quarta-feira, 21 de agosto de 2019

E mesmo que eu te entregasse as mais belas rosas, tu me devolverias todas elas mortas

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Minha loucura não tem cura, meu bem.
E o tempo não foi capaz de me entregar tudo que eu procurava e perguntava.
E veja, meu bem, voltei a beber. E me encontrei perdido entre minhas garrafas vazias espalhadas pelo quarto.
E eu não tenho mais jeito, querida. Tu sempre me disseste isso. E eu nunca dei ouvidos.
Mas veja, meu bem, voltei a pensar em meus tragos. Voltei a me encontrar triste por nada. E, por tão pouco, voltei a me encontrar deprimido pelos cantos que passo.
O tempo não foi mesmo suficiente para cair de encontro comigo mesmo e me mostrar que nós dois estávamos errados, meu amor. E hoje, ah meu bem, meu bem, bem meu, me sinto como uma merda que você tacou no ventilador sem pensar em quem estava em volta.
Estou bêbado, querida, e veja que patético. Eu só escrevo quando estou bêbado, se lembra? E eu só escrevo quando não estou nada, mas nada bem, sabia disso? E talvez isso seja um grito de socorro que esteve contido por entre meus dentes o dia inteiro. Não sei bem te dizer, mas sei bem te dizer que eu lembrei de você. E sei bem te dizer que eu entristeci ao lembrar do som de tua voz. E entristeci muito mais ao lembrar que sou capaz de lembrar de você. E me deprimi muito mais quando lembrei que ainda sou capaz de lembrar do teu sorriso. E hoje, meu bem, eu me sinto tão, mas tão para baixo. Tão sozinho e perdido e triste que todas as flores mortas do nosso jardim não são capazes de decifrar e demonstrar o que se encontra tão, pateticamente, estranho dentro de mim.
E eu voltei a ouvir todos os meus blues, querida. Você odeia blues.
Voltei a dar longos goles quando os solos de guitarra começam. Você odeia meus porres.
Voltei a pensar nos longos tragos quando o blues é dos mais lentos. Você odeia meus tragos.
Voltei a escrever ao som de todos os meus blues, querida. Você nunca leu uma única carta minha.
E essa eu dedico a você!
E eu cansei de escrever todas essas porcarias que nunca irão chegar aos teus olhos.
E eu cansei de pensar no teu coração ao dar de encontro com minhas cartas.
E eu cansei de sentir o teu cheiro ao pensar que podes voltar para casa.
Patético. Patético. Eu sei!

- Nossa, todos esses teus textos tem um cheiro indescritível de álcool e tristeza.
- Não leia minhas coisas.
- Mas você publica para todo mundo ver.
- Eu publico para que um dia encontrem meu grito de socorro e não meu alcoolismo e tristeza.
- Mas, e o teu amor?
- Meu amor está tão perdido quanto eu, caralho. Que merda queres de mim?
- Te encontrei tão triste novamente.
- E o que tens com isso?
- Veja, sempre que está triste não tens paciência para o mundo. Não queres conversar. Não queres sair da cama. E isso vai acabar te matando.
- O tempo já me mostrou que toda a tristeza do mundo não é capaz de me matar. Tenho preguiça demais para pensar em suicídio agora.
- E o teu amor?
- Penso mais nessa merda do que em minha despedida.
- O que farás com o teu amor?
- Tu tens cerveja por aqui?
- Tenho.
- Pode trazer uma para mim?
- Claro.
...
- Toma, beba.
- Obrigado!
- Mas, e o teu amor?
- Acabaste de me entregar.

E eu bebo para te esquecer, meu bem. Bebo por lembrar que sou capaz de lembrar que não te esqueci. E esta merda machuca. Até quando o tempo vai ser injusto comigo e me fazer ter você em minha mente sempre que não quero? E até quando meu coração vai apertar ao lembrar da tua voz? E até quando minha cabeça vai doer por saber que nunca mais cairei de encontro com teus braços? Teu sorriso ainda me mata e me consome e me invade a mente sempre que estou conscientemente são de todos os meus atos. A falta de lucidez desce por minhas entranhas e eu não sei para onde ir. E eu só queria te pedir quando me encontro assim.
Te pedir para não me esquecer.
Te pedir para não ir embora para sempre.
Te pedir para me telefonar.
Te pedir para voltar para casa.

Leia atentamente essas minhas palavras. Devagar. Bem devagar. Quase parando. Lentamente enquanto o texto está acabando. E entenda. E me entenda. E se surpreenda. E pense por um momento sobre o meu pedido de socorro. Devagar. Bem devagarzinho.

Eu desejei escrever a carta mais melancólica que alguém poderia escrever. E eu desejei que chegassem todas essas palavras até você. E eu desejei me embriagar até te esquecer. E eu desejei pegar o telefone, te ligar e dizer em como me sinto essa noite sem ao menos ouvir tua voz. E essa comida estragada chamada de amor que eu insisti em comer faz com que meu estômago queime como nunca teria queimado antes. Todas as minhas palavras não fazem sentido nenhum quando sou capaz de pensar em você. E todas as minhas cartas não significam nada quando estou completamente bêbado e perdido. Mas eu gostaria que soubesse que essa noite eu pensei em botar um fim em tudo isso. E, por mais que a vontade de dizer Adeus esteja constantemente contida em mim, eu sei que tu jamais se importaria e viveria tua vida da tua maneira e sequer me telefonaria para saber se o que aconteceu foi verdade.
Os carteiros entregariam tuas cartas. O padeiro faria o teu pão. O lixeiro pegaria o teu lixo. O taxista iria te buscar para ir ao trabalho. Você iria para o trabalho. E sorriria para todos os teus amigos. E jamais pensaria que alguém que te ama como nunca ninguém amou ou amará partiu sem te dizer o adeus que ele gostaria.

E sabe o que mais me machuca, meu bem? Ninguém nunca entende nada do que eu quero te dizer. E todo mundo acha incrível as coisas que eu escrevo. Mas é me perdendo em minhas palavras para ti que eu me encontro sem saber o porque.

Obrigado por existir, doce melancolia.

Palavras rasgadas sem nenhum remetente!