor, querida.
- Não queres ser grande como escritor, meu bem?
- Quero salvar as pessoas, querida, sendo elas apenas 10 ou 10 milhões. Quero ser oito ou oitenta quando acordar, escrever e mesmo assim elas entenderem tudo que insisto em escrever. E ainda sim, sentirem minha falta quando eu partir. Quero fazer falta, querida. Ter sucesso não me importa, ser importante que é necessário.
- Sentes falta de alguém?
- Nesse momento?
- Sim, querido.
- Da cerveja, meu bem. Da cerveja.


quinta-feira, 9 de abril de 2020

Em um momento que pensei no teu corpo... (Isso não é uma carta romântica!)

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E me dê um tiro se isto se transformar em algo romântico.
Pensemos assim. Tente entender.
E ver. E pensar.
Quem sabe, em um momento em que me perdi, posso te salvar.
Há dez anos atrás, quem era você?
O que era você?
O que era nós?
Tu. Eles. O mundo. O que era toda essa porcaria que chamamos de mundo?
E eu posso te dizer e botar a pensar que há dez anos atrás tu estavas sozinho, rodeado de gente, sonhando as coisas mais loucas e absurdas do mundo.
Em terminar o colégio. Em qual faculdade entrar. Em que curso fazer.
Será que aquela garota do segundo ano gosta de mim?
Será que aquele garoto popular já me notou em algum sentido?
Qual será o emprego dos meus sonhos?
Deveria começar a beber?
Deveria começar a fumar?
Deveria me importar com o que os outros pensam?
Perguntas e perguntas e perguntas. E nunca obtivemos respostas.
E não pense que isso aqui seja uma carta de autoajuda. Eu odeio toda essa porcaria.
Só quero te fazer pensar para refletir depois em onde quero chegar.
E, talvez, tu não entendas onde quero chegar, mas espero que, em meio a toda essa loucura, meus pensamentos te façam se distrair um pouco de tuas loucuras.
Porque eu tenho esse talento de escrever todas as coisas que sinto e penso e vejo e ouço, mas te darei sinais de que nada é pensado ou planejado. Eu apenas sento de frente com a tela branca e escrevo e escrevo e escrevo. Deixo os meus dedos falarem por mim todas as coisas que eu gostaria de expressar com palavras e atitudes.
Mas existem sensações que a gente não pode expressar todo tempo.
Existem pensamentos que a gente não pode cuspir em qualquer boeiro.
E existem cervejas que descem tão amargas que a gente não pode indicar para qualquer pessoa.
Mas existem ideias, e essas ideias são todas bem vindas, independente de surtos.
E eu surtei neste momento.
E eu surtei ontem a noite.
E eu surtei madrugada passada.
E a retrasada.
E eu esqueci quantas noites mais eu surtei por estar preso dentro de mim mesmo.
Esquece o surto. Esquece a crise. Esquece os problemas. Esquece a loucura. Esquece as bagunças. Esquece a tristeza. A solidão. A ansiedade. Ah sim, esquece a ansiedade.
Faz a tua mente entrar no que eu quero te falar. Faz o teu corpo sentir todas as coisas que eu senti escrevendo esta carta.
E eu espero que não se sintas mal. Não no meio desse fim de mundo em que vivemos.
Eu quero fazer você se sentir bem, por mais que eu não me sinta bem.
E eu quero colocar um sorriso no teu rosto, por mais que todas as minhas palavras sejam lágrimas escorridas pelo meu rosto.
E eu quero te abraçar, por mais que eu me sinta sozinho.
Eu quero fazer você sentir algo bom ao ler minhas palavras.
Eu quero fazer você sentir algo puro ao ler tudo isso aqui.
Então, apenas pensa. Abre a mente e reflita. Quem era você há dez anos atrás? Quem era o teu eu há dez anos atrás? Onde estão todas as coisas que você planejou e pensou e sentiu e viveu e surtou e amou e odiou? Onde estão todas essas coisas? Onde está você? Está ai dentro de ti ou te deixaste lá atrás onde tudo era perfeito?
Não quero fazer você se perder.
Não quero fazer você chorar.
Não quero fazer você se frustar com os pensamentos de que a maioria dos planos que fizeste lá atrás, tu não conquistou metade deles.
E eu sei que não conquistou.
A gente nunca conquista, mas não porque não somos capazes, e sim porque a gente larga todos aqueles planos e pensamentos pelo fato de que a gente não se interessa mais.
A gente sorri quando pensa em todas as loucuras de adolescente que fizemos.
E a gente brinca.
A gente gargalha.
A gente faz piadas internas de algo que sentíamos e vivíamos. E tudo bem a gente se sentir assim, é normal a gente se sentir assim. Nossos gostos mudam. Nossas vidas mudam. Nossas opiniões e planos mudam. As coisas que a gente amava fazer são todas as coisas que hoje a gente odeia. E tudo bem você se sentir assim. Somos uma mudança constante nesse mundo inconstante.
E tudo bem a gente se sentir assim. Não tem problema.
Não realizar nossos planos de anos e anos atrás não é uma derrota, são só mudanças. E a gente se frustra mais quando percebemos que não mudamos.
Quem era tu há dez anos atrás?
E o que você fez?

- Senti saudade das tuas cartas, meu bem.
- Cadê aquela pessoa que odiava meus textos, querida?
- Ela mudou.
- Isso quer dizer que agora ama minhas palavras melancólicas escritas para ninguém?
- Não. Isso quer dizer que amo a pessoa em que você se tornou.
- Eu era tão mal assim, baby?
- Mal não. Tu nunca fostes mal. Apenas enxergava o mundo com raiva.
- Mas eu ainda enxergo o mundo dessa forma.
- Mas tu agora acredita na mudança e não se importa que te chamem de louco por isso. Tu acreditas que as coisas podem ser melhores e eu acho lindo isso em ti.
- Ah querida, desce uma cerveja, por favor?!

Meu quarto está mais bagunçado que a minha barba, meu bem.
Sigo usando as mesmas camisetas velhas.
Ouvindo músicas antigas.
Bebendo todas as minhas cervejas em apenas um dia.
Vejo e revejo fotos e cartas antigas e sempre sinto vontade de rasga-las.
Meu coração está perdido.
Minha mente está aflita.
Me tornei sedentário por causa do isolamento social.
E minhas tristezas e frustrações e preocupações estão mais afloradas que as dos dias normais.
Isso me machuca o suficiente para escrever uma carta longa sobre algo que não irei me importar depois.
Minha cama está bagunçada.
O rádio está ligado com o volume baixo.
Meu cachorro está deitado num canto solitário.
O ventilador de teto segue fazendo o mesmo barulho repetitivo que ele fazia quando eu amava outro alguém.
Amor?
Caralho.
Amor?!
Que porra é essa?
Como eu cheguei nessa palavra?
Deixa eu dar um gole na cerveja para lembrar que eu não devo mais escrever sobre amor.

Gole ingerido com sucesso!

Onde foi que a gente se perdeu?
A sacada da minha casa é larga e extensa o suficiente para que eu caminhe e pense em toda essa loucura que está sendo vivida lá fora.
Loucura. Sofrimento. Isolamento. Quarentena. Hospitais lotados. Macas lotadas. IML abarrotado. Tristeza. Esquinas vazias. Tão vazias que até as putas estão com medo de fazerem seus trabalhos. Escritórios fechados. Bares fechados. Bancos fechados. Puteiros fechados. E a loucura nos consome. E o medo de não saber o que o amanhã estará aprontando para nós está no ar. E o egoísmo venceu. E a falta de dinheiro venceu. E o medo de não ter dinheiro para pagar as contas vencidas já assolou a população por completo. E as pessoas estão morrendo. Adoecendo. Sofrendo. E morrendo. E a gente investiga as redes sociais e nos enchemos de informações, muitas delas mentirosas e falsas, que fazem a gente se frustrar muito mais do que deveríamos. Nunca imaginamos estar passando pelo que estamos passando. Nunca imaginamos estar pensando e sofrendo em todas essas coisas trancafiados dentro de nossas próprias casas sem saber qual é o futuro esperado para todos nós. E eu te peço e te imploro e exalto para que mantenha a mente sã. Não surte. Não enlouqueça. Não se desespere. Tudo irá dar certo. A gente vai sair dessa. Eu sei que o medo invade nossas mentes e corações porque o mundo está perigoso demais, mas o mundo sempre foi esse vulcão em erupção e a gente sempre consegue sair dessa.
Não faça besteira.
Não saia de casa.
Não dê bobeira.
A gente vai sair dessa. Eu sei que vamos.
Eu já não me desespero. Entristeço, mas não me desespero. Mantenho a calma. Respiro. Ouço os pássaros. Vejo a vida passar pela sacada. Sinto o vento. Vejo o céu. Sinto o meu corpo. Me enxergo. Me abstraio. E respiro o mundo que nos tem dado. E eu sei que a gente vai sair dessa. E eu sei que um dia contarei essa história dessa loucura para os meus netos e lembrarei do eu de dez, vinte, trinta anos atrás. Saberei de todas as batalhas que enfrentei e, ainda sim, sorrirei e direi para todos eles que estou aqui vivo e forte e são.
A gente precisa passar por dificuldades para saber quem somos, o que fomos, o que seremos e o que a gente fez para sair de toda essa loucura.

Diálogo:

1. - Eu gostaria tanto de te ver.
2. - Eu sinto falta do teu abraço.

O mundo se acabando lá fora e estou com a mente sã.
Eu não surtei.
Eu não enlouqueci.
Eu não gritei.
Eu não chorei.
Eu não me desesperei.
Nem pedi arrego.
Muito mesmo pensei em desistir. Não ainda.
Mas, no meio disso tudo, eu lembrei que o amor ainda existe. E eu lembrei do teu sorriso. Lembrei do teu jeito. Pensei no teu corpo. Senti o teu cheiro. Ouvi tua voz me dizendo para ter calma. Me dizendo que tudo vai ficar bem. Olhei para os lados e não vi nada. Olhei para o meu cachorro e ele ainda estava no mesmo lugar. Olhei as garrafas vazias de cervejas pelos cantos do quarto. Tudo tão igual. Dei mais um gole em minha cerveja e lembrei que quem ama não se importa com esse gosto nos lábios de outro alguém. Comecei a me perder. Me perguntar o que estava acontecendo. Senti meu corpo tremer. Senti meu coração pulsar. Minhas mãos adormeceram. Meus olhos lacrimejaram. E eu lembrei que ainda sei amar.
OH DROGA, EU SURTEI, PORRA!
Imaginei nós dois na minha cama deitados pensando em como o mundo é louco.
E eu te ofereci uma cerveja.
Você aceitou e sorriu.
Eu desci para pegar. A mais gelada. A mais gostosa, assim como você.
E tu me disseste que colocaria uma música mais tranquila. Balancei a cabeça concordando.
Voltei. Te dei a cerveja e deitei ao teu lado.
Tu me perguntaste se eu não iria beber.
Eu apenas disse que queria me manter sóbrio pra lembrar sempre do teu rosto.
Você sorriu.
E me beijou.
E eu te coloquei por cima de mim para a gente se amar enquanto o mundo explodia lá fora.

E eu voltei a realidade, isso não é uma carta romântica.
Muito menos de autoajuda. Lembre-se.
Mas eu refleti que sou capaz de amar mesmo enquanto o mundo acaba.
Tu não és?
O que achas disso?

Coração e a mente humana é uma loucura, não é mesmo?
A gente surta por cada bobagem.
E mesmo assim, existem bobagens que são tão lindas de sentirem.
E existem tantas e tantas outras coisas que eu gostaria de escrever, mas ninguém mais se interessa.
Deixamos nossos interesses em algum canto de dez anos atrás quando o mundo não estava tão doente assim?

Diálogo:

1. - Voltaste a escrever, meu bem?
2. - Querida, enquanto publico esta carta, quero dizer que se eu fiz alguém sorrir, pelo menos uma vez, em alguma linha de toda essa porcaria, fiz algo por alguém nesse período de isolamento.
1. - E se fizeres alguém chorar, meu bem?
2. - É porque eu peguei no ponto certo, querida. Ainda sim, fiz algo por alguém nesse momento em que tudo está louco.

A pior doença não são as que estão lá fora. É quando a gente aprende a amar e, um dia, finge que esqueceu.