segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Os espelhos de ti que procurei em outras pessoas estão todos quebrados


- Tens algo para me falar?
- Eu sempre tenho, querida. Eu sempre tenho.

E te escrevo mais está confissão.
E te escrevo em busca de redenção.
E te escrevo porque em ti encontrei a perfeição de um amor imperfeito.
E escrevo essa por todas as vezes em que disse que te amava.
E por todas as vezes que colei meu rosto ao teu e senti teu calor.
E te escrevo por todas as vezes em que te tirei do sério ou te deixei envergonhada.
E te escrevo por todas as vezes que bebi e tu tiveste que cuidar de mim.
E essa também é por todas as vezes em que eu escrevi sobre ti.
E por todas as vezes em que tive um surto de ansiedade e tu me acalmaste.
E por todas as vezes em que pensei no meu fim quando a depressão me sangrava.

Te escrevi um poema a base de um surto.
Este é o poema.
E não sei onde ele irá parar.
Nem quando irá parar.
E eu não quero que este poema acabe.
Não com as palavras que tenho em mente.
Nem com os sentimentos que tenho no coração.
Porque eu sinto muito medo, meu bem.
Medo constante. O mesmo medo que eu sentia toda vez que eu pensava em te perder.
E, veja bem, meu bem, onde é que viemos parar.
E eu não quero que este poema pare. Não agora.
Não.
Não neste momento.
Porque eu tenho tantas e tantas palavras para te entregar.
E não sei como acentua-las da forma que tu sempre preferiu.
E eu sinto falta do teu sorriso.
Do teu jeito.
Do teu aperto.
Dos teus desjeitos.
E eu tenho passado por bares e restaurantes diferentes a procura de novos sabores e temperos para esquecer tuas comidas preferidas.
Tenho passado por lugares em que nunca passamos juntos para tentar mudar meus rumos.
Tenho ouvido músicas diferentes para esquecer as tuas preferidas.
E a minha mente fica completamente atordoada quando ela lembra que não te esqueceu.
E eu não me importo.
Só não quero que este poema acabe.
Não agora.
Não assim.
Não dessa forma.
Porque eu tenho muito o que falar, mesmo que eu saiba que você já não me ouve mais.
E eu lembro bem que tu sempre amou todas as histórias que eu te contava.
Mas você nos fez o favor de esquecer todas elas.
Porque eu larguei da tua mão. E tu largou do meu coração.
Mas saiba que esse coração apertado e angustiado ainda se encontra sendo o teu mais precioso lugar.
E a minha mente tem sido o inferno pelo qual passamos muito tempo juntos.
E isso me mata tal qual este poema que logo se acabará.
E assim que ele acabar, me depararei com minha sobriedade de bebidas e ansiedade de tua falta.
Logo irei me deparar com o vazio de meu quarto e o vazio mais escurecido do meu peito que tanto insiste e tanto surta e tanto demora para se curar.
E eu não quero que esta carta se acabe.

- Você precisa se cuidar, meu bem.
- Tenho me cuidado muito bem, querida.
- Pare de beber tanto.
- Tenho me cuidado, meu bem.
- Pare de se cobrar tanto.
- Venho tentando meu bem.
- Tens dormido o suficiente?
- Algumas noites.
- E essa cabeça, como está?
- Louca, querida. Louca.
- E esse teu coração, como está?
- Acreditas que esses dias me peguei pensando em nós dois?
- E o que sentiu?
- Um aperto que há muito não sentia e, cada vez que lembro, existe algo aqui dentro que fala que ainda não tem nada certo.
- E em qual conclusão chega?
- Em absolutamente nenhuma. Existe algo aqui dentro que me diz que essa história de amor que tanto falam morreu faz tempo, mas existe algo aqui dentro que insiste em tentar amar de novo.
- Tens que tomar cuidado para não se machucar.
- O problema não é esse, essa ferida não me incomoda, o que me incomoda é quebrar o coração dos outros.
- Se importa mesmo com isso? Tens se tornado tão egocêntrico depois que deixou de acreditar no amor.
- Por vezes me importo bastante. Por vezes sei que não sou o culpado.
- E outras vezes?
- Sinto que não tem ninguém para me salvar desse vazio constante aqui dentro, então deixo de me importar e volto a sorrir como se tudo estivesse bem.
- Do que mais sentes falta?
- De como eu me sentia verdadeiramente feliz há uns anos atrás, mesmo acreditando que felicidade não exista.

E eu sinto tanto medo, querida.
Por isso insisto em te escrever.
Para que eu possa me sentir um pouco mais perto de ti.
E acreditar que te superei como deveria.
E lembrar que te esqueci como eu gostaria.
E eu sinto tanto medo, meu bem.
Que não existem garrafas vazias que preencham esse peito ansioso.
E não existem tragos que te apague para longe.
E não existem pessoas como você que preencham esse vazio constante aqui dentro de mim.
E conversando comigo mesmo, me deparei que esta redenção vem de mim mesmo.
E que pode demorar o tempo que for. E levar os sentimentos e pessoas que forem, que eu não te esquecerei tão brevemente.
Porque teu cheiro ainda está em mim. E teu gosto em minha boca. E teu jeito em minha mente. E tuas palavras em meu coração. E eu gostaria de te dizer que todas as palavras que um dia ousaste em me dizer, boas e ruins, elas não saem da minha vida como feridas que jamais serão cicatrizadas. E essa ferida aqui dentro é enorme. E ela me faz beirar a insanidade e a capacidade de pegar teu número de telefone para te ligar e te dizer tudo que tenho passado depois que saiu por aquela porta.
E as pessoas insistem em me dizer que foi melhor assim, mas eu sinto em tuas vozes embargadas que não era exatamente aquilo que elas gostariam de me falar. E eu sinto no olhar vazio delas a forma como elas gostariam de ver nós dois juntos pelas esquinas de nossos mundos, mas isso jamais acontecerá. Nossos mundos evoluíram para viverem separados. E acho que isso não podemos negar.

- PUTA QUE PARIU, não vais me dizer que ainda sente falta dessa porra?
- Todos os dias.
- Liga para ela então, caralho. Fala como tens se sentido. Estas sempre na mesma fossa e não existe nada que alguém consiga fazer para te tirar dela.
- Aprendi a conviver.
- Liga para ela, caralho. Fala que sentes falta.
- Ela sabe, meu caro. Ela sabe.
- NÃO, PORRA, as pessoas nunca irão saber dos seus sentimentos se tu sempre fugir deles como tu sempre faz.
- É melhor assim, cara. É muito melhor. Ninguém sai machucado.
- A gente nasceu para amar as pessoas. Esse é o dom da vida. O melhor dos sentimentos.
- QUE PORRA DE LIVROS VOCÊ ESTÁ LENDO PARA DIZER ESTA MERDA?
- Tenho lido alguns romances clichês. Uma hora essa merda tem que acontecer.
- Puta que pariu, cara.
- É melhor um romance clichê do que uma fossa penetrante e vazia como a sua.
- As pessoas tem esse dom mesmo de criarem esperanças em situações, sentimentos e pessoas. E nada de bom nunca acontece.
- Da mesma forma que nada de bom no amor acontece com você.
- Exatamente. Porque eu nem tento. Já não tenho mais forças para tentar. E toda vez que eu vejo que não irá dar em nada, é nesse momento que eu não gasto energia nenhuma.
- Fodido por fodido, eu e você sairemos vivos.
- Pare de acreditar no amor que tu saíra vivo.
- Pare de acreditar no vazio. Trato?
- Nada disso, porra. Único trato que eu faço é com o garçom do bar para me servir o máximo de cervejas possíveis que ele conseguir. Essa porra de amor que vá para a casa do caralho.
- Então para de usar as pessoas para esquecer esse teu amor sem cura.
- EPA, CARALHO, mas que porra de merda é essa que tens falado??? Eu nunca usei um caralho de pessoa sequer. Isso não se faz, cara. Mesmo com o ser humano mais filho da puta do mundo. Ninguém merece isso.
- Qual a merda que fazes então?
- Eu não sou mais capaz de entregar os sentimentos que as pessoas querem. E já não faço mais tanta questão assim de esconder esse meu defeito. A minha falha é procurar em outras pessoas tudo aquilo que encontrei em uma e saber que jamais me sentirei daquele jeito. Os espelhos sempre quebram e cada espelho traz sete anos de azar em meus romances. E de azar meus romances estão cheios.
- Tu precisa lidar com essa merda e precisa de um novo amor, cara.
- Tu bebeu chá de burrice hoje, caralho? QUE SE FODA O AMOR, CARA!

Acredito que cheguei ao fim de mais uma carta.
E não por falta de sentimentos.
Mas sim por falta de palavras.
Eu lembrei de um dia lindo e ensolarado em que eu amava outro alguém a beira do mar.
E isso me esganou as entranhas.
Lembrei que todas as pessoas são capazes de amar, inclusive eu.
Só preciso reaprender como é que se faz, mas, por enquanto, não faço tanta questão assim.

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