terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Não cabe a mim te dizer se isso é ou não uma carta de amor

...e eu te juro que darei fim a estas escritas quando eu der o último trago.
E o ano mudou.
Tudo mudou.
E eu mudei.
Sinto que já não sou capaz.
Não sou capaz de esconder o que sinto.
Guardar o que penso.
E sorrir o que choro.
Os meses passaram e eu sumi disso tudo aqui.
Sumi de mim mesmo.
Sumi deles.
Sumi de nós.
Sumi por nós.
Escorri, pelas minhas mãos, todas as palavras que eu queria cuspir.
Me senti sufocado o suficiente para desmaiar.
E me afastar muito mais pra longe de mim.
Para longe de ti.
Eu escrevi muitas palavras no meu peito neste tempo em que estive fora.
Nenhuma delas de entreguei.
Nenhuma delas entreguei para uma alma sequer no mundo.
E eu me senti essa alma solitária.
Perdida.
Aflita.
Angustiada.
E esquecida.
Eu me perdi nessa imensidão criada por mim mesmo.
A bussola, eu mesmo joguei fora.
Não queria me encontrar.
Muito menos me perder.
Não queria que me encontrassem.
Muito menos que me libertassem.
O ano virou.
Tudo mudou.
E eu mudei.
E assim te encontrei.
Em constante desarmonia de tudo que há.
Era desse jeito que eu estava.
Mas eu estava em paz quando tu me encontraste. 
Me perdi mais ainda.
Eu sumi mais ainda.
E em agonia sorridente me encontro.
Me apaixonei.
Por ti.
Por mim.
Por nós.
O mundo brilhou. Teus olhos me brilharam. E a tua voz me calou.
Me emudeceu.
Me emburreceu.
e eu perdi a noção de todas as palavras.
Eu nunca sei bem o que te falar.
O que te sorrir.
O que te implorar.
O que te chamar.
E como te chamar.
O medo consumiu todo o meu ser.
Medo constante e insistente que persistiu para que eu escrevesse.
E toda aquela ansiedade que me consome desde os vinte e tantos anos, me consumiu de novo pelas últimas noites.
A salvação...
é...
você.
No meio de toda essa imensidão, escolhi minha fraqueza através do amor.
Não tem escapatória.
Não tem saída.
Não tem jeito.
Eu ainda sei amar.
Eu ainda sei sentir.
Eu ainda sei viver.
E, de alguma forma, eu ainda sei sorrir.

...eu ainda sei escrever.
Mesmo perdendo todas as palavras.
Mesmo não fazendo ideia de quais poemas são os melhores aos teus ouvidos.
e isso me emputece. 

- MEU DEUS, CARALHO, TU ESTAS SENTINDO?!
- O que está acontecendo comigo, caralho?!
- Eu vivi para ver este dia! TU ESTÁ SENTINDO, CARALHO!
- Que medo é esse, porra?! QUE MEDO É ESSE?!
- Calafrios?
- Muitos! Todos! PORRA, ME AJUDA. ME AJUDA!
- Deixa sentir. Senti isso dentro de você. Se permita. Deixa sentir! 
- MAS O QUE É ISSO PULSANDO NO MEU PEITO, CARALHO?! Estou sentindo muito medo! Eu não quero isso, porra, EU NÃO QUERO ISSO!
- A vida é muita curta para não sentir tuas próprias emoções, meu bem! Deixa sentir!
- Mas...
- Eu espero que vocês se encontrem!
- ...estou com medo de continuar.

Estou com medo de terminar meus versos.
Estou com medo de terminar minhas palavras.
E esta carta ser nada mais que uma carta.
Poucas linhas.
Algumas palavras significativas. 
Por medo de continuar, me sinto incapaz.
Tenho medo. Muito medo.
E eu nem sabia que era capaz de me sentir de tal forma.
Desastrada.
Talvez, tu irá me ouvir. Mesmo sem nem conhecer minha voz.
Mas alguma palavra tu irá compreender.
E irá caminhar em meu espaço.
Quando eu mais queria fazer parte do teu espaço.
Do teu universo.
E ser teu infinito.
Não importa quanto tempo essas palavras ecoem com o vento, até meus braços estarem em teus braços.
E eu te pedir para deixar eu entrar em tua vida.
Me faz sentir.
Deixa eu sentir.
Isso tem que ecoar em teus ouvidos de alguma forma.
Enquanto espero o telefone tocar - eu tenho pavor de telefones -, sendo tua voz do outro lado da linha me pedindo para ficar.
O medo persiste.
Não quero terminar estes versos.
Sei que ainda sentirei por ti tudo aquilo que persiste aqui.
Ouvi todas as minhas músicas.
Chorei todas as minhas lágrimas.
Escrevi todos os meus poemas.
Joguei fora tudo isso.
E ainda sim, senti tua vontade.

Vontade persistente para que me leve ao espaço. 
Para que me faça sentir.
E que caminhe nossos passos.
Deixa eu ficar.

...eu tenho muitas e muitas palavras sobre ti de mim para ti, mas meu trago chegou ao fim.