domingo, 3 de novembro de 2019

Poetas e bêbados quebram corações

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Você pode fingir que não sente minha falta.
Você pode fingir que não se importa.
Você pode fingir que não se interessa.
Você pode fingir que não pensa em mim.
Você pode fingir que não sente meu gosto em teus lábios.
Gosto amargo de cerveja aflita que corrói minhas entranhas.
Você pode fingir que não se sente desconfortável por eu estar longe.
Você pode fingir que não sente saudade do som da minha voz.
Você pode fingir que não me deseja mais.
Você pode fingir que não sente falta da minha roupa com o cheiro dos meus tragos.
Cheiro amargo de fumaça aflita que corrói meus pulmões.
Você pode fingir que não sou a primeira pessoa a passar por teus pensamentos pela manhã.
Você pode fingir que não me ama.
Você pode fingir todas as coisas.
Você pode fingir e contar todas as mentiras necessárias para mostrar que está bem.
Você pode tudo. Você pode todas as coisas.
E eu te escrevo isso todos os dias.
Você é incrível. Você é o todo. Você é tudo.
E você pode ser incrível fingindo que não me ama mais.
E você pode fingir que não sente falta dos meus poemas.
E você pode fingir que não sente falta da minha cama bagunçada.
E você pode fingir que não sente falta da minha bagunça interna.
E você faz parte dessa bagunça. Porque tu me bagunça. E bagunça até demais.
Só não me ensinou o jeito certo para arrumar tudo aquilo que tu bagunçaste como uma tempestade passando por nossas cidades.
E você pode fingir que eu nunca te quis como quero agora.
Você pode fingir que eu não te amo.
Você pode fingir tudo que desejas.
Mas não podes fingir que o meu desejo é você.
E eu sei que você não pode fingir que meu coração não é teu.
Você jamais conseguirá mentir essa verdade, porque tu sabes muito bem que meu peito bate por ti.
E para ti.
E você pode fingir que todas as minhas cartas não são para você.
Eu não me importo.

E eu finjo muito bem também, meu bem!

- Cara, elas disseram que você não sabe amar.
- Elas dizem muitas coisas sobre mim, tu não achas?
- Mas, cara, tu sabes amar?
- E que poeta nesse caralho de mundo sabe amar, porra?! A gente falha nessa parte para ter o que escrever.
- Tu não achas isso um tanto quanto triste demais?
- Eu acho para caralho, mas o que posso fazer? Sou poeta e não aprendi a amar, parceiro.
- Isso me lembra uma música.
- Nossa querida Cassia, meu bom. Por isso ela bebia tanto. E se drogava tanto. E escrevia tanto. E foi embora tão cedo. Porque ela era uma boa poeta e não sabia amar.
- Tu precisa se cuidar, meu parceiro.
- Eu sei, meu bom. Eu sei. Agora me traga o maior caneco de cerveja que tiveres nessa porcaria que tu chamas de bar.
- Eu disse para se cuidar, caralho!
- Estou me cuidando. Cuidando da minha vida, meu bom. Faça o mesmo.

Eu posso fingir todas as coisas, só não posso fingir que meu coração foi feito para amar.
E eu bebo. Eu fumo. Eu enlouqueço.
E te escrevo. E te esqueço.
E usurpo minha mente com uma falta sorrateira que é existente por você e para você.
E eu sinto falta de correr riscos em estar amando outro alguém. E eu sinto falta do estômago latejando pela quantidade de borboletas que me comem vivo. E eu sinto falta de ter em quem pensar. E eu sinto falta de ter sobre quem, verdadeiramente, escrever. E eu sinto falta de me jogar no abismo das desilusões amorosas.
Mas deixa o meu cupido lá quietinho. Deixa ele descansando e me mostrando que a vida poder ser muito mais do que isso. Deixa meu coração me mostrar em dias de sol que ele se permanece gelado como a ponta do everest.
Deixa tudo aqui dentro como se encontra há tempos.
Deixa eu aprender a lidar com essa forma de olhar para os olhos de outro alguém e enxergar de longe que meu coração quer me dizer alguma coisa, mas mesmo assim não ouvir uma palavra sequer do que esse órgão burro quer me dizer.
O cérebro sempre foi muito mais sábio.
E deixa eu me afogar em todas as cervejas que eu puder e quiser para esquecer que lá fora existe o amor da minha vida, mas que eu já não faço questão nenhuma de procura-lo. Essa merda sempre me leva para o fundo do poço e aqui estou.
Eu me encaixo muito melhor no mundo quando não estou amando ninguém. Eu me conecto muito melhor com o universo quando estou em minha mais sã consciência de sentimentos que não podem ser revelados por ninguém e para ninguém.
E assim, eu me encaixo num padrão de poetas solitários que nada querem viver perante o amor.
Mas isso é perigoso, meu bem.
Muito perigoso.
Porque todos eles falam que eu estou bebendo e escrevendo demais. E eu vejo bem que não me importo com esses julgamentos, porque eles estão certos.
E todos eles me falam para eu tomar cuidado senão acabarei me matando. E eu digo para todos eles que todo mundo se mata de alguma forma.
E eles sabem que é verdade.
Só estou cansado de me enganar desse jeito e tentar acreditar que não vivo sem um amor batendo e pulsando aqui dentro deste peito gelado com o tempo.
A quem estou tentando enganar?
Eles falam que poetas e bêbados não sabem amar e quebram o coração de quem passa por tua vida.

Imagina eu que sou os dois.

E eles dizem que eu tenho medo de amar. Eles estão certos.
E eles dizem que eu sinto falta de amar. Eles estão certos.
E eles dizem que eu tenho a quem amar. Talvez estejam certos.
E eles dizem que eu estou sendo burro. Não sei se estão certos.
Mas meu coração me diz para eu ser o maior filho da puta quebrador de corações que eu puder, até encontrar alguém forte o suficiente para juntar todos os cacos do meu que se encontra pelo meu quarto.

Coração é um bicho burro, não é mesmo?!

- Já parou para pensar que tem alguém lá fora capaz de te amar como nunca imaginou?
- Não!
- Já parou para pensar que você finge todas as coisas quando existem sentimentos dentro de você, mas quando escreve não consegue disfarçar nada?
- Sim!
- Tu encontra algum sentindo nessa porra toda, caralho?
- A gente mente que não sente nada. E fica tudo bem assim.

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