Outro amor. Outra mulher. Outra angustia. Outro ciúme. E eu cansei de me sentir vazio. Por isso comecei a amar. Não. Um minuto! Ou dois! Comecei a amar porque estava vazio o suficiente para não ser feliz. E hoje, em relação ao amor e algumas pequenas outras coisas, me sinto feliz e calmo e aliviado e em paz. Cadê a paz de todas as outras coisas? A paz e felicidade são sentimentos difíceis de serem encontrados, mas que porra. Outro palavrão. Outro susto. Outra angustia. E mesmo amando continuo me sentindo sozinho na escuridão do luar. E eu abro uma cerveja, acendo o trago da minha alma, ligo a TV num canal qualquer e fico ali apenas observando o tempo passar.Essa é a minha maneira de lutar minuto a minuto da minha vida. Estou fazendo alguma coisa de bom. Claro que estou. O maior bem que posso fazer é não ter que sair de casa para enfrentar um rosto humano qualquer e encher o saco das pessoas ou elas encherem o meu saco. E eu continuo com a esperança de poder entrar em meu pequeno casulo e dormir pelos próximos cinco anos, mas claro, a porra da humanidade nunca deixaria com que eu fizesse algo assim. Isso é triste também.
Outra história. Outra hora. Outro minuto. Outro segundo. E antes que eu morra gostaria de fazer todas as coisas que ainda não fiz. E enfrentar muitos minutos. E amar do jeito que estou amando, mesmo sendo devastado pelo ciúme que corrói o meu peito medíocre de sonhador bobo e tolo. E eu quero ingerir muito mais álcool do que o comum. E fazer merda. Cuspir em minha própria testa. Quero ser esse desgraçado que sabe escrever algumas boas palavras e aliviar a própria alma. E antes que eu morra quero conseguir salvar a humanidade de alguma forma, faze-los enxergar que o mundo e eles mesmo são muito melhores do que isso que hoje eles são. E eu quero tomar muito café. E sentir medo da morte, mesmo muitas vezes a desejando-a como nunca desejei uma mulher de tal maneira. E não quero mais ficar longe de minhas palavras. NUNCA MAIS. Elas me dão medo, mas eu sinto que elas me amam a ponto de sentirem minha falta e ficarem martelando em minha mente até que eu cuspa todas elas para fora. E chegando nessas linhas já começo a me sentir muito mais aliviado do que quando comecei a primeira palavra desse conto tão escroto quanto eu.
- Porque você é tão triste? Tudo o que escreves é verdade? - ele perguntou.
- A tristeza veio com o tempo. O tempo vem com a tristeza. Você passa a observar melhor o mundo depois que começa a escrever bastante e observar demais e pensar demais sobre tudo que observou te deixa triste. - respondi.
- Então tudo que escreves é verdade? Não respondeu minha pergunta. - ele insistiu.
- Sim. Tudo que escrevo é verdade, porra. Tudo que penso é verdade. Seja o pensamento inventado ou criado ou verdadeiro. Eis ali minha verdade. Em minhas palavras. - respondi.
- Não te entendo! - ele disse.
- Não tentes me entender! - eu disse.
Outro romance. Outra poesia. Outra fotografia. Outro amanhecer. E todas as coisas da vida são como aquela pequena névoa que ecoa antes de todo amanhecer, PASSAGEIRA. E tudo que fazemos é tão passageiro como nossa jornada nisso que chamam de terra. E eu apenas gostaria que há muito tempo depois que eu morresse, alguém encontrasse todas as minhas tristes e melancólicas palavras e lessem todas elas. Talvez, se eu estivesse nesse momento por aqui, me sentisse imortal. E eu quero que todas essas minhas palavras sejam imortais de uma forma ou de outra. Assim como eu nunca serei. Assim como nada é. E tudo é passageiro. Tudo. E isso é triste também, mas animador. É bom saber que todas as coisas boas não irão durar para sempre porque não perdemos o gosto daquilo e nem enjoamos. Tudo que é demais cansa e enjoa e ensurdece. Mas é muito melhor saber que todas as coisas ruins são passageiras também e que nada, incluindo as coisas ruins, não duram para sempre. Nem a morte dura para sempre. Nem a porra da morte.
- Você tem a vida que muitas pessoas queriam ter. Tem tudo em suas mãos. Família, amigos, namorada, casa, dinheiro e todas as outras coisas mais, porque continua se sentindo deprimido e frustrado desse jeito!? - ela disse.
Não respondi. Mas refleti. E sei a resposta. Apenas não quis dar por não saber se é a resposta certa.
E antes que eu morra...que eu descubra o caralho da resposta. E que eu descubra bebendo uma bela cerveja gelada. E que seja nesse meu cantinho onde liberto todos os cuspes em forma de palavras.