quarta-feira, 8 de junho de 2016

Quando a essência do Homem deixou de existir

E quantas pessoas morrerão até eu terminar essa carta? E quantas pessoas sofrerão até eu terminar minhas palavras sem saber o que dizer? E quantos mais pensarão em desistir disso tudo para ir apenas para a escuridão inerte que nos aguarda? O caminho da vida é único e sem volta, vez ou outra bifurcado por nossas próprias escolhas. Distintos. Mas lá no final são sempre os mesmos atos e renuncias que nos levam para essa escuridão tão angustiante e amedrontadora que nos aguarda. Tal dia desses, estava lendo sobre a morte e o que acontece com nosso cérebro nos nossos minutos finais antes de se esvair por inteiro. Algo que passa em nossas mentes como um sonho por sete minutos, sonho que mostra a nossa vida do momento em que nascemos até o último suspiro. E o que você fez? O que será lembrado? O que será esquecido? O que será eternizado? O que irá se arrepender? O que deixará como pergaminho de lembranças criadas para o bem ou para o mal?
Perdi pessoas cedo demais, assim como perdi pessoas que se foram cedo demais. E eu, com meus 17, 18 anos - na época - não aceitava de forma alguma a morte bater na porta de alguém tão jovem e tão cedo assim. Não brincais com nossos corações dessa forma, Dona Morte. Não façais o ser humano sofrer mais do que sofremos nessas angustias que o mundo nos traz. Porque eu deveria aceitar a tua visita numa época em que para mim tudo durava para todo sempre? E é bom saber que hoje eu já aceito a tua visita e, muitas vezes, entendo o porque dela. Perdi o medo da morte a partir do momento em que a quis para mim. A partir do desejo de não viver num mundo em que na maioria das vezes o que tu pensa é em desistir, mas você se levanta de novo e de novo e de novo e outra vez mais e só pensa em seguir em frente, e então, tu falas para si mesmo "Só mais uma vez. Seguir em frente e viver mais um pouco" e tu continua. Acende um cigarro, bebe um copo de cerveja, engole os problemas da vida e continua. Continua a viver, antes que os sete minutos restantes sejam apenas de decepções e arrependimentos.

Li também que a cada dez anos evoluímos e mudamos. Você não tem os mesmos pensamentos e gostos e gestos e manias e atitudes que tinha há exatos dez anos atrás. Tu mudou e sabes disso. E as pessoas sabem disso também, por mais que elas te conheçam demais. Eu já não sou mais o mesmo. Já não gosto dos mesmos restaurantes e botecos que frequentava anos atrás. Já não gosto dos mesmo lugares que passava as madrugadas de diversão. Já não leio os mesmos livros e nem escuto sempre as mesmas canções. As mesmas atitudes infantis que tinha, hoje já não tenho mais. Os mesmos pensamentos e teorias criadas por mim já são completamente diferentes. Os sonhos, ah, os sonhos, isso é uma coisa difícil de ser mudada, algumas coisas a mais e outras a menos, um toque final, mas sempre com a mesma essência. Assim como nós, jamais perdemos a nossa essência. Não deixe sua essência se perder de você, senão tu serás um homem morto. Jamais deixe esse pássaro chamado essência voar de dentro do teu peito. Um homem sem a tua essência não é absolutamente nada. E o frio congela a minha tentativa frustrante de tentar, de alguma forma, me aquecer nos braços do mundo. E os prédios imensos já cobriram todo o horizonte onde antes eu encontrava a paz de um mundo melhor.

E tu ouves tanto sobre política. Sobre estupros. Sobre machismo. Sobre feminismo. Sobre manifestações. Brigas necessárias e desnecessárias. Sobre policiais espancando homens e mulheres em meio a uma multidão ou o contrário. Sobre o ser humano se matando por causas pequenas e grandes. Drogas. Legalização da maconha e vários se perdendo por ela. Aborto. Guerras. Futilidades. Dinheiro. Suborno. Ofensas. Egoísmo. Maus tratos de animais e crianças. Lavagem cerebral. Músicos e religiosos que fazem fama através de suas bocas e pensamentos sujos e não pelo trabalho e arte que fazem. Padres, bispos e pastores estuprando nossas crianças e jovens. Bandidos nos roubando em qualquer momento para se sustentarem em drogas. Prisões lotadas. Vitrines de roupas caras a mostra e livros escondidos. Queima e corte em nossas matas. Nossos animais falecendo e entrando cada vez mais em extinção dia após dia. O mundo se explodindo lá fora, enquanto os homens do poder estão rindo e sorrindo de nossas caras e as pessoas por essas e outras brigando e se matando dentro e fora da internet. O mundo nunca mudou, as pessoas mudaram. Isso é um fato. Mas, por conta das pessoas, o mundo acabou faz tempo, a gente só não percebeu, ainda!. E tudo por que? Porque o homem perdeu a tua essência faz tempo, mas antes disso o homem assassinou a essência do mundo. Quando a essência de todos os homens se acabarem por inteiro, será o fim que todos já esperam. A tristeza que não será passageira e a escuridão para todos nós que não será momentânea. Fico me perguntando se meus filhos e netos e bisnetos viverão para contar tais histórias sobre um mundo que não sei até quando estará existente por aqui. Fico em devaneios quando penso na possibilidade da existência de outro ou outros planetas iguais ou mais evoluídos que o nosso, com verba, inteligência e tecnologia o suficiente para observarem, de longe - que alívio para eles -, todos nós. E eles sim tem todo direito e dever em rir de nossas caras por sermos tão animais estupidamente burros a ponto de nos matarmos e no final de tudo chorarmos por paz e liberdade e amor. Preciso de uma cerveja e o meu quarto escuro para sustentar o choro consumido por meus olhos em relação a como o mundo está nos dias de hoje. Abro a boca para falar com clareza que me sinto triste, todos os dias, em continuar lutando por um mundo que não tem mais salvação. As pessoas insistem em dizer que estou errado, mas sei que quando elas deitam a cabeça no travesseiro e pensam um pouco mais a fundo sobre como o mundo está, elas concordam com minha teoria e pensamentos e, antes de adormecer, choram como eu choro. E é triste demais saber disso!

terça-feira, 1 de março de 2016

...25 anos, 25 doses, 25 infernos.



E não consegui pensar em um título legal para tal carta. Sabes que a fonte maior para qualquer palavra fluir é um bom título. O título tem que ser surpreendente. Tem que chamar a atenção. Tem que fazer as pessoas acreditarem que algo de bom irá sair de tal carta ou conto ou texto ou livro. As pessoas tem que sentirem as palavras e tal sentimento começa do título. Fato importante para quem quer começar a escrever cartas como eu - há quase um mês e meio já não faço isso. Queria algo bom que vencesse os devaneios e pesadelos de minha vida. Por quase completar 25 anos, estou apar de situações que não deveria e longe de situações pelas quais eu deveria estar de mãos dadas. Quando você passa da adolescência, aquela fase em que acreditas que tudo será para sempre, o inferno astral bate em sua porta dias antes mesmo de tu completares teu ciclo. E é ai que entra minhas palavras deprimentes sobre algo que eu não deveria me preocupar. Não por ora. Mas, ah, o inferno astral bateu fortemente em minha porta e com isso tive que convida-lo a entrar para tomar as 25 doses que logo irei completar. Eis então a minha felicidade momentânea se esvaindo de dentro de meu peito. Oh, semana infernal, vá embora. Eu imploro! Para de comer a minha vida pelas beiradas. Pare de me deixar atordoado todas as noites esperando que eu morra um pouco mais. Deixa eu sentir o gostinho do que é viver sem me preocupar com o amanhã. Já sinto falta disso, mesmo sendo tão duro descrever que há anos já não sinto isso porque hoje já sei que nada dura para sempre. Ainda mais quando tu sentes tua vida sendo escorrida pelas mãos da morte, enquanto ela dança e sorri para você. Mulher horrenda essa dona Morte. Bêbada maldita que não sai dos meus pensamentos. E mais um ano se foi.
25 anos com uma alma velha de aproximadamente uns 60 ou até 70 anos. As costas resmungam, as mãos já estão enfraquecidas de tanto escrever palavras tristes. O olhar é vazio tanto quanto o coração. E a mente está ali trabalhando e trabalhando e pensando e pensando e fluindo e fluindo. Pensamento de um velho chato que já não sabe mais o que quer e como quer e onde quer e quando quer. Meu inferno astral é duro o suficiente para me fazer acreditar que já devo deitar e esperar a morte chegar, mesmo sabendo que ela pode demorar para chegar. E ela continua dançando sob meus calcanhares. Porque eu deveria sorrir a cada "Feliz aniversário" que recebo? Não, eu não devo. Ainda mais quando o que quero é fugir daqui. Desligar o celular. Desligar-se do mundo. Ficar dentro de meu casulo e esquecer todos vocês até vocês esquecerem que o meu dia de comemorativo chegou. Por favor, me privem de acreditar que minha morte está chegando. É triste demais envelhecer. É triste demais saber que tu já não és tão novo assim a ponto de querer mudar o mundo. De acreditar que o mundo pode mudar. De que as pessoas num futuro bem próximo serão boas o suficiente para se amarem. É triste saber que a vida irá continuar me batendo, enquanto a morte dança. Ah, e ela dança. E ela ri da nossa cara. E ela continua bebendo até o nosso tortuoso dia chegar.

25 infernos pelos quais já passei sem nem saber a existência deles. Quando eu era mais jovem, acreditava que tudo iria durar para sempre, mas mesmo assim sentia-me deprimido por saber que um ano a mais já foi embora, foi então que comecei a perceber que nada dura para sempre. NADA! Percebas, até um dia que é para ser feliz aos olhos de outras pessoas, é um dia frustrante aos teus olhos, mas quando os teus olhos finalmente descansarem para sempre, será o dia mais frustrante da vida de todas as pessoas que sorriram ao comemorar o teu dia. Já parou para pensar no quanto é triste essa vida? E, oh, claro, eu preciso de uma dose. Preciso embaçar os meus olhos para não enxergar a vida indo embora mais um pouco de mim. Já vivi 1/4 do que seria certo e comum viver da vida, mas para quem quer viver 100 anos, eu já estou bem triste e deprimido com 25. 25 doses de infernos por todos os meus anos já não querem dizer nada, mesmo que minha alma de bêbado já diga tudo sobre mim, porque nesse exato momento quem, além de meus dedos, escreve aqui para vocês é a minha alma atordoada pelo tempo existente em mim. E escrevo-te sim como se fosse o mais idoso dos idosos. Ainda é triste ser triste, mas é mais triste ainda ser triste no meio de um monte de gente feliz por tua existência, enquanto te entregam presentes, laços, abraços e sorrisos. Por favor, se alguém conhece algum escritor ou poeta que seja deveras feliz, me avise.
É engraçado que quando tu atinges uma certa idade, as pessoas se preocupam bem mais com você do que você mesmo. Teu exemplo de vida, teu exemplo de corpo, teu cabelo, teu carro, teu apartamento, teu salário, teu sexo, teus vícios...OH, FODAM-SE ELES!!! Para o inferno com tudo isso. E enquanto eles se preocupam demais em como está todas as coisas de tua vida, eu permaneço aqui afastado de todos eles. Eu poderia deitar novamente em meu casulo e esquecer todos vocês pelo resto desse ano, mas eu tenho certeza que eles não deixariam. Não, eles não deixariam. E isso também é bem triste quando uma alma quer apenas descansar de todo o peso do mundo.

25 doses descidas por minha garganta pelo meu dia que em breve chegará. E se eu fumasse cigarros, 25 longas tragadas amargas pela minha vida amarga para ajudar a bebida a descer, mas sobre isso nunca precisei de ajuda. Eu sinto o amargor da vida descendo pela minha garganta. Sinto o cansaço. Sinto os abraços e beijos e congratulações chegando bem devagarinho sobre a minha vida. Sinto e ouço o telefone tocar e alguém do outro lado da linha me desejando todas aquelas coisas chatas e monótonas de sempre. Oh, sim, eu sinto. E o pavor que tenho de telefones já chega a congelar desde a ponto de minha espinha até o final dela. Essa, realmente, talvez seja a carta mais estúpida que escrevi. Não irei lê-la. Não. Eu não preciso disso nesse momento. Não me preocuparei com pontos, falhas, erros e todo esse blá blá blá sobre meus contos bem trabalhados sobre uma vida que não importa para ninguém. Mas deixarei ela entregue ao ar para que eu esteja certo de que estou aliviado por ter escrito palavras que logo não irei lembrar, mas que o sentimento apertado e angustiante de completar minhas 25 doses em breve irá continuar. E eu desço goela abaixo doses e doses para tentar esquecer que logo será o meu dia de comemorações e sorrisos. Meu inferno astral não é um bom companheiro de drinques, ele se esgota rápido. Algumas boas doses e pronto, ele está caído ao meu lado falando merda sem parar. A melhor companheira que tive ao meu lado, tomando uns belos drinques, foi a Dona Morte, mas agora ela só pensa em dançar. Mas, isso, deixa ela lá. Dançando e sorrindo. Deixa.

- Você está muito estranho hoje! - ela disse.
"- Claro. Meu aniversário é daqui uma semana e já não estou feliz com a vida que levo, porra. Queres que eu esteja feliz e sorridente e alegre?" - pensei.
- Só estou cansado. Tudo normal. - foi o que respondi.

É. A vida me come pelas beiradas. E hoje vejo o velho chato em que me tornei. Estou enjoado de todas as coisas e pessoas e assuntos que elas sempre entregam a mim, mas eu respondo com a cabeça, eu sorrio, eu me esforço, Juro, me esforço ao máximo. Mas elas se esforçam mais ainda para que eu não sinta vontade nenhuma de sair de dentro do meu quarto escuro, onde a minha unica companhia é a música e a bebida. Qual será o meu problema? Ou o problema deve ser as pessoas? Talvez o meu inferno astral? Talvez não exista problema nenhum. Talvez eu esteja maluco. Talvez eu precise de ajuda profissional de um maluco para me dizer que estou maluco e paga-lo com dinheiro que já não tenho mais só para ele chegar a conclusão de que sou maluco mesmo. Talvez eu deva enlouquecer de uma vez por todas. Quem sabe quando a vida parar de me comer pelas beiradas eu tenha a resposta, até lá, até esse dia, não faço questão nenhuma em ficar mais velho. Pelo menos até o dia em que isso não fizer a mínima diferença. É triste ser um triste chato e velho, mas é mais triste ainda ser triste, chato e velho saboreando e respondendo cada sorriso de congratulações com um sorriso triste e forçado no canto da boca. E o que me falta quando já tenho tudo? Eis a minha resposta final para tal carta medíocre: Um sorriso feliz como daquele tempo em que eu só queria que o meu dia chegasse para ganhar presentes e mais presentes dos meus pais e amigos e familiares, mas hoje nem isso satisfaz mais. É triste.

A vida já não é mais uma criança travessa, essa criança cresceu e agora a vida é uma puta! Puta daquelas baratas do centro de São Paulo que já não conseguem nem se manter em pé. Uma puta bêbada que precisa de dinheiro para comprar mais bebidas e não para sobreviver e sustentar a si mesma ou a família. Ergo meu copo meio cheio, meio vazio e brindo mais um ano de vida com uma puta, um embriagado fraco e uma dançante sorridente. Eu não preciso abrir a boca para dizer uma palavra sequer para esses três porque eles sabem muito bem como me sinto no dia de hoje. Sabem tudo o que penso, o que quero, o que não quero, o que já enjoei e o que gostaria que fosse novo, mas eles não se importam com nada nem ninguém. Porque eu me importaria?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Marinheiro de primeira e unica viagem


E escrevo-te hoje sobre os traumas. Traumas de uma vida que ninguém sabe ao certo em quais linhas devem ser escritas. Não acredito mais nas esperanças e milagres, assim como não acredito mais e desacreditar e não ter fé. Quem sou eu em meio aos traumas? Pergunta impossível de responder. Acredito que desde que nascemos vivemos por traumas e mais traumas. Trauma de nascer, de chorar, de crescer, trauma de juvenescer, de amar, de viver, carnal, trauma de estudar, de trabalhar, de não viver mais, trauma de casar, de ter filhos, de continuar cansadamente trabalhando e não mais estudando por não existir mais tempo nem para si mesmo, trauma de envelhecer, adoecer e morrer. A vida é um trauma e eis me aqui para lhe contar alguns deles, não que seja tão importante assim. Ou seja.
Traumas e mais traumas e hoje já sinto o peso dessa palavra sobre minhas costas. Ei você que talvez esteja aqui lendo minhas palavras contidas, quais são os seus traumas? Paraste para pensar em alguns deles. Se não, já não faça isso, pois eis um trauma que terá que conviver daqui para frente. A partir do momento que lembra dos teus traumas, outros traumas maiores virão e é então que a vida começa a te bater um pouco mais.
Não venho por meio desta querer escrever mais palavras tristes sobre uma vida que já é triste demais - a nossa -, mas venho escrever sobre a alma de um marinheiro que já se encontra perdido o suficiente para escrever algumas palavras de cura. Onde se encontra a minha alma senão na tua? Onde se encontra minha razão senão nos pensamentos que já são teus? Também não quero escrever sobre o amor, não hoje, não agora, e talvez nem mais tarde. O amor está num nível que é bom o suficiente apenas senti-lo e não para falar sobre.

Escrevo-te essa pequena carta numa quarta-feira nublada para dizer que estou cansado. Não da vida, da vida sempre fui cansado. Tão cansado e exaustivo como essa quarta-feira e isso não vem ao caso porque já não é importante minhas recomendações tristes de como a vida realmente é, mas escrevo-te para dizer que estou cansado dessa vida de marinheiro que nunca volta para sua verdadeira casa. E já não sei mais onde é o meu lar senão no mundo. E isso cansa. Cansa ter perdido o sorriso sincero e a esperança de que um dia eu volte. Cansa o choro contido mais cinza que essa quarta-feira. Cansa não ter onde nem como escrever e muitas vezes ter um papel e caneta achado no canto do navio, mas não saber as palavras certas para descrever tal momento. E é então que percebo que a fonte de todos os meus problemas são passados e feitos apenas por mim mesmo. Isso também cansa. Pois é aqui então que vem o trauma de sentir saudades de uma vida que já se foi há muitos mares. Saudades das canções antigas, dos sorrisos antigos, dos cardápios antigos, dos restaurantes e bares que hoje já não se encontram abertos para que eu possa tomar uma bela cerveja ou um drink bem feito. Saudades das mulheres de antigamente que eram muito mais fortes que hoje. Saudades dos homens que eram muito melhores do que são hoje, inclusive eu. Saudade de um mundo que nunca foi mudado e que nunca vai mudar, mas se formos parar para pensar, saudades de acreditar que é o mundo que está mudando invés de perceber que são as pessoas que mudaram. O mundo continua sendo o mesmo. Nossas almas que estão apenas desaparecendo.

Já não quero escrever sobre romances. Sobre politica. Sobre religiões. Sobre depressões ou bares ou mulheres ou sexo. Já não quero escrever sobre como o mundo está deveras chato. Sobre como as coisas poderiam ser melhores. Já não quero. Quero apenas me sentar no convés e escrever sobre minhas viagens que há muito tempo já não escrevo. Estar em mar aberto em cima de terra firme é o que existe de melhor. Acredito que entendas o que quero expressar nessa carta que aqui vos escrevo. Lembre-se.
O mundo me acolhe de tal forma que não existe como explicar e o mar negro chamado pessoas já me engoliu faz um bom e velho tempo.
- Eu sei porque você é tão desacreditado das coisas. - ela disse.
- Sabe?! - eu disse.
- Eu sei porque você não acredita em Deus. - ela continuou.
- Hm.
- Porque você deixou de acreditar nas pessoas faz tempo. Você abomina e tem tanto pavor das coisas que as pessoas fizeram e são capazes de fazer que isso reflete nas coisas que você acredita. Deus é uma delas. As pessoas estragam e destroem tudo que elas enxergam pela frente. - ela disse.
- Deus é  uma invenção dos homens e nada mais. Tudo é invenção dos homens. As coisas boas e as ruins. Algumas para eles se sentirem melhores e outras para serem apenas horríveis. O mundo é um colapso depressivo graças a todas as coisas que os seres humanos fizeram com ele e refletem nesse grande espelho. - eu respondi e continuamos caminhando á beira mar.

Eu precisava escrever tais palavras para que me sentisse um pouco melhor novamente. Tenho esquecido um pouco das palavras por conta do mar negro que me engoliu, mas o mundo ainda continua me mostrando coisas boas e disso é o que eu sinto mais falta. De coisas boas entregues pelo mundo. E ainda sinto falta do meu lar. Um dia eu voltarei e um dia serei feliz novamente. E um dia olharei para todas essas pessoas que me engoliram e pensarei "E hoje eu sou tão feliz quanto todos vocês", mas essa minha vida de marinheiro está muito longe ainda de terminar. A minha primeira e unica viagem que a vida me entregou está apenas começando. Existem muitos mares para percorrer e muitas histórias para contar. O convés foi destruído novamente, as âncoras continuam levantadas, as cordas ainda estão firmes e fortes. O máximo que necessito fazer nessa vida que já não sei mais para onde vai dar é consertar o convés e criar esperança que esses mares me levem para um caminho distinto entre a felicidade e a realidade. Qual você escolheria?

E eu ainda não sei. Eis então que minha viagem está longe do fim.