segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Querida, tu sabes como arranco teu nome de mim sem sangrar?!

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- O que me atormenta não são as lembranças, meu bem?!
- E o que te atormenta, querido?
- Lembrar da ausência de quem um dia tanto esteve aqui.

E eu te trouxe palavras.
Mesmo com o sentimento de que nada deveria te escrever.
E eu te trouxe minhas melhores palavras com meus piores sentimentos.
E de ti já nem peço nada.
Eu pensei em todas as palavras que eu gostaria de te entregar assim que eu te encontrasse, mas eu assassinei todas as borboletas dentro do meu estômago sempre que eu escutava teu nome.
E eu pensei, meu bem, pensei muito sobre como te olharia sem te demonstrar desejos.
Como eu manteria o tom da minha voz sem demonstrar desespero.
E em como eu seguraria meu coração tranquilamente para não te mostrar as consequências de tua partida.
E eu penso muito, meu bem, penso muito no fato de um dia te encontrar para te dizer tudo que senti e tudo que passou depois que foste embora.
E lembra, querida, lembra do dia em que te vi saindo por aquela porta e não fiz absolutamente nada para te deixar ficar? Porque eu lembro, baby, eu lembro todos os dias.
Eu te olhei no auge do meu amor. Tu fechaste os olhos no auge de meu sofrimento.
E eu escrevi teu nome em todas as entrelinhas de todas as minha cartas com o intuito de te entregar, mas eu simplesmente escrevo e amasso e jogo no fundo da lixeira mais próxima.
Cartas esquecidas com o tempo de um tempo em que não sabemos mais lidar porque tudo isso já caiu no nosso esquecimento.
E essa é a minha forma de te escrever, te de apagar, de te esquecer.
Por breves momentos te esqueço como uma carta apagada com o calor de um isqueiro.
E tudo se transforma em cinzas.

Eu me castiguei por não te esquecer.
Bebi todos os dias em que fui capaz.
E os que não fui capaz, engoli tragos para lembrar de um calor aqui dentro.
Apenas me castiguei e me matei um pouco mais.
E eu me maltrato sempre que lembro teu nome.
E eu me culpo sempre que sinto teu perfume.
E eu me abstenho do mundo sempre que ouço tua voz na minha mente.
Eu não arrumei minha cama, meu bem.
Eu não arrumei tuas coisas.
Eu não ajeitei nosso canto.
Eu não ajustei nossos relógios para cronometrarmos nosso retorno.
Eu não limpei meus sapatos.
Eu não joguei nossas fotografias fora.
E meu cachorro ainda sente tua falta.
Eu não exclui nossas canções.
Eu não deixei de toca-las.
Eu não deixei de passar pela tua rua e lembrar das vezes em que sorrimos por ela.
Eu não esqueci o gosto do teu beijo.
Eu não me desfiz do calor do teu abraço.
Eu apaguei teu número de telefone, mas eu sei dele decorado.
Eu escrevi milhões de cartas e coloquei teu nome nelas.
Eu me desfiz de todas elas, mas ainda têm o seu nome ali nas entrelinhas.
Eu não joguei a cópia das chaves de minha casa que eu tinha feito para ti.
Eu não tomei aquelas duas cervejas que comprei para ti.
Eu não fumei teus tragos preferidos. Eles estão lacrados.
Eu não ajeitei minha barba para te ver. Nem penteei meu cabelo para você me ver.
E nem joguei fora o nosso passado.
Uma coisa temos em comum, meu bem, jogamos apenas o nosso futuro numa lixeira qualquer. Da mesma forma que eu faço com minhas cartas sempre que elas são para ti e por ti.
Obrigado por esse amor!

- Que caralho, você está bêbado de novo!!!
- Não leve a mal quando eu digo que sinto falta de algo, meu bem.
- Velho inútil que fica enchendo o cu de cerveja sempre que estas para baixo.
- Não me entenda mal, querida, quando eu digo que queria alguém de volta.
- E lá vai você nesse caralho de teclas escrever mais trocentas cartas tristes e não dedicará a ninguém. Depois vai ficar se remoendo e se matando na cerveja e na saudade.
- Sinto falta de tuas doces palavras, meu bem. Onde elas estão?
- BEM NO OLHO DO SEU CU, PORRA!!! Porque não começa a se cuidar mais?
- Mas eu me cuido, meu bem. Veja bem, uma cerveja, mais duas cartas. Outra cerveja, mais quatro cartas. E assim por diante, quem sabe não escrevo mais alguns livros antes mesmo de morrer e seja capaz de deixar um legado de tristezas e melancolias e cervejas e romances?! A gente nunca sabe, meu bem. Essa é uma nova forma de se cuidar. Bem vinda ao novo mundo!
- Você mesmo acaba com o teu mundo, cretino!
- Exatamente!!! Eu dei tanto valor para meus sentimentos e romances que eu destruí todos eles por não saber agir e lidar com toda essa merda.
- Você é escroto!!!
- Veja como a coisa toda funciona, sempre que eu acredito estar amando piamente alguém, eu vejo que não sinto nada, quando na verdade eu deveria estar sentindo demais. E eu acredito tão sabiamente que estou sentindo algo, quando de fato não estou sabendo lidar com nada. E meu vazio é preenchido por um curto momento, até que eu me pego na beirada de um abismo que eu mesmo me jogo. Estás me entendendo?
- Você não sabe amar ninguém!
- Não, muito pelo contrário, todas as pessoas que eu amei, me entreguei de verdade e foi tudo sincero. Todas as pessoas que passaram pelos meus braços e sentiram o calor de meus lábios, eu entreguei o meu sentimento mais sincero. O problema da sinceridade é justamente esse, meu bem, as pessoas não são fortes para lidarem com sinceridades extremas, isso vale para o meu amor aqui dentro. Acredito que amo pouco quando na verdade estou amando de verdade e me entregando por completo, eu encho o copo da pessoa até transbordar e logo em seguida eu travo por não saber lidar.
- É nesse ponto em que você desanda.
- É nesse ponto em que o romance se torna algo perigoso, a gente nunca sabe se estamos transbordando ou deixando vazio. Eu nunca sei!
- E tu acreditas no que?
- De que eu deixo sempre o vazio quando de fato estou acreditando sabiamente que estou preenchendo.
- E depois?
- E depois meus romances escorrem pelos meus dedos.
- E então?
- E então eu bebo. E escrevo.
- Tu parece que gostas de se sentir e estar assim.
- Não. Na verdade, eu odeio. Odeio essa sensação de estar apaixonado e amando alguém quando não posso, de fato, fazer absolutamente nada. Eu amo não estar sentindo nada. Não pensar em ninguém. Não querer ninguém. Sinto que estou no caminho certo quando não tem romances em meus dias, porque eu não me encaixo com a sociedade e isso me entrega muito conforto aqui dentro. Romances e amores são perigosos, e esse é um jogo em que não quero mais fazer parte.
- Queres um blues?
- Sim, e uma cerveja, meu bem. Preciso escrever mais um pouco.
- Claro, eu busco para ti e aumento o som. Mas deixa eu te fazer uma pergunta antes.
- Manda, querida!
- Tu tens amado alguém esses dias?
- Que não seja a mim mesmo?
- Sim! - se levantou e ficou me olhando.
Dei mais um trago. Mais um gole em minha cerveja e respondi.
- Mas é claro que tenho amado. A gente sempre está amando. Essa é a grande jogada que tanto me perturba. Um royal flush de sentimentos!

Coração é muito mais do que eu posso suportar.
Porque eu deveria te ligar quando desligaremos a chamada?
Porque eu deveria te escrever quando irás jogar fora as palavras?
Porque eu deveria te querer quando debochas do que sinto?
Porque eu deveria te desejar quando não me queres por perto?
Porque eu deveria te olhar quando desvias todos os olhares de mim?
Porque eu deveria te procurar quando em mim já não pensas mais?
Porque eu deveria te salvar quando sorri ao me ver no abismo derradeiro de sentimentos?
Porque eu deveria te amar quando tu nem sabes mais quem ama?
E você já se perdeu faz tempo por ter tantos sentimentos confusos dentro de ti e não saber mais o que é vazio e o que é preenchimento.
E eu já nem me importo com isso. Nem te julgo. Nem tenho poder para fazer algo assim porque sou tão perdido quanto você.
Só não dedico mais minhas palavras para ti pois sei que elas já não têm mais serventia nenhuma dentro desse teu coração. E eu nem vejo mais motivos em te escrever tais palavras que te façam querer ficar.
Nem quero!
Porque eu deveria te escrever quando tu enxergas somente as tuas verdades?

Eu me perdi tentando te encontrar. E olha só o que conseguimos.
Eu te trouxe palavras, meu bem. Tu me trouxeste garranchos.
Mas eu sei ler bem, e todos esses garranchos me mostravam o quanto me queres longe.
Apaguei do meu coração a droga repentina que eu batizei com teu nome. Amor!
E eu sangrei. Sangrei muito. Sangrei demais.
E você não deu a mínima.
Talvez seja tarde demais.
E eu não dou a mínima.

Pensei em te levar flores, mas todas elas morreriam até eu te encontrar.
Pensei em todas as palavras que eu te falaria, mas todas elas sumiriam até eu te encontrar.
Pensei tanta coisa quando na verdade eu tinha te esquecido. Lembrei que sou capaz disso.
Fiquei aflito!
Você choveu em mim o suficiente para eu não sentir que essa tempestade foi embora.

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