quarta-feira, 26 de junho de 2019

Linda, tu sabes onde enfiei essa porra de paixão?!

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Cabelo bagunçado. Barba esculachada.
Camisa amarrotada. Coração acelerado.
Olhei para ti. Tu me olhou.
Com lágrimas nos olhos e a voz embargada, me pediu para ficar.
Com lágrimas caindo e voz trêmula, disse que não sabia te amar.
E tu implorou. Me puxou pelos braços. Disse que me amava.
E eu te implorei. Te soltei os dedos. E disse que também te amava.
Tu disse para eu não ir. E deu de costas. Caiu em prantos.

Entrei no carro, com pressa. Com pressa, liguei o carro. Dei partida. Te vi pelo retrovisor.
Te vi acenando. Olhei para tuas mãos me pedindo para voltar.
Acelerei o carro.
Continuei te olhando pelo retrovisor.
Senti o teu perfume. De longe.
Acelerei mais ainda o carro. 80. 90. 100 km/h.
E eu continuava te enxergando pelo retrovisor do carro. Me pedindo para ficar.
Estendendo tuas mãos para mim. E chorando.
110. 120. 130 km/h.
E eu chorei. Lágrimas molhadas que escorriam pelo meu resto. E eu já estava sentindo tua falta.
E já sabia a besteira que fiz.
140. 150. 160 km/h!!!
MEU DEUS. MEU DEUS!!!
Alguém pare o carro.
Alguém tire essa mulher do meu retrovisor.
Alguém diz para ela parar de me acenar.
Diz para ela parar de me pedir para ficar.
Continuei acelerando. Estrada reta. Escura. Faróis acesos. Visão míope me impedia de enxergar melhor.
Acelerando. Acelerando. E chorando.
Uma...
...curva...

Te vi pelo retrovisor do carro. Senti teu perfume. Lembrei de tua voz.

BUUUUUUUUUUUM!!!

...

Acordei de mais um pesadelo. Senti o teu cheiro. Te procurei por toda parte. Olhei por cada canto do meu quarto vazio e só encontrei minhas besteiras. Garrafas vazias. Cigarros apagados. Meu cachorro assustado.
Olhei para o teto e te enxerguei. Não pensei em nada.
Virei para o lado e te enxerguei. Não refleti em nada.
Virei de bruços e te enxerguei. Surtei por nada.
Agarrei o travesseiro. Coloquei meu rosto bem fundo nele e gritei. Gritei até não aguentar mais. Gritos de dor. Gritos de desespero. E eu lembrei que te perdi. E eu lembrei que sempre tive você na ponta de meus dedos para dançar a minha dança e eu a tua. E hoje, lembrei que já não sou mais do que uma lembrança apagada dentro deste teu coração que, um dia, tanto me amou.
Querida, eu já te disse que falei sobre você em todos esses botecos sujos que tenho passado?
E já te disse também que em cada esquina que me encontro insisto em escrever teu nome nas paredes cinzas de São Paulo?
E eu já te disse também que nunca consegui te esquecer?
Te disse, querida, ah querida, que me tornei esse escritor bêbado e solitário que todos insistem em dizer que sou?
Mas, eu te disse também, querida, que andam me comparando com Bukowski e eu nunca quis ser a merda do Bukowski, mesmo apreciando tanto aquele velho safado?
E é triste demais tudo isso, querida. Ah, querida!
E eu te disse que tu levaste toda a minha felicidade junto contigo?
Te disse que sinto tua falta todos os caralhos de dias da minha vida?
E eu já te disse que teus braços foram o conforto que eu tive a petulância de jogar fora?
E eu te disse que teus beijos eram os doces que me deixavam tão acesos para viver quanto qualquer droga existente nessa merda de mundo?
Querida. Querida. Já te disse que tua voz era o conforto da minha alma?
E aquela vez que eu te disse que ao teu lado eu não tinha medo de nada?! Se lembra? Se lembra, meu bem?
Puta que pariu, querida.
Disseram para eu ir atrás de você, tu acreditas?! Disseram para eu te ligar, tu acreditas, querida? E eu, tolo, sorri, chorando por dentro, mas sorri. E respondi "Ela está vivendo a vida dela. Deixe a mulher da minha vida ser feliz do jeitinho dela".
E, querida, sabe o que eu queria te dizer mais?
Quero que saibas...
Quero que isso chegue em você de alguma forma...
Quero que saibas que eu lembro deste seu jeitinho de viver todos os dias que acordo e todas as noites antes de dormir. E teu jeitinho que sempre me encantou e colocou um sorriso em meus lábios a partir do primeiro momento em que cai de encontro a você.

Querida, querida. Eles não sabem o que dizem quando falam para eu ir atrás de você.
Meu bem, meu bem. Eles não sabem o que dizem quando falam para eu não te esquecer.
Baby. Eles não sabem o que dizem quando falam para eu não deixar você ir embora.

E eu sei bem dizer para ti que eu nunca soube te amar da forma que tu sempre mereceu!
Eu sinto tua falta.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Peguei ela pelos dedos para dançar, mas esqueci de perguntar o ritmo de tua música!

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- Mesquinho!
- O que seria de nós sem mesquinharias, meu bem?
- Medíocre!
- O que seria de nós sem mediocridades, querida?
- Escroto!
- O que seria de nós sem a escrotidão, meu bem?
- Idiota. Babaca. Inútil. Amoroso demais!
- O que seria de nós sem as idiotices babacas e inutilidades amorosas, querida?
- Vai para a puta que te pariu. Você e todas as merdas que escreve!
- O que seria de ti sem minhas escritas, meu bem?
- Um pouco mais esperançosa.
- Mas, meu silêncio te machucaria?
- Machucaria, mas esse teu jeito de desacreditar no amor me machuca para um caralho, querido.
- Foda-se, meu bem. Tu mal se importa.
- Foda-se você, porra. Tu vive nessa merda de boteco, as traças, jogado, surrado, perdido, bebendo e escrevendo. Observando tudo a sua volta e falando nada. FO-DA-SE você, porra.
- O que queres de mim, querida?
- Você! Eu sempre quis você.
- O surrado, perdido, bêbado ou o escritor?
- Você. E nada mais!

Entrei no bar. Fui até o balcão. Sentei. Olhei para o garçom e não precisei pedir o de sempre. Ele me viu. Acenou com a cabeça. Me trouxe uma cerveja. Aquela do canto da geladeira. Gelada. Trincando. Abriu. Colocou no balcão e me desejou "Saúde". Eu pensei "Foda-se". Levantei a cerveja em forma de aceno. Bebi. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco goles. Deixei ela quase pela metade. Coloquei de volta no balcão. Olhei tudo e todos ao meu redor. Te procurei. Seu cheiro passou pelas minhas lembranças e eu te procurei de novo. Não te encontrei. Virei para o balcão. Dei mais dois goles. Abaixei a cabeça e pensei em tua voz. Tentei lembrar de tua voz. Não chegou nada até mim. Voltei a te procurar. Você entrou pela porta do bar. Pegou a comanda. Deu cinco passos. Olhou tudo e todos ao redor. Teu olhar foi de encontro ao meu. Sorriu. Não se importou. Foi para a cadeira mais afastada possível da minha. Dei de ombros. Virei de costas. Bebi mais da minha cerveja. Você se sentou. Continuei ouvindo o blues constante tocando pelo ambiente. Senti o blues. Vivi o blues. Bebi mais. Acabei com a cerveja. Acenei pedindo outra. O garçom me viu. Acenou novamente com a cabeça. Me trouxe mais uma.
Ele sabe muito bem o que faz.
Gelada. Trincando. Do fundo da geladeira.
Deu de frente a mim. Abriu. Me entregou. Não disse nada. Peguei a cerveja. Acenei. Bebi.
Virei para te olhar. Você estava deslumbrante. Quieta. Calma. Muda. Perfeita. Linda. E eu não tirei os olhos de você.
Observei o que estava bebendo. Algo parecido com drinque feito com vodca.
Perfeito!
Pensei.
Seu dia deve ter sido dos brabos. Beber vodca na primeira dose sem nem pensar? Isso sim é para mulheres fortes. Mulheres perfeitas. Como todas as outras. Mas existia algo muito além da perfeição em você vinda dos meus olhos. E eu não sabia o que era.
Deu mais um gole em sua bebida.
Abriu sua bolsa.
"Ela vai pegar o celular", pensei.
Tirou um livro de cor laranja. Abriu. Começou a ler.
Que mulher magnifica!
Dei de costas. Virei para o balcão. Um, dois, três, quatro, cinco, seis goles. Quase acabei com a cerveja.
Chamei o garçom para lhe perguntar sobre a mulher que pediu vodca. Ele me disse que era Gin tônica. Logo voltei a pensar que seu dia foi realmente muito dos mais brabos.
Bebi mais uma pouco. Voltei a olhar para ela. Elegante. Linda. Perfeita. Sincera. Calma. Lendo. Com sorriso leve nos lábios vermelhos.
Meu coração apertou.
Acelerou.
Saiu de mim.
Senti vontade de te escrever todos os poemas possíveis. E pensei em vários. Escrevi vários em minha mente. Te dediquei todos.

Levantei.
No momento em que me levantei, a música do blues foi para o jazz. Animado. Elegante. Incrível. Todos se levantaram. Começaram a rir. A cantarem alto. A dançarem como se não existisse um mundo lá fora.
E eu pensei "Desde que essa mulher entrou neste bar, não existe nada lá fora".
Fui até sua mesa. Cheguei perto. Você me avistou. Sorriu como antes.
E eu pensei "Vou chamar ela para dançar".
Te estendi a mão.
Você apenas olhou.
"Vamos dançar?", eu disse.
"Mas essa música nem é romântica", você disse.
E eu pensei na existência de um romance entre nós dois.
Você se levantou. Sorriu mais uma vez. Chegou mais perto.
Fechou a cara.
Olhou para o balcão. Viu a minha cerveja quase no final. Olhou para o meu caderno de anotações e a caneta sem tampa.
E disse:
- Você é escritor, querido?
- Tentativa mais frustrada de um deles - eu respondi.
- Quantos textos já escreveu?
- No mínimo uns 3 por dia.
- Quantos livros escreveu?
- Criando coragem para a porcaria do segundo.
- Ah, querido. Meu bem, meu bem, meu bem!
- Não estou te entendendo, baby.
- Existe muito sentimento nessa merda toda. Eu não sou feita para sentimentos demais. Iremos dançar. Beberemos algo juntos. Te abraçarei. Logo em seguida te beijarei. Iremos para um quarto barato de motel. Beberemos mais. Transaremos. Transaremos a noite toda. Amanheceremos juntos numa cama qualquer. Iremos embora. Cada um para seus trabalhos medíocres e rotineiros. Quando o dia acabar, tu irá escrever qualquer porcaria sobre a minha pessoa. E eu não quero ser motivo de textos tristes de ninguém.
- Tristes?
- Não posso te dar o que quer. Amor de verdade. Posso te dar uma noite incrível, mas de amanhã em diante seria apenas sofrimento.
- E o amor é o que, meu bem? E um poeta é feito do que, querida? Exatamente do que estas me dizendo.
- Não compartilhamos do mesmo amor.

Sorriu. Beijou o canto de minha boca. Voltou para sua mesa. Deu dois goles em seu gin. Voltou a ler o livro. E eu pensei "Que mulher maravilhosa. Que mulher incrível".
Como todas as outras, mas essa tinha algo real. Algo sincero. Algo fantástico.
Escrevi mais alguns poemas. Não lembro de nenhum deles.
Levantei. Acenei para o garçom.
Fui embora. Nem olhei para trás.

O amor faz algum sentido para você?

E essa carta aqui?