segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Papel, caneta e coração

Se eu não viver, o que irei escrever?
Se eu não escrever, o que irei viver?
Decidi virar esse escritor de quinta e por conta disso tenho que sair de casa para viver. Viver muito. Eu preciso viver para conseguir escrever alguma coisa, senão eu falharei com essa minha tentativa frustrada de ser alguém por conta das palavras. Ah, para o inferno com isso de ser alguém melhor. Eu nunca quis ser rico ou famoso ou conhecido por escrever alguns contos ruins. Eu nunca quis mais do que apenas demonstrar meu desespero, pensamento e sentimento em relação a vida. Sinto vontade de cometer suicídio sempre que alguém fala que eu poderia escrever um livro e virar o melhor escritor de todos os tempos, mas mesmo assim dei um tiro em meu próprio pé. Acabei de escrever o meu primeiro livro e odiei. Li, reli, e odiei. Mas que inferno, como eu odiei. Também não seria para menos, se eu odeio todos os meus contos e textos e lamentações, porque eu não iria odiar um livro que eu mesmo escrevi e logo estará sendo vendido em um lugar qualquer da internet. Se alguém terá que ganhar dinheiro com essa porcaria toda que seja eu, né?

Escrevo desde que me conheço por gente. Escrevo desde que me sinto essa pessoa triste e infeliz. Tornei-me papel, caneta e coração desde o momento em que tive a minha primeira depressão. MAS ESPERA. Eu já escrevia antes mesmo de ser completamente essa pessoa infeliz, mas escrevia coisas bonitas e românticas e felizes. Isso sim era triste. Não ter essa visão da realidade do mundo. Ser triste é ser uma pessoa que acredita ser feliz. Você não precisa de muito mais que isso se quer ser um escritor de verdade. Você precisa ser louco, ser triste, ter dor. Você precisa viver para ser um escritor. Você precisa ser muito mais que um ser humano feliz para ser um escritor de verdade. Você precisa ouvir músicas boas antes de escrever. Precisa se entupir de cerveja ou café antes mesmo de escrever. Precisa sentir as palavras chegando até você. Você não será um bom ou péssimo escritor se não conseguir sentir, pelo menos um pouco, as palavras chegando até você.
Do que estou falando? Mal terminei de escrever um livro e estou acreditando que sou um escritor de verdade? Estou prestes a cair no meu período patético de desligamento por conta disso. Sou apenas um escritor bêbado de quinta categoria, não sou mais que isso. As pessoas acreditam de verdade que sou um escritor de verdade e que tenho futuro com minhas palavras. Que eu não me mate por conta disso. Que minhas loucuras me entreguem forças para sair dessa, senão não sei o que será de mim daqui para frente.

O seres humanos têm algo em comum. Somos assim e acredito que você irá entender. Nós nunca gostamos das coisas que criamos e fazemos. Dificilmente nos damos por satisfeitos com todas as coisas que nós mesmos criamos. Um desenhista dificilmente irá se contentar com seus desenhos. Um músico dificilmente se contentará com suas músicas. Um fotógrafo dificilmente se contentará com suas fotos.  Um jornalista dificilmente se contentará com suas reportagens. Uma confeiteira dificilmente estará satisfeita com seus bolos. A porra de um escritor dificilmente se contentará com seus contos. E assim vai. Nunca estamos felizes e satisfeitos com as coisas que fazemos. NUNCA. Sempre odiamos tudo que nós mesmos fazemos. Sempre queremos ser melhores do que a ultima coisa que tenhamos feito. Um desenhista sempre irá querer fazer um desenho melhor que o ultimo. Um músico irá querer fazer uma música melhor que a ultima. Um fotógrafo sempre estará atrás de fotos melhores. Um jornalista SEMPRE estará atrás de polêmicas melhores. Uma confeiteira sempre irá querer melhorar seus ingredientes e enfeites. A porra de um escritor está sempre querendo superar seus últimos textos e contos e tristezas. Todos tem algo em comum, menos os escritores. Todos são capazes de sempre se superarem por conta de suas artes, mas os escritores são obrigados a viver mais e mais para conseguirem superar seus contos. Se um escritor vive uma vida de merda, seus textos serão um grande saco de merda. Se um escritor vive uma vida a mesa de um bar, seus textos serão apenas para bêbados e loucos. Se um escritor vive atrás de prostitutas e romances e amores, seus textos serão apenas sobre sexo, tristezas e solidão. Se um escritor vive atrás de finais felizes, ah, meu caro, seus textos serão um clichê sem fim. Se um escritor vive como eu, ele será apenas um escritor bêbado de quinta escrevendo sobre todas essas coisas. Um pouco aqui. Um pouco ali. Um pouco lá. Não digo que o modo de viver de todos os escritores estejam erradas e só a minha esteja certa ou que eu esteja vivendo errado e eles do modo certo, isso não existe, cada um vive a sua maneira, mas digo que todos os escritores devem ser papel, caneta e coração.

Você não precisa ser um escritor profissional para botar todas as suas loucuras para fora. Vai lá. Levante, viva e tente. Escrever salvou a minha vida, pode salvar a sua também. Somos todos escritores de nossas próprias vidas.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Poesia para ser lida em uma mesa de bar

Eu estou morrendo.
Cada minuto que passa estou morrendo. Cada segundo que passa estou envelhecendo. Cada respiração profunda que estou dando é um esforço a menos em minha vida. Todos estamos morrendo. A vida está passando e estamos morrendo. Morrendo. Morrendo. Morrendo.
Acredita nisso ou nunca parou para pensar nisso?
É algo incrível para pensar. A humanidade está lá fora defecando suas regras e fazendo suas merdas e nós estamos aqui apenas morrendo. Droga. Eles também estão morrendo. Nunca estamos livres da morte e cada minuto que passa é um caminho mais próximo para o nosso velório. E a gente se preocupa com coisas tão fúteis ao invés de tomar um belo e grande copo de cerveja. Sente em uma mesa de um bar e tome um belo e grande copo de cerveja ou então sente em frente a um balcão de alguma cafeteria e tome uma bela e grande xícara de café. Aproveite a vida. Olhe o que tem de melhor nela. Você está morrendo, lembra? MORRENDO.
A vida é como uma orquestra frustrante e alegre se afogando em depressão. A vida é uma música clássica longa, mas que por ser tão paralisante ela acaba rápido. Quando nos damos conta, a música acabou ou a nossa vida acabou. E quantos estão morrendo enquanto escrevo essas palavras? E quantos morreram enquanto Beethoven compunha a sua nona sinfonia? E quantos morreram escutando essa sinfonia? Estamos morrendo. Morrendo. MORRENDO.

Eu estou morrendo e não fazendo mais questão dos que me esquecem. Estou morrendo e não fazendo questão dos esquecidos. Porque eu deveria me importar se não sou tão importante para todas aquelas pessoas que um dia me disseram que eu era importante para a vida delas? Talvez elas notem o quão importante sou para elas assim que minha morte for declarada. Talvez eles nem notem a minha ausência. Eu não preciso correr atrás das pessoas e dizer que sinto falta. Não preciso ir atrás delas e dizer que elas sumiram. Também não quero que elas venham atrás de mim para dizer que eu sumi. MAS QUE DIABOS, elas sabem onde moro, sabem como vivo, sabem o que faço, elas tem meu número. Essas pessoas que me colocam na lista dos esquecidos poderiam até me mandar uma carta, elas conhecem o meu endereço. Porque eu deveria me importar com o esquecimento delas por mim? NÃO, já não me importo. Estou morrendo, mas ainda me encontro aqui. Estou morrendo, mas elas podem vir atrás de mim e me deixarem com a impressão de que não sou tão esquecido assim. É difícil acreditar nas pessoas quando elas dizem que sou importante para elas, mas elas passam meses e meses sem nem lembrar o meu nome. Essa sociedade que lista os esquecidos lá no fundo do baú é que nem políticos, eles estão lá, contando mentiras e mais mentiras com seus sorrisos falsos e você está acreditando e acreditando e acreditando e morrendo, até que um dia você se encontra totalmente na merda. Eu não preciso ser lembrado sempre, mas também não preciso ser esquecido para todo o sempre. Mas que droga. Eu estou morrendo. Eles estão morrendo. E as pessoas esperam a morte de alguém ou a delas mesmo para saberem que significam ou significaram alguma coisa. A humanidade me entristece.

Um dia me disseram "- Você não consegue sequer escrever um romance" e no mesmo dia outra pessoa me disse "- Você me deixa triste com seus romances. Como você consegue escrever tão bem?". Eu sou um péssimo escritor, meu bem. Um péssimo escritor que está morrendo. Leia e releia essas minhas palavras de quinta categoria. Um bêbado sequer, cambaleando dentro de um bar, compraria essas minhas palavras. EU NÃO CONSIGO ESCREVER UM BOM ROMANCE. E eu estou morrendo. E eu preciso de uma cerveja. E eu preciso escutar uma música clássica deprimente. Mozart. Tchaikovski. Vivaldi. Façam mágica diante dos meus ouvidos. Deixa eu ouvi-los alto e claro enquanto a humanidade toda está morrendo. Deixa eu ouvi-los alto e claro enquanto estou escrevendo essas palavras medíocres e morrendo. Morrendo. Morrendo. MORRENDO.
Acabei de escrever um romance. Um romance sobre o meu delírio cotidiano. Um delírio cotidiano que nem um bêbado se identificaria e gostaria de comprar. Eu sou um bêbado e estou morrendo. Eu sou um louco e estou sendo esquecido. Eu sou um poeta de quinta categoria, um péssimo escritor, mas um dia escrevi um romance que começava assim: "Eu estou morrendo. Cada minuto que passa eu estou morrendo. Cada segundo que passa eu estou envelhecendo. Cada respiração profunda que estou dando para a vida é um esforço a menos em minha vida. Todos estamos morrendo..."

Que eu seja esquecido por esses contos ruins e deprimentes que aqui escrevo. Me perdoem. Amém.


domingo, 21 de setembro de 2014

Amor por R$10,85

O que é o amor?

O amor é uma mulher que lhe dá um tiro de graça. O amor é uma mulher que estupra a sua alma, aquela mulher que faz você gritar e gritar e gritar e permanecer em completa agonia de todos os seus sentimentos escondidos dentro de você. O amor é uma mulher que rouba. Rouba o teu coração e o teu ser. Tua dignidade e integridade. Rouba a tua alma, ah sim, uma mulher que rouba a tua alma e quando você se da conta, você está dentro de um quarto escuro se afundando em um copo gelado de cerveja ou uma dose mais forte e esperando a morte. Sim, esperando a morte. O amor é isso. Isso é o amor. Você tem que estar muito bem preparado se quiser amar ou você tem que ser muito burro se sente vontade de amar. O amor é uma música clássica, daquelas que tocam por horas e horas e você nunca enjoa, mas que uma hora invade teus ouvidos de uma certa forma que faz você se sentir um homem desesperado e perdido e confuso e amedrontado. O amor é como uma faca imensa e afiada que te atravessa ao meio. O amor é como um demônio que vive cochichando baixinho dentro do seu ouvido e dizendo o que você deve ou não fazer. O amor é um inferno pelo qual eu já fiz parte e ainda sinto o cheiro ruim de carne queimada que exala de dentro de mim. Oh amor, não digas que sou ingrato contigo, porque não sou e nunca fui, tu fostes ingrato comigo e lhe agradeço por isso. Oh amor, que poema ruim sobre você estou escrevendo nessa noite gelada. VOCÊ É UM DEMÔNIO, oh amor. Um demônio no corpo de um mulher com um perfume magnifico, belas curvas, sorriso maldoso e lábios grandes e deliciosos cheio de batom vermelho. Oh amor, você me faz queimar, mas eu não quero mais voltar pra esse inferno. Oh amor, afasta-te de mim.

Mas que droga. Espera um pouco. Eu nunca falei bem sobre o amor. O que é o amor afinal de contas? Algum bem aventurado ou bastardo bêbado pode me dizer o que é? NINGUÉM PODE ME DIZER O QUE É O AMOR.

O que é o amor?

Você sabe o que é o amor? Você sabe o que é amar? Acredito que não.
O amor é como Deus, muitos dizem que o avistaram, mas que não sabem como ele é. Outros tantos dizem que já sentiram, mas ninguém sabe ao certo qual o sentimento que ele lhe traz. Porque eu deveria acreditar no amor se nem mesmo acredito em Deus? Oh amor, que confusão você se encarrega de me entregar de presente.
Não sei ao certo o que estou escrevendo sobre o amor. Não sei do que se trata essas palavras, se é um poema ou uma poesia ruim. Não irei ler nenhuma das palavras que aqui escrevi, mas quero tentar entender o que é o amor e quero fazer com que as pessoas parem pra pensar no que é o amor. OH AMOR, cadê você pra responder todas as minhas perguntas. Acredito que você seja como Deus, sempre estive atrás de todas as minhas respostas e sempre fui ignorado. O amor faz a mesma coisa. Lhe faço milhares de perguntas e nunca obtenho respostas. NUNCA. NUNCA. NUNCA. Oh amor.

Droga. O amor é um Deus. Olha a conclusão que cheguei em minhas próprias palavras. OH DROGA. OH AMOR, você é um Deus.

O que é o amor afinal?

O amor é um Deus que lhe dá um tiro e depois estupra a sua alma. Depois rouba teu coração. Depois te deixa louco, oh sim, e como te deixa louco. OH AMOR, OH AMOR, OH AMOR. Como você me deixou louco. Depois você escreve milhares e milhares de cartas de amor e enlouquece. Se encontra dentro de um quarto escuro, bebendo cerveja, ficando bêbado sozinho e louco. LOUCO. LOUCO. LOUCO. Para o inferno com o amor. Eu já não busco e nem oro por ele.

*

- VOCÊ NÃO SABE AMAR! VOCÊ NÃO É HOMEM DE ROMANCE! - gritou ela.
- Ah, para o inferno com o amor. Que todos os meus romances vão para o inferno junto com todas as minhas cartas de amor. - respondi.
- Nossa. O que essa garota fez com você? - ela perguntou.
- Ela apenas levou tudo o que tinha de melhor em mim e eu não poderia esquecê-la mesmo se quisesse. Ela levou o melhor de mim, querida, levou o meu melhor. - respondi docemente.
E eu queria apenas uma cerveja. Queria apenas uma café. Queria qualquer coisa forte pra beber. MAS QUE DIABOS. É tão difícil conseguir algo para beber?
Essa humanidade monótona ama demais, se apaixona demais, se entrega demais e depois me encontro com eles fazendo essas perguntas baratas por conta de amores baratos.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

A noite em que sonhei ser mais feliz


Ela estava agachadinha por trás da porta com cara de choro, mas um sorriso nos lábios e me disse: " - Papai, olha, machucou meu joelho. Ralei e está doendo, mas consegui salvar nosso cachorro! Ele ia ficar preso no portão.".
Ela estava feliz por ter salvado nosso cachorro e eu estava preocupado com aquele joelho todo ralado e com sangue em volta. E ela apenas sorria e me dizia “Eu o salvei. Papai. Sou muito forte” e sorria e sorria e sorria. Achei engraçado porque ela conteve o choro e estava feliz, feliz como eu nunca estive. Que lindo que era. Cuidei de seu joelho. Coloquei um band-aid e deixei-a ir brincar de volta e disse pra ela tomar cuidado dessa vez.
Eu estava feliz. Minha filha. Minha filha. Minha pequena.
Pouco me importava saber quem era a mãe. Não sei quem era a mãe. Eu estava feliz. Eu corria atrás dela dizendo “Cuidado. Cuidado. Cuidado” e ela soltava seus risos e gargalhadas. Alguém gritava ao fundo “DEIXA A MENINA BRINCAR. DEIXA”. E eu deixava. Preocupado, mas deixava. Fazia calor e ela tinha que brincar. Ela merecia brincar. Voa. Criança. Voa. Vai brincar. Imagina o teu mundo. Imagina que você é a princesa e o nosso quintal é o terreno do teu castelo.
Brinque muito, minha filha. Tenha essa sua infância maravilhosa.
Dei um beijo em minha mulher e a visão que eu tinha dela estava embaçada, mas eu me lembro de sua voz e acredito saber quem era a mãe. E eu estava feliz. Ela estava feliz. Minha filha estava pulando no quintal, feliz. Feliz.
Eu tinha que sair pra comprar a mistura para o jantar e abria o portão de nossa casa ouvindo as gargalhadas dela ao longe. Era lindo. Eu estava feliz e saia cantarolando uma música que ela tinha me ensinado a cantar. Eu estava feliz.

Acordei de mais uma noite angustiante e percebi que tinha dormido um tanto quanto bem. Estava com o peito vazio, mas tinha dormido bem. Percebi que tudo não passou de um sonho. Sonho pelo qual eu estava feliz e nunca tinha sonhado com situações pelo qual me encontrará feliz. Eu me senti completamente vazio por isso, mas foi esse sonho que me levou a acreditar que um dia eu posso ser feliz. Será que eu precisava de uma pequena criança pra me chamar de papai e mostrar o que é ter felicidade? Ir pra casa e esperar ela correr para os meus braços e me contar como foi seu dia? Casar. Ter uma família. Ter nossa casa. Saber o que é um sorriso e uma gargalhada sincera. Abraçar minha mulher. Beijar minha filha e lhe contar uma história antes de dormir.
Que linda ela era.
Meu sonho. Esse nunca foi o meu sonho da realidade e isso é o que me faz pensar em como a minha mente se perpetua em completa confusão de sentimentos e pensamentos.  
Eu não sou uma pessoa feliz. Nunca fui feliz. NUNCA. Sou triste e solitário, mas vivo o meu futuro hoje e sinto uma grande alegria dentro do peito ao acreditar que posso salvar vidas com algumas de minhas palavras. Pelo menos até agora já deixei melhor o dia de algumas pessoas porque elas leram algumas palavras minhas. Isso é gratificante. Mas quem estará aqui pra fazer com que eu me sinta salvo? Ninguém nunca mais me salvou e me tirou desse vazio diário que sinto. O que me deixa mais triste.

Sonhei e me senti um pouco mais feliz. Acordei e me senti um pouco mais confuso. Será que serei salvo quando for um pai?
Filha. Espero-te aqui pra me salvar desse vazio. Preciso ouvir o teu sorriso doce novamente e dar aquele beijo doce em minha mulher.


VOA. CRIANÇA. VOA!

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Linda, tome uns drinques enquanto penso em um bom titulo

Estou escrevendo muito esse ano, principalmente nesses últimos meses. O que está acontecendo? Será que estou ficando louco ou continuo apenas me livrando de minha loucura por palavras minhas? O que está acontecendo? Acredito que seja difícil pra alguém me explicar. As pessoas estão dizendo que estou escrevendo cada vez melhor. Que elas ficam esperando ansiosamente uma nova publicação. Que elas se emocionam muito. Que se sentem bem. Querem me agradecer. Querem mais e mais e mais. Oh Deus, elas me fazem pensar em escrever quando não se é pra pensar em escrever.
Droga. É muito difícil escrever quando se tem muito que falar. Muito que pensar. Muito que sentir. As palavras vão surgindo na sua cabeça e vão passando pelos seus dedos. É revigorante escrever. Acalma-me. Anima-me. Empolga-me. Fico ansioso pra ver o resultado no meu último ponto final e me sinto deprimido depois que chego a seu encontro. Me pego pensando em escrever mais e mais depois que escrevo um texto ou apenas alguns parágrafos. Mas que merda está acontecendo comigo afinal? Estou a ponto de terminar uns dois ou três livros de tantas palavras que estou escrevendo. Sinto que logo estarei preso a um hospício.
E que não me privem de expressar todas as minhas loucuras, por favor.
Existe a parte boa em escrever demais, a gente consegue descobrir as mentiras contadas por todos os outros escritores ou pessoas que acham que são escritores ou pessoas que estão tentando serem escritores. Me pego lendo um texto de uma pessoa qualquer e sei quando ela está sendo mentirosa demais ou clichê demais ou forçando sentimentos. Droga. Acho que estou realmente ficando louco. Que estranho. Mas sinto uma infinita alegria de ser capaz de escrever da forma que eu quiser, sobre coisas que eu quiser e sentimentos verdadeiros que passam por mim, sem contar meus pensamentos que são completamente perdidos dentro da minha cabeça, mas com minhas palavras consigo encaixa-las de forma certa. Consigo deixar tudo encaixado pra que eu me encontre em algum lugar afinal. Pra que eu me sinta encaixado dentro desse mundo que tanto tem a me mostrar, mas ao mesmo tempo não me mostra nada. Viver é uma loucura. A humanidade é uma loucura. O mundo é uma loucura.
Me pego escrevendo demais, mais uma vez, pra que eu sinta-me encaixado apenas dentro de minhas próprias loucuras. Assim é a minha vida até então.

Mais um mês de nossas vidas foi embora e fui capaz de bater de cara com todos aqueles desejos e sentimentos clichês de todas aquelas pessoas. Chega a ser patético, triste, mas patético. Meses de nossas vidas está indo cada vez mais embora, e as pessoas ainda estão esperando que as coisas surjam do céu bem em cima de suas vazias cabeças. O que eu posso fazer por elas? NADA. Apenas continuo observando de longe todo esse jeito triste que a humanidade tem de viver.
É triste.
Por conta disso, noite passada estava pensando em minha morte. A chuva caindo fortemente lá fora, chuva que foi capaz de acabar com toda a energia da minha casa e fez com que eu ficasse submerso dentro de uma escuridão pela qual fui forçado a estar. Senti-me vivo ali dentro. Peguei-me pensando sobre a morte. Pensando em quando será o dia que ela virá me visitar. Dia que ela irá bater a minha porta e me dizer que chegou a minha hora. Como será? Acidente de carro. Atropelamento. Irão me assassinar em uma briga no bar. Pneumonia. Velhice. Morrerei por conta de um coração partido. O que será? Suicídio? Enfim, fiquei pensando em minha morte. Fiquei pensando em escrever sobre essa noite pela qual me afundei na escuridão ouvindo o barulho forte da chuva lá fora. Dei de cara com um borrão mais escuro ainda, não conseguia pensar em um título sequer pra esse meu texto sobre a morte. Meu pensamento criativo estava fraco. Pensei em “Será que as pessoas me entregam sorrisos quando leem meus textos?” e também pensei em “O dia em que a morte quase me levou”. Odiei ambos. Odiei a escuridão. Odiei a mim mesmo. Odiei aquele momento por não estar na frente de meu computador pra escrever e escrever e escrever e expressar minhas loucuras. Como eu odiei aquele momento. Como eu queria que a morte tivesse me visitado naquela noite. A escuridão e a loucura estavam competindo pra ver quem iria me levar. A morte não estava lá para ganhar. Quem me levou foi a Loucura. Pelo menos naquela noite senti que estar dentro de um hospício seria o melhor caminho.

Será que as pessoas soltam sorrisos quando leem os meus textos? Fico pensando se já fui capaz de salvar vidas com minhas palavras. Será que salvei dias, semanas, meses. Será que consegui deixar alguns momentos, sentimentos e pensamentos mais claros na mente das pessoas. Será? Será? Será? Porque estou me preocupando com isso agora? Sempre deixei claro que não me importo com o que as pessoas pensam sobre meus textos. Sempre deixei claro que, enquanto eu me livrar de minha loucura, o que elas pensam pra mim não importa. Que elas chorem. Que elas se identifiquem. Que elas acreditem que sou um grande escritor. Que elas descubram quem sou de verdade. Não importa. Mas sempre deixei claro. E então porque estou me preocupando com isso nesse exato momento?
É. Acho que estou começando a ficar louco e a única droga capaz de me salvar são as palavras. Estou viciado nessa droga e isso é capaz de me matar. Mas que morte linda seria essa minha, não?!

Escrevi mais um texto sobre minhas loucuras e não pensei em titulo nenhum. Isso é triste. O titulo é tão importante. O titulo da vida a todas as palavras, entende? O titulo é a alma de um texto. O titulo é o que deixa as coisas ficarem mais empolgantes e estou aqui quase cometendo suicídio por não conseguir pensar em nenhum. Será que essa é a grande jogada da morte? Levar-me de uma vez por todas pelo meio da loucura e suicídio. Seria uma jogada esperta. Muito esperta.
Será que ela é tímida? Não quer bater a minha porta com vergonha que eu a convide pra entrar e tomar uns bons drinques. Seria lindo esse momento. Como seria. Eu tomaria uns bons drinques com a mais bela de todas. A Morte.

Sinto que essas minhas palavras estão saindo um tanto quanto clichês demais e tudo por causa do titulo que ainda não consegui pensar. Droga. Eu só queria que a vida me deixasse um pouco em paz. Que a humanidade continuasse morrendo lá fora enquanto me afogo em uma bebida qualquer dentro de meu quarto escuro. Só queria não sair pela porta de casa e dar de cara com um amor, com um novo romance. Que tragédia isso seria. Droga. Eu só queria um momento de paz.

Bateram a minha porta nesse exato momento. Não foi ninguém. Não foi a morte. Não foi a loucura. Não foi a escuridão. Foi a Vida. A vida bateu em minha porta e me fez perceber que eu tive esse momento de paz. Sim, eu tive um momento de paz em meio à solidão. Ontem de madrugada enquanto estava afogado na escuridão. Antes de dormir eu encontrei uma paz. Lembro que abri a janela e fiquei olhando a minha rua. Deserta. Nenhuma alma vivente passou por ali durante muito tempo. Os carros estacionados em suas devidas casas. Casas que estavam em total escuridão. A chuva caia com toda a sua força e foi quando percebi que com aquele vazio, aquela chuva, eu estava sendo capaz quase de escutar o silêncio dos mortos. O silêncio que foi capaz de me deixar dormir em paz.
Acordei hoje com todos aqueles costumes barulhos. Carros. Vozes. Pessoas. Construções. Pássaros. Cachorros. Sirenes. Tudo. Tudo. Tudo. Tudo o que me consome. O mundo. A humanidade. Tudo mesmo.
E disse pra vida:
- Linda, obrigado por uma noite de paz. Estava precisando. Venha tomar uns bons drinques comigo essa noite, antes que seja tarde demais e minha amante venha me visitar. A morte.

Dane-se a morte enquanto isso. Espero que ela venha. Antes que seja tarde demais.