quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Sinto que estou num mar onde você me jogou sabendo que eu não sei nadar

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- Querida, sabes quantas vezes minhas paranoias me mataram hoje?
- Não sei, meu bem. Quantas?
- Perdi as contas, querida. Perdi todas as contas.

Tenho medo de terminar os meu versos.
Tenho medo de terminar esta carta.
Medo de que não chegue até você como anseio que chegue.
E as palavras já não fazem sentido para mim, mas algo aqui dentro implora para que todas elas cheguem até você e te lembrem que não sou capaz de te esquecer.
Me tira daqui, querida.
Me leva para longe.
Para muito longe.
Pegue minhas mãos geladas e me leve para bem longe daqui.
Para outro universo. Para outro oceano.
E salva esse coração que já se perdeu há algum tempo.
Me leva para bem longe, muito longe. Onde ninguém possa nos encontrar e me faça acreditar que eu jamais te esqueci. Me faça acreditar que tudo não passou de um sonho e que todas as minhas palavras ainda não são em vão.
Consigo proferir o teu nome, mas ainda não consigo escreve-lo em minhas cartas. E ainda sim, sinto um medo perturbador de continuar todas as minhas cartas sempre que insisto em lembrar que todas as minhas palavras são proferidas para ti. E isso me atormenta dia após dia.
E a insônia vem me visitar muito mais do que você costumava fazer. E eu acordo suado todas as noites no meio da madrugada e me vejo sonhando com teu rosto e tentando lembrar o som de sua voz.
Que essas palavras ecoem madrugada a dentro e toquem teu coração de alguma forma, por mais breve que seja, para que lembres, meu bem, para que lembres que sou absolutamente incapaz de te esquecer.
Tu me fez sentir, querida.
E não importa quanto tempo essas minhas palavras ecoem por todas essas esquinas e madrugadas. Não importa que tu não me ouves mais e nem sequer lembre o tom de minha voz dizendo em teu ouvido que eu era feliz ao teu lado. Não. Não importa. O que importa é meu sussurro desesperado para que penses que sou incapaz de viver sem o calor de teus braços. E isso me assusta, mais uma vez.
E eu tenho medo, querida. Tenho medo de não me sentir como um dia tu foste capaz de fazer com que eu me sentisse. Tão bem. Tão puro. Tão feliz. Tão simples. Tão tudo no meio do nada. Tão nada no meio do tudo. E todas as vezes que tu foste capaz de fazer com que eu me sentisse forte, quando no fundo era só fraqueza, não sai de minha mente. E o teu sorriso quando tudo se encontrava perdido não sai da minha cabeça aflita por saber que este sorriso jamais cairá de encontro ao meu novamente. E o meu tormento é saber que minha voz muda não ecoa através do teu coração para que sinta que o meu coração não é suficientemente capaz de viver longe dele.
E eu gostaria, querida, gostaria de receber noticias tuas que me fizessem acreditar que o amanhã mais lindo existe no fim de todas as coisas sem cores que o mundo está sendo capaz de me entregar desde que foste embora.
E te pedir para ficar está muito longe do que eu posso oferecer. Não sou mais capaz de te prender a mim. Nem nunca quis isso. Sempre desejei que fosses livre para fazer o que quiseste. Mas gostaria de não ter sido covarde suficiente para soltar tuas mãos e deixar que enfrentasse esse mundo sozinha, mesmo sabendo que tu és e sempre será forte o suficiente para derrubar qualquer muro capaz de nos travar por nossos caminhos.
Tu nunca mais irá me ouvir. E isso não me assusta, apenas me entristece. Não adianta o quanto eu escreva e peça e implore e chore e me desespere, tu nunca mais irá me ouvir.
Espero que passes bem, meu bem. O teu sorriso foi a melhor coisa que eu enxerguei em toda a minha vida e é esse sorriso que não sai nunca da minha mente.
Eu tento enxergar em outros sorrisos o sorriso teu, mas nenhum, nunca, jamais, será igual. E nenhum sorriso nunca, jamais, me trará a paz que o teu sempre foste capaz de me entregar.
Tu me fez sentir, meu bem.
E, mesmo que eu tenha muito medo de continuar, sigo caminhando na esperança de que um dia eu possa te encontrar. Mesmo que eu saiba que nossos poemas já não são tão parecidos como sempre foram.
E isso me deixa incapaz de ter coragem suficiente para olhar, novamente, eu teus olhos e acreditar que não são eles que sempre me deram força suficiente para enfrentar esse mundo que tanto me derruba.

- Meu bem, você está bem?
- Não. Não estou bem.
- Sabes que beber faz com que todas as lembranças e memórias que tu queres esquecer acentuem ainda mais em tua mente, não sabe?
- Eu bebo para esquecer, mas sempre me pego chorando ao fim da noite.
- Se cuida, meu bem. Se cuida!

Me deixa ficar.
Me deixa ficar aqui te esperando.
Me deixa ficar aqui acreditando que tu irá bater em minha porta.
Me deixa ficar aqui esgueirado sonhando com o dia que me abraçará.
Me deixa ficar aqui terminando meus versos e poemas e cartas e tristezas.
Me deixa chorar. Me deixa surtar. Me deixa lembrar que não te tenho.
Me deixa implorar. Me deixa sozinho. Me deixa fingir esquecer.
Será que nós dois somos capazes de fingir tão bem que esquecemos?
Me deixa ficar, querida.
Me deixa ficar aqui lembrando do teu sorriso.
Me deixa ficar aqui lembrando do teu abraço.
Me deixa ficar aqui lembrando da tua voz.
Me deixa ficar aqui lembrando dos teus sonhos.
Me deixa ficar aqui lembrando dos teus medos.
Me deixa ficar aqui lembrando que não sou capaz de continuar sem você.
Me deixa ficar aqui lembrando que eu choro sempre que lembro teu nome.
Mas me deixa ficar aqui lembrando que eu sempre engulo a seco ao lembrar todas as coisas boas que passamos juntos.
Deixa eu ficar, meu bem. Deixa eu sorrir. Deixa eu chorar. Deixa eu sofrer. Deixa eu viver, sozinho, os sonhos que tivemos juntos. Deixa eu deprimir. Deixa eu não dormir. Deixa eu sentir medo. Deixa eu me desesperar.
Deixa eu caminhar os meus passos sabendo que não tenho mais os teus para me guiar.
Deixa eu viajar para o espaço sabendo que tu não é mais o oxigênio que pulsa em meus pulmões.
Deixa eu me jogar dentro do oceano sabendo que tu não é mais o bote que salva minha vida.
Me deixa ficar aqui pensando que tu irá me ouvir mais uma vez e bater em minha porta para dizer que sentiu minha falta todo esse tempo.
Por mais breve que seja, deixa eu sentir. Deixa eu sentir. Deixa. Me deixa sentir.
Deixa eu chorar. Deixa essas gotas caírem por meus olhos e limpar os dedos cansados de tanto digitar. Deixa eu sentir essa dor. Deixa eu sentir que não tem mais saída. Deixa eu acreditar que minha vida acabou. Deixa eu viver esse luto eterno e me esquecer que ao teu lado eu vivi uma eternidade momentânea que ninguém pode apagar.
Deixa eu beber. Deixa eu me afogar na tristeza. Deixa eu enlouquecer e acreditar que nunca mais amarei outro alguém. Deixa eu escrever. Só deixa.
Me deixa ficar aqui acreditando nesse medo que tanto me afronta.
Me deixa, meu bem, mas não da forma que me deixaste. Não da forma que foste embora. Deixa eu ser esse escritor louco enquanto você me observa e me acha o ser humano mais bobo do mundo. E me entrega as palavras que eu sempre quis ouvir.

"Eu não vou te deixar. Eu não vou mais embora.".

Me tira de casa, meu bem.
Me tira daqui.
Me leva embora.
Me leva para o teu colo.
Apaga o choro. Apaga a tristeza.
Faça eu engolir minhas palavras.
Deixa eu entrar na tua vida para a nossa não morrer.
Deixa eu ficar, meu bem.
Me peça para ficar.
Diga que tens medo de que eu parta tanto quanto eu tenho medo de que se vá.
Deixa eu ficar.
Cura essa tristeza.
Volta para a minha vida e faça eu deixar de mentir para os meus amigos que está tudo bem quando, na verdade, eu não me encontro bem.
Me tira daqui, querida.
Me leva para muito, mas muito longe disso tudo.
Algum lugar muito perto de você.
E me faça deixar de ser esse ótimo mentiroso.
Porque eu minto, querida. Eu minto muito bem quando eu digo para todos que estou muito bem. E que te esqueci. E que te superei. E que deixei de me importar.
E toda vez que eu minto, meu peito sangra e morre mais um pouco. Um pouco mais.
E outra vez.
Outra vez mais.
Mais uma vez.
E eu senti. E eu sinto. E eu sentirei.
E todas as vezes que eu minto sobre não ter mais você dentro do meu peito, eu faleço um pouco mais.
E o que tem me matado não são meus porres, nem minha depressão, nem meus tragos, nem meus poemas, nem meus romances, mas sim fingir todos os dias que você não significa mais nada para mim.

- Querida, eu pensei, mais uma vez, em por um fim nisso tudo.
- E porque já não o fez?
- A salvação está em mais uma carta com palavras em vão jogadas ao vento. Por mais breve que seja essa carta, meus sentimentos foram inclusos nela. Isso é o que me faz continuar. Não importa quanto tempo passe. Não importa quantas vezes eu chore. Não importa quantas noites eu passe sem dormir. Não importa quantas manhãs eu acorde sem conseguir levantar da cama por estar triste e cansado o suficiente para enfrentar o mundo. As minhas palavras foram escritas, por mais que eu tenha deixado de acreditar em todas elas. E isso, algum dia, me trará algo bom.
- Algum dia, meu bem. Algum dia.

Me faz sentir.
Por favor, me faz sentir.
Eu sorrio todas as vezes que lembro da gente.
Me fez sentir!

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

A carta mais triste do ano!

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- Desculpe, querida, estou bêbado novamente!
- Eu cansei de te ver assim.
- E eu cansei de fazer promessas que nunca irei cumprir.
- Limpe essa bagunça depois. Teu quarto vive cheio de garrafas vazias e folhas amassadas.

O medo se mostrou para mim de novo e me deixou inseguro.
O medo me atacou novamente e me deixou sem ver futuro.
E eu me sinto, querida, me sinto louco e insano por não saber o que fazer.
E o meu peito se encontra tão vazio quanto todos os canteiros de jardins mortos pela cidade grande.
E eu me sinto morto por dentro. E essa depressão irá me matar uma hora. E eu sinto que não aguento mais. E eu penso em desistir. Penso em me entregar. E ela toma conta de mim como sombra que me encurrala no canto mais escuro do meu quarto.
E eu converso com essa sombra. E ela sorri. E eu imploro para essa sombra ir embora de onde eu mais deveria descansar. E ela gargalha. E eu me ajoelho perante mim mesmo e peço para que eu aguente firme tudo que o mundo tem para me entregar de ruim. E que a minha mente não continue me cegando a ponto de não enxergar um palmo sequer a minha frente.
E essa bagunça eu tenho visto desde que você desarrumou a minha vida e foi embora, querida.
E eu não te culpa. E também não me culpo. E não te julgo. Assim como sei que nunca me julgaste. Mas eu sei que toda a bagunça dentro do meu coração se fez a partir do momento em que partiu e desuniu o meu mundo do seu para todo sempre.
E eu sinto, querida, sinto muito. E eu quero, meu bem, quero muito músicas lentas para acompanhar o meu choro depressivo para onde quer que ele vá.
E eu te espero e te pinto e te escrevo em todos os muros cinzas da cidade cinza. E mesmo assim tu não me enxerga.
E eu te mostro e te enxergo e te entrego o meu melhor sabendo que tu nunca mais verá o que eu tenho para te entregar.
E nesse momento, meu bem, o medo me cega por completo, mas eu ainda sou capaz de deixar minhas mãos fluírem e te escreverem tudo que eu sempre desejei e angustiei aqui dentro de mim. Esse é um dom que eu não posso desperdiçar.
Mas eu sinto, querida, eu sinto que as palavras já não são capazes de me salvar e me curar como um dia tu foste capaz de fazer. E elas já não me entregam a calma que um dia foste capaz de me dar. E isso me atormenta dia após dia. E isso me assusta como nunca me encontrei assustado antes.
O meu maior tormento é conseguir dormir um pouco e acordar sabendo que tu não estas mais aqui para me acalmar quando o meu peito apertar. E disso eu tenho medo, meu bem, porque só tu sabia como parar essa alma angustiada até que ela respirasse novamente.
E eu sinto esse sufoco dentro de mim que não passa.
E eu sinto essa raiva constante dentro de mim que não para de gritar.
E eu sinto essa tristeza nada breve que insiste em bater em minha porta e me mostrar que nada aqui dentro se encontra bem o suficiente para eu seguir para um futuro e horizonte só meu.
E eu sinto vontade de gritar o tempo todo e te xingar e me xingar e tirar do peito essa angustia que eu gostaria de entregar para ti, pelo menos por um dia, para que saibas o que é estar no meu lugar quando eu não vejo saída para mais nada.
E isso é triste, minha querida, tão triste quanto todas as coisas que sou capaz de escrever e sentir e pensar e enfrentar aqui dentro de mim.
O que mais me incomoda é saber que o teu sorriso está sendo entregue para outras pessoas enquanto eu sinto essa vontade constante de vomitar todas as minhas tristezas para que o mundo inteiro saiba o que eu carrego aqui comigo.
E o que mais me emburrece é saber que não sou mais capaz de amar outro alguém e ter esperanças pelo que vem lá na frente tanto quanto todas as faltas de ar que sinto e todas as tonturas que tenho quando lembro que a ansiedade de dias melhores me invade o coração a ponto de que eu não sinta nem minhas mãos.
E eu corro para qualquer canto solitário para tentar me acalmar e lembrar que o meu mundo, aqui dentro da minha mente, pode ser muito melhor do que esse que tenho no presente.
Te esquecer têm sido um fardo constante que eu não posso mais carregar.

- Porque você se humilha tanto em tuas cartas?
- O que queres dizer com isso, meu bem?
- Tu se entrega. Tu se abre. Tu mostra todas as tuas fraquezas para o mundo.
- E o que isso tem a ver com humilhação, querida?
- Isso vem sendo uma fraqueza sua. Quando teus inimigos quiserem saber de tuas fraquezas, é só lerem teus textos. Tens que tomar cuidado.
- Eu não me importo com meus inimigos. Eu nem sei se tenho essa merda. E nem me preocupo em ter. Deixa todos eles saberem o que sinto. Tantos tentaram me destruir. Tantos tentaram me ver chorar. Tantos tentaram me ver sangrar. E muitos outros tentaram me moldar e me mudar, mas nunca conseguiram. Muitos tantos outros tentaram ver a minha morte, mas só um certo alguém conseguiu ver e ouvir e sentir e ter tudo isso de mim. O que eu tenho para escrever não passa de desabafos que eu já não me importo tanto assim. Foda-se o que eles pensam!
- Tu és muito do corajoso, caralho.
- Coragem é para quem ainda saber amar. Coragem é para quem ainda sabe mentir. Coragem é para quem ainda sabe sentir. Coragem é para quem ainda se sente feliz, mesmo com o mundo estando por um triz.

Essa não será a última vez que eu entrego todas as minhas fraquezas e desistências, tão pouco será a última vez em que eu entrego uma carta com um rio de lágrimas nos olhos. Também não será a última carta que estarei a beira da desistência. Tão pouco será a última carta em que eu escreverei rangendo os dentes de tanta raiva. Raiva que insiste. Persiste. Esmaga e me mata. Raiva que aflige. Que estraçalha. Que me esmigalha. Essa também não será a última carta em que escrevo ouvindo os blues mais tristes e lentos que o mundo e outras pessoas tristes foram capazes de me entregar. Tão pouco será a última carta em que eu escrevo completamente bêbado e deprimido e angustiado e ansioso. Ansiedade prematura que me mata pouco a pouco e não me deixa renascer. E eu queria mãos vivas e quentes para me tirar desse fundo de poço em que me encontro. E eu queria sorrisos sinceros e lindos para me tirar desse pântano frio e triste em que me encontro. Eu gostaria de uma voz cansada me dizendo que tudo irá ficar bem e que todas as coisas ruins que penso e passo e vejo e sinto não passam de angustias presentes que logo acabará. E que minhas paranoias não passam de loucuras que minha mente insiste em criar para fazer com que eu fique sempre na defensiva contra mim mesmo. Eu tenho tanto para dizer, mas todos insistem em não me ouvir. Eu tenho tanto a falar, mas todos insistem em achar todas as minhas cartas lindas demais. E eles nunca me ouvem. E a minha maior humilhação é gritar aos quatro ventos tudo que eu gostaria que escutassem daqui de dentro e que me dessem muito mais do que um sorriso de que escrevi apenas mais uma boa carta. E eu gostaria de andar sozinho pelas ruas sabendo que existe alguém lá fora que pode me salvar de toda essa teimosia paranoica que insiste em bater diariamente na minha mente. Mas eu ando por todas aquelas calçadas e não encontro ninguém capaz de me tirar de onde eu mesmo me enfiei. E todos os demônios encrostados em minhas costas caçoam de mim e me deixam cada vez mais para baixo, me afundando num mar profundo de tristeza, solidão, ansiedade e depressão.
Não existe nada nem ninguém para me salvar. Não existe nada nem ninguém que veja todas as minhas cartas apenas como algo lindo. Eles não entendem meus sentimentos. Eles não entendem meus medos. Eles não entendem meus erros.
E eles não sabem que eu gostaria de muito mais do que palavras bonitas quando eu me sinto completamente sozinho.
Como agora.
E eu me encontro mais sozinho do que qualquer fodido pelo mundo.
Hoje eu entendo o que quiseram me ensinar sobre solidão.

- Cara, tu já chorou hoje?
- Várias vezes. Sem derramar uma lágrima sequer.
- E tu já gritou hoje?
- Muitas vezes. Sem demonstrar um som sequer.
- E tu já sangrou hoje?
- Bastante vezes. Sem sujar um chão ou roupa sequer.
- Tu já sentiu medo hoje?
- O suficiente para meu estômago doer e eu correr para o banheiro achando que é merda, mas a única merda que existe é na minha mente. E ela, disto, está cheia.
- Tu já se sentiu sozinho hoje?
- O suficiente para todos eles não verem eu fazendo todas as outras coisas que tu citaste antes.
- E o que farás agora?
- Eu desistirei.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Os espelhos de ti que procurei em outras pessoas estão todos quebrados


- Tens algo para me falar?
- Eu sempre tenho, querida. Eu sempre tenho.

E te escrevo mais está confissão.
E te escrevo em busca de redenção.
E te escrevo porque em ti encontrei a perfeição de um amor imperfeito.
E escrevo essa por todas as vezes em que disse que te amava.
E por todas as vezes que colei meu rosto ao teu e senti teu calor.
E te escrevo por todas as vezes em que te tirei do sério ou te deixei envergonhada.
E te escrevo por todas as vezes que bebi e tu tiveste que cuidar de mim.
E essa também é por todas as vezes em que eu escrevi sobre ti.
E por todas as vezes em que tive um surto de ansiedade e tu me acalmaste.
E por todas as vezes em que pensei no meu fim quando a depressão me sangrava.

Te escrevi um poema a base de um surto.
Este é o poema.
E não sei onde ele irá parar.
Nem quando irá parar.
E eu não quero que este poema acabe.
Não com as palavras que tenho em mente.
Nem com os sentimentos que tenho no coração.
Porque eu sinto muito medo, meu bem.
Medo constante. O mesmo medo que eu sentia toda vez que eu pensava em te perder.
E, veja bem, meu bem, onde é que viemos parar.
E eu não quero que este poema pare. Não agora.
Não.
Não neste momento.
Porque eu tenho tantas e tantas palavras para te entregar.
E não sei como acentua-las da forma que tu sempre preferiu.
E eu sinto falta do teu sorriso.
Do teu jeito.
Do teu aperto.
Dos teus desjeitos.
E eu tenho passado por bares e restaurantes diferentes a procura de novos sabores e temperos para esquecer tuas comidas preferidas.
Tenho passado por lugares em que nunca passamos juntos para tentar mudar meus rumos.
Tenho ouvido músicas diferentes para esquecer as tuas preferidas.
E a minha mente fica completamente atordoada quando ela lembra que não te esqueceu.
E eu não me importo.
Só não quero que este poema acabe.
Não agora.
Não assim.
Não dessa forma.
Porque eu tenho muito o que falar, mesmo que eu saiba que você já não me ouve mais.
E eu lembro bem que tu sempre amou todas as histórias que eu te contava.
Mas você nos fez o favor de esquecer todas elas.
Porque eu larguei da tua mão. E tu largou do meu coração.
Mas saiba que esse coração apertado e angustiado ainda se encontra sendo o teu mais precioso lugar.
E a minha mente tem sido o inferno pelo qual passamos muito tempo juntos.
E isso me mata tal qual este poema que logo se acabará.
E assim que ele acabar, me depararei com minha sobriedade de bebidas e ansiedade de tua falta.
Logo irei me deparar com o vazio de meu quarto e o vazio mais escurecido do meu peito que tanto insiste e tanto surta e tanto demora para se curar.
E eu não quero que esta carta se acabe.

- Você precisa se cuidar, meu bem.
- Tenho me cuidado muito bem, querida.
- Pare de beber tanto.
- Tenho me cuidado, meu bem.
- Pare de se cobrar tanto.
- Venho tentando meu bem.
- Tens dormido o suficiente?
- Algumas noites.
- E essa cabeça, como está?
- Louca, querida. Louca.
- E esse teu coração, como está?
- Acreditas que esses dias me peguei pensando em nós dois?
- E o que sentiu?
- Um aperto que há muito não sentia e, cada vez que lembro, existe algo aqui dentro que fala que ainda não tem nada certo.
- E em qual conclusão chega?
- Em absolutamente nenhuma. Existe algo aqui dentro que me diz que essa história de amor que tanto falam morreu faz tempo, mas existe algo aqui dentro que insiste em tentar amar de novo.
- Tens que tomar cuidado para não se machucar.
- O problema não é esse, essa ferida não me incomoda, o que me incomoda é quebrar o coração dos outros.
- Se importa mesmo com isso? Tens se tornado tão egocêntrico depois que deixou de acreditar no amor.
- Por vezes me importo bastante. Por vezes sei que não sou o culpado.
- E outras vezes?
- Sinto que não tem ninguém para me salvar desse vazio constante aqui dentro, então deixo de me importar e volto a sorrir como se tudo estivesse bem.
- Do que mais sentes falta?
- De como eu me sentia verdadeiramente feliz há uns anos atrás, mesmo acreditando que felicidade não exista.

E eu sinto tanto medo, querida.
Por isso insisto em te escrever.
Para que eu possa me sentir um pouco mais perto de ti.
E acreditar que te superei como deveria.
E lembrar que te esqueci como eu gostaria.
E eu sinto tanto medo, meu bem.
Que não existem garrafas vazias que preencham esse peito ansioso.
E não existem tragos que te apague para longe.
E não existem pessoas como você que preencham esse vazio constante aqui dentro de mim.
E conversando comigo mesmo, me deparei que esta redenção vem de mim mesmo.
E que pode demorar o tempo que for. E levar os sentimentos e pessoas que forem, que eu não te esquecerei tão brevemente.
Porque teu cheiro ainda está em mim. E teu gosto em minha boca. E teu jeito em minha mente. E tuas palavras em meu coração. E eu gostaria de te dizer que todas as palavras que um dia ousaste em me dizer, boas e ruins, elas não saem da minha vida como feridas que jamais serão cicatrizadas. E essa ferida aqui dentro é enorme. E ela me faz beirar a insanidade e a capacidade de pegar teu número de telefone para te ligar e te dizer tudo que tenho passado depois que saiu por aquela porta.
E as pessoas insistem em me dizer que foi melhor assim, mas eu sinto em tuas vozes embargadas que não era exatamente aquilo que elas gostariam de me falar. E eu sinto no olhar vazio delas a forma como elas gostariam de ver nós dois juntos pelas esquinas de nossos mundos, mas isso jamais acontecerá. Nossos mundos evoluíram para viverem separados. E acho que isso não podemos negar.

- PUTA QUE PARIU, não vais me dizer que ainda sente falta dessa porra?
- Todos os dias.
- Liga para ela então, caralho. Fala como tens se sentido. Estas sempre na mesma fossa e não existe nada que alguém consiga fazer para te tirar dela.
- Aprendi a conviver.
- Liga para ela, caralho. Fala que sentes falta.
- Ela sabe, meu caro. Ela sabe.
- NÃO, PORRA, as pessoas nunca irão saber dos seus sentimentos se tu sempre fugir deles como tu sempre faz.
- É melhor assim, cara. É muito melhor. Ninguém sai machucado.
- A gente nasceu para amar as pessoas. Esse é o dom da vida. O melhor dos sentimentos.
- QUE PORRA DE LIVROS VOCÊ ESTÁ LENDO PARA DIZER ESTA MERDA?
- Tenho lido alguns romances clichês. Uma hora essa merda tem que acontecer.
- Puta que pariu, cara.
- É melhor um romance clichê do que uma fossa penetrante e vazia como a sua.
- As pessoas tem esse dom mesmo de criarem esperanças em situações, sentimentos e pessoas. E nada de bom nunca acontece.
- Da mesma forma que nada de bom no amor acontece com você.
- Exatamente. Porque eu nem tento. Já não tenho mais forças para tentar. E toda vez que eu vejo que não irá dar em nada, é nesse momento que eu não gasto energia nenhuma.
- Fodido por fodido, eu e você sairemos vivos.
- Pare de acreditar no amor que tu saíra vivo.
- Pare de acreditar no vazio. Trato?
- Nada disso, porra. Único trato que eu faço é com o garçom do bar para me servir o máximo de cervejas possíveis que ele conseguir. Essa porra de amor que vá para a casa do caralho.
- Então para de usar as pessoas para esquecer esse teu amor sem cura.
- EPA, CARALHO, mas que porra de merda é essa que tens falado??? Eu nunca usei um caralho de pessoa sequer. Isso não se faz, cara. Mesmo com o ser humano mais filho da puta do mundo. Ninguém merece isso.
- Qual a merda que fazes então?
- Eu não sou mais capaz de entregar os sentimentos que as pessoas querem. E já não faço mais tanta questão assim de esconder esse meu defeito. A minha falha é procurar em outras pessoas tudo aquilo que encontrei em uma e saber que jamais me sentirei daquele jeito. Os espelhos sempre quebram e cada espelho traz sete anos de azar em meus romances. E de azar meus romances estão cheios.
- Tu precisa lidar com essa merda e precisa de um novo amor, cara.
- Tu bebeu chá de burrice hoje, caralho? QUE SE FODA O AMOR, CARA!

Acredito que cheguei ao fim de mais uma carta.
E não por falta de sentimentos.
Mas sim por falta de palavras.
Eu lembrei de um dia lindo e ensolarado em que eu amava outro alguém a beira do mar.
E isso me esganou as entranhas.
Lembrei que todas as pessoas são capazes de amar, inclusive eu.
Só preciso reaprender como é que se faz, mas, por enquanto, não faço tanta questão assim.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Breve carta da frustração

Resultado de imagem para luna buschinelli

- Querida, pegue o teu amor e vá embora da minha casa!
- Tu tens certeza disso, caralho?
- Teu amor me come pelo cu e me estraçalha pouco a pouco, porra.

Não me ouça.
Não se vá.
Não deixe que eu te deixe ir.
Não agora. Não assim.
E eu não quero que se vá.
Me entenda.
Me compreenda.
E me aceite.
Me respeite como te respeito.
E entenda que eu nunca quis deixar meu amor ir embora.
Quando eu te pedir para ir embora, não se vá, é quando eu mais preciso de ti.
Quando eu te disser que não me importo, não se culpe, é quando eu mais me importo.
Quando eu te implorar para não me amar, não deixe isso entrar em teus ouvidos, é quando eu mais preciso do teu amor.
Quando eu te demonstrar que não sinto tua falta, não vá para mais longe de mim, fique, me abrace, me entenda e silencie teu peito junto ao meu, porque é quando eu mais sinto tua falta.
Quando eu enlouquecer, não se assuste, é quando tu és a única terapia necessária para me tirar da insanidade.
Eu sou esse ser catatônico, querida. Acidente grave sem um resgate para a salvação.
Doença sem medicamento.
Tristeza sem a cura.
Estranhezas sem perdões.
Depressão sem esperanças.
E eu te peço, meu amor. Não se vá.
Mesmo quando o que eu mais quero é gritar e te pedir para ficar sozinho.
Sem ti. Sem mim. Sem ninguém.
E quando eu estiver bêbado o suficiente para te escrever, leia todas as minhas cartas, porque todas elas contém teu nome em todas as entrelinhas.
E quando eu estiver de ressaca e não for esperto o bastante para me lembrar de quaisquer palavras que escrevi sobre ti, me lembre de todas elas e me faça passar vergonha por lembrar que sou capaz de te amar como nunca amei ninguém.
Me perdoe, querida. Talvez eu não tenha mudado tanto assim. Ainda continuo deixando a barba bagunçada e meu quarto mais bagunçado ainda quando lembro que não te esqueci. E continuo bebendo todas as minhas cervejas na esperança de que algo sobre ti se apague de uma vez por todas dentro de mim. E eu continuo te escrevendo. Noite após noite. Dia após dia pensando em todos os teus sorrisos e refletindo sobre tudo que eu gostaria de te falar. E escrevo.
Escrevendo. Escrevendo. Escrevendo.
Sozinho. Solitário. Solidão.
E poemas são escritos por mim em todos os momentos que tento te esquecer.
Tens reparado em quantas e quantas cartas tenho feito nesses últimos tempos?
Não se vá, meu bem. Não se vá!
Tu sabes que sempre fui esse escritor bêbado e louco, estranhamente mal compreendido, mas que amas com o fundo da alma. Tu sabes, querida. Tu sabes bem.
E eu quis te escrever essas palavras sem nem pensar nas consequências de tais.
E espero que me entendas e enxergues que eu gostaria de te pedir para ficar quando mais sinto que o meu mundo irá cair.
AGORA!
E tu podes pensar que sou egoísta o suficiente para te escrever e te pedir para ficar apenas quando sinto necessidade ou precisão, eu não me importo.
Mas sei que tu sabes bem que és a única que me tira do fundo desse abismo em que me encontro desde que partiu de minha vida.
Não sou egoísta por sentir que tu és a única cura para todas as minhas doenças.
Me perdoe!

- MAS QUE CARALHO, VOCÊ ESTÁ BÊBADO DE NOVO!
- Me desculpa, meu bem. Preciso escrever!
- Para de escrever essas porcarias só quando está bêbado, porra.
- Tudo bem, querida. Não irá acontecer novamente.
- Você me disse essa mesma merda há dois dias atrás.
- Há dois dias atrás eu estava aflito.
- MAS E AGORA, CARALHO? ESTÁ O QUE?
- Deprimido.
- E bebes para se acalmar? Para esquecer? Para melhorar?
- Bebo porque esqueço todas as coisas que queria lembrar e quase sempre lembro de todas as coisas que eu queria esquecer.
- E adianta?
- Ter uma memória boa machuca demais, meu bem. E sempre que lembro de todos os momentos em que acreditei ser feliz, sinto um vazio profundo e entrego um sorriso de profundo vazio.
- Tu precisa escrever.
- Preciso. Só um pouco mais, meu bem.

Depressão.
E essa talvez seja minha pior confissão.
E o fim de um carta sem uma verdadeira razão.
Sempre te assemelhei com a minha depressão.
Vezes acolhedora. Outras assustadora.
Vezes companhia. Outras solidão.
Vezes ensinamentos. Outras falhas.
Vezes linda. Outras triste.
Te assemelho a minha depressão por saber que no fundo de todas os sentimentos vazios, tenho aqui tua presença que me faz acreditar que eu posso ser feliz de novo.
E eu te entrego esse vazio para que possa ser preenchido da forma que tu sempre preencheu.
E eu te assemelho a minha depressão, não por ser algo triste e doloroso, mas sim por me ensinar que no final do túnel existe algo belo e bonito para me tirar de algo que eu mesmo me coloquei.
E o amor é o clichê romântico que está em nós por livre e espontânea consequência.
Eu te dedico a minha depressão e todas as minhas cartas para que saibas que tu me salva de todas as crises sem nem mesmo imaginar.
Ainda lembro de ti e sorrio rios de lembranças boas.
E isso ninguém apaga.
Assim como todos os poemas que ousei escrever.
Ninguém nunca apagará o que já foi dito e escrito.
A flecha lançada ainda continua em nossos corações.
E nada mais poderá ser desfeito.
E nessa crise depressiva em que me encontro, te dedico todas as minhas palavras para que saibas que tens me salvado mais uma vez de te dizer um verdadeiro adeus.

- Porra. Caralho!!! Você escreveu mais uma carta triste pra caralho, hein?!
- Só para me lembrar que não estou bem.
- E escrevendo todas essas coisas tristes que ninguém dá a mínima, você se sente melhor?
- Não me importo com o que entendam ou deixam de entender, me importo com o que eu tirei de dentro de mim. Essa é a essência da porra toda.
- Essa é tua única salvação, escrever?
- Se eu não escrevo, enlouqueço. E todos pensam que meus textos são cartas de alguém apaixonado morrendo de amores. Eles estão sempre errados. A humanidade está sempre errada.
- Mas você só escreve sobre o amor, caralho.
- Leia bem, meu parceiro. Leia devagar. Atentamente. E entenda. Nem só de amor vive um bêbado poeta.

Existe aqui mais uma carta ruim pra caralho que eu não dou a mínima em ler cada palavra.
Entendeu alguma coisa?

domingo, 3 de novembro de 2019

Poetas e bêbados quebram corações

Resultado de imagem para bukowski

Você pode fingir que não sente minha falta.
Você pode fingir que não se importa.
Você pode fingir que não se interessa.
Você pode fingir que não pensa em mim.
Você pode fingir que não sente meu gosto em teus lábios.
Gosto amargo de cerveja aflita que corrói minhas entranhas.
Você pode fingir que não se sente desconfortável por eu estar longe.
Você pode fingir que não sente saudade do som da minha voz.
Você pode fingir que não me deseja mais.
Você pode fingir que não sente falta da minha roupa com o cheiro dos meus tragos.
Cheiro amargo de fumaça aflita que corrói meus pulmões.
Você pode fingir que não sou a primeira pessoa a passar por teus pensamentos pela manhã.
Você pode fingir que não me ama.
Você pode fingir todas as coisas.
Você pode fingir e contar todas as mentiras necessárias para mostrar que está bem.
Você pode tudo. Você pode todas as coisas.
E eu te escrevo isso todos os dias.
Você é incrível. Você é o todo. Você é tudo.
E você pode ser incrível fingindo que não me ama mais.
E você pode fingir que não sente falta dos meus poemas.
E você pode fingir que não sente falta da minha cama bagunçada.
E você pode fingir que não sente falta da minha bagunça interna.
E você faz parte dessa bagunça. Porque tu me bagunça. E bagunça até demais.
Só não me ensinou o jeito certo para arrumar tudo aquilo que tu bagunçaste como uma tempestade passando por nossas cidades.
E você pode fingir que eu nunca te quis como quero agora.
Você pode fingir que eu não te amo.
Você pode fingir tudo que desejas.
Mas não podes fingir que o meu desejo é você.
E eu sei que você não pode fingir que meu coração não é teu.
Você jamais conseguirá mentir essa verdade, porque tu sabes muito bem que meu peito bate por ti.
E para ti.
E você pode fingir que todas as minhas cartas não são para você.
Eu não me importo.

E eu finjo muito bem também, meu bem!

- Cara, elas disseram que você não sabe amar.
- Elas dizem muitas coisas sobre mim, tu não achas?
- Mas, cara, tu sabes amar?
- E que poeta nesse caralho de mundo sabe amar, porra?! A gente falha nessa parte para ter o que escrever.
- Tu não achas isso um tanto quanto triste demais?
- Eu acho para caralho, mas o que posso fazer? Sou poeta e não aprendi a amar, parceiro.
- Isso me lembra uma música.
- Nossa querida Cassia, meu bom. Por isso ela bebia tanto. E se drogava tanto. E escrevia tanto. E foi embora tão cedo. Porque ela era uma boa poeta e não sabia amar.
- Tu precisa se cuidar, meu parceiro.
- Eu sei, meu bom. Eu sei. Agora me traga o maior caneco de cerveja que tiveres nessa porcaria que tu chamas de bar.
- Eu disse para se cuidar, caralho!
- Estou me cuidando. Cuidando da minha vida, meu bom. Faça o mesmo.

Eu posso fingir todas as coisas, só não posso fingir que meu coração foi feito para amar.
E eu bebo. Eu fumo. Eu enlouqueço.
E te escrevo. E te esqueço.
E usurpo minha mente com uma falta sorrateira que é existente por você e para você.
E eu sinto falta de correr riscos em estar amando outro alguém. E eu sinto falta do estômago latejando pela quantidade de borboletas que me comem vivo. E eu sinto falta de ter em quem pensar. E eu sinto falta de ter sobre quem, verdadeiramente, escrever. E eu sinto falta de me jogar no abismo das desilusões amorosas.
Mas deixa o meu cupido lá quietinho. Deixa ele descansando e me mostrando que a vida poder ser muito mais do que isso. Deixa meu coração me mostrar em dias de sol que ele se permanece gelado como a ponta do everest.
Deixa tudo aqui dentro como se encontra há tempos.
Deixa eu aprender a lidar com essa forma de olhar para os olhos de outro alguém e enxergar de longe que meu coração quer me dizer alguma coisa, mas mesmo assim não ouvir uma palavra sequer do que esse órgão burro quer me dizer.
O cérebro sempre foi muito mais sábio.
E deixa eu me afogar em todas as cervejas que eu puder e quiser para esquecer que lá fora existe o amor da minha vida, mas que eu já não faço questão nenhuma de procura-lo. Essa merda sempre me leva para o fundo do poço e aqui estou.
Eu me encaixo muito melhor no mundo quando não estou amando ninguém. Eu me conecto muito melhor com o universo quando estou em minha mais sã consciência de sentimentos que não podem ser revelados por ninguém e para ninguém.
E assim, eu me encaixo num padrão de poetas solitários que nada querem viver perante o amor.
Mas isso é perigoso, meu bem.
Muito perigoso.
Porque todos eles falam que eu estou bebendo e escrevendo demais. E eu vejo bem que não me importo com esses julgamentos, porque eles estão certos.
E todos eles me falam para eu tomar cuidado senão acabarei me matando. E eu digo para todos eles que todo mundo se mata de alguma forma.
E eles sabem que é verdade.
Só estou cansado de me enganar desse jeito e tentar acreditar que não vivo sem um amor batendo e pulsando aqui dentro deste peito gelado com o tempo.
A quem estou tentando enganar?
Eles falam que poetas e bêbados não sabem amar e quebram o coração de quem passa por tua vida.

Imagina eu que sou os dois.

E eles dizem que eu tenho medo de amar. Eles estão certos.
E eles dizem que eu sinto falta de amar. Eles estão certos.
E eles dizem que eu tenho a quem amar. Talvez estejam certos.
E eles dizem que eu estou sendo burro. Não sei se estão certos.
Mas meu coração me diz para eu ser o maior filho da puta quebrador de corações que eu puder, até encontrar alguém forte o suficiente para juntar todos os cacos do meu que se encontra pelo meu quarto.

Coração é um bicho burro, não é mesmo?!

- Já parou para pensar que tem alguém lá fora capaz de te amar como nunca imaginou?
- Não!
- Já parou para pensar que você finge todas as coisas quando existem sentimentos dentro de você, mas quando escreve não consegue disfarçar nada?
- Sim!
- Tu encontra algum sentindo nessa porra toda, caralho?
- A gente mente que não sente nada. E fica tudo bem assim.