terça-feira, 1 de dezembro de 2020

...daquelas poesias amarrotadas que todos pensam ser carta romântica


...e está bem longe de ser, meu bem.
Meu coração está sendo, diariamente, estrangulado pelo mundo.
Os nós na garganta estão insuportáveis de se conviver.
E o estômago está empapuçado de tanta besteira inútil que me faz sentir vontade te ligar.
Ouvir o toque do teu telefone.
Te esperar atender.
Ouvir tua voz cansada.
E pedir para dar meia volta e vir de encontro a mim.
Isso tu não faria.
E eu jamais te ligaria.
Não dessa forma.
Não desse jeito.
Não nesses dias.
Te escrevi uma poesia mesmo sem ter nada a dizer.
Te escrevi tanta coisa mesmo sem nem lembrar o som da tua voz.
E eu queria que tudo estivesse perfeitamente bem para eu poder pedir a tua ajuda em paz.
As folhas secaram.
As rosas murcharam.
O vento está cada vez mais quente.
As ruas cada vez mais silenciosas.
Meu quarto cada vez mais bagunçado.
O coração espedaçado.
O estômago dolorido.
A barba amarrotada de tanto tentar dormir. Virando de um lado para o outro.
Noites e mais noites.
Tentando dormir. Tentando não pensar. Tentando te chamar.
Tentando acreditar que um dia saberei viver só.
E eu não sei viver só.
Não aprendi.
Nem quero aprender.
Eu quero sair na sacada e te pedir para entrar em meu quarto.
Olhar e compreender minhas bagunças.
Se surpreender com minhas besteiras.
E entender que eu não sou capaz de continuar sem a força dos teus braços quentes em volta dos meus.
Eu gostaria dos teus lábios úmidos transparecendo palavras de que tudo irá ficar bem.
Uma hora tudo tem que ficar bem.
Quero o teu sossego.
Tua paz.
Teu carinho.
Teu encanto.
Teu charme.
Teu corpo.
Quero o teu suor entrelaçado ao meu.
Quero sentir o calor de amar novamente.
E esquecer as teorias e práticas de erros e enganos e defeitos e loucuras e surtos e doenças e mortes que assola o nosso mundo.
Até cansei só de lembrar e escrever essas maluquices.
Eu quero dormir ao teu lado e não ao lado de garrafas totalmente vazias de cervejas.
Quero tragar o sabor da tua boca e não de tragos que eu insisto em botar para dentro para tentar matar o amargo constante dentro de mim.
Eu preciso ouvir de você que tudo irá ficar bem.
Eu preciso ver o teu sorriso e acreditar que não preciso ter medo de sair lá fora.
Eu quero te encontrar para te dizer, em silêncio, que eu tenho muito para te falar.
E me deixa falar, por favor.
Me deixa soltar tudo que tenho em mente.
O que sinto.
O que faço.
O que vejo.
O que penso.
O que choro.
E o que me mata.
Deixa eu te falar todas as minhas doideiras enquanto tu acaba com o teu vinho preferido e sorri suas bobagens.
Eu preciso te dizer que preciso de ajuda.
E que estou perdido demais para me encontrar.
A salvação tem sido uma carta curta sem remetente nenhum.
Tomara que chegue até você.

- Eles romantizam tudo, querido.
- O que tu queres dizer, meu bem?
- O ser humano, querido, tu podes deixar bem claro que precisa de ajuda. Que estas se sentindo sozinho. Que não estas bem. E eles irão sempre acreditar que todas as tuas cartas são uma comédia romântica.
- A vida é uma comédia romântica. Cabe apenas a nós mesmos saber e entender o que vale a pena ou não dar risada.
- Eles romantizam tudo, querido. Os heróis. As tragédias. As doenças. As loucuras. As depressões. As ansiedades. As guerras. A política. A morte. E assim vai. Acho que a forma de romantização que o ser humano criou é o jeito mais clichê de se sentirem bem com eles mesmos. Não sei bem.
- Não sei bem, querida. Só sei que está tudo uma bagunça.
- Uma baita bagunça, meu bem. 

...e tudo irá ficar bem uma hora, meu bem. 

Eu abri as janelas e deixei o sol entrar.
Lavei o rosto.
Enxuguei as lágrimas.
Segurei o coração com a palma da minha mão.
Respirei fundo.
Penteei a barba.
Ajeitei o cabelo.
Coloquei a minha melhor roupa.
Arrumei minha cama.
Recolhi as garrafas vazias de cerveja. 
Joguei as bitucas no lixo.
Peguei todas as cartas ruins amassadas pelos cantos da casa.
Rasguei fotografias de momentos que eu quero esquecer.
Coloquei tudo dentro de um saco grande de lixo.
Amarrei o saco.
Fui até a porta de minha casa.
Abri a porta.
Fui até o lugar certo de deixar o lixo.
Olhei para os lados. Me vi sozinho.
Não enxerguei ninguém.
Não fui obrigado a sorrir ou cumprimentar ou dar bom dia para alguém.
Odeio ter que fazer as coisas por obrigação.
Não que eu seja mal educado.
Mas eu não estava me sentindo cem por cento bem para ter outro contato humano.
Olhei para o céu.
Tudo azul.
Pássaros.
Vida.
Vento.
Lembranças.
Eu lembrei do teu sorriso. Lembrei o motivo desta poesia.
Imaginei que tudo iria ficar bem, uma hora.
Pensei em te ligar.
Te pedir para entrar.
Te estender a mão e pedir para ficar.
E me ajudar a ajeitar essa bagunça que está em minha vida.
Ou, até mesmo, misturar tua bagunça com a minha para sairmos vencedores dessa.
De alguma forma.
E vivos.
Eu. Tu. E o mundo.

...E tudo irá ficar bem. Hora ou outra.

Deixa eu te perguntar uma coisa antes de ir embora:

Fez algum CARALHO de sentido essa maldita carta romântica sem romance ou sou apenas um ansioso acreditando que o amor irá bater em minha porta novamente?

Ah amor...eu nem estou mais me importando tanto assim com o amor. Nada disso faz sentido, não é mesmo?!

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Querida, cartas românticas são tão démodé. E eu odeio isso PRA CARALHO!

E ainda sim, te escrevi uma carta romântica. 
Sabendo de todo o clichê.
E não me importando com as mentiras verdadeiras que meu coração me conta.
Eu quero te pedir para entrar.
Te pedir para ficar.
E dizer para que não se vá.
Eu quero tuas mãos entrelaçadas as minhas.
Quero sentir a imensidão desse ato.
Pretendo sentir o teu carinho em minha barba.
E o teu cheiro em meus lençóis.
Quero dividir nossas cervejas.
Compartilhar nossos tragos.
E te entregar as melhores poesias.
Mesmo sabendo que nada disso é verdade.
Mesmo sabendo que um dia tu irá sair por aquela porta e fingir que não me conhece.
Não mais.
Em algum momento, tu olharás para trás e me dirá adeus.
Mas não quero pensar isso agora.
Mesmo sabendo que o fim sempre está mais próximo do que a gente pensa.
Quero ler todas as minhas poesias pertinho de tua orelha.
E te ouvir suspirar com tua voz cansada que eu sou a pessoa certa da tua vida.
Mesmo cheio de falhas.
Mesmo cheio de defeitos.
Mesmo cheio de problemas.
Quero esvaziar a minha mente ao teu lado.
Sorrir o teu choro.
Engolir teus dias ruins.
E abraçar teu corpo cansado e suado enquanto me fala das tuas decepções.
Quero escrever a tua mente com meu sorriso.
Quero entrelaçar nossos braços nos dias chuvosos.
E sentir a tua nuca arrepiada ao sentir meu beijo descendo por ela.
Quero sentir o prazer de tua alma enquanto goza comigo.
Quero te beijar e esquecer do mundo lá fora.
Esquecer dos meus problemas. Dos teus. Dos nossos.
Vamos gozar.
Entre.
Fica.
Eu abro a porta para que entre em minha vida.
E te peço para não ir embora.
Não enquanto o meu sorriso for o teu motivo.
Não se vá.
Não como todas as pessoas se vão.
E tudo se transforma em atos em vão.
Se for para tu ir, que seja para comprar mais cervejas, enquanto eu peço o jantar.
Pode ser o contrário também.
Me faça acreditar que o amor ainda existe.
Me deixa acreditar que eu posso sorrir quando eu já não me sinto capaz disso.
Não cobra nada de mim, a não ser carinho.
E que eu cobre de você apenas sorrisos.
Deixa eu te entregar uma poesia clichê como essa.
Deixa eu jogar palavras ao vento e vê-las voando para a imensidão de nosso mundo.
Eu quero que essa carta se perca no oceano e chegue até você.
De algum jeito.
De alguma forma.
Seja lá como for.
E eu quero saber que leu e sorriu.
Quero saber que pensou na gente.
E continuou sorrindo.
Quero pensar que o teu dia ruim se tornou em um dia maravilhoso depois de ler cada palavra.
Que teu choro engasgado pelos planos ruins do mundo se tornem sorrisos alegres depois de tanto clichê.
O romance pode até ser démodé. 
Mas o sentimento está ali fora.
E eu ainda sei sorrir.

- Meu bem. Meu bem. Você não para de beber, não é mesmo?
- Bêbado por causa da saudade.
- Ainda não superou essa merda de amor.
- Ainda não descobri outras formas de amar. Deve ser essa a minha saudade.
- Meu bem. Meu bem. Essa porcaria de amor é tão clichê. A gente sempre se apaixona por tolos e nos sentimos tolos e ficamos tolos. E bobos. E burros. E tudo termina sempre da mesma forma. Com choros. Tristezas. Angústias e uma faca e nossos próprios pescoços. Não deixa isso te devorar, querido.
- A cerveja amarga o amargo do amor. E eu já nem ligo mais. Isso me devorou já faz um tempo.
- Você ainda vai amar de novo. Se é que já não estas amando e nem sabe.
- Tu sempre está certa, querida. Tu sempre acerta.

A minha barba está sempre bagunçada.
A minha cama também.
Pelos cantos do quarto existem garrafas e latas de cerveja vazias.
E cartas e poemas nas lixeiras.
Várias delas.
Eu sorrio sozinho enquanto a água do chuveiro cai sob minha cara.
Eu falo comigo mesmo quando penso em te falar algo.
E penso muito alto quando quero te pedir para entrar em minha vida.
Eu estralo os dedos o tempo todo.
E sinto dores em todo o meu corpo.
Tenho pavor de telefones.
Escrevo poemas e poesias demais na esperança de que me salvem ou que me enxerguem ou que apenas tu me enxergue da forma que quero que me veja.
Até perco o meu pavor de telefones se for para ouvir tua voz do outro lado da linha me pedindo para te visitar.
Eu bebo demais.
Eu fumo vez ou outra.
E me sinto sozinho o tempo todo.
Tenho milhares de problemas.
Minha cabeça não é muito boa.
Meu coração é horrível e triste e solitário.
Tenho miopia das brabas.
Uso óculos e sempre as mesmas camisetas.
Te faço sorrir quando o que mais quero é chorar.
Te abraço quando sei que o teu dia está confuso.
E me isolo quando quero chorar e me sinto confuso.
Tomo antidepressivos.
Me sinto muito mal quando estou sozinho.
Ouço músicas o tempo todo.
Penso sempre no futuro.
E choro toda vez que lembro que me disseram que a gente ama apenas uma vez na vida.
Eu não sei amar, querida.
E escrevo muito, muito mesmo, até nada disso fazer sentido.
Até eu odiar todas as minhas palavras.
Chegar ao ponto de querer apagar todas elas.
E joga-las fora.
O que me faz lembrar que senti vontade de fazer isso agora.
Mas o estômago empapuçado de cerveja e besteiras comestíveis me fizeram um sinal para arrotar todas as minhas palavras na esperança contínua de que alguém se salve com alguma coisa escrita aqui.
Ou, que alguém me salve de todas as minhas loucuras.
Então, jogarei essas palavras clichês para toda a imensidão e para toda a eternidade.
E que todas essas pessoas acreditem que estou amando novamente.
De alguma forma.

- Meu bem. Meu bem. Como anda tua depressão e tua ansiedade?
- Dias difíceis, meu bem. Alguns dias fáceis. Andei fazendo terapia e me entupindo de remédios, acho que isso está funcionando.
- Tens se sentido sozinho, querido?
- Todos os dias, meu bem. Acho que estou me acostumando com isso.
- E o coração? Tens se sentido triste?
- Quando tento entrar no mundo e descobrir o que ele tem para me entregar, me sinto numa tristeza profunda.
- Mas, e o coração, meu bem?
- O mundo é foda, querida. Cada dia uma notícia pior que a outra. Cada notícia um fato que me afunda cada vez mais e me faz acreditar que eu faço parte dessas pessoas horríveis. 
- Te entendo. O mundo é deprimente. Mas, e o coração, meu bem?
- Eu sinto medo do mundo, querida. O tempo todo. Talvez, seja por isso que eu prefira me esconder em meu casulo por uns cinco, dez anos, e sair de lá quando eu acreditar que tudo está melhor.
- Mas, e o coração, querido?
- Mas o ser humano não deixaria eu me esconder por cinco, dez anos. Talvez, por cinco horas, no máximo. Ou, nem isso. Não sei bem o que pensar.
- Porque estas fugindo da minha pergunta, meu bem?
- Ah, claro, pois não?! Qual era mesmo a pergunta?
- Como anda o coração, meu bem?
- Démodé, querida. 
- O que quer dizer com isso, meu bem?
- Uma vez eu te falei que não sabia amar. Talvez, eu não saiba até hoje. Mas, andei reparando que as pessoas não sabem me amar. É muito difícil. E elas desistem. E eu já não fico tão para baixo com isso como ficava há uns meses atrás, acredito que eu prefira que as coisas sejam assim antes de todo fim prematuro que é destinado para nossos amores e romances. 
- O que tu sentes quando te falam sobre amor?
- Que é sempre um clichê romântico que todos sabem o final. Filmes previsíveis. Peça de teatro chata e monótona. A gente sempre sabe o fim disso.
- Tu falas como quem está mentindo, meu bem. E tu mentes tão mal. Estas amando alguém?
- Talvez eu esteja. Não sei mais.

...e não me importo.

Eu acho!
Romance é tão démodé, não é mesmo?
Acho que não estou mais preparado para isso.
E a gente segue mentindo que não sente nada.
Talvez, escrevi minha pior carta.
E não me importo com isso também.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

...das coisas que escrevo para que não se sintam como eu me sinto

Meu bem.
Meu bem!
Corre aqui.
Deixa eu te falar como me sinto.
Deixa eu te mostrar o que é isto.
E fazer você entender que nada do que escrevo é para mim.
Meu bem.
Meu bem!
Corre aqui.
Eu não vou mentir.
Eu já quis tanto deixar de existir.
E talvez, por isso, eu me sinta assim.
Dessa forma.
Que te escrevo.
Todas as noites.
E eu fechei os olhos, meu bem.
E enxerguei o abismo.
Mas encontrei os sorrisos.
Estampados em vários rostos.
E me senti confortável.
Em te dizer...

...que eu sorrio para você não chorar mais.
Que eu conto piadas para te ver menos exausta.
Que eu sofro quando não estas totalmente bem.
Que eu me sinto feio para que você se sinta confortável com a tua beleza.
Não por besteira, mas para eu ver tua autoestima lá em cima.
Como o teu sorriso.
E eu te digo, com todas as letras, que não gostaria de te ver decepcionada. 
Com nada.
Por isso te trago as minhas melhores cartas, porque, quando eu me sinto mal, sei que em outro canto do mundo tem alguém com a mesma sensação que a minha.
Ou até pior.
E eu escrevo por isso e para isto.
Para que estas palavras, de alguma forma, cheguem até alguém que esteja realmente precisando.
Não mais ou menos que eu, mas que eu consiga entregar alguma coisa que remete a esperança.
Eu amo as pessoas quando elas estão se odiando.
Eu estendo a mão quando elas não conseguem sair do chão.
E, por mais que eu nem tenha mais forças, eu mostro o caminho para elas.
E continuo sorrindo.
E continuo abraçando.
E continuo exaltando.
E implorando para que ninguém mais se sinta como eu me sinto.
Esta noite.
E outras noites mais.
Não sou melhor do que ninguém.
Nem quero.
Nunca pretendi ser algo mais do que costumo ser.
Se sentir superior não me é um fetiche.
Eu só quero continuar tendo forças para contar piadas e arrancar sorrisos quando as pessoas mais precisarem.
Eu só quero ter forças para continuar escrevendo quando as pessoas não sentirem mais esperanças.
Eu só quero ter forças para continuar entregando o meu melhor quando as pessoas se sentirem perdidas.
Tanto quanto eu me sinto.
Por mais que eu não sorria tanto quanto antes. Eu pretendo continuar fazendo isso.
Para que se lembrem de que fiz algo bom por elas.
Mesmo que elas não precisem.
Mesmo que elas não mereçam.
Mesmo que elas não me agradeçam.
Nem sequer se lembrem.
Só quero que elas não se sintam como eu me sinto.

Clichê bobo, você não acha?!

- Acho. Mas todo clichê, de alguma forma, faz sentido. Mas, o que essas pessoas fazem por você?

E eu não espero nada disso.
Só quero que elas sorriam.
E que não desistam.
Não desistam delas mesmos.
Não desistam do mundo.
Das flores.
Das rosas.
Dos poemas.
Dos abraços.
Dos amores.
Dos romances.
Até mesmo das sofrências.
Que elas não se esqueçam de sentir, por mais que seja um sentimento ruim. Ao final de tudo que é nebuloso, vem sempre o raio de sol mais incrível que a gente consegue enxergar.
Que elas não fechem os olhos e se imaginem de frente com o abismo que elas mesmo se colocaram.
E eu quero te dizer que quando sentires raiva, estarei calmo por ti.
E quando sentires ódio, estarei amando todas as coisas por ti.
E quando sentires mágoas, estarei esperançoso o suficiente para enxergar o lado positivo de todas as coisas.
Por mais que eu me sinta destruído todos os dias.
E sem esperança.
Eu quero que se sintas bem para dizer "Eu não vou desistir agora".
E eu quero que se lembre dos sorrisos que eu fiz tu dar mesmo quando as lágrimas passavam pelo teu rosto.
Apenas isso. E nada mais.

Essas são as coisas que eu escrevo quando não quero que se sintam como eu me sinto.
Hoje.
Agora.
Esta noite.
E, por mais que eu esteja me sentindo um dos piores poetas e tristes do mundo, sei que em algum canto eu fiz alguém sorrir lendo essas palavras.
Pode não ser o meu melhor texto.
Pode não ser minha melhor carta.
As palavras podem estar erradas e mal colocadas.
Posso não ser mais o poeta romântico que escrevia sobre suas paixões.
Mesmo que eu ame alguém de todo o fundo do meu coração.
Mas espero que alguma coisa desta prosa tu tenhas tirado.

Esse é o espírito da coisa.
É para isso que eu escrevo, muitas vezes.

Não se sinta mal.
Tudo vai passar.
E eu já me sinto um verdadeiro autor de livros de auto-ajuda.
DEUS. COMO EU ODEIO ESSA PORCARIA?!
Mas não se sinta mal.
Tudo irá ficar bem.
Não desista, ok, meu bem?! Não desista.
Uma hora tudo terá que ficar bem.

OK????
OK!

Não se esqueça jamais das coisas boas.
E isso serve para mim também.
Estou olhando para todos os cantos do meu quarto.
Roupa qualquer.
Bebida qualquer.
Cachorro deitado no canto da cama.
Garrafas de cervejas soltas pelo chão.
Cartas amassadas.
Janela entreaberta.
A barba uma bagunça.
O cabelo despenteado.
O desodorante e o perfume estão em dia.
Banho tomado.
E eu, ainda sim, me sinto um lixo.
Eu deveria parar por aqui. Lembrei dos meus amores.
Lembrei que, talvez, eu seja uma pessoa capaz de me apaixonar de novo.
E deve ter alguém no caminho certo para os meus braços.
Não faço questão de pensar nisso. Agora.
AGORA!
O momento serve apenas para lembrar que eu te escrevi alguma coisa, significantemente, boa.

Espero que se sintas bem.
Verdadeiramente bem.
E não bem, estando vazia, como eu me sinto.

É bem triste ser triste. E ninguém se importa.
Acho que seria mais triste se todos se importassem.
E chato.
Assim como eu.

CARALHO, devaneios de novo.
Desculpe, sou esse ser estranho. Muitas vezes, preciso apenas falar e falar e falar.
Mesmo que ninguém me ouça.
Ou me escute.
Ou, até mesmo, me entenda.
Eu apenas preciso botar para fora. De alguma forma.
E outras formas.
E outras formas mais.
Pensando. Pensante. Gênio burro pensante que chegou a conclusão de que ninguém sorri por mim da forma que sorrio para elas quando elas não se sentem bem com elas mesmas. E não porque eu quero vê-las para baixo e sim para que encontrem no meu sorriso alguma esperança de que as coisas irão melhorar.

Quando foi a última vez que enxerguei esse sorriso?

Não lembro bem.

Sai do assunto de novo e esqueci que todas as coisas por aqui são por vocês e para vocês.
Porque eu vivo me esquecendo de mim mesmo.
Normal, eu penso muito nos outros.
Sorria, ok?!
Não desista.
Sorria, mais uma vez.
OK????
OK!!!!

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Desculpe, meu bem, hoje senti saudade. E nem tem romantismo por aqui!

charles chaplin | Tumblr | Edna purviance, Chaplin, Charles spencer chaplin
Desculpe, meu bem...

Essa semana, te fiz chorar.
E não foi por mal.
Se tu soubesses o quanto choro em silêncio, nem se importaria com algumas lágrimas.
E tu disse que eu mudei demais.
E disseste que eu nem sou mais capaz.
Concordo com você.
Me perdi.
Me esqueci.
Me larguei.
Deixei de sonhar.
A ansiedade me come pelas beiradas.
E a depressão me come por inteiro.
Já nem ligo mais.
Escrevo algumas cartas.
Digito algumas poesias.
Finjo que tudo não passou de um sonho.
De mais um dia ruim.
E continuo acreditando que todas as coisas horríveis serão curadas amanhã de manhã.
Tudo não passa de um pesadelo.
Tento acreditar nisso todas as noites.
E que venha o amanhã.
Tudo estará em seu devido lugar.
Todas as roupas estarão dobradas e guardadas.
Todas as cartas em uma prateleira organizada.
A cama estará arrumada.
Os lençóis estarão limpos.
Minha barba menos bagunçada.
O cabelo penteado.
E sentirei vontade de tomar o melhor banho do mundo.
E ficar horas embaixo da água pensando o quão boa é a vida.
As prateleiras estarão todas limpas.
O guarda-roupa organizado.
As latas e garrafas de cerveja espalhadas pelo quarto estarão no lixo reciclável.
Meu cachorro estará tranquilo, sem aquele olhar de desespero para saber se estou bem.
As coisas estarão como eu sempre quis.
Limpas.
Claras.
Simples.
E cheias.
Cheias de vida. Cheias de tesão. Cheias de vontade.
Iluminadas pelo amanhecer de mais um dia que bate na nossa janela e nos lembre do quanto temos que viver.
Do tanto que nos falta para acreditar e vencer sempre.
E o amanhã nunca chega.
Ou melhor...
ele chega.
Sempre chega.
Mas não da forma que a gente espera e procura e quer.
A tristeza me puxa, mais uma vez, pelas beiradas.
E estou longe de uma manhã feliz.

Vem aqui para casa.
Puxa a minha mão.
Diz que tudo ficará bem.
Mas diz olhando nos meus olhos.
Não da forma clichê e sem preocupação que todos falam.
Me abraça logo em seguida.
Me beija no rosto.
Diz que me quer por perto.
Diz que não vai embora.
Tira essa angústia do meu peito.
Me traz para perto de ti.
E faça eu sonhar de novo com cenas incríveis.
Meu coração está acelerado.
Faz ele se sentir calmo novamente.
E puxa a minha mão.
Deixa eu te sentir.
Deixa eu sentir a pele com pele.
Acreditar que posso confiar em outro ser humano, mais uma vez.
Eu não quero me perder.
Me ajuda a se encontrar.
Seja a minha cura.
Seja a minha calma.
Seja a minha paz.
E deixa eu deitar a cabeça no teu peito para acreditar que o mundo não está tão ruim assim.
Deixa eu vivenciar esse pequeno momento ao teu lado.
Sem falar nada.
Apenas sorrindo.
Em silêncio.
Bem quieto.
Bem quietinho.
E deixa eu sentir o que é ser importante, outra vez mais.
Deixa eu sentir o tesão de viver.
Deixa eu sentir a alegria do sentir.
E a leveza do estar vivo.
E de bem comigo mesmo.

Eu sinto raiva o tempo todo. 
Eu sinto tristeza todo o tempo.
E angústia a todo momento.
A cabeça não funciona direito.
As ideias já não batem comigo mesmo como batiam antes.
Eu me perco dentro de mim.
Me perco nas palavras.
Me perco nos momentos.
Me perco nos sentidos.
Me perco no que estou fazendo.
O que eu estava fazendo?

O que eu estava falando?

Não lembro bem.
Outra ideia que saiu por ai.

Cazuza lia as poesias mais lindas.
Bukowski escrevia os poemas mais incríveis.
Chaplin citava a tristeza como algo lindo.
E eu procuro apenas minha paz através de todos eles.
E através de minhas poesias não encontro nada.
Não sei de nada.
Não vejo mais nada.
E é tudo tão chato.
E ruim.
E bobo.
E entediante.

Quando foi que a vida virou esse capítulo tão chato sem nada a dizer?!
Quando foi que eu senti vontade de te ligar para ouvir tua voz e ser capaz de seguir em frente?!

Eu gostaria muito de ouvir a tua voz, mas eu nem sei mais quem é você.
Não sei onde escondi o meu amor.
Não sei mais onde escondi meus sentimentos bons.
Devo ter perdido em algum canto do quarto.
Ou até mesmo naquela esquina que passei outro dia.
Eu queria tanto encontrar o meu amor.
Coço a cabeça e as entranhas e sinto falta dele.
Mas não tenho forças para procura-lo.
É muito difícil conviver com ele.

Mas eu gostaria de ouvir tua voz para saber que tudo está e ficará bem!

O amor é isso...
A gente olhar para o lado, ver a cama vazia e sentir falta de alguém ali.
A gente sentir falta de um abraço apertado.
A gente sentir falta dos gemidos fortes e altos na hora do sexo.
A gente sentir falta de estar carente e ter alguém para preenche-lo.
A gente sentir falta de fazer outra pessoa feliz.
E, por mais que todas as coisas estejam escuras, ficar preenchido com um sorriso claro no fim da rua.
Talvez, isso seja o amor.
Escrever as poesias mais escrotas e se sentir bem com todas elas.

Eu sei que ninguém irá gostar dessa carta.
Não estou bêbado o suficiente para escrever.
Mas teimei comigo mesmo.
E escrevi.
E senti falta de quando eu acreditava estar feliz.
Ninguém irá saber que estou numa crise de ansiedade absurda.
E pensando em todas as formas possíveis de ir embora sem sentir nada.
Irão apenas subentender que estou apaixonado por alguém.
E essa carta está muito longe de ser algo sobre isso.
Eu deveria estar apaixonado por mim mesmo antes de estar por alguém.
Como é que pode alguém estar apaixonado por si mesmo com pensamentos de acabar com a vida como os meus?!

Acredito que você entendeu o espírito de toda essa coisa.
Se não entendeu, leve isso apenas como mais uma carta ruim que você perdeu cinco minutos de vida lendo.

Obrigado por chegar até aqui!

AH, SOBRE O QUE ERA A MINHA SAUDADE?!
Desculpe, meu bem, esqueci.
A ansiedade tem dessas coisas.
Mil perdões!

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

...sobre todas as vezes que fracassamos

Luna Buschinelli - Sobre a Série Sentimentos - YouTube
Texto simples.
Carta curta.
Comum.
Muito simples.
E eu nem quero que tu sintas tudo que existe aqui.
Mas quero que entenda.
E saiba que a minha ansiedade está mentindo para mim.
E para você também.
Na verdade, gostaria que sentisse cada palavra que eu te escrever aqui.
Para entender o quão simples os momentos são.
E o quão normal é fracassar.
E decepcionar as pessoas.
E nos decepcionar.
Tudo bem a gente não se sentir bem.
Tudo certo se a gente perde uma luta.
A gente não pode ganhar todos os dias.
A vida ficaria chata demais se fosse sempre assim.
São nas derrotas que a gente descobre quem realmente somos.
E tudo isso parece uma autoajuda.
Sem que eu queria ser algo em comum com isso.
Estou longe de ser.
Estamos longe de ser.
Estou longe de existir.
E de ti, existir.
Estamos vivenciando nossos caminhos no modo automático sem saber onde esse trem irá descarrilhar. 
Tudo bem a gente se sentir dentro desse trem o tempo todo do tempo que a gente se permite sentir.
E a nossa ansiedade está mentindo para nós.
Tu não és uma pessoa ruim.
Tu não vais machucar ninguém.
Você não tem a capacidade de machucar uma mosca sequer.
Mas a ansiedade mostra para nós quem nunca quisemos ser.
E ela mente bastante.
Mente.
Repete.
Que mente.
Que repete.
O tempo todo.
Do tempo do todo de um tempo que a gente nem tem.
E martela. Que martela. Que martela.
Repete tanto que perde o sentido.
E nos faz perder o sentido.
E acreditar que a vida não tem sentido.
O nosso cérebro não trabalhar a serotonina que seria necessária.
E a gente nem sente vontade de sair da cama para fazer algo a respeito.
E a ansiedade perturba. 
E mente. Que mente. Que mente.
E enclausura. 
As dores de cabeça começam.
O corpo todo dói.
Os pulmões não funcionam direito.
E o coração a gente quer arrancar de nós.
Mas é tudo mentira que a mente insiste em mentir para a gente.
Que prega peças.
E a gente mente para a gente que tudo vai ficar bem.
Novamente!
E mente. Que mente. Que mente. E perturba.

Deixa a mente mentir para a gente dessa forma que a gente nem se sente.

Porque a gente esquece nossos pais.
A gente esquece nossos amores.
A gente esquece nossas conquistas.
A gente esquece nossos amigos.
A gente esquece nossos orgulhos de viver.
A gente esquece nossos sorrisos.
A gente esquece os momentos bons.
A gente esquece os restaurantes preferidos.
A gente esquece as melhores canções.
A gente esquece nosso trabalho.
A gente esquece do nosso eu.
E pensamos apenas no nosso quarto, na nossa cama.
Corremos para casa.
Para se isolar de nós mesmos por medo.
Muito medo.
Tanto medo.
Que chega até ser bobo.
Vamos beber algumas cervejas?
Vamos beber algumas taças de vinho?
Quem sabe nos esquecemos das tormentas.
Vamos beber até que tudo passe!!!
Mas nada passa.
E a gente não esquece.
A mente que mente e insiste em nos colocar para baixo não deixa.
E a gente pensa em todas as formas possíveis de sair dessa tempestade.
Cansamos de nos molhar até nos afogar, não é mesmo?!
A mente prega peças para a gente acreditar que somos seres humanos horríveis.
E a gente acredita, sabiamente, nisso.
A gente se torna os gênios das notícias ruins.
E acreditamos que o futuro que nos basta é feito apenas de situações que nos colocam no fundo do poço.

A ansiedade está mentindo para nós.
Em dizer que somos pessoas horríveis.
Em mostrar que podemos nos foder pelo cu como todas as pessoas que fizeram maldades.
Em mostrar que estamos a beira de morrer na cama de um hospital qualquer.
A ansiedade está mentindo para mim.
Em mostrar que vou decepcionar todos os que amo.
E deixarei todos nesse mundo de um jeito, assustadoramente, maldito.
E todos irão me odiar.
E se esquecer de mim.
Porque eu sou uma pessoa ruim.
E fiz maldade com muita gente.
E acabei com muitos sonhos.
Era o que todos queriam, o meu fim.

A mente que mente para mim!
Para tu.
Para nós.
A ansiedade está mentindo para todos nós.
Eu sei que está.

Eu escrevo todas essas palavras para mim mesmo.
E eu gostaria que alguém dissesse que tudo irá ficar bem.
Que eu não sou uma pessoa horrível.
Gostaria de lembrar da sensação de deitar a cabeça no peito de alguém e sentir as mãos pelos cabelos.
E ser esquentado com o melhor dos abraços.
Pensar que eu sei amar alguém, novamente.
Mas a ansiedade está mentindo para mim dizendo que vou permanecer para sempre sozinho.
E que isolado ficarei até morrer.

É bem triste ser assim.

Todos os meus heróis se foram.
Acabaram com suas próprias vidas.
Depressão?
Ansiedade?
Apenas tristeza?
Não sei dizer. Nem eles saberiam, se pudessem.
E temos algo em comum, todos eles estavam devastado de criatividade antes de partirem.
Assim como eu, me sinto o gênio das palavras e cartas e textos.
Nisso ninguém pode me parar.
Meus dedos escrevem, escrevem e escrevem na mesma frequência que minha mente que mente que mente.
E tudo bem a gente se sentir derrotado algumas vezes.
Tudo bem a gente dar bola para nossos demônios e nos entregar para isso.
Ás vezes, a unica alternativa é se render.

E quantas vezes, apenas hoje, pensei em suicídio?

Não sei te dizer.
Não contabilizo mais.
Só quero te dizer que você é incrível. 
E a ansiedade está mentindo para você.

Ok?

OK, PORRA!

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Eutanásia de um jovem ancião (sou atestado de óbito esperando o tempo ter tempo para assinar)

Série Sentimentos — Luna Buschinelli
*Desculpa a falha de não conseguir escrever textos bons!*

Solta a minha mão.
Me larga.
Deixa-me tentar respirar pelos cantos desse enredo todo.
Tu tem noção do tamanho do nosso universo?
Somos apenas um grão de areia no meio disso tudo.
Nossos medos, aflições, amores, receios e virtudes não significam nada.
Nem para mim.
Nem para você.
Nem para ninguém.
E a gente espera algo que nunca vêm.
Um abraço forte.
Uma palavra amiga.
Um aconchego qualquer.
Uma notícia boa.
Uma saudade persistente.
A gente espera que os amigos nos telefonem.
A gente espera que a família nos entenda.
A gente procura falar sem ter que ouvir.
E gritar muito alto para que nos ouçam.
Mas ninguém nunca nos ouve.
A gente procura uma saída para tudo que se passa dentro de nós.
A gente não encontra essa saída.
E a gente só quer bater a cabeça em qualquer canto da parede até que tudo de ruim saía de dentro de nós.
A gente falha.
E a gente procura nossos erros.
Nossos defeitos.
Nosso passado.
Nossos sonhos. 
Nossos tormentos.
A gente procura os motivos.
A gente procura as causas.
E a gente falha no erro.
Nossa falha é procurar demais sem saber por onde começar.
De onde a gente deve partir?
Onde está o nosso fim?
Cadê essa tal felicidade?
E a gente esmaga a cabeça contra os travesseiros na esperança de que algo surja como um super herói sorridente pronto para nos libertar de todo mal.
A gente atravessa o nosso peito com esperança de que algo de bom ainda se encontre dentro de nós.
Mas a gente não encontra nada.
E nos pegamos atravessando noites e noites e noites sem sono, vivendo dentro do nosso próprio pesadelo.
Solte a minha mão.
Deixa eu me arriscar nesse abismo.
A escuridão pode ser melhor que tudo isso aqui.
Deixa eu apagar a luz.
Solte...
a...
minha...
mão!

Me deixa ser um pouco mais.
Me deixa ter um pouco mais.
Me deixa acreditar um pouco mais.
Apaga esse desespero que corrói o meu peito.
Traz o personagem de mim mesmo para dentro de mim que fazia eu sentir tesão pela vida.
E a gente acorda.
Olha para o teto.
Olha para os cantos do quarto.
E a gente enxerga que nada mudou.
O telefone não tocou.
Tua carta não chegou.
A família não te entendeu.
Os amigos sumiram acreditando que tudo está bem.
E a gente só quer desistir.
E jogar todas as coisas que construímos fora.
No abismo.
Acreditando que esse sim é o alívio que a gente sempre procurou.
Mas são nos telefonemas, nas cartas, na família e nos amigos que a gente pensa quando a gente mais quer desistir.
Meu coração não encontra sossego.
Meu peito está sempre carregado de raiva e tristeza.
Minha mente sempre me dizendo todas as coisas malditas que ela consegue dizer.
E minha alma mais apagada que todas as histórias contadas por pessoas importantes desse mundo.
Te escrevo esta carta na esperança de que tudo esteja bem quando eu termina-la.
Te escrevo essa carta na audácia de que tu estejas bem quando eu te entrega-la.
Que tu não se sintas da forma que me sinto.
Que tu não se identifique com estas palavras.
E se conseguires sentir o que eu sinto em cada palavra, te peço para não desistir de si mesmo como há tempos desistir.
Não apaga teu personagem de ti.
Não edita tua forma de formas erradas.
Não deixa essa nuvem nebulosa encobrir tudo de bom que tu és.
Não desiste como eu desisti de mim mesmo.
E acredita que tudo pode melhorar.
Que tudo pode passar.
Que tu podes amar alguém te novo.
Que tu podes sorrir de novo.
Que tu podes ler poemas e acreditar que aquelas histórias trarão borboletas para teu estômago novamente.
Eu sei, o sabor da vida é amargo demais.
Eu bebi esse azedo copo da vida várias vezes e só queria apagar a luz.
E escrever em meu jazigo "Vocês que se aguentem! Vocês que se virem! Essa porra não é mais minha".
Mas eu queria não decepcionar as pessoas.
Não queria deixa-las sentindo saudade.
Ou tristeza.
Ou solidão.
Até mesmo angústia.
E gostaria de dizer, as palavras que sempre temi em proferi-las, "eu te amo" para todas as pessoas que sempre estiveram aqui e que sempre passam por minha mente quando o assunto é crises de ansiedade.
Mas são palavras difíceis demais de serem ditas quando o coração já não sabe mais o que quer.

Eu não quero ser um sinônimo de auto-ajuda. Estou longe de ser algo assim. Sempre te escrevi isso. Sempre te disse que sou acidente grave. Barco afundado. Desastre que acabou com todos os dinossauros há um tempo atrás. Quero apenas que enxergue a pessoa que tu és. E que se sinta bem quando esta carta acabar. Que se lembre que tudo vai ficar bem. Que a nossa mente não está trabalhando direito esses dias. E está tudo bem não se sentir bem, meu bem. As pessoas não se importam com a forma como a gente se sente. Se preocupe com você. Cuide de você. Lembre-se sempre de quem você costumava ser e o que costumava sentir quando tudo estava bem. Tu és uma pessoa boa. As coisas ruins irão te acontecer. A gente vai perder o controle de muitas coisas incontroláveis, mas tudo irá ficar bem uma hora. Não deixe esse pensamento permanente te consumir e te confundir fazendo tu se esquecer de quem tu és. 
Não me leve a mal!
A nossa mente é nossa própria inimiga nesses tempos em que nada faz sentido.
Nossos monstros nos dizem quem e o que deveríamos ser e fazer.
Por mais que a gente lute e saiba que está tudo errado.
A gente insiste em acreditar que os nossos monstros estão certos.

E eles nunca estão!

Eu gostaria de te dizer adeus.
E te peço para soltar a minha mão.
Gostaria que me deixasse cair nesse abismo em que eu mesmo me coloquei.
E enxergar a escuridão.
Fiz uma rima boba sem nem pensar.
Para te dizer que eu não quero teu perdão.
Nem teu aconchego.
Nem seu abraço.
Nem teu apego.
Só queria teu telefonema para me dizer tudo ficará bem, novamente.
Mas eu sei que tu não sabes mais de todas as coisas.
Então, eu sei que tu irás me deixar gritar muito algo em silêncio.
E eu vou gritar.
Vou espernear. 
E pedir para tudo passar.
Ou que seja tudo um sonho.
Vou pedir para essa raiva ser passageira. Para a angústia não me levar.
Para a tristeza não me carregar. E a revolta não se alastrar.
Vou implorar para que eu consiga amar alguém, mais uma vez.
Para que eu me sinta, verdadeiramente, bem ao teu lado, outra vez.
E, quando eu estiver do teu lado, que eu esteja me amando por completo para saberes te amar como tu mereces.
Eu não quero desistir.
Mas eu quero me jogar.
Eu não quero ir embora.
Mas eu quero apagar a luz.
Eu não quero virar uma memória.
Mas eu quero sentir saudades.

Saudades de ser.
De ter.
De sentir.
De falar.
De amar.
De buscar.
De ser eu mesmo.
Saudades de amar muitas coisas.
E não ser esse vazio constante.
E te pedir para soltar minha mão.
Solte a minha mão.
Larga ela.
Deixa eu viver esse abismo.
Deixa eu apagar a luz.
E virar memória.
Mas eu lembrei que tem muita gente que me ama pelos cantos do planeta.
Droga!
Pensei mais neles do que em mim. Outra vez.
Para variar.
Esse sou eu, sempre pensando nos outros antes de tomar minhas decisões.

Não desiste não!
Tem muita gente que te ama.
Tua mente diz que a ansiedade depressiva constante nunca vai passar.
Mas ela vai passar.

Ela tem que passar.
Uma hora...ela tem que passar.
Ela vai passar.
Eu acho que vai passar.

Não desiste não!
Mas se desistires...
Me chama!
Eu largo tuas mãos junto das minhas.

Eu entendo tua dor.
Eu entendo teu vazio.
Mas sabe o que mais machuca do que a própria angústia?
Não entenderem, absolutamente, nada do que eu falo.

E escrevo.

As pessoas estão tão perdidas quanto eu. 
Eu cansei de escrever.
Poucos vão entender que desisti.
Muitos não vão se importar.
Alguns vão entender que eu quero pular da sacada esta noite.
Outros vão sacar que estou a beira de fazer isso.
De apagar a luz.
Talvez, a escuridão seja mesmo melhor do que tudo isso aqui.
Mas todos irão ler e me dizer "Nossa, tu escreves muito bem. Parabéns. Continua escrevendo".

Eles nunca entendem meus pedidos de ajuda.
Mas está tudo sempre bem, meu bem.
As coisas sempre ficam bem.
Uma hora tem que ficar.

Eu cansei de te escrever, queria te falar. 

Desculpa, novamente.

Eu cansei.

Cansei.

Escrevi.

Chorei. E cansei.

Mas nada mudou!

Como uma peça de teatro, as luzes se apagam.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Querida, o psiquiatra me demitiu pela terceira guerra mundial dentro da minha cabeça!

Luna Buschinelli - Projeto Curadoria
E o que eu faço, meu bem?!
Meu bem!
Sem ti.
E sem mim.
E não existe nada aqui dentro que faça eu ter autocontrole. 
Minha cabeça viaja em meus próprios pensamentos e sentimentos.
Nunca sei o que é real.
Nunca sei o que é ilusão.
Nunca sei se te quero.
Nunca sei se torço para que partas.
Meu bem, eu não sei mais o que fazer.
Te escrevo esta carta para que encontres em algum canto de meu quarto escuro.
E me mostre que sou capaz de sair dessa.
Que existe alguma coisa lá fora capaz de me deixar são novamente.
Cansei da falsa felicidade, meu bem.
Cansei de esperar a alegria bater em minha porta dizendo que tudo está bem de novo.
Cansei de sonhar com dias melhores onde todas as pessoas são e estão felizes.
Cansei, meu bem. Apenas cansei.
Cansei de ti. 
Cansei de mim.
Cansei das flores.
Cansei dos poemas.
Cansei das ruas, dos bares, das festas.
Dos amores. Dos romances. Das pessoas.
E a minha mente me mostra apenas o pior de tudo isso.
Sinto um medo repentino que chega e não se vai. 
Medo constante de que todas as coisas vão, finalmente, ruir sobre a minha cabeça.
E vem os tremores.
Vem os suores gelados como a neve.
Vem as dores no estômago.
A mente cega.
Os olhos embaçados.
E eu não sei o que fazer. 
Então, eu bebo. Bebo mais um pouco.
Escrevo. Escrevo muito mais do que costumo escrever.
E as mãos tremem. Nunca sei bem o que estou preparado para as pessoas capazes de lerem minhas cartas.
Penso em parar tudo que estou fazendo.
Quero fugir.
Quero sumir.
Quero desaparecer.
Acreditar que existe algum canto no horizonte que me faça ser eu mesmo novamente.
Não enxergo absolutamente nada!

Te escrevi mais uma carta para apenas eu mesmo entender o que se passa aqui dentro.
Quem sabe não consigo tirar esse borrão de nuvem escura de cima da minha mente.

- Querida, o psiquiatra me mandou embora!
- E o que dissestes a ele?
- A verdade, meu bem. Ouvi uma vez que se tu fostes sincero, a verdade te libertará.
- E qual a tua verdade, querido?

...
qual a minha verdade, meu bem?

Às vezes, quero tudo.
Outras vezes, não quero nada.
Vez ou outra, penso em tudo que sonhei.
Por muitas vezes, quero apenas desistir.
Às vezes, quero o nosso romance.
Muitas vezes, quero apenas ficar sozinho.
Existem dias que acordo e não quero ver ninguém.
Não quero me deparar com todas as coisas e pessoas do mundo e saber que existe muita maldade nele.
Mas o dia está tão lindo, eu deveria tanto sair para tomar um sol e fazer todas as coisas que eu deveria fazer.
E eu absorvo tudo que está lá fora.
Trago aqui para dentro.
Dentro de mim.
E é então onde mais me perco.
Eu sugo todas as coisas ruins do mundo e das pessoas e vivo acreditando que sou capaz de viver com tanta maldade.
Que eu poderia ser assim.
Muitas vezes, acredito que eu deveria ser assim.
Tão ruim quanto todas as pessoas que me fizeram chorar de alguma forma, em gritaria ou em silêncio.
Mas sinto que eu poderia ser como todas elas e viver muito bem comigo mesmo.
Mas eu sinto que não consigo.
Eu sei que não consigo.
Chega o ponto em que sofro.
E choro.
E tremo.
E sinto medo, muito medo, de perder o controle de mim mesmo e me tornar tudo de ruim que todas aquelas pessoas são.
Eu não quero perder esse controle de mim mesmo e me transformar em algo extremamente ruim da forma que o mundo não deveria ser.
É nesse momento que choro em silêncio, mais uma vez.
Fecho os olhos.
E imploro para não sair de mim mesmo.
Se eu tiver que sair, que seja para sumir para bem longe onde eu não possa sofrer tanto quanto tenho sofrido nessa luta constante em ser alguém melhor do que costumava ser.
Do que eles jamais serão.
E eu não quero ser algo ruim para ninguém.
E eu não quero que algo de ruim aconteça para ninguém.
E eu não quero ouvir histórias tristes sobre ninguém.
E o mundo é escuro demais para todos nós.
Isso me deixa tão, mas tão para baixo que já não me encontro em posição nenhuma de desejar coisas boas.
Se vocês soubessem o quanto isso me afeta, leriam todas as minhas cartas para continuarem sabendo como me posiciono em relação ao mundo e como eu deixei de escrever sobre romances bobos para alguém que escreve sobre todas as suas fraquezas quando as situações não estão nada bem.

Eu gostaria de te pedir para entrar.
Gostaria de te pedir para ficar.
E se sentar.
E tomar uma cerveja comigo.
Gostaria de te mostrar todos os poemas que escrevi noite passada.
Ou naquela noite em que eu estava me sentindo feliz.
Mas eu não consigo mais pensar que ficarás e fará com que eu sorria de verdade.
Não consigo mais olhar para o olho das pessoas e acreditar que algo de bom sairá de lá.
Eu não me sinto bem comigo mesmo já faz um tempo.
E não quero te passar essa energia.
É triste demais saber que estou passando tudo de ruim para alguém que não tem, absolutamente, nada a ver com meus problemas.
Mas eu gostaria de te pedir para ficar. Gostaria que ficasse.
Gostaria que entrasse e se sentisse a vontade.
Por mais que eu não me sinta a vontade com todas as coisas que o mundo me entrega.
Mas eu gostaria de te ver confortável.
Gostaria de te ver sorrindo.
Gostaria de te ver se sentindo bem ao meu lado.
E sim, eu te pegaria uma cerveja. Te faria um café.
Faria com um belo sorriso em meus lábios.
Voltaria.
Te entregaria tua bebida.
E perguntaria como foi o teu dia.
E sorriria, de verdade, ouvindo tuas histórias e teus problemas e tuas loucuras.
Mas saiba, meu bem, que dentro desse coração, nada está bem.
Está tudo escuro.
Apagado.
Vazio.
Solitário.
Triste.
E desapegado.
Mas é nesse coração que se encontra a força para não desistir de tudo que o cérebro insiste em me mostrar.
Mas é nesse coração que se importa com a forma que você se sente.
E é nesse coração, estrangulado pelo mundo, que se encontra a preocupação sobre como você se sentiria se eu desistisse de tudo essa noite.

E que não faz nada porque eu sei a decepção que seria para ti se eu partisse sem dar tchau.
Mas é nesse coração que se encontra a verdadeira solidão de saber que ninguém se importa com o que se passa aqui dentro.
E isso, meu bem, não me faz nada bem.

Mas está tudo bem, meu bem. Tudo está sempre bem. 
É assim que eles me enxergam. E é assim que eu gostaria de transparecer meus sentimentos mesmo quando tudo está apenas desmoronando dentro de mim.

Qual é a tua verdade, meu bem?

quarta-feira, 29 de julho de 2020

(Des)Romance (Eu não sei ficar só)

As últimas palavras de Bukowski: 'Don't try' – Comunidade Cultura ...
Diálogo 1.

- Esperei, a semana toda, você me ligar para dizer que precisava ouvir minha voz para seguir em frente.
- Eu precisava ouvir tua voz.
- Lembra quando a vida era novidade?
- Já não sei mais o que é isso.
- Tuas coisas estão todas aqui, vens buscar?
- Não sei se devo.
- Também penso assim. Eu não mexi em nada. Está tudo muito arrumado, eu sei que você odeia organização demais. 
- Tu sempre sabes das nossas coisas.
- Fiquei na esperança de que viesse desarrumar tudo, como sempre tens feito.
- Não sei se posso.
- A gente esqueceu de amar.
- A gente esqueceu coisas demais.

E eu te escrevo esta carta por todas as vezes em que senti vontade de te contar uma novidade.
Por todas as vezes que chorei em silêncio longe dos teus braços.
E todas aquelas em que gritei calado para que viesse me visitar.
Eu sinto falta do apego.
Falta do abrigo.
Falta do apreço.
Falta do berço que encontrava em teu olhar.
Sinto falta de sentir demais e te pedir para ficar.
Mas, pedir para tu ficar é muito mais difícil do que não te deixar entrar em minha vida nunca mais.
Eu não quero passar por isso novamente.
Eu não quero chorar por pouco e sofrer por muito.
Não quero o coração acelerado.
Nem o estômago embrulhado.
Nem as flores no dia dos namorados.
Nem as brigas mais bestas e intrigas baratas que todos os romances exalam pelas manhãs de domingo.
Não quero ter que conhecer teus pais.
E sentir que eles me odeiam.
Não quero conhecer teus amigos.
E sentir que eles me suportam.
Não quero te entregar todos os meus defeitos.
Todos os meus erros.
E falhas.
Eu escondo muito mal todos eles.
Não quero demonstrar as minhas crises de ansiedade.
As minhas tristezas na depressão.
E as bebedeiras quando me sinto completamente impotente.
Não quero fazer tu sentir o cheiro dos meus tragos.
Não quero dormir agarrado em teus braços sentindo o cheiro da tua nuca quente e suspirar o quanto te amo e o quanto amo cada traço de perfume e desenho teu.
Nem quero que me veja com a barba bagunçada numa terça-feira a tarde logo depois que a gente acordar de um cochilo.
Não quero te pedir para esperar um pouco por eu estar sempre atrasado.
Não quero sorrir te vendo vir para o meu carro.
Ver você entrar.
E sorrir mais ainda quando o teu cheiro subir por todos os cantos do veículo.
Não quero saber como foi o seu dia.
Nem falar como foi o meu dia.
Muito menos suspirar de ver você contando cada detalhe de como tudo nele se passou.
Não quero ouvir tua voz cansada.
Não quero te entregar os melhores poemas quando a vida me mostrar o que de melhor eu recebi dela.
Também não quero escrever os piores e mais ridículos poemas quando a vida também nos mostrar que somos cheios de defeitos mesquinhos que fazem a gente se odiar por alguns momentos.
Não quero te pedir perdão quando eu errar.
Nem demonstrar orgulho quando eu estiver certo.
Não quero planejar um futuro ao teu lado. Muito menos demonstrar que nada enxergo quando as crises começam a tomar conta da minha mente.
Eu não quero chorar na tua frente quando todos os meus medos e demônios baterem a minha porta.
Não quero botecos aos sábados a noite em que a gente se empapuça de cerveja e se entope de batatas fritas e besteiras que conversamos que nos fazem dar risada, acreditando que aquele momento é só nosso e de mais ninguém.
Também não quero almoço aos domingos.
De ressaca.
E sorrindo.
Não quero ir embora da tua casa domingo a noite.
Não quero a distância de ti.
Sem saber quando nossos olhos irão se encontrar de novo.
Não quero ouvir todas aquelas músicas românticas que me lembram de ti a todo custo.
Não quero me apaixonar por você e acreditar que és a pessoa da minha vida.

Eu não sei te amar.

Essa é por todas as vezes em que eu quis te contar uma novidade.
Em que eu lembrei de você nas madrugadas confusas do meu quarto.
Essa é por todas as vezes em que eu lembrei de ti quando vi algo que sabia que tu iria gostar.
E iria sorrir.
E por todas aquelas vezes em que me senti inseguro e perdido e sozinho e já não podia mais estender as mãos para você puxar.
Essa é por todas as vezes em que eu supliquei pelo amor sem nem saber onde procura-lo.
Onde foi que eu perdi essa porcaria?
E por todas as vezes em que eu me embebedei pensando que te esqueceria como num passe de mágica.
Essa é por todas as vezes em que eu lembrei que poderia te esquecer.
Mas que lembrei de você na manhã seguinte.
E do toque dos teus lábios e aperto macio de suas mãos. 
Essa é por todas as vezes em que te escrevi e esperei uma resposta.
Por todas as vezes em que eu te liguei e só deu caixa postal.
Essa também é por todas as vezes em que precisava ouvir tua voz e saber como você estava, mas não tive coragem de discar teu número.
Eu nem lembro mais como se faz uma ligação.
Essa é por todas as vezes em que eu senti a vida escorrendo pelas minhas mãos e te vi partindo dela.
Por todas as vezes em que meus piores pensamentos me levaram para fins que eu mesmo criei aqui dentro, que me fizeram sentir vontade de te ouvir uma última vez.
Essa é por todas as músicas que te dediquei.
Por todos os filmes que por ti chorei.
E por todas as frases bonitas que um dia te sussurrei. 
Amar é um fardo que eu não posso carregar.
Que eu não sei carregar.
E eu não vejo mal nenhum nisso.
Eu não sei ficar só.
E eu sinto falta de ter tua companhia aqui aos domingos solitários e vazios.
E nas noites mais frias, é de ti que eu lembro.
É angustiante olhar o teu lado frio e esquecido da cama.

Mas foram tantas e tantas vezes que eu esperei alguma novidade tua e não tive nada.
Foram tantas e tantas vezes que eu vi o céu desabando.
Tudo naufragando.
E eu fiquei à deriva esperando você me estender a mão para me salvar.
Foi assim que eu aprendi, mesmo com a minha visão míope, a caminhar com minhas próprias pernas e esquecer do amor.
E foi ali, no cais dos sentimentos, que eu joguei tudo de bom, que ousei sentir um dia, aos sete mares, como uma moeda da sorte. E fiz o pedido para que eu permaneça sempre assim, em pé. Sem ti.

E senti.

E eu sinto tua falta todas as manhãs. Sinto tua necessidade todas as noites. Mas tu nunca estas aqui, amor. 

Diálogo 2.

- Quando foi que a gente deixou de entender as coisas?
- Quando foi?
- Quando foi que tu passaste a não escrever mais sobre amor?
- Quando foi, meu bem?
- Quando foi que tu deixaste de amar, querido?
- Quando foi, meu bem? Não sei bem.
- Quando foi que passou a sentir pavor das coisas e das pessoas?
- Quando foi, meu anjo? 
- Tu se sentes bem se acabando sozinho desse jeito? Fumando? Bebendo? Se acabando em comprimidos e não partilhando nada dos teus sentimentos com ninguém? Tu se sentes bem morrendo aos poucos desse jeito?
- É errado, querida?
- Digo, onde foi que tu deixaste aquela essência de escritor romântico? 
- Onde foi, meu bem? Onde foi?
- Vais morrer sozinho, querido.
- Todos nós vamos, meu bem. Tu falaste de todas as coisas que me fazem mal e trata o amor como a cura para tudo isso, sendo que foi o amor que desencadeou cada um desses meus defeitos e falhas. Eu fumo para engolir o amargo dos romances. Eu bebo por conta da saudade. Eu me acabo em comprimidos para ver se eu me sinto bem comigo novamente, tal como eu me sentia ao lado de outro alguém. E eu partilho meus sentimentos em minhas cartas. Isso já basta. 
- Mas assim, nunca serás famoso. É o que queres?
- E isso já basta, meu bem. Não vejo graça nenhuma na fama. Claro, eu poderia acordar todos os dias ao meio dia, depois de uma noite de bebedeiras. Estaria com uma puta ressaca. Escovaria os meus dentes. Tomaria o meu café. Faria carinho no meu cachorro e lembraria que preciso escrever algumas novas cartas porque tal editor precisa de toda aquela porcaria para o próximo edital. Mas e ai? Qual é a graça?
Eu entraria nas minhas redes sociais e estaria repleto de mensagens de fãs absurdas acreditando que sou um puta escritor, sendo que sou apenas um escritor de meia tigela expressando alguns sentimentos que, depois da fama, não seriam mais reais. E ai, meu bem? Qual é a graça?
- Pelo menos seria rico, querido.
- E acordaria ao meio dia, mas e ai? Qual é a graça?
- Tu tens muito medo de amar, não é?
- Eu te pago 180 reais a hora para você descobrir isso no final da sessão, caralho?
- Está no fundo dos teus olhos, meu bem. Bem no fundo.

Quando foi que a vida se tornou tão chata sem nada de extraordinário?!

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Eu vi um senhor vendendo potes de felicidade por R$5,99

Bukowski além da boa e limpa poeira « Blog da L&PM Editores
- Querida, tu vistes minha felicidade por aí?
- Não, querido, perdeste de novo?
- Não consigo encontrar em lugar algum, meu bem, mesmo quando bebo.
- Já olhou nas gavetas do seu guarda-roupa?
- Já sim, meu bem.
- Já olhou no banheiro?
- Porque diabos minha felicidade estaria no banheiro?!
- Não sei, meu bem, última vez tu perdeste embaixo da cama. Já olhou por lá?
- Já sim, querida, não encontro essa desgraça em lugar nenhum?
- Embaixo do tapete? Em cima dos armários? No meio dos seus livros?
- Já olhei em tudo que é caralhos, querida.
- Então, não sei como te ajudar, meu bem.
- Tu não levantaste a bunda do sofá para me ajudar com nada e diz que não pode me ajudar?! É o fim da picada mesmo.
- O fim da picada mesmo é você esperar a ajuda de outra pessoa para encontrar tua felicidade.
- Ah, vai te foder, meu bem.
- Toquei na ferida, não é mesmo?
- Querida, estou a ponto de desistir. Não sei mais onde procurar essa desgraçada.
- Tudo bem, querido. Sossega. Senta. Respira. E sossega.

...sossega.

Eu escrevo coisas simples.
Fáceis de serem entendidas.
E não me importo com isso.
Gostaria muito mais de ser assim do que escrever coisas sábias e difíceis de serem compreendidas.
E por mais que eu fale palavras simples, dificilmente sou compreendido.
Gênio não tão absurdo assim com verdades que só ele mesmo entende.
Talvez, nem tão gênio assim.
E tão absurdo.
Muito absurdo.
Se eu fosse gênio, saberia te dizer exatamente onde se encontra a felicidade.
E não te escreveria tais palavras simples com tanto sentimento cinza envolvido.
Meu mundo seria colorido se eu fosse um gênio.
Todos nós seríamos felizes.
E, provavelmente, eu seria muito rico por falar ao mundo qual a verdade fórmula da felicidade.
A gente acredita ser feliz.
A gente acredita em estar feliz.
A gente acredita nos momentos felizes.
Mas a gente não sabe, ao certo, o que é nossa felicidade.
E, escrevendo tais palavras simples, eu me sinto um desses treinadores de relacionamentos que escrevem livros de auto-ajuda.
Quanta besteira!
Estou longe de ajudar alguém.
Estou longe de me ajudar.
No momento, não quero te ajudar.
E não sei como me ajudar.
Só gostaria de entender onde foi que caralhos escondi minha felicidade.
Onde está a felicidade?
Num quarto escuro?
Num quarto colorido?
Num copo de cerveja?
Num abraço apertado?
Num beijo roubado?
Num momento vivido?
Num trabalho de sucesso?
Num reconhecimento?
Num relacionamento?
Numa mesa farta de amigos bêbados?
Num poema?
Numa pintura?
Onde caralhos eu escondi essa tal felicidade?!
Numa esquina deserta ou embaixo das escadas?
Num abraço de mãe?
Numa conversa com o pai?
Num sorriso da senhora do mercado?
Em pensamentos bons e agradáveis?

...pensamentos.
...agradáveis.
Não sei mais o que é isso.
Onde eu escondi a minha felicidade?
E a tua?
Onde você escondeu tua felicidade?
Eu gostaria de pensamentos alegres e felizes e bobos na minha mente.
Mas eu só enxergo o mundo muito cinza, cinza escuro. Quase preto.
Quase se apagando.
E eu gostaria que meus pensamentos fossem, pelo menos, neutros.
O cinza combina com tudo.
E meu coração não combina com nada.
O preto é a nova e antiga moda.
E meu coração não se encaixa mais nessa cor.
E eu gostaria de te pedir para me salvar.
Gostaria que me ajudasse a descobrir onde foi que eu enterrei minha própria felicidade.
Isso soaria egoísta e burro.
A gente tem que procurar nossa própria felicidade, é o que todo mundo diz sem nem saber o que é felicidade.
Levanta do sofá, garoto.
Vai trabalhar.
Vai ser alguém na vida.
Vai ganhar muito dinheiro.
Vai se entupir de amigos. Se rodeia dos melhores.
Vai conhecer uma garota linda e se casar e ter filhos maravilhosos com ela, menino.
Levanta dessa porra de cama e vai ser alguém na vida, PORRA!
Dinheiro. Amigos. Sexo. Sorrisos.
Futilidades!
Onde foi que eu perdi minha felicidade?
Quando foi que eu comecei a pensar tantas coisas ruins a ponto de querer desistir?
UÉ!
Quando foi isso?!
Desistir, talvez, não seja tão ruim assim.
Morrer.
A morte.
Deve estar lá.
Talvez, a verdadeira felicidade deve estar no último suspiro de vida.
Não me leve a mal. Entenda e compreenda o que eu quero dizer.
Talvez, a verdadeira felicidade esteja no sorriso interno em nosso último suspiro.
Morrer é muito fácil. Viver que é difícil.
Talvez, antes mesmo que tudo se apague, a gente sorri por dentro, apesar das circunstâncias, e pense "Essa é a felicidade".
Talvez, o êxtase da verdadeira felicidade seja no nosso último suspiro. A morte é tão incompreendida e pouco estudada que a gente nem sabe mais se é bom ou ruim.
A morte é aquele romance chato que sempre bate a nossa porta quando a gente menos espera ou, simplesmente, aquela pessoa inconveniente que você não quer ver nunca mais.
Pensando bem, acho que sou um gênio absurdo.
Veja bem o que eu teorizei em uma carta miserável.

Sinto saudades de escrever sobre amores e romances numa época em que eu acreditava ser feliz.
Tu viu a felicidade por aí?!
Me conta!

quinta-feira, 9 de julho de 2020

A salvação é uma carta desastrada sobre suicídio dos sentimentos jogada na imensidão

Bukowski, um velho safado apaixonado por gatos - Vegazeta
E está lá, nas minhas mãos.
A salvação está em minhas mãos.
Estou abrindo as portas da liberdade dentro desta prisão em que me encontro.
Cuspindo todos os meus problemas.
E eu queria te pedir para ficar, mas eu já não sei como faz para amar.
Esse é um fardo muito maior do que eu posso carregar.
E eu gostaria de te chamar para entrar, mas eu nem sei como faz para me amar.
Tu não aguentaria minhas loucuras.
Não suportaria minhas teorias.
Talvez, enjoaria da minha barba bagunçada pela manhã e a cara de ressaca.
Eu bebo muito.
E escrevo muito.
E sinto muito.
E, talvez, por isso esteja eu te escrevendo essas palavras que mal sei onde irão dar, mas eu continuo.
Eu sinto saudade de um abraço apertado.
De um beijo roubado.
Do sorriso lançado.
Sinto falta de te pedir para me tirar de casa.
De te ouvir pedindo para eu ficar.
Sinto falta dos momentos em que meu estômago não entende o que se passa dentro dele.
Falta dos aconchegos e apegos.
Dos carinhos e afagos.
Das brincadeiras e gargalhadas.
Sinto falta de sorrir te olhando nos olhos e nem saber do que se trata.
Gostaria de te pedir para entrar.
E te avisar que tem cerveja na geladeira.
E café no bule.
Sua caneca preferida está no canto esquerdo do armário.
Eu vou tomar um banho enquanto tu se aconchega.
E escrever meus próximos poemas na minha mente.
Gostaria de sentir o teu cheiro. De longe.
E deixar guardado na minha mente para os próximos roteiros.
Quero te dizer que sinto falta até das brigas.
Das discussões.
E até dos gritos.
Talvez, dos choros. Das lágrimas.
Isso mostra que a gente se importa.
Isso mostra que a gente sente.
E não existe nada melhor do que os nossos sentimentos.
São esses sentimentos que mostram o quão vivos estamos.
E eu cheguei onde eu queria chegar.
Já não sei quão vivo estou. Não sinto mais nada.
Há tempos não sinto o coração pulsar tão forte sem ser por crises de ansiedade.
Há tempos não sinto o frio no estômago que não seja pelas besteiras comestíveis que o empapuçam.
Há tempos não sinto tremores e suores frios nas mãos que não sejam por pesadelos noturnos.
E eu aprendi a lidar com isso.
Talvez, tu pense que a salvação das minhas loucuras seja um novo amor.
E eu te digo que pode ser.
Mas também pode ser uma nova terapia.
Uma nova canção.
Um novo trago ou porre.
Uma nova poesia.
Pode ser um Deus.
Pode ser os meus demônios internos.
Pode ser o meu trabalho.
Os meus desejos.
Os meus receios.
Amizades.
Não sei bem o que pode ser, mas eu sei que algo para mim está lá no fim do horizonte.
A linha onde o sol se põe pode ser a infinita alegria dos nossos corações.
Mas como posso buscar a felicidade se mal posso sair de casa?

- A poesia fala por mim o que eu gostaria de te dizer.
- E porque tu não me diz todas as coisas que queres dizer?
- Porque eu sei onde isso vai dar;
- E onde tudo isso vai dar, meu bem?
- No "seja feliz, eu só quero que você seja feliz", mas a gente sabe que no fim não tem ninguém que se importe que não seja tu mesmo.
- Tu devias olhar o lado positivo de todas as coisas, se um amor não deu certo, tu tens os seus poemas para serem feitos. Quanto tempo faz que não amas?
- Já não sei mais, talvez seja por isso que minhas cartas tem saído tão ruins.
- Viu?! O lado positivo de todas as coisas.

Eu sou aquele que acorda cedo e toma um chá na sacada pensando na felicidade que nunca chega.
Eu sou aquele que olha o sol nascer e fecha os olhos para senti-lo.
Eu sou aquele que abraça o canto dos pássaros e pensa em dividir esse momento.
Eu sou aquele que sonha alto e claro.
Eu sou aquele que grita calado.
Eu sou aquele que fala e ninguém entende.
Eu sou aquele que escuta e te sente, mas que ninguém compreende.
Eu sou aquele que sofre quietinho e que chora baixinho e que corre para o computador empoeirado para escrever mais uma carta muita louca sobre tudo que ele ousa sentir e que ninguém se surpreende.
E os que se surpreendem, são aqueles que não o entendem.
Eu sou aquele que pensa em suicídio quase todas as noites, mas que deseja se casar e chamar os melhores amigos para estarem lá.
E eu penso no sorriso da noiva, que eu nem sei quem é.
Eu sou aquele que pensa sempre em desistir, mas que sabe que existem tantas e tantas coisas para se viver e escrever, que ele vai deixando a desistência de lado para se proteger.
Eu sou aquele que usa camisetas rasgadas quando está em casa. Que sempre está cheio de problemas tanto quanto a cabeça lotada de pensamentos.
Eu sou aquele que sorri com os olhos quando eu mais quero chorar e te abraçar.
Eu sou aquele que te pede para ir embora quando eu mais gostaria de te pedir para ficar.
Eu sou aquele que mais lembra quando te pede para me esquecer.
Eu sou aquele que mais sofre quando diz que não está pensando em nada.
E meu coração amarrotado insiste em querer escrever todas as peças que ele e minha mente pregam em mim.
Eu sou aquele que está cansado de viver nesse mundo, mas é o dono do próprio teatro em que eu mesmo sou a platéia de um homem só e que grita e aplaude de pé, mas que passa também vergonha sozinho.
Eu sou aquele que te procura todas as manhãs sem nem saber quem você é.
Eu sou aquele que te liga quando tu se sentes sozinha, mas sou aquele que não te procuro quando a solidão me infesta.
Eu sou aquele que te leva ao médico quando estas doente, mas que sou aquele que só vai para o hospital quando está morto.
Eu sou aquele que fica orgulhoso com suas crenças e fé, mas sou aquele que não acredita em quase nada.
Eu sou aquele que vai chorar de alegria toda vez que você sorrir, mas também sou aquele que chora calado toda vez que você não está aqui.
Eu sou aquele que escreve cartas e mais cartas todas as noites, mas que odeia cada uma delas. E que nunca as lê.
Eu sou aquele que queria te pedir para entrar em minha casa, mas ela está muito bagunçada para a tua presença. Não quero nunca te dar o pior. Eu me arrependo toda vez que eu erro e durmo mal por isso até que você me perdoe e eu sinta que está tudo bem.
23:27h da noite e eu não encontrei ninguém para me dar uma boa noite. E essas são as horas em que mais costumo me sentir sozinho e demonstrar todas as minhas fraquezas. E chorar escondido respondendo mensagens de que tudo está bem, mas ainda sim, penso que amanhã pode ser o dia de encontrar alguém que me tira desse abismo em que eu mesmo me joguei.
E eu esqueci de deixar um mapa que diz certamente onde está a chave para me libertar dessa prisão em que eu mesmo me tranquei.
Tudo bem!
Eu escrevi mais uma carta biruta de gênio obsoleto que se sente burro por ter muito a dizer.
E eu queria ter todas as certezas das coisas.
Mas as pessoas nunca entendem bem o que eu quero falar.
E eu cansei de te escrever.

23:33h da noite e eu estou bêbado.
Talvez, amanhã eu me arrependa dessa carta.
Por ora, deixa eu lutar contra a vontade de partir lembrando de todas as vezes em que fui verdadeiramente feliz.
A gente sempre tem algo para dizer.
Eu sinto saudades e isso nunca passa.
Eu sinto culpa e isso nunca passa.
Eu sinto raiva e isso nunca passa.
Eu sinto tristeza e isso nunca passa.
Eu senti amor e isso nunca passa, mas eu finjo que passou.
E eu finjo que esqueci.
A gente sempre finge alguma coisa nessa vida.
E as piores mentiras que a gente conta são aquelas feitas para nós mesmos.

NÃO É POSSÍVEL QUE VOCÊ NÃO SE IDENTIFICOU COM NADA NESSA CARTA, CARALHO?!

terça-feira, 16 de junho de 2020

Eu, tu, o mundo e a sensatez do cansaço

Charles Bukowski: conheça 8 dos melhores livros escritos pelo ...
- Porque as pessoas sempre perguntam sobre nossos trabalhos. Sobre nossas vidas. Sobre nossa família. Se estou namorando. Se já tenho filhos. Quantos carros eu comprei. Quanto dinheiro eu ganho. Se já paguei todos os meus boletos?
- O que você quer dizer com isso?
- Porque as pessoas nunca perguntam se estamos bem. Se estamos felizes?
- Ah, cara, a vida é assim mesmo. As pessoas são assim mesmo.
- E, veja só, tu és apenas mais um conformado com o mundo. Isso me entristece.
- Você que acordou deprimido, meu amigo.
- Só acho que a vida não deveria ser lida como se fosse tudo uma lista a se fazer. Só acredito que as pessoas que falam que se preocupam, deveriam apenas se preocupar e perguntar se você está feliz. Elas nunca perguntam. Elas só querem saber do dinheiro, dos boletos, do trabalho, dos carros, das casas, dos filhos. É muito mais incrível quando a pessoa não se importa e caga para você, do que ela fingir que se importa perguntando todas essas coisas.
- Prefere que as pessoas caguem para você?
- Prefiro a sinceridade do que a falsa esperança de que as pessoas se importem com o que se passa aqui dentro.
- É justo. Nada mais justo, mas a vida é assim mesmo.

Carta escrita depois de tomar oito cervejas geladas e grandes.
Depoimento ruim de quem não sabe o que fazer.
Mas tem muito que falar.
E não me importo com pontos e erros e muito menos me importo com os acertos.
Só preciso escrever tais palavras antes que a última gota dos olhos saltem para fora.
E eu preciso encontrar todos os sentimentos feridos que estão aqui dentro. Que não foram cicatrizados. E eu cavo todos eles com uma colher pequena de chá.
A vida é assim mesmo.
E eu estou cansado.
Muito cansado.
Escreverei essas palavras de cansaço para que elas me levem para algum lugar.
Porque eu me perdi.
Eu nasci, eu me perdi, eu morri e me senti só. Diversas vezes. Só hoje.
E estou só. Todos nós estamos
Eu quero te agradecer, querida.
Eu quero te pedir desculpas, meu bem.
Desculpa, meu bem, se te fiz chorar.
Desculpa se não respondi tuas mensagens. Eu quero mesmo é ficar longe.
Errar só.
Me sentir só.
Estar só.
Não quero me preencher das besteiras que o mundo me traz toda vez.
Mas eu sinto uma saudade imensa desse mundo podre e fétido.
Sinto falta dos bares.
Dos cigarros amassados.
Dos vinhos e das cervejas e goles aos santos.
Das gritarias.
Dos absurdos.
Do sorriso que a garota do mercado da esquina me entregava.
Dos sabores dos restaurantes das redondezas.
Das festas que faziam eu me sentir mais sozinho do que o comum assim que elas terminavam.
Dos amores e desamores.
Sinto falta dos romances.
Dos corpos suados se esfregando juntos numa sexta-feira a noite.
Dos sorrisos que demos depois do orgasmo.
Sinto falta de sentir medo das ruas desertas de São Paulo.
De me arrumar para ir de encontro á você.
De olhar para as estrelas no meio da avenida e saber que elas também se sentem só.
Olhar para as ruas e encontrar o olhar da menina de olhos grandes me olhando sem saber o porque.
Das mentes perturbadas.
Dos loucos.
Dos mendigos.
Dos idosos.
Dos suicidas.
Dos bêbados.
Dos abutres das empresas que sugam nossas almas sem ao menos a gente saber o porque.
Estou sentindo falta de estar só estando rodeado de gente.
Das músicas dos elevadores. Dos livros perdidos que todos tocam e ninguém lê.
Das músicas dos botecos. Onde os malucos se encontram e cantam alto.
Dos goles nas garrafas compartilhadas.
Estou sentindo falta de sugar esse mundo como um vampiro e ter uma incrível ressaca no dia seguinte.
Sentindo falta desse teatro em que sou apenas um fantoche com muita coisa a dizer, mas que ninguém sente vontade nenhuma em escutar.
De pedir o chope na hora do almoço e olhar todas as pessoas ao redor e saber que tudo está onde deveria estar.
De me apaixonar.
De ser ferido.
De saber que escreverei mais poemas sobre um romance que não deu certo.
Eu sinto falta do mundo que eu nunca gostei.
E eu estou cansado, meu bem.
Estou exausto.

- O mundo nunca se importou com a gente, meu bem.
- A gente só precisa lembrar se as pessoas estão felizes. Pelo menos as que a gente diz se importar.
- Porque tens isso na tua cabeça, querido?
- Eu só acho que as pessoas se importam com tuas próprias felicidades e alegrias, isso é fato do ser humano, mas quando alguém se mata de tanta tristeza, são essas pessoas que falam "Eu não sabia que ele estava tão mal". E são essas pessoas que nunca perguntam como anda o coração e a cabeça das pessoas que elas dizem se importar. Que elas dizem amar. São essas pessoas que se arrependem de não terem perguntado algo com afeto antes do pior acontecer. Eu só gostaria de entender qual a dificuldade das pessoas se preocuparem com a felicidade das outras.
- Meu bem, elas não se importam. E pare de beber, já foi o suficiente por hoje.

Desculpa, meu bem. Não tenho estado bem.
E essa não será uma das minhas melhores cartas.
Mas quero te dizer que ainda estamos aqui confinados na sensatez do cansaço.
E que nossos corações ainda continuam batendo bem devagarzinho.
E nossos estômagos se empapuçando de todas as besteiras comestíveis que podemos colocar para dentro.
Desculpa, meu bem. Estou fugindo de tudo que me suga. De tudo que me atrasa. De tudo que me estressa ou me estremece.
Estou fugindo dos tóxicos. Estou fugindo dos que eu sei que não se importam. Estou fugindo dos amigos que não são tão amigos assim. Estou fugindo das pessoas de coração amargo. De alma atrasada e de mente que se encontra na cela mais escura.
Estou fugindo dos amores. Estou fugindo dos problemas. Estou fugindo do que me entrega frio e borboletas na barriga. Estou fugindo de tudo que não é viável nesse momento em que vivemos. Eu não quero te amar, porque eu não estou sabendo me amar nesses dias. Posso acordar com outra ideia amanhã. Posso acordar com outra sensação. Com a sensação de que tudo irá ficar bem um dia, novamente. De que tudo não passou de um pesadelo de alguns meses. Posso querer te amar incondicionalmente e me arrepender de ter me afastado de todas as pessoas que eu julguei errado, ou certo, não sei. Mas hoje, eu quero apenas me olhar no espelho e não me sentir um estranho dentro de mim mesmo. Quero enxergar diante dos meus olhos e sorrir por dentro sem antes me sentir um verdadeiro lunático cansado que não sabe mais por onde vai. Quero conseguir me ver e não sentir vontade de desistir como tem sido há uns 3 ou 4 dias. Quero me enxergar e saber que tudo dentro do meu coração está em seu devido lugar.
Não quero mais estar cansado.
Não quero mais acordar cansado.
Não quero mais dormir cansado.
Enquanto o cansaço não vai, eu deixo essas minhas palavras por aqui.
Deixo minhas palavras pesadas para que eu me sinta um pouco menos cansado. Talvez esse seja o meu fardo, sentir demais e demonstrar de menos. Querer demais e falar pouco. Ser demais e não expor quase nada. Talvez, o meu fardo seja simples de ser reparado. Talvez, meu coração seja fácil de ser costurado. Talvez, minhas feridas sejam comuns de serem cicatrizadas. Não sei até então.

- Para de flertar com o suicídio, está bem?
- Tudo bem. Tudo estará bem.

Desculpe, meu bem, por beber tanto. Por escrever tanto. Por pensar tanto.
Por tantos "tantos", eu morri um pouco mais e quase me esqueci de quem eu sou. Por isso, escrevi tanto para chegar nesse fim de carta para dizer que não estou bem.
Estou cansado.
Com saudade.
Perdido. E só.
Muito só.
Cansado! Mente que mente. E muito só.
Eu não estou nada bem e precisava te dizer antes que seja tarde demais.
Existe alguma coisa no fundo do meu coração que implora para desistir, mas também existe algo que luta e grita e suplica me mostrando que logo voltarei para esse mundo putrefato sendo o fantoche de muitas palavras que sempre fui.
Eu não estou bem, meu bem.
E desculpa se não escrevi palavras bonitas que todos gostam de ler. A vida não é esse conto de fadas que todos esperam. E a dança só tem ritmo quando a música mais linda está tocando, mas essa música das nossas vidas deixou de tocar faz um bom tempo.
Nasci e morri, mais uma vez.
E estou só.
Até que chegue o fim.
E lá, continuarei só.
Eu não estou bem.
E o que me deixa mais calmo é lembrar que as estrelas também vivem só.

A vida é assim mesmo, meu bem.
É tudo uma grande peça de teatro e eu sou um dos personagens tristes e dramáticos.
Com um fim previsível.
E um romance chato.
Sem flores dessa vez.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Hoje é quinta-feira e me deu uma saudade danada!

charles chaplin | Tumblr
Eu começo todas as minhas mil palavras por uma fotografia, apenas para mostrar que os dois juntos querem dizer muita coisa sim.
E me bateu.
A vida me bateu.
A saudade bateu.
E eu quero te mostrar que é muito simples sentir falta de todas as coisas simples.
Assim como venho sentindo.
E é tudo muito simples.
Simples de estar.
Simples de ser.
Simples de ter.
Simples de ver.
E eu passei duas noites em claro tentando chorar, não consegui.
O aperto é constante.
O vazio cortante.
As palavras insuficientes.
E o olhar que diz muito.
Mas que ninguém quer saber.
Eles nunca querem saber o que significa o nosso olhar.
E o meu, muitas das vezes, suplica por socorro.
Socorro que ladra.
Socorro que implora.
Socorro que chora.
E eu não vejo nenhum deles aqui me estendendo a mão e me chamando para dançar.
Se bem que, a gente nem pode segurar outras mãos nesses dias.
E eu sinto falta. Muita falta.
Gostaria de te dizer.
Não para me redimir. Não para me vitimizar. Não para que enxerguem minhas palavras como um canto de dor ou tristeza. Eu quero que leiam e entendam como algo bom. E que esquente a tua saudade.
Eu sei que sentes falta de algo. Ou de alguém. Ou de si mesmo.
É normal e muito simples essa falta corroer as nossas entranhas e fazer a gente vomitar todas as baboseiras comestíveis em nossos estômagos vazios de sentimentos. Ou, muitas vezes, cheios até demais.
E eu senti saudade. Saudade daqueles momentos comuns.
Saudade de te pedir para entrar e se sentar.
Te dizer para ficar a vontade. Para não se acanhar.
E colocar a tua música preferida para te dizer que eu escutei ela a semana inteira, enquanto tu esteves fora.
Saudade de te pedir para tirar a roupa.
Espera, calma, não desse jeito. Não na sujeira da limpeza carnal.
Mas para que se sintas a vontade. Tira o tênis. Fica descalça. Tira a blusa. Tira a calça. Fica a vontade. E não se importe com o teu corpo. Ele é lindo dessa forma.
Fique simples. Seja simples.
Escute a música. Tome um vinho.
Tem cigarros sob a mesa.
Fume-os.
E se não gosta, jogue-os fora. Tanto faz. Não me importo. Apenas se sinta bem. E faça eu me sentir vivo estando em um momento simples de novo.
Vamos jogar conversa fora. Vamos sorrir. Vamos gargalhar. Vamos plantar nossas sementes no coração um do outro e esperar alvorecer algo lindo que só a gente de alma nobre pode dar.
Vamos falar das nossas besteiras. Vamos chorar os nossos problemas. Vamos reclamar. Vamos falar alto. Vamos gritar nossas canções preferidas e resmungar sobre nossos chefes.
Vamos escrever nossas próprias poesias.
Vamos ler nossas poesias e darmos risadas de nós mesmos.
Não tem problema. A gente não leva nada disso para o lado negativo da coisa.
Vamos beijar nossos rostos. Vamos beijar nossas mãos. Vamos nos sentir. Vamos entender que estamos vivos e nada mais importa.
Deixa eu te abraçar.
Me conforta com o teu abraço.
Me conforta com o teu sorriso.
Me conforta com o teu jeito.
E continue me contando tuas besteiras.
Todas elas importam para mim.
Aguenta um pouco, só um pouquinho. Vou apenas buscar outra cerveja e abrir o teu vinho preferido. Não saia dai. Não vai dar tempo nem de sentir saudades. Não vai dar tempo nem do peito apertar. Não vai dar tempo nem de pedir para eu voltar, porque logo estarei em nosso quarto novamente. Tu sabes disso.
Eu disse que não iria embora.

- Eu senti tanta falta das nossas conversas.
- Eu senti tanta falta dos nossos sorrisos.
- Eu senti tanta falta dos teus palavrões.
- Eu senti tanta falta de você.
- E eu de você. E nada mais importa.

Eu segurei o choro por duas noites seguidas, mesmo forçando a saída de todas as lágrimas.
E eu consegui chorar apenas hoje.
Nesta quinta-feira gelada.
Entrei debaixo do chuveiro quente, apaguei as luzes para me enxergar melhor por dentro.
Fechei os olhos.
Me vi todo desfigurado.
Não entendi bem o que tudo aquilo queria dizer.
Mas eu chorei. Chorei muito. Chorei pela falta. Chorei pelas perdas. Chorei pelas crianças. Pelos idosos. Chorei pelas mulheres que sofrem e estão sofrendo agora mesmo. Pelo país. Pelos meus pais. Chorei por mim. Chorei por meus amores. Chorei pelos romances. Chorei pelos abraços que eu não entreguei quando eu deveria. E chorei pelos beijos que eu deveria ter dado e por todas as palavras que eu deveria ter lançado. Chorei por conta do presidente. Chorei pelo que bate aqui dentro da mente. Chorei pelos socos que a vida entrega ao meu coração. Chorei assim, de repente. E nada mais importou naqueles 14 minutos que passei derramando lágrimas. E eu lembrei de todas as vezes que pensei em desistir. Eu lembrei de todas as vezes que pensei em sorrir. E não consegui. As duas coisas.
Eu lembrei das palavras que eu gostaria de escrever. Eu pensei em todas elas. E de todas elas eu senti medo e euforia. Eu gostaria de ter gritado. Eu gostaria de ter esperneado. Eu gostaria de ter dado murros e socos na parede. Mas eu apenas chorei. E deixei as lágrimas escorrerem enquanto eu tentava me entender e me compreender e me reconectar melhor com tudo isso. E o universo me disse para continuar e botar todas as palavras engasgadas para fora. Doces palavras. Palavras que ninguém entende, mas que são bonitas se tu parares para pensar.
Eu senti um medo absurdo de escrever.
Eu tremi em frente a tela com medo de falhar.
E não saber demostrar minhas saudades.
E talvez eu mesmo não tenha conseguido demonstrar tão bem assim. Acho que ninguém irá se identificar dessa vez. Não dessa forma.
As pessoas gostam de me ver sofrendo por amor.
Eu sei que gostam.
Porque todas elas sofrem por amor, por mais que esteja tudo dando certo nesse ramo.
É bom sentir, não é?
É bom o frio na espinha.
As borboletas no estômago.
E quando tudo da errado, a gente assassina todas elas lá de dentro. Mas é sempre bom amar e ter a quem amar.
Mas, como todas aquelas coisas que apertam o coração.
Como carinho sem afeto.
E amor sem relação.
Hoje apenas me deu saudade.
Saudade de estar.
Saudade de ser.
Saudade de ter.
Saudade de ver.
Saudade de ser tão simples quanto o amor que bate aqui dentro do peito.
E quando digo simples, não é sobre algo comum que a gente descarta facilmente, mas sim, de algo tranquilo e calmo e fácil.
O amor é fácil demais, nós como seres humanos que complicamos todas as coisas.
E isso é natural também.
Difícil mesmo é quando a saudade aperta.
Quando a boca boceja.
Quando o hálito revela apenas um aroma doce de aperto vindo do coração.
E quando a vontade de não existir mais come as tuas entranhas até você sentir a falta de chorar.
A solidão invadiu.
O coração apertou.
Os olhos choraram.
O peito acelerou.
Eu me desesperei e não soube para onde ir.
Então me tranquei. Me calei. E chorei. Chorei até a garganta doer e os olhos incharem.
E foi tudo muito bom para mim.
"É impossível ser feliz sozinho" já dizia Tom Jobim. Talvez ele estivesse certo. E calhou a gente se foder de tal maneira universal para entender que a solidão não faz sentido algum.
E eu, que sempre dei valor para pequenos encontros e grandes momentos, me visto da frase mais triste feita pelo homem que já existiu "Eu sempre gosto de andar na chuva porque ninguém pode ver minhas lágrimas".
Lembrando que quem disse isso foi Charlie Chaplin, o melhor ator, gênio absurdo, comediante de todo o universo. E que morreu triste.
E eu me senti assim embaixo daquele chuveiro quente.
Escrevi algumas palavras e já me sinto bem melhor.
Quem sabe eu não tenha escrito algo que realmente dê algum impacto.
Quem sabe eu não morra triste também.
E com uma puta dor nas costas.
A gente nunca sabe, não é mesmo?

- A gente nunca sabe, meu bem!
- A gente nunca sabe do que, querido?
- Quando a saudade vai revestir nossos corações.
- Porque está falando isso, meu bem?
- Me deu uma saudade danada de um momento simples, querida. Uma saudade danada!

Toda vez que eu escrevo, sinto que não foi o suficiente.
Sinto que falta algo.
E eu nunca sei bem o que é.
Se estiver faltando algo no teu coração ou nessa carta, me conte, ok?!
Estou triste demais para lembrar de tudo que eu gostaria de te dizer.
E comecei a chorar novamente.
Mas dessa vez não estou pensando em desistir.
Não agora.
Apenas tentando me enxergar um pouco menos desfigurado para compreender melhor tudo isso.
É triste, né?
Mas eu sei que tu estas triste também.
É normal.
É simples.
É genial.
Mas passa.
Sempre passa!