terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Tudo isso irá chegar ao fim quando a tua cerveja acabar - e a gente segue mentindo que não sente nada

...ei...
fica...
não vai embora não!
Te juro que a companhia será
nas pressas
porque existem momentos na vida
em que a gente só quer gritar, explodir, socar e xingar
E existem momentos na vida em que a 
gente não quer fazer
absolutamente nada
do que pensamos e gostamos um dia desses.
Os pontos finais serão aceitos por aí.
Pontuações talvez erradas pelos cantos
E a gente não se importa
não é mesmo?!
Eu sei que tu não se importa
e irá entender cada palavra de 
desespero
que aqui quero te entregar.
Será apressado
Com pressa
Depressa
Leia rápido. Bem rápido
mas entenda
Esse é um daqueles dias em que a ansiedade bate forte no peito
e deixa aquele aperto contínuo pulsando aqui dentro
E tudo se multiplica
e se mistura
E então...
a gente se perde.

Fica!
Dê mais um gole na tua cerveja
será tudo muito breve
e vago
mas espero que toda essa porcaria preencha teu coração 
de alguma forma.
E, deixa-me te dizer uma coisa.
Leia rapidamente
sem pontos
sem interrogações
sem culpa
sem mentira
depressa.
Depressa!
Meu coração está pulsando
E eu te quero
junto de mim
Aqui pertinho.
Quando minha mente mais implora por solidão
E quando o coração já não aguenta 
gritar em silêncio.
E eu quero ouvir o teu gemido próximo do meu ouvido
quando, na verdade, 
eu mais te quero longe.
Quero teu carinho
teu cheiro. teu jeito.
Teu dengo.
Teus nervos.
Quero tua pele colada na minha
e nosso suor se arrastando pelos
lençóis
Enquanto isso, todas as flores mortas lá fora
caem como nada pelo asfalto
Entre aqueles ventos que as sopram para longe
nos beirando as loucuras das esquinas da cidade.
E eu sei que esta carta nada rima
com nada irá rimar
e eu nem quero que seja um poema
ou uma poesia

ou até mesmo
uma carta.
Não quero que seja nada disso.
quero que seja a loucura.
Quero que beire a insanidade
Prefiro que não entendam nada
e me chamem de escritor de quinta categoria
desprezível e solitário
que escreve tuas loucuras num pacto de ansiedade
Rápido.
Rápido.
Depressa.
Veloz.
E do tempo nada apaga.
E na escuridão nada fala
Meu jeito implora pelo teu jeito
Minha voz engasgada grita pela tua voz
cansada
E eu rimei quando fechei os olhos
deixei os dedos e a mente falarem
mas só te enxerguei na minha frente.
E, veja bem, continuo de olhos fechados
Cerrados
Apertados
e molhados
enquanto digito tais palavras que logo cairão em teu colo
E de nada importa
E de nada muda.
Mas algo aqui dentro logo irá pulsar de alguma outra maneira.
Tempo que muda
Que pula
Que paga
Que cobra
Que mata
e arregaça
Estrangula e Estraçalha.
Tempo que nada
Que apaga
Que reencarna
que estraga
e te cospe todas as verdades da vida quando tu menos queria ouvir
E a gente engole tais verdades
sem nem olhar para trás
A gente desapega e segue
Que vive!
Que nada!
E mente. E deixa a mentira ultrapassar tais fronteiras
ela tem perna curta
logo ela volta
As melhores mentiras são as que a gente conta para nós mesmos
e as melhores promessas são aquelas impossíveis de serem aceitas
e bem feitas
E a gente segue sem se importar com nada
nem com ninguém.

oh, me desculpe!
Me perdi no meio dessa loucura toda.
Mil perdões.
Compreenda
e entenda
Tu faria igual a mim esta noite?
Conseguiria escrever tudo que sente e pensa e vive e deseja?
Conseguiria cuspir e vomitar tais palavras e entrega-las ao mundo
fazendo com que isso te faça se sentir melhor?
ou você se acovarda por trás dos vícios como eu?
Um tanto quanto confuso, não é mesmo?!
Nem eu me entendo.
E tu não se entende.
E ninguém quer se entender.
Difícil amar as pessoas quando nem mesmo nos amamos. 
mas,
tu conseguiria?
Preencher com palavras todos os teus sentimentos e aflições
e maiores fraquezas - 
- tu, morfina, aquela que batizei com teu nome - 
para qualquer um desfrutar e 
simplesmente
cagar e esquecer todas as palavras.
Ou,
quem sabe,
um dia usa-las contra você.
Fazendo com que se sintas pior do que outros dias?!

...eu consegui.
Eu consigo
te dizer
que eu te quero
te espero
e que meu estômago caga borboletas quando lembra do teu nome
ou do teu sorriso.
Sim,
tu ai...
tu mesmo que caiu por acidente em minhas palavras
EU QUERO VOCÊ!
aqui
agora
me pedindo para ficar
desarrumando a minha barba
e acertando as bagunças do meu coração.
Tu bagunçou tudo, garota
a partir do momento 
em que entrou na minha vida
e me entupiu de baboseiras comestíveis 
que foram proferidas pela tua boca
E eu me entupi de todas elas
E sorri com todas elas
A gente sempre esquece o conselho maternal que diz para não aceitar
nada
de estranhos.

A minha cerveja acabou.
E a tua?
último gole?
Se ela acabou
mesmo quando prometi que tudo seria tão rápido
e que esqueceria todas as palavras que aqui escrevi
no prazo máximo de
meia hora.
E não me importaria com o fato da platéia 
me achar um tolo
ou bobo
ou romântico
ou louco.
Até mesmo insano
ou até mesmo burro
Esquecerei estas palavras, logo menos, mas o coração ainda estará sentindo
e eu ainda irei querer você
como nunca quis alguém

...me fez sorrir.
Me fez mais leve.
Me fez mais calmo.
Me fez mais breve.
Calmo.
Muito calmo.
Bem calmo.
Ansiedade controlada com sucesso
a minha cerveja acabou.
E a tua?

A platéia aplaude.
As cortinas se fecham.
e esse teatro pelo qual faço parte
como fantoche
é tão insatisfatoriamente lindo.