terça-feira, 1 de março de 2016

...25 anos, 25 doses, 25 infernos.



E não consegui pensar em um título legal para tal carta. Sabes que a fonte maior para qualquer palavra fluir é um bom título. O título tem que ser surpreendente. Tem que chamar a atenção. Tem que fazer as pessoas acreditarem que algo de bom irá sair de tal carta ou conto ou texto ou livro. As pessoas tem que sentirem as palavras e tal sentimento começa do título. Fato importante para quem quer começar a escrever cartas como eu - há quase um mês e meio já não faço isso. Queria algo bom que vencesse os devaneios e pesadelos de minha vida. Por quase completar 25 anos, estou apar de situações que não deveria e longe de situações pelas quais eu deveria estar de mãos dadas. Quando você passa da adolescência, aquela fase em que acreditas que tudo será para sempre, o inferno astral bate em sua porta dias antes mesmo de tu completares teu ciclo. E é ai que entra minhas palavras deprimentes sobre algo que eu não deveria me preocupar. Não por ora. Mas, ah, o inferno astral bateu fortemente em minha porta e com isso tive que convida-lo a entrar para tomar as 25 doses que logo irei completar. Eis então a minha felicidade momentânea se esvaindo de dentro de meu peito. Oh, semana infernal, vá embora. Eu imploro! Para de comer a minha vida pelas beiradas. Pare de me deixar atordoado todas as noites esperando que eu morra um pouco mais. Deixa eu sentir o gostinho do que é viver sem me preocupar com o amanhã. Já sinto falta disso, mesmo sendo tão duro descrever que há anos já não sinto isso porque hoje já sei que nada dura para sempre. Ainda mais quando tu sentes tua vida sendo escorrida pelas mãos da morte, enquanto ela dança e sorri para você. Mulher horrenda essa dona Morte. Bêbada maldita que não sai dos meus pensamentos. E mais um ano se foi.
25 anos com uma alma velha de aproximadamente uns 60 ou até 70 anos. As costas resmungam, as mãos já estão enfraquecidas de tanto escrever palavras tristes. O olhar é vazio tanto quanto o coração. E a mente está ali trabalhando e trabalhando e pensando e pensando e fluindo e fluindo. Pensamento de um velho chato que já não sabe mais o que quer e como quer e onde quer e quando quer. Meu inferno astral é duro o suficiente para me fazer acreditar que já devo deitar e esperar a morte chegar, mesmo sabendo que ela pode demorar para chegar. E ela continua dançando sob meus calcanhares. Porque eu deveria sorrir a cada "Feliz aniversário" que recebo? Não, eu não devo. Ainda mais quando o que quero é fugir daqui. Desligar o celular. Desligar-se do mundo. Ficar dentro de meu casulo e esquecer todos vocês até vocês esquecerem que o meu dia de comemorativo chegou. Por favor, me privem de acreditar que minha morte está chegando. É triste demais envelhecer. É triste demais saber que tu já não és tão novo assim a ponto de querer mudar o mundo. De acreditar que o mundo pode mudar. De que as pessoas num futuro bem próximo serão boas o suficiente para se amarem. É triste saber que a vida irá continuar me batendo, enquanto a morte dança. Ah, e ela dança. E ela ri da nossa cara. E ela continua bebendo até o nosso tortuoso dia chegar.

25 infernos pelos quais já passei sem nem saber a existência deles. Quando eu era mais jovem, acreditava que tudo iria durar para sempre, mas mesmo assim sentia-me deprimido por saber que um ano a mais já foi embora, foi então que comecei a perceber que nada dura para sempre. NADA! Percebas, até um dia que é para ser feliz aos olhos de outras pessoas, é um dia frustrante aos teus olhos, mas quando os teus olhos finalmente descansarem para sempre, será o dia mais frustrante da vida de todas as pessoas que sorriram ao comemorar o teu dia. Já parou para pensar no quanto é triste essa vida? E, oh, claro, eu preciso de uma dose. Preciso embaçar os meus olhos para não enxergar a vida indo embora mais um pouco de mim. Já vivi 1/4 do que seria certo e comum viver da vida, mas para quem quer viver 100 anos, eu já estou bem triste e deprimido com 25. 25 doses de infernos por todos os meus anos já não querem dizer nada, mesmo que minha alma de bêbado já diga tudo sobre mim, porque nesse exato momento quem, além de meus dedos, escreve aqui para vocês é a minha alma atordoada pelo tempo existente em mim. E escrevo-te sim como se fosse o mais idoso dos idosos. Ainda é triste ser triste, mas é mais triste ainda ser triste no meio de um monte de gente feliz por tua existência, enquanto te entregam presentes, laços, abraços e sorrisos. Por favor, se alguém conhece algum escritor ou poeta que seja deveras feliz, me avise.
É engraçado que quando tu atinges uma certa idade, as pessoas se preocupam bem mais com você do que você mesmo. Teu exemplo de vida, teu exemplo de corpo, teu cabelo, teu carro, teu apartamento, teu salário, teu sexo, teus vícios...OH, FODAM-SE ELES!!! Para o inferno com tudo isso. E enquanto eles se preocupam demais em como está todas as coisas de tua vida, eu permaneço aqui afastado de todos eles. Eu poderia deitar novamente em meu casulo e esquecer todos vocês pelo resto desse ano, mas eu tenho certeza que eles não deixariam. Não, eles não deixariam. E isso também é bem triste quando uma alma quer apenas descansar de todo o peso do mundo.

25 doses descidas por minha garganta pelo meu dia que em breve chegará. E se eu fumasse cigarros, 25 longas tragadas amargas pela minha vida amarga para ajudar a bebida a descer, mas sobre isso nunca precisei de ajuda. Eu sinto o amargor da vida descendo pela minha garganta. Sinto o cansaço. Sinto os abraços e beijos e congratulações chegando bem devagarinho sobre a minha vida. Sinto e ouço o telefone tocar e alguém do outro lado da linha me desejando todas aquelas coisas chatas e monótonas de sempre. Oh, sim, eu sinto. E o pavor que tenho de telefones já chega a congelar desde a ponto de minha espinha até o final dela. Essa, realmente, talvez seja a carta mais estúpida que escrevi. Não irei lê-la. Não. Eu não preciso disso nesse momento. Não me preocuparei com pontos, falhas, erros e todo esse blá blá blá sobre meus contos bem trabalhados sobre uma vida que não importa para ninguém. Mas deixarei ela entregue ao ar para que eu esteja certo de que estou aliviado por ter escrito palavras que logo não irei lembrar, mas que o sentimento apertado e angustiante de completar minhas 25 doses em breve irá continuar. E eu desço goela abaixo doses e doses para tentar esquecer que logo será o meu dia de comemorações e sorrisos. Meu inferno astral não é um bom companheiro de drinques, ele se esgota rápido. Algumas boas doses e pronto, ele está caído ao meu lado falando merda sem parar. A melhor companheira que tive ao meu lado, tomando uns belos drinques, foi a Dona Morte, mas agora ela só pensa em dançar. Mas, isso, deixa ela lá. Dançando e sorrindo. Deixa.

- Você está muito estranho hoje! - ela disse.
"- Claro. Meu aniversário é daqui uma semana e já não estou feliz com a vida que levo, porra. Queres que eu esteja feliz e sorridente e alegre?" - pensei.
- Só estou cansado. Tudo normal. - foi o que respondi.

É. A vida me come pelas beiradas. E hoje vejo o velho chato em que me tornei. Estou enjoado de todas as coisas e pessoas e assuntos que elas sempre entregam a mim, mas eu respondo com a cabeça, eu sorrio, eu me esforço, Juro, me esforço ao máximo. Mas elas se esforçam mais ainda para que eu não sinta vontade nenhuma de sair de dentro do meu quarto escuro, onde a minha unica companhia é a música e a bebida. Qual será o meu problema? Ou o problema deve ser as pessoas? Talvez o meu inferno astral? Talvez não exista problema nenhum. Talvez eu esteja maluco. Talvez eu precise de ajuda profissional de um maluco para me dizer que estou maluco e paga-lo com dinheiro que já não tenho mais só para ele chegar a conclusão de que sou maluco mesmo. Talvez eu deva enlouquecer de uma vez por todas. Quem sabe quando a vida parar de me comer pelas beiradas eu tenha a resposta, até lá, até esse dia, não faço questão nenhuma em ficar mais velho. Pelo menos até o dia em que isso não fizer a mínima diferença. É triste ser um triste chato e velho, mas é mais triste ainda ser triste, chato e velho saboreando e respondendo cada sorriso de congratulações com um sorriso triste e forçado no canto da boca. E o que me falta quando já tenho tudo? Eis a minha resposta final para tal carta medíocre: Um sorriso feliz como daquele tempo em que eu só queria que o meu dia chegasse para ganhar presentes e mais presentes dos meus pais e amigos e familiares, mas hoje nem isso satisfaz mais. É triste.

A vida já não é mais uma criança travessa, essa criança cresceu e agora a vida é uma puta! Puta daquelas baratas do centro de São Paulo que já não conseguem nem se manter em pé. Uma puta bêbada que precisa de dinheiro para comprar mais bebidas e não para sobreviver e sustentar a si mesma ou a família. Ergo meu copo meio cheio, meio vazio e brindo mais um ano de vida com uma puta, um embriagado fraco e uma dançante sorridente. Eu não preciso abrir a boca para dizer uma palavra sequer para esses três porque eles sabem muito bem como me sinto no dia de hoje. Sabem tudo o que penso, o que quero, o que não quero, o que já enjoei e o que gostaria que fosse novo, mas eles não se importam com nada nem ninguém. Porque eu me importaria?