quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Sinto que estou num mar onde você me jogou sabendo que eu não sei nadar

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- Querida, sabes quantas vezes minhas paranoias me mataram hoje?
- Não sei, meu bem. Quantas?
- Perdi as contas, querida. Perdi todas as contas.

Tenho medo de terminar os meu versos.
Tenho medo de terminar esta carta.
Medo de que não chegue até você como anseio que chegue.
E as palavras já não fazem sentido para mim, mas algo aqui dentro implora para que todas elas cheguem até você e te lembrem que não sou capaz de te esquecer.
Me tira daqui, querida.
Me leva para longe.
Para muito longe.
Pegue minhas mãos geladas e me leve para bem longe daqui.
Para outro universo. Para outro oceano.
E salva esse coração que já se perdeu há algum tempo.
Me leva para bem longe, muito longe. Onde ninguém possa nos encontrar e me faça acreditar que eu jamais te esqueci. Me faça acreditar que tudo não passou de um sonho e que todas as minhas palavras ainda não são em vão.
Consigo proferir o teu nome, mas ainda não consigo escreve-lo em minhas cartas. E ainda sim, sinto um medo perturbador de continuar todas as minhas cartas sempre que insisto em lembrar que todas as minhas palavras são proferidas para ti. E isso me atormenta dia após dia.
E a insônia vem me visitar muito mais do que você costumava fazer. E eu acordo suado todas as noites no meio da madrugada e me vejo sonhando com teu rosto e tentando lembrar o som de sua voz.
Que essas palavras ecoem madrugada a dentro e toquem teu coração de alguma forma, por mais breve que seja, para que lembres, meu bem, para que lembres que sou absolutamente incapaz de te esquecer.
Tu me fez sentir, querida.
E não importa quanto tempo essas minhas palavras ecoem por todas essas esquinas e madrugadas. Não importa que tu não me ouves mais e nem sequer lembre o tom de minha voz dizendo em teu ouvido que eu era feliz ao teu lado. Não. Não importa. O que importa é meu sussurro desesperado para que penses que sou incapaz de viver sem o calor de teus braços. E isso me assusta, mais uma vez.
E eu tenho medo, querida. Tenho medo de não me sentir como um dia tu foste capaz de fazer com que eu me sentisse. Tão bem. Tão puro. Tão feliz. Tão simples. Tão tudo no meio do nada. Tão nada no meio do tudo. E todas as vezes que tu foste capaz de fazer com que eu me sentisse forte, quando no fundo era só fraqueza, não sai de minha mente. E o teu sorriso quando tudo se encontrava perdido não sai da minha cabeça aflita por saber que este sorriso jamais cairá de encontro ao meu novamente. E o meu tormento é saber que minha voz muda não ecoa através do teu coração para que sinta que o meu coração não é suficientemente capaz de viver longe dele.
E eu gostaria, querida, gostaria de receber noticias tuas que me fizessem acreditar que o amanhã mais lindo existe no fim de todas as coisas sem cores que o mundo está sendo capaz de me entregar desde que foste embora.
E te pedir para ficar está muito longe do que eu posso oferecer. Não sou mais capaz de te prender a mim. Nem nunca quis isso. Sempre desejei que fosses livre para fazer o que quiseste. Mas gostaria de não ter sido covarde suficiente para soltar tuas mãos e deixar que enfrentasse esse mundo sozinha, mesmo sabendo que tu és e sempre será forte o suficiente para derrubar qualquer muro capaz de nos travar por nossos caminhos.
Tu nunca mais irá me ouvir. E isso não me assusta, apenas me entristece. Não adianta o quanto eu escreva e peça e implore e chore e me desespere, tu nunca mais irá me ouvir.
Espero que passes bem, meu bem. O teu sorriso foi a melhor coisa que eu enxerguei em toda a minha vida e é esse sorriso que não sai nunca da minha mente.
Eu tento enxergar em outros sorrisos o sorriso teu, mas nenhum, nunca, jamais, será igual. E nenhum sorriso nunca, jamais, me trará a paz que o teu sempre foste capaz de me entregar.
Tu me fez sentir, meu bem.
E, mesmo que eu tenha muito medo de continuar, sigo caminhando na esperança de que um dia eu possa te encontrar. Mesmo que eu saiba que nossos poemas já não são tão parecidos como sempre foram.
E isso me deixa incapaz de ter coragem suficiente para olhar, novamente, eu teus olhos e acreditar que não são eles que sempre me deram força suficiente para enfrentar esse mundo que tanto me derruba.

- Meu bem, você está bem?
- Não. Não estou bem.
- Sabes que beber faz com que todas as lembranças e memórias que tu queres esquecer acentuem ainda mais em tua mente, não sabe?
- Eu bebo para esquecer, mas sempre me pego chorando ao fim da noite.
- Se cuida, meu bem. Se cuida!

Me deixa ficar.
Me deixa ficar aqui te esperando.
Me deixa ficar aqui acreditando que tu irá bater em minha porta.
Me deixa ficar aqui esgueirado sonhando com o dia que me abraçará.
Me deixa ficar aqui terminando meus versos e poemas e cartas e tristezas.
Me deixa chorar. Me deixa surtar. Me deixa lembrar que não te tenho.
Me deixa implorar. Me deixa sozinho. Me deixa fingir esquecer.
Será que nós dois somos capazes de fingir tão bem que esquecemos?
Me deixa ficar, querida.
Me deixa ficar aqui lembrando do teu sorriso.
Me deixa ficar aqui lembrando do teu abraço.
Me deixa ficar aqui lembrando da tua voz.
Me deixa ficar aqui lembrando dos teus sonhos.
Me deixa ficar aqui lembrando dos teus medos.
Me deixa ficar aqui lembrando que não sou capaz de continuar sem você.
Me deixa ficar aqui lembrando que eu choro sempre que lembro teu nome.
Mas me deixa ficar aqui lembrando que eu sempre engulo a seco ao lembrar todas as coisas boas que passamos juntos.
Deixa eu ficar, meu bem. Deixa eu sorrir. Deixa eu chorar. Deixa eu sofrer. Deixa eu viver, sozinho, os sonhos que tivemos juntos. Deixa eu deprimir. Deixa eu não dormir. Deixa eu sentir medo. Deixa eu me desesperar.
Deixa eu caminhar os meus passos sabendo que não tenho mais os teus para me guiar.
Deixa eu viajar para o espaço sabendo que tu não é mais o oxigênio que pulsa em meus pulmões.
Deixa eu me jogar dentro do oceano sabendo que tu não é mais o bote que salva minha vida.
Me deixa ficar aqui pensando que tu irá me ouvir mais uma vez e bater em minha porta para dizer que sentiu minha falta todo esse tempo.
Por mais breve que seja, deixa eu sentir. Deixa eu sentir. Deixa. Me deixa sentir.
Deixa eu chorar. Deixa essas gotas caírem por meus olhos e limpar os dedos cansados de tanto digitar. Deixa eu sentir essa dor. Deixa eu sentir que não tem mais saída. Deixa eu acreditar que minha vida acabou. Deixa eu viver esse luto eterno e me esquecer que ao teu lado eu vivi uma eternidade momentânea que ninguém pode apagar.
Deixa eu beber. Deixa eu me afogar na tristeza. Deixa eu enlouquecer e acreditar que nunca mais amarei outro alguém. Deixa eu escrever. Só deixa.
Me deixa ficar aqui acreditando nesse medo que tanto me afronta.
Me deixa, meu bem, mas não da forma que me deixaste. Não da forma que foste embora. Deixa eu ser esse escritor louco enquanto você me observa e me acha o ser humano mais bobo do mundo. E me entrega as palavras que eu sempre quis ouvir.

"Eu não vou te deixar. Eu não vou mais embora.".

Me tira de casa, meu bem.
Me tira daqui.
Me leva embora.
Me leva para o teu colo.
Apaga o choro. Apaga a tristeza.
Faça eu engolir minhas palavras.
Deixa eu entrar na tua vida para a nossa não morrer.
Deixa eu ficar, meu bem.
Me peça para ficar.
Diga que tens medo de que eu parta tanto quanto eu tenho medo de que se vá.
Deixa eu ficar.
Cura essa tristeza.
Volta para a minha vida e faça eu deixar de mentir para os meus amigos que está tudo bem quando, na verdade, eu não me encontro bem.
Me tira daqui, querida.
Me leva para muito, mas muito longe disso tudo.
Algum lugar muito perto de você.
E me faça deixar de ser esse ótimo mentiroso.
Porque eu minto, querida. Eu minto muito bem quando eu digo para todos que estou muito bem. E que te esqueci. E que te superei. E que deixei de me importar.
E toda vez que eu minto, meu peito sangra e morre mais um pouco. Um pouco mais.
E outra vez.
Outra vez mais.
Mais uma vez.
E eu senti. E eu sinto. E eu sentirei.
E todas as vezes que eu minto sobre não ter mais você dentro do meu peito, eu faleço um pouco mais.
E o que tem me matado não são meus porres, nem minha depressão, nem meus tragos, nem meus poemas, nem meus romances, mas sim fingir todos os dias que você não significa mais nada para mim.

- Querida, eu pensei, mais uma vez, em por um fim nisso tudo.
- E porque já não o fez?
- A salvação está em mais uma carta com palavras em vão jogadas ao vento. Por mais breve que seja essa carta, meus sentimentos foram inclusos nela. Isso é o que me faz continuar. Não importa quanto tempo passe. Não importa quantas vezes eu chore. Não importa quantas noites eu passe sem dormir. Não importa quantas manhãs eu acorde sem conseguir levantar da cama por estar triste e cansado o suficiente para enfrentar o mundo. As minhas palavras foram escritas, por mais que eu tenha deixado de acreditar em todas elas. E isso, algum dia, me trará algo bom.
- Algum dia, meu bem. Algum dia.

Me faz sentir.
Por favor, me faz sentir.
Eu sorrio todas as vezes que lembro da gente.
Me fez sentir!

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