quarta-feira, 13 de novembro de 2019

A carta mais triste do ano!

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- Desculpe, querida, estou bêbado novamente!
- Eu cansei de te ver assim.
- E eu cansei de fazer promessas que nunca irei cumprir.
- Limpe essa bagunça depois. Teu quarto vive cheio de garrafas vazias e folhas amassadas.

O medo se mostrou para mim de novo e me deixou inseguro.
O medo me atacou novamente e me deixou sem ver futuro.
E eu me sinto, querida, me sinto louco e insano por não saber o que fazer.
E o meu peito se encontra tão vazio quanto todos os canteiros de jardins mortos pela cidade grande.
E eu me sinto morto por dentro. E essa depressão irá me matar uma hora. E eu sinto que não aguento mais. E eu penso em desistir. Penso em me entregar. E ela toma conta de mim como sombra que me encurrala no canto mais escuro do meu quarto.
E eu converso com essa sombra. E ela sorri. E eu imploro para essa sombra ir embora de onde eu mais deveria descansar. E ela gargalha. E eu me ajoelho perante mim mesmo e peço para que eu aguente firme tudo que o mundo tem para me entregar de ruim. E que a minha mente não continue me cegando a ponto de não enxergar um palmo sequer a minha frente.
E essa bagunça eu tenho visto desde que você desarrumou a minha vida e foi embora, querida.
E eu não te culpa. E também não me culpo. E não te julgo. Assim como sei que nunca me julgaste. Mas eu sei que toda a bagunça dentro do meu coração se fez a partir do momento em que partiu e desuniu o meu mundo do seu para todo sempre.
E eu sinto, querida, sinto muito. E eu quero, meu bem, quero muito músicas lentas para acompanhar o meu choro depressivo para onde quer que ele vá.
E eu te espero e te pinto e te escrevo em todos os muros cinzas da cidade cinza. E mesmo assim tu não me enxerga.
E eu te mostro e te enxergo e te entrego o meu melhor sabendo que tu nunca mais verá o que eu tenho para te entregar.
E nesse momento, meu bem, o medo me cega por completo, mas eu ainda sou capaz de deixar minhas mãos fluírem e te escreverem tudo que eu sempre desejei e angustiei aqui dentro de mim. Esse é um dom que eu não posso desperdiçar.
Mas eu sinto, querida, eu sinto que as palavras já não são capazes de me salvar e me curar como um dia tu foste capaz de fazer. E elas já não me entregam a calma que um dia foste capaz de me dar. E isso me atormenta dia após dia. E isso me assusta como nunca me encontrei assustado antes.
O meu maior tormento é conseguir dormir um pouco e acordar sabendo que tu não estas mais aqui para me acalmar quando o meu peito apertar. E disso eu tenho medo, meu bem, porque só tu sabia como parar essa alma angustiada até que ela respirasse novamente.
E eu sinto esse sufoco dentro de mim que não passa.
E eu sinto essa raiva constante dentro de mim que não para de gritar.
E eu sinto essa tristeza nada breve que insiste em bater em minha porta e me mostrar que nada aqui dentro se encontra bem o suficiente para eu seguir para um futuro e horizonte só meu.
E eu sinto vontade de gritar o tempo todo e te xingar e me xingar e tirar do peito essa angustia que eu gostaria de entregar para ti, pelo menos por um dia, para que saibas o que é estar no meu lugar quando eu não vejo saída para mais nada.
E isso é triste, minha querida, tão triste quanto todas as coisas que sou capaz de escrever e sentir e pensar e enfrentar aqui dentro de mim.
O que mais me incomoda é saber que o teu sorriso está sendo entregue para outras pessoas enquanto eu sinto essa vontade constante de vomitar todas as minhas tristezas para que o mundo inteiro saiba o que eu carrego aqui comigo.
E o que mais me emburrece é saber que não sou mais capaz de amar outro alguém e ter esperanças pelo que vem lá na frente tanto quanto todas as faltas de ar que sinto e todas as tonturas que tenho quando lembro que a ansiedade de dias melhores me invade o coração a ponto de que eu não sinta nem minhas mãos.
E eu corro para qualquer canto solitário para tentar me acalmar e lembrar que o meu mundo, aqui dentro da minha mente, pode ser muito melhor do que esse que tenho no presente.
Te esquecer têm sido um fardo constante que eu não posso mais carregar.

- Porque você se humilha tanto em tuas cartas?
- O que queres dizer com isso, meu bem?
- Tu se entrega. Tu se abre. Tu mostra todas as tuas fraquezas para o mundo.
- E o que isso tem a ver com humilhação, querida?
- Isso vem sendo uma fraqueza sua. Quando teus inimigos quiserem saber de tuas fraquezas, é só lerem teus textos. Tens que tomar cuidado.
- Eu não me importo com meus inimigos. Eu nem sei se tenho essa merda. E nem me preocupo em ter. Deixa todos eles saberem o que sinto. Tantos tentaram me destruir. Tantos tentaram me ver chorar. Tantos tentaram me ver sangrar. E muitos outros tentaram me moldar e me mudar, mas nunca conseguiram. Muitos tantos outros tentaram ver a minha morte, mas só um certo alguém conseguiu ver e ouvir e sentir e ter tudo isso de mim. O que eu tenho para escrever não passa de desabafos que eu já não me importo tanto assim. Foda-se o que eles pensam!
- Tu és muito do corajoso, caralho.
- Coragem é para quem ainda saber amar. Coragem é para quem ainda sabe mentir. Coragem é para quem ainda sabe sentir. Coragem é para quem ainda se sente feliz, mesmo com o mundo estando por um triz.

Essa não será a última vez que eu entrego todas as minhas fraquezas e desistências, tão pouco será a última vez em que eu entrego uma carta com um rio de lágrimas nos olhos. Também não será a última carta que estarei a beira da desistência. Tão pouco será a última carta em que eu escreverei rangendo os dentes de tanta raiva. Raiva que insiste. Persiste. Esmaga e me mata. Raiva que aflige. Que estraçalha. Que me esmigalha. Essa também não será a última carta em que escrevo ouvindo os blues mais tristes e lentos que o mundo e outras pessoas tristes foram capazes de me entregar. Tão pouco será a última carta em que eu escrevo completamente bêbado e deprimido e angustiado e ansioso. Ansiedade prematura que me mata pouco a pouco e não me deixa renascer. E eu queria mãos vivas e quentes para me tirar desse fundo de poço em que me encontro. E eu queria sorrisos sinceros e lindos para me tirar desse pântano frio e triste em que me encontro. Eu gostaria de uma voz cansada me dizendo que tudo irá ficar bem e que todas as coisas ruins que penso e passo e vejo e sinto não passam de angustias presentes que logo acabará. E que minhas paranoias não passam de loucuras que minha mente insiste em criar para fazer com que eu fique sempre na defensiva contra mim mesmo. Eu tenho tanto para dizer, mas todos insistem em não me ouvir. Eu tenho tanto a falar, mas todos insistem em achar todas as minhas cartas lindas demais. E eles nunca me ouvem. E a minha maior humilhação é gritar aos quatro ventos tudo que eu gostaria que escutassem daqui de dentro e que me dessem muito mais do que um sorriso de que escrevi apenas mais uma boa carta. E eu gostaria de andar sozinho pelas ruas sabendo que existe alguém lá fora que pode me salvar de toda essa teimosia paranoica que insiste em bater diariamente na minha mente. Mas eu ando por todas aquelas calçadas e não encontro ninguém capaz de me tirar de onde eu mesmo me enfiei. E todos os demônios encrostados em minhas costas caçoam de mim e me deixam cada vez mais para baixo, me afundando num mar profundo de tristeza, solidão, ansiedade e depressão.
Não existe nada nem ninguém para me salvar. Não existe nada nem ninguém que veja todas as minhas cartas apenas como algo lindo. Eles não entendem meus sentimentos. Eles não entendem meus medos. Eles não entendem meus erros.
E eles não sabem que eu gostaria de muito mais do que palavras bonitas quando eu me sinto completamente sozinho.
Como agora.
E eu me encontro mais sozinho do que qualquer fodido pelo mundo.
Hoje eu entendo o que quiseram me ensinar sobre solidão.

- Cara, tu já chorou hoje?
- Várias vezes. Sem derramar uma lágrima sequer.
- E tu já gritou hoje?
- Muitas vezes. Sem demonstrar um som sequer.
- E tu já sangrou hoje?
- Bastante vezes. Sem sujar um chão ou roupa sequer.
- Tu já sentiu medo hoje?
- O suficiente para meu estômago doer e eu correr para o banheiro achando que é merda, mas a única merda que existe é na minha mente. E ela, disto, está cheia.
- Tu já se sentiu sozinho hoje?
- O suficiente para todos eles não verem eu fazendo todas as outras coisas que tu citaste antes.
- E o que farás agora?
- Eu desistirei.

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