quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Breve carta da frustração

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- Querida, pegue o teu amor e vá embora da minha casa!
- Tu tens certeza disso, caralho?
- Teu amor me come pelo cu e me estraçalha pouco a pouco, porra.

Não me ouça.
Não se vá.
Não deixe que eu te deixe ir.
Não agora. Não assim.
E eu não quero que se vá.
Me entenda.
Me compreenda.
E me aceite.
Me respeite como te respeito.
E entenda que eu nunca quis deixar meu amor ir embora.
Quando eu te pedir para ir embora, não se vá, é quando eu mais preciso de ti.
Quando eu te disser que não me importo, não se culpe, é quando eu mais me importo.
Quando eu te implorar para não me amar, não deixe isso entrar em teus ouvidos, é quando eu mais preciso do teu amor.
Quando eu te demonstrar que não sinto tua falta, não vá para mais longe de mim, fique, me abrace, me entenda e silencie teu peito junto ao meu, porque é quando eu mais sinto tua falta.
Quando eu enlouquecer, não se assuste, é quando tu és a única terapia necessária para me tirar da insanidade.
Eu sou esse ser catatônico, querida. Acidente grave sem um resgate para a salvação.
Doença sem medicamento.
Tristeza sem a cura.
Estranhezas sem perdões.
Depressão sem esperanças.
E eu te peço, meu amor. Não se vá.
Mesmo quando o que eu mais quero é gritar e te pedir para ficar sozinho.
Sem ti. Sem mim. Sem ninguém.
E quando eu estiver bêbado o suficiente para te escrever, leia todas as minhas cartas, porque todas elas contém teu nome em todas as entrelinhas.
E quando eu estiver de ressaca e não for esperto o bastante para me lembrar de quaisquer palavras que escrevi sobre ti, me lembre de todas elas e me faça passar vergonha por lembrar que sou capaz de te amar como nunca amei ninguém.
Me perdoe, querida. Talvez eu não tenha mudado tanto assim. Ainda continuo deixando a barba bagunçada e meu quarto mais bagunçado ainda quando lembro que não te esqueci. E continuo bebendo todas as minhas cervejas na esperança de que algo sobre ti se apague de uma vez por todas dentro de mim. E eu continuo te escrevendo. Noite após noite. Dia após dia pensando em todos os teus sorrisos e refletindo sobre tudo que eu gostaria de te falar. E escrevo.
Escrevendo. Escrevendo. Escrevendo.
Sozinho. Solitário. Solidão.
E poemas são escritos por mim em todos os momentos que tento te esquecer.
Tens reparado em quantas e quantas cartas tenho feito nesses últimos tempos?
Não se vá, meu bem. Não se vá!
Tu sabes que sempre fui esse escritor bêbado e louco, estranhamente mal compreendido, mas que amas com o fundo da alma. Tu sabes, querida. Tu sabes bem.
E eu quis te escrever essas palavras sem nem pensar nas consequências de tais.
E espero que me entendas e enxergues que eu gostaria de te pedir para ficar quando mais sinto que o meu mundo irá cair.
AGORA!
E tu podes pensar que sou egoísta o suficiente para te escrever e te pedir para ficar apenas quando sinto necessidade ou precisão, eu não me importo.
Mas sei que tu sabes bem que és a única que me tira do fundo desse abismo em que me encontro desde que partiu de minha vida.
Não sou egoísta por sentir que tu és a única cura para todas as minhas doenças.
Me perdoe!

- MAS QUE CARALHO, VOCÊ ESTÁ BÊBADO DE NOVO!
- Me desculpa, meu bem. Preciso escrever!
- Para de escrever essas porcarias só quando está bêbado, porra.
- Tudo bem, querida. Não irá acontecer novamente.
- Você me disse essa mesma merda há dois dias atrás.
- Há dois dias atrás eu estava aflito.
- MAS E AGORA, CARALHO? ESTÁ O QUE?
- Deprimido.
- E bebes para se acalmar? Para esquecer? Para melhorar?
- Bebo porque esqueço todas as coisas que queria lembrar e quase sempre lembro de todas as coisas que eu queria esquecer.
- E adianta?
- Ter uma memória boa machuca demais, meu bem. E sempre que lembro de todos os momentos em que acreditei ser feliz, sinto um vazio profundo e entrego um sorriso de profundo vazio.
- Tu precisa escrever.
- Preciso. Só um pouco mais, meu bem.

Depressão.
E essa talvez seja minha pior confissão.
E o fim de um carta sem uma verdadeira razão.
Sempre te assemelhei com a minha depressão.
Vezes acolhedora. Outras assustadora.
Vezes companhia. Outras solidão.
Vezes ensinamentos. Outras falhas.
Vezes linda. Outras triste.
Te assemelho a minha depressão por saber que no fundo de todas os sentimentos vazios, tenho aqui tua presença que me faz acreditar que eu posso ser feliz de novo.
E eu te entrego esse vazio para que possa ser preenchido da forma que tu sempre preencheu.
E eu te assemelho a minha depressão, não por ser algo triste e doloroso, mas sim por me ensinar que no final do túnel existe algo belo e bonito para me tirar de algo que eu mesmo me coloquei.
E o amor é o clichê romântico que está em nós por livre e espontânea consequência.
Eu te dedico a minha depressão e todas as minhas cartas para que saibas que tu me salva de todas as crises sem nem mesmo imaginar.
Ainda lembro de ti e sorrio rios de lembranças boas.
E isso ninguém apaga.
Assim como todos os poemas que ousei escrever.
Ninguém nunca apagará o que já foi dito e escrito.
A flecha lançada ainda continua em nossos corações.
E nada mais poderá ser desfeito.
E nessa crise depressiva em que me encontro, te dedico todas as minhas palavras para que saibas que tens me salvado mais uma vez de te dizer um verdadeiro adeus.

- Porra. Caralho!!! Você escreveu mais uma carta triste pra caralho, hein?!
- Só para me lembrar que não estou bem.
- E escrevendo todas essas coisas tristes que ninguém dá a mínima, você se sente melhor?
- Não me importo com o que entendam ou deixam de entender, me importo com o que eu tirei de dentro de mim. Essa é a essência da porra toda.
- Essa é tua única salvação, escrever?
- Se eu não escrevo, enlouqueço. E todos pensam que meus textos são cartas de alguém apaixonado morrendo de amores. Eles estão sempre errados. A humanidade está sempre errada.
- Mas você só escreve sobre o amor, caralho.
- Leia bem, meu parceiro. Leia devagar. Atentamente. E entenda. Nem só de amor vive um bêbado poeta.

Existe aqui mais uma carta ruim pra caralho que eu não dou a mínima em ler cada palavra.
Entendeu alguma coisa?

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