segunda-feira, 11 de maio de 2015

E antes que eu morra...

Outra cama. Outra bebida. Outra pessoa. Outro alguém. Outro eu. Outro teu. Outra vida. Outro cigarro. Outro lugar. Outro emprego. Passei longas semanas longe de minhas genuínas escrituras e enlouqueci. Meses, na verdade. Meses longe de minhas palavras. Oh, sim. Eu enlouqueci. Quase morri. Não quis mais lutar um minuto sequer por meus minutos de vida restantes. Caralho, como eu sofri, mas voltei. Um jovem bêbado com a alma tão velha e o coração tão frio voltou ao seu cantinho escuro e triste e voltou a escrever. E ele está escrevendo. Incansavelmente. E não, não quero mais ficar longe disso daqui. Nunca mais. Outra palavra. Outra carta. Outra melancolia. E não, não quero nunca mais permanecer afastado de minhas lindas palavras. Essas palavras que só eu enxergo beleza e grandeza e leveza e paz. Sinto-me honrado em voltar a decifrar minha alma através delas porque talvez essa seja uma noite em que eu vá descansar em paz. Meu coração está cheio de sentimentos vazios e minha mente está vazia de pensamentos fascinantes. Minha alma está lá fora. Não está dentro de mim. Não agora. Não nesse exato momento. Nem nunca esteve. E eu quero outra cerveja. E eu quero outro trago. E eu quero outra loucura. Onde está o meu eu? Onde está aquela pessoa que sonhava em ser feliz, mas que precisa da beleza de suas próprias palavras para se sentir, pelo menos por algumas horas, liberto? Minha vida é como uma prostituta barata usada por todos. Os mais perversos e fedidos velhos que não pagam nem o jantar para depois foderem o meu cu. Isso é triste. E eu permaneço triste.

Outro amor. Outra mulher. Outra angustia. Outro ciúme. E eu cansei de me sentir vazio. Por isso comecei a amar. Não. Um minuto! Ou dois! Comecei a amar porque estava vazio o suficiente para não ser feliz. E hoje, em relação ao amor e algumas pequenas outras coisas, me sinto feliz e calmo e aliviado e em paz. Cadê a paz de todas as outras coisas? A paz e felicidade são sentimentos difíceis de serem encontrados, mas que porra. Outro palavrão. Outro susto. Outra angustia. E mesmo amando continuo me sentindo sozinho na escuridão do luar. E eu abro uma cerveja, acendo o trago da minha alma, ligo a TV num canal qualquer e fico ali apenas observando o tempo passar.Essa é a minha maneira de lutar minuto a minuto da minha vida. Estou fazendo alguma coisa de bom. Claro que estou. O maior bem que posso fazer é não ter que sair de casa para enfrentar um rosto humano qualquer e encher o saco das pessoas ou elas encherem o meu saco. E eu continuo com a esperança de poder entrar em meu pequeno casulo e dormir pelos próximos cinco anos, mas claro, a porra da humanidade nunca deixaria com que eu fizesse algo assim. Isso é triste também.

Outra história. Outra hora. Outro minuto. Outro segundo. E antes que eu morra gostaria de fazer todas as coisas que ainda não fiz. E enfrentar muitos minutos. E amar do jeito que estou amando, mesmo sendo devastado pelo ciúme que corrói o meu peito medíocre de sonhador bobo e tolo. E eu quero ingerir muito mais álcool do que o comum. E fazer merda. Cuspir em minha própria testa. Quero ser esse desgraçado que sabe escrever algumas boas palavras e aliviar a própria alma. E antes que eu morra quero conseguir salvar a humanidade de alguma forma, faze-los enxergar que o mundo e eles mesmo são muito melhores do que isso que hoje eles são. E eu quero tomar muito café. E sentir medo da morte, mesmo muitas vezes a desejando-a como nunca desejei uma mulher de tal maneira. E não quero mais ficar longe de minhas palavras. NUNCA MAIS. Elas me dão medo, mas eu sinto que elas me amam a ponto de sentirem minha falta e ficarem martelando em minha mente até que eu cuspa todas elas para fora. E chegando nessas linhas já começo a me sentir muito mais aliviado do que quando comecei a primeira palavra desse conto tão escroto quanto eu.

- Porque você é tão triste? Tudo o que escreves é verdade? - ele perguntou.
- A tristeza veio com o tempo. O tempo vem com a tristeza. Você passa a observar melhor o mundo depois que começa a escrever bastante e observar demais e pensar demais sobre tudo que observou te deixa triste. - respondi.
- Então tudo que escreves é verdade? Não respondeu minha pergunta. - ele insistiu.
- Sim. Tudo que escrevo é verdade, porra. Tudo que penso é verdade. Seja o pensamento inventado ou criado ou verdadeiro. Eis ali minha verdade. Em minhas palavras. - respondi.
- Não te entendo! - ele disse.
- Não tentes me entender! - eu disse.

Outro romance. Outra poesia. Outra fotografia. Outro amanhecer. E todas as coisas da vida são como aquela pequena névoa que ecoa antes de todo amanhecer, PASSAGEIRA. E tudo que fazemos é tão passageiro como nossa jornada nisso que chamam de terra. E eu apenas gostaria que há muito tempo depois que eu morresse, alguém encontrasse todas as minhas tristes e melancólicas palavras e lessem todas elas. Talvez, se eu estivesse nesse momento por aqui, me sentisse imortal. E eu quero que todas essas minhas palavras sejam imortais de uma forma ou de outra. Assim como eu nunca serei. Assim como nada é. E tudo é passageiro. Tudo. E isso é triste também, mas animador. É bom saber que todas as coisas boas não irão durar para sempre porque não perdemos o gosto daquilo e nem enjoamos. Tudo que é demais cansa e enjoa e ensurdece. Mas é muito melhor saber que todas as coisas ruins são passageiras também e que nada, incluindo as coisas ruins, não duram para sempre. Nem a morte dura para sempre. Nem a porra da morte.

- Você tem a vida que muitas pessoas queriam ter. Tem tudo em suas mãos. Família, amigos, namorada, casa, dinheiro e todas as outras coisas mais, porque continua se sentindo deprimido e frustrado desse jeito!? - ela disse.
Não respondi. Mas refleti. E sei a resposta. Apenas não quis dar por não saber se é a resposta certa.

E antes que eu morra...que eu descubra o caralho da resposta. E que eu descubra bebendo uma bela cerveja gelada. E que seja nesse meu cantinho onde liberto todos os cuspes em forma de palavras.