terça-feira, 29 de outubro de 2019

Te confesso um assassinato?!

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- Ela disse que não lê tuas coisas porque tu só falas de amor!
- Eu não sei falar de amor, querida.
- Mas é o que ela pensa.
- Ela não sabe o que eu penso.
- E o que tu pensas?
- Se ela lesse as porras de minhas cartas como tu lê, ela saberias o que penso.
- Mas você deixa tão a desejar em tuas cartas.
- O que queres dizer com essa porra?
- As pessoas sempre leem tuas cartas e esperam sempre mais e mais e cada vez mais. E elas terminam e ficam com cara de merda esperando um final revoltante feliz, mas é só uma revoltante desgraça sem um fim específico.
- Viu?! Tu lê estas merdas e consegues me entender.
- Não, querido. Eu não consigo te entender.
- Será que eu já fiz algo lindo para o mundo? Será que eu deixei alguma carta que lembrarão de mim para sempre e me consagrarão como um digno escritor? Será que...?
- Não, querido. Pare com essas besteiras. Tu jamais deixarás de ser esse escritor de quinta categoria, bêbado e largado as traças.
- Você sempre me entregando tuas forças, não é?
- Tenho mentido para ti?
- Nunca. Ainda bem que sabes que nunca tentei provar nada para ninguém com minhas cartas.
- E porque escreves essas merdas?
- Porque eu tiro ela um pouquinho mais de meu coração sempre que escrevo.
- Ela é tua maior ferida?
- Não. Ela é só mais uma de minhas feridas. Me deixe escrever, querida. Só um pouco mais.
- Eu sempre deixo, meu bem. Eu sempre deixo.

E quantas vezes eu esperei o telefone tocar e tu nunca ligaste?
E quantas vezes escutei tua música preferida e percebi que também era a minha?
E quantas vezes me peguei lendo algo que tu adorava e quis te dizer o que achava?
E quantas vezes assisti teu filme preferido e, mesmo achando uma merda, sorria por lembrar que você adorava?
E quantas vezes eu desejei te ligar para ouvir tua voz e tu fez questão de apagar ela de minha memória?
E quantas vezes eu senti o teu perfume no ar e percebi que tu não usas mais desse aroma?
E quantas vezes almocei no teu restaurante preferido e percebi que você já não come mais as mesmas coisas?
E quantas vezes passei por tua calçada e percebi que tu já não mora mais no mesmo bairro?
E quantas vezes eu desejei te escrever e reparei que você não dá a mínima para o que escrevo?
E quantas vezes pensei em você, e sorri, e percebi que para ti sou apenas um laço cortado?
E quantas vezes eu te esperei e percebi que jamais irá voltar para os meus braços?
E quantas vezes cheguei em casa e acreditei que te encontraria deitada em minha cama, assistindo tuas besteiras ou fazendo teus trabalhos e nada encontrei?
E quantas vezes eu falei sobre ti e sorri, mas percebi que os teus sorrisos já não são mais por mim?
E quantas vezes eu te matei dentro de mim e percebi que são assassinatos momentâneos?
E quantas, e quantas vezes te escrevi nesse caralho e percebi que tu já não sabes ler meus poemas?

Eu te pensei. De ti lembrei. E eu bebi. Por ti traguei. E sobre ti chorei. E por ti esqueci. E eu pensei em te apagar da minha memória, porque pensar em você me machuca demais. E eu te bebi. E eu te traguei. E eu te chorei. E eu te lembrei. E eu te esqueci. Como sempre esqueço. Mas vejo teu nome em cada esquina que passo e lembro que tu sempre gostou de andar pelas ruas de São Paulo e me dizer o quanto tudo aquilo era incrível. E esses dias eu senti falta de te mostrar o mundo e ouvir você dizendo que eu sou o melhor guia da tua vida. E eu senti falta de olhar para você e ver teus olhos grandes brilharem por olharem todos aqueles prédios da cidade grande.
E, meu bem, eu não arrumei nada desde que foste embora. Eu deixei toda essa bagunça no mesmo lugar de sempre. Tudo tão bagunçado, mas tudo tão nosso. Teu cheiro. Teu jeito. Teu gosto. Teu beijo. Teu queixo. Teu despejo. Teu desejo. Tudo teu aqui dentro de mim. E eu percebo, cada dia mais, que meu coração ainda é o teu lugar. E que dentro desse peito ainda bate algo forte sempre que lembra do teu nome. E quando teu nome invade minhas entranhas, tudo dispara tão ferozmente que eu tenho que enjaular todas as feras obtidas dentro de mim para que não me machuquem mais.
E eu percebi, meu bem, que tua falta dificilmente será apagada de dentro de mim. Não importa o que eu faça. Não importa como eu viva. Não importa o que eu sinta por outras pessoas. Tua falta corrói minhas entranhas a ponto de te dedicar todas e quaisquer poesias. As melhores e piores. As mais linda e as mais assustadoras. E eu volto a tragar todas as minhas fumaças na esperança de que eu envelheça rápido para te esquecer com o tempo. E eu volto a beber todas as minhas cervejas para que cada gole me leve cada vez mais distante de ti. E eu não me importo de me maltratar um pouco mais para te esquecer um pouco mais. Esse é meu próprio castigo por ter te deixado ir e ter mantido essa saudade dentro de mim.
E eu me machuco. Me sequestro. Me enlouqueço. Me esqueço. E escrevo. Escrevo muito. Mas muito mesmo. Duas. Três. Quatro. Cinco cartas em apenas uma madrugada. E bêbado eu sou muito mais capaz de lembrar de você do que sóbrio. E tu nunca se importou com o meu jeito bêbado de ser, tu dizia que já tinha se acostumado com meus lábios com gosto de cerveja e eu sempre sorria quando me dizia isso. E eu sempre senti vontade de te trazer para perto de mim e te dizer que sempre serás a mulher de minha vida. Quando foi que eu me esqueci dessa merda?

- Você ainda escreve essas merdas?
- Todos os dias!
- E o que isso te traz de bom, querido?
- Um pouco de paz.
- Isso não significa nada. O que esperas?
- Que eu a assassine cada vez mais de dentro de mim.
- O que sentes quando lembra do nome dela?
- Tremores. E falta. E vontade de beber.
- E o que sentes agora que lembraste o nome dela?
- Vontade de beber.
- E os tremores?
- Já sei lidar com eles.
- E a falta?
- Persistente, mas já sei lidar com ela. Ela me bate e eu a espanco e chuto-a pelo cu.
- Mas essa vontade de beber é mais perigosa que todos os outros sintomas.
- Não, meu bem, o amor é o sintoma mais perigoso do que qualquer outro.
- E o que fez com ele?
- ESTÁS DE BRINCADEIRA, PORRA??? Eu matei essa merda faz um belo tempo.
- FODA-SE O AMOR, QUERIDO!
- FODA-SE O AMOR, PORRA!

Eu gostaria de escrever algumas palavras bonitas e dizer que tudo isso é para alguém, mas...estou bêbado o suficiente para admitir nesta droga de carta.
Obrigado. E foda-se!
Ficou com cara de merda esperando um final revoltante feliz? Se fodeu!

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Querida, tu sabes como arranco teu nome de mim sem sangrar?!

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- O que me atormenta não são as lembranças, meu bem?!
- E o que te atormenta, querido?
- Lembrar da ausência de quem um dia tanto esteve aqui.

E eu te trouxe palavras.
Mesmo com o sentimento de que nada deveria te escrever.
E eu te trouxe minhas melhores palavras com meus piores sentimentos.
E de ti já nem peço nada.
Eu pensei em todas as palavras que eu gostaria de te entregar assim que eu te encontrasse, mas eu assassinei todas as borboletas dentro do meu estômago sempre que eu escutava teu nome.
E eu pensei, meu bem, pensei muito sobre como te olharia sem te demonstrar desejos.
Como eu manteria o tom da minha voz sem demonstrar desespero.
E em como eu seguraria meu coração tranquilamente para não te mostrar as consequências de tua partida.
E eu penso muito, meu bem, penso muito no fato de um dia te encontrar para te dizer tudo que senti e tudo que passou depois que foste embora.
E lembra, querida, lembra do dia em que te vi saindo por aquela porta e não fiz absolutamente nada para te deixar ficar? Porque eu lembro, baby, eu lembro todos os dias.
Eu te olhei no auge do meu amor. Tu fechaste os olhos no auge de meu sofrimento.
E eu escrevi teu nome em todas as entrelinhas de todas as minha cartas com o intuito de te entregar, mas eu simplesmente escrevo e amasso e jogo no fundo da lixeira mais próxima.
Cartas esquecidas com o tempo de um tempo em que não sabemos mais lidar porque tudo isso já caiu no nosso esquecimento.
E essa é a minha forma de te escrever, te de apagar, de te esquecer.
Por breves momentos te esqueço como uma carta apagada com o calor de um isqueiro.
E tudo se transforma em cinzas.

Eu me castiguei por não te esquecer.
Bebi todos os dias em que fui capaz.
E os que não fui capaz, engoli tragos para lembrar de um calor aqui dentro.
Apenas me castiguei e me matei um pouco mais.
E eu me maltrato sempre que lembro teu nome.
E eu me culpo sempre que sinto teu perfume.
E eu me abstenho do mundo sempre que ouço tua voz na minha mente.
Eu não arrumei minha cama, meu bem.
Eu não arrumei tuas coisas.
Eu não ajeitei nosso canto.
Eu não ajustei nossos relógios para cronometrarmos nosso retorno.
Eu não limpei meus sapatos.
Eu não joguei nossas fotografias fora.
E meu cachorro ainda sente tua falta.
Eu não exclui nossas canções.
Eu não deixei de toca-las.
Eu não deixei de passar pela tua rua e lembrar das vezes em que sorrimos por ela.
Eu não esqueci o gosto do teu beijo.
Eu não me desfiz do calor do teu abraço.
Eu apaguei teu número de telefone, mas eu sei dele decorado.
Eu escrevi milhões de cartas e coloquei teu nome nelas.
Eu me desfiz de todas elas, mas ainda têm o seu nome ali nas entrelinhas.
Eu não joguei a cópia das chaves de minha casa que eu tinha feito para ti.
Eu não tomei aquelas duas cervejas que comprei para ti.
Eu não fumei teus tragos preferidos. Eles estão lacrados.
Eu não ajeitei minha barba para te ver. Nem penteei meu cabelo para você me ver.
E nem joguei fora o nosso passado.
Uma coisa temos em comum, meu bem, jogamos apenas o nosso futuro numa lixeira qualquer. Da mesma forma que eu faço com minhas cartas sempre que elas são para ti e por ti.
Obrigado por esse amor!

- Que caralho, você está bêbado de novo!!!
- Não leve a mal quando eu digo que sinto falta de algo, meu bem.
- Velho inútil que fica enchendo o cu de cerveja sempre que estas para baixo.
- Não me entenda mal, querida, quando eu digo que queria alguém de volta.
- E lá vai você nesse caralho de teclas escrever mais trocentas cartas tristes e não dedicará a ninguém. Depois vai ficar se remoendo e se matando na cerveja e na saudade.
- Sinto falta de tuas doces palavras, meu bem. Onde elas estão?
- BEM NO OLHO DO SEU CU, PORRA!!! Porque não começa a se cuidar mais?
- Mas eu me cuido, meu bem. Veja bem, uma cerveja, mais duas cartas. Outra cerveja, mais quatro cartas. E assim por diante, quem sabe não escrevo mais alguns livros antes mesmo de morrer e seja capaz de deixar um legado de tristezas e melancolias e cervejas e romances?! A gente nunca sabe, meu bem. Essa é uma nova forma de se cuidar. Bem vinda ao novo mundo!
- Você mesmo acaba com o teu mundo, cretino!
- Exatamente!!! Eu dei tanto valor para meus sentimentos e romances que eu destruí todos eles por não saber agir e lidar com toda essa merda.
- Você é escroto!!!
- Veja como a coisa toda funciona, sempre que eu acredito estar amando piamente alguém, eu vejo que não sinto nada, quando na verdade eu deveria estar sentindo demais. E eu acredito tão sabiamente que estou sentindo algo, quando de fato não estou sabendo lidar com nada. E meu vazio é preenchido por um curto momento, até que eu me pego na beirada de um abismo que eu mesmo me jogo. Estás me entendendo?
- Você não sabe amar ninguém!
- Não, muito pelo contrário, todas as pessoas que eu amei, me entreguei de verdade e foi tudo sincero. Todas as pessoas que passaram pelos meus braços e sentiram o calor de meus lábios, eu entreguei o meu sentimento mais sincero. O problema da sinceridade é justamente esse, meu bem, as pessoas não são fortes para lidarem com sinceridades extremas, isso vale para o meu amor aqui dentro. Acredito que amo pouco quando na verdade estou amando de verdade e me entregando por completo, eu encho o copo da pessoa até transbordar e logo em seguida eu travo por não saber lidar.
- É nesse ponto em que você desanda.
- É nesse ponto em que o romance se torna algo perigoso, a gente nunca sabe se estamos transbordando ou deixando vazio. Eu nunca sei!
- E tu acreditas no que?
- De que eu deixo sempre o vazio quando de fato estou acreditando sabiamente que estou preenchendo.
- E depois?
- E depois meus romances escorrem pelos meus dedos.
- E então?
- E então eu bebo. E escrevo.
- Tu parece que gostas de se sentir e estar assim.
- Não. Na verdade, eu odeio. Odeio essa sensação de estar apaixonado e amando alguém quando não posso, de fato, fazer absolutamente nada. Eu amo não estar sentindo nada. Não pensar em ninguém. Não querer ninguém. Sinto que estou no caminho certo quando não tem romances em meus dias, porque eu não me encaixo com a sociedade e isso me entrega muito conforto aqui dentro. Romances e amores são perigosos, e esse é um jogo em que não quero mais fazer parte.
- Queres um blues?
- Sim, e uma cerveja, meu bem. Preciso escrever mais um pouco.
- Claro, eu busco para ti e aumento o som. Mas deixa eu te fazer uma pergunta antes.
- Manda, querida!
- Tu tens amado alguém esses dias?
- Que não seja a mim mesmo?
- Sim! - se levantou e ficou me olhando.
Dei mais um trago. Mais um gole em minha cerveja e respondi.
- Mas é claro que tenho amado. A gente sempre está amando. Essa é a grande jogada que tanto me perturba. Um royal flush de sentimentos!

Coração é muito mais do que eu posso suportar.
Porque eu deveria te ligar quando desligaremos a chamada?
Porque eu deveria te escrever quando irás jogar fora as palavras?
Porque eu deveria te querer quando debochas do que sinto?
Porque eu deveria te desejar quando não me queres por perto?
Porque eu deveria te olhar quando desvias todos os olhares de mim?
Porque eu deveria te procurar quando em mim já não pensas mais?
Porque eu deveria te salvar quando sorri ao me ver no abismo derradeiro de sentimentos?
Porque eu deveria te amar quando tu nem sabes mais quem ama?
E você já se perdeu faz tempo por ter tantos sentimentos confusos dentro de ti e não saber mais o que é vazio e o que é preenchimento.
E eu já nem me importo com isso. Nem te julgo. Nem tenho poder para fazer algo assim porque sou tão perdido quanto você.
Só não dedico mais minhas palavras para ti pois sei que elas já não têm mais serventia nenhuma dentro desse teu coração. E eu nem vejo mais motivos em te escrever tais palavras que te façam querer ficar.
Nem quero!
Porque eu deveria te escrever quando tu enxergas somente as tuas verdades?

Eu me perdi tentando te encontrar. E olha só o que conseguimos.
Eu te trouxe palavras, meu bem. Tu me trouxeste garranchos.
Mas eu sei ler bem, e todos esses garranchos me mostravam o quanto me queres longe.
Apaguei do meu coração a droga repentina que eu batizei com teu nome. Amor!
E eu sangrei. Sangrei muito. Sangrei demais.
E você não deu a mínima.
Talvez seja tarde demais.
E eu não dou a mínima.

Pensei em te levar flores, mas todas elas morreriam até eu te encontrar.
Pensei em todas as palavras que eu te falaria, mas todas elas sumiriam até eu te encontrar.
Pensei tanta coisa quando na verdade eu tinha te esquecido. Lembrei que sou capaz disso.
Fiquei aflito!
Você choveu em mim o suficiente para eu não sentir que essa tempestade foi embora.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Te engravidei de amor. Tu me abortou solidão

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- Tu não tens noção da dificuldade que és começar uma de minhas cartas?!
- Continue escrevendo!

E eu te imagino.
Te domino. Da mesma forma que dominas meu coração.
Te apago. Me apago. Te abalo. Me embalo.
Te escrevo. Te esqueço. Te odeio. Te beijo.
Mas aqui. Te beijo aqui. Em minha consciência.
Beijo de despedida. Que entrega. Que altera. Que exala. Que diz adeus.
Que não se importa!
E eu te imagino.
E te peço. Me nego. Me entrego. E te odeio. Te odeio muito. Com todas as minhas forças.
E meu estômago dói ao pensar em você.
E minha cabeça lateja ao lembrar de você.
E eu já não me importo mais com tua existência que nada tens para me entregar.
E talvez eu seja egoísta demais em pensar que tua existência já não signifique nada para mim.
E talvez eu não me importe.
E tudo mudou de uma hora para a outra.
Sentimento bipolar. Perdido. Depressivo. Egoísta. Surrado. Maltrapilho.
E a gente não se importa com essa merda de amor que nos fode pouco a pouco pelas beiradas de nossos próprios cus.
Foda-se o amor, meu amor. A gente não dá a mínima para toda essa ladainha.
E eu minto. Te minto. Te imagino. Te insisto. Te escrevo. E minto. Minto muito. E finjo.
E a gente esquece.
Uma hora a gente esquece. E meu peito esquece. E minha mente esquece. E minha alma aprende.
Aprende a te esquecer. Aprende a não pensar em você. Aprende a te esquecer, novamente!
Mas existe um pingo de sentimento ali dentro que se chama angústia de te ter tão longe.
E a gente não se importa com nenhum caralho desses.
Porque o amor é mais uma besteira que a gente insiste em escrever e ver e ter. Essa merda é covarde demais para se manter por muito tempo dentro de nossos corações.
Nossos corações tem mais o que viver do que apenas sentir amor e amor e amor.
Mas essa merda nos salva de alguma forma, eu sei que salva, porque todas as vezes em que pensei em você, eu sorri. E de alguma forma, meu coração acelerou sempre que pensei em te ver entrando por aquela porta e ouvir tua voz cansada me dizendo que sentiu tanto a minha falta quanto a falta de amor que existe no mundo.
E a gente não quer saber do mundo quando temos a quem amar. Porque o mundo está lá fora tocando todos aqueles blues tristes e despejando cervejas pelas estradas e tragos pelas nuvens, mas a gente não dá a mínima para isso tudo quando se tem alguém para abraçar.
Mas você, meu amor, você me ensinou bastante a te amar, mas não me ensinou a te esquecer. Me ensinou bastante a te querer, mas não me ensinou a te perder. Mas você, meu bem, me ensinou o pior dos sentimentos, o descaso, e esse é difícil superar.
Descaso no acaso de um caso que eu tive por acaso em teus braços e hoje eu apenas jogo na próxima lixeira de qualquer esquina em que eu te encontrar.
Foda-se o amor, meu bem. Foda-se o teu amor!

Se é que ele um dia existiu, porque tu mentes tão bem, meu bem.

- Não, espera, espera, CARALHO. Não acredito nesta merda que estou vendo.
- O que é, porra?
- Você está escrevendo demais, cara!
- E o que tem, porra?
- E voltou a beber demais, cara!
- E o que tem isso, caralho?
- E teu humor tens exalado uma certa tristeza e melancolia. Teu sorriso está distante. Teu olhar mais distante ainda.
- Qual o problema nisso, seu merda?
- E toda vez que as pessoas falam sobre o amor, você trata esse assunto com desdém.
- Foda-se o amor, meu parceiro.
- Tu tens amado alguém. PUTA QUE PARIU!!!!
- Deixa essa merda para lá. O amor é apenas um passatempo chato e entediante que a gente insiste em jogar.
- O amor não é um jogo.
- Mas as pessoas usam dele como um jogo. E essa é uma perca de tempo em que não quero mais participar. Isso é chato pra caralho, porra!
- Para de escrever essas merdas deprimentes. É tudo triste pra cacete.
- E quem se importa, caralho? Todas aquelas pessoas, elas leem meus textos, mas elas não se importam de verdade com tudo aquilo. Eu posso falar que irei me matar amanhã por causa de uma droga de amor ou romance, e elas apenas dirão que é tudo lindo pra cacete. Elas romantizam demais minhas cartas e perdem a essência da porra toda.
- Você é muito corajoso em escrever essas merdas, cara. Devo confessar isso!
- Foda-se, cara. Foda-se!
- E se tuas cartas afetarem alguém de alguma forma?
- Foda-se, cara. Foda-se!
- Você é corajoso, meu parceiro. Muito corajoso.

Eu respirei o teu ar e você me sufocou.
Eu dancei tua dança e você mudou de música.
Eu escrevi sobre ti e você trocou de página.
Eu segui o teu caminho e você mudou de rumo.
Eu tentei te encontrar e você quebrou a bussola.
Eu abri todas as janelas para respirarmos e você mudou de ambiente.
Eu bebi tuas cervejas e você odiava beber.
Eu fumei teus cigarros e você detestava me ver fumando.
E eu te escrevi novamente, te escrevi tudo que sei. Te escrevi tudo que quero e tudo que sinto. E você debochou. Me deixou de lado. E me esqueceu. De certa forma, me esqueceu. E teu desprezo me diz muito mais sobre tua falta de amor por mim do que todos os sentimentos contidos em nossos lares. E a gente não entende, mas também não dá a mínima.
Deixa eu socar todas as paredes da minha casa para desfigurar a falta que eu sinto de ti.
Deixa eu deitar a cabeça em meu travesseiro e gritar que te odeio como tudo tens sido.
Deixa eu beber e beber e tragar e tragar para me castigar por ter te amado.
Deixa eu escrever todas essas cartas chatas e monótonas para demonstrar o que sinto por ti.
Mas deixa, deixa, meu bem, me deixa te esquecer como tenho feito. Deixa. Deixa, meu bem, me deixa te apagar da minha memória como uma falta capaz de ser suprida.
Teu amor por mim foi tão barato quanto uma cerveja gelada comprada no boteco da esquina. Daquelas que custam 4,99 ,e mesmo assim, eu acho barata demais.

- O que tens pensado, meu bem?
- Em todas as vezes que a tive.
- E isso é ruim, querido?
- Não. Não é ruim. Mas tenho pensado bastante em todas as vezes que a tive.
- Queres entregar detalhes? Podes me dizer, estou bêbada o suficiente para esquecer amanhã.
- A forma como nos deitávamos era incrível.
- hm...
- A forma como eu a chupava era maravilhoso.
- Continue...
- A forma como eu segurava o corpo dela em minhas mãos era perfeito. A forma de nosso encaixe. Nossas bocas. Nosso suor. Nossas mãos. Nossos corpos. Pele com pele. E eu a chupava de um jeito jamais imaginável. Era incrível.
- Tens pensado bastante nisso? Soa como se apenas quisesse e sentisse sexo.
- Não. Não é isso. Eu jamais quis sexo vazio, mas apenas lembro de nossos bons momentos. A forma com que ela sentava em mim e dizia que tinha sentido minha falta era perturbadoramente magnífica. E o meu desejo aumentava sempre que ela dizia que sentia saudades. Isso é estranho.
- Tu acreditas em amor?
- Mas é claro que não!
- E que caralho de sentimento é esse que sentes a essas horas?
- E eu lá vou saber, caralho? Só sei que não me importo.
- Se não te importas, porque pensas tanto?
- Porque era assustadoramente incrível!
- Peça para ela te visitar então.
- Não. Esse amor é muito barato. E eu não tenho tempo para amores baratos. Amores simples são diferente de amores baratos.
- Porque pensas tanto nesta merda então, querido?
- Assustadoramente incrível, meu bem. Incrível. Mas já não dou a mínima para amor barato.
- Queres uma cerveja?
- Claro, por favor. Aquela que paguei 4,99.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Meu bem, meu bem, você faz uma puta coleção do que eu quero evitar!

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E não sabes a falta que me faz.
E não sabes que nunca te quis longe.
E não sabes quantas vezes te escrevi e pensei em te pedir para ficar.
Mas eu deixei você ir e não vejo problemas nisso.
Deixo que vá.
Deixo que viva.
Deixo que sinta.
Deixo que persista.
Deixo que de mim não se lembre.
Deixo. Te deixo. Me deixo. E enlouqueço.
Mas em ti deixo o sentimento de que te esqueço.
E eu, vez ou outra, penso em te ligar para te dizer certas coisas.
Dizer que eu chorei e você não viu.
Que surtei e você sorriu.
Que eu enlouqueci e você encontrou tua sanidade.
Que eu senti saudades e você não sentiu falta.
Que eu te escrevi e nada você leu.
Que eu te busquei pelos quatro cantos do planeta e em nenhum deles tu estavas.
Que eu sonhei com você e em teus sonhos nunca estive.
Vez ou outra, penso em te escrever para te dizer certas coisas.
Coisas que penso, que insisto, que sonho, que invento.
E eu gostaria de te entregar todas as cartas minhas na esperança de que não se vá.
Mas de ti não quero o pouco. Muito menos o mais ou menos. De ti quero o todo. O puro.
O simples. O existente. E o que não cabe dentro de ti, muito menos se apague.
E eu gostaria de te dizer, meu bem, que hoje me sinto muito bem por você estar bem. E que nada apague a chame que um dia tivemos deitados em cama minha.

Deixo que não vá.
Deixo que não viva.
Deixo que não sinta.
Deixo que não persista.
Deixo que de mim se lembre sempre que puder.
E de tua vida nunca quis sair. E minhas mãos cansadas escrevem o que esta mente mais cansada ainda gostaria de te entregar.
E eu insisto no prazer de te pedir para ficar e jamais fará do meu sentimento por ti ser tão escuro quanto todas as fumaças do mundo.
Meu bem, meu bem, eu te pedi tanto, mas tanto. Te pedi muito mais do que podia me dar, mas nunca te soltei uma palavra sequer do que eu sempre quis de ti. E isso já não nos importa. Eu te deixei ir sem ao menos lutar ou insistir por teu pequeno sentimento por mim. E a gente já não se importa com esses desejos contidos um pelo outro dentro de nós mesmos. Deixe que esse amor miserável se apague de nós dois em algum momento de nossas vidas.
Mas eu te escrevo, querida, para que não esqueça nossos momentos em que nossos corpos foram esquentados um pelo outro. E nossas bocas tocaram nossos céus como se não existisse o amanhã. E te peço para nunca se esquecer que ao apagar da minha luz do quarto, acendemos chamas que nunca serão apagadas aqui dentro de nós.
E da mesma forma que o teu perfume não sai de mim, espero que jamais cuspa o meu gosto contido em tua boca. E lembre-se que quando sentires saudades, meu quarto permanecerá no mesmo lugar esquecido por todos os deuses inventados num universo qualquer.

- Você precisa lembrar de não esquecer que o teu amor foi embora.
- Mas eu tento amar da minha forma e nunca consigo.
- O que tens vivido não tens sido amor, mas sim paixões. Teu amor está muito longe de seres encontrado novamente.
- Meu maior defeito é não dar a mínima.
- Você se importa muito mais do que pensas. Só escreve o bastante para acreditar que não sentes, quando na verdade, sentes muito mais do que gostaria.
- E bebo muito mais do que precisaria.
- Tu bebes na esperança de que esqueça teu amor de uma vez por todas, mas se encontra sempre pior e pior e pior. E você se afunda muito mais na bebida no que em teu amor, e é isso que te mata pouco a pouco.
- Meu amor está lá fora, meu bem. Só cansei de procura-lo. Quando a gente acha e acredita que encontramos o amor, ele escapa por nossas mãos e escorre por nossas entranhas nos degolando devagarzinho. Todas as pessoas que eu insisti em amar me entregaram recordações do que eu não quero viver novamente.
- E o que queres dizer com isso?
- Quero dizer que preciso de um amor calmo e tranquilo. Os amores que insisti em dar uma chance, me entregaram mais dores de cabeça do que minhas próprias ressacas.
- Não estas pronto para amar.
- E quando estive?

Eu te pedi aqui perto, muito perto, perto o suficiente para que nossos corpos suados jamais se afastassem, enquanto o teu beijo quente passa pelos meus lábios na esperança de que alguém entregue aquela frase obscura que contém três cretinas palavras ecoassem pelos cantos do quarto. E isso nunca aconteceu.
E eu te digo, meu bem, te digo que sinto sua falta mais do que eu gostaria.
Te digo que eu bebo por lembrar de ti muito mais do que gostaria.
E eu entristeço quando o sabor do álcool sobe para minha cabeça, porque sei que não estará aqui para cuidar de mim como um dia fizeste.
E eu lembro do teu sorriso e sorrio escondido.
E eu lembro do teu choro e choro perdido.
E eu lembro do teu amor e amo sofrido.
E eu lembro do teu abraço e sofro em conflito.
Meu bem, meu bem, tu não farás noção nenhuma do que minhas palavras querem tanto te dizer, mas eu queria que soubesses que jamais planejei te ver longe de mim.
E existem algumas coisas mais que gostaria de te entregar.
Não leve a mal. Isso é tudo que posso te dar.
Não me leve a mal. Isso é tudo que posso te oferecer.
E não leve a mal se não sei te amar como gostaria e como deveria.
Mas eu bebo por sentir falta do gosto de teus lábios.
E fumo por sentir falta dos teus abraços.
E ouço blues porque sinto falta do cansaço da tua voz me falando sobre o seu dia.
E eu choro escondido por passar momentos sozinhos em que eu gostaria de compartilhar contigo.
E eu escrevo muito por essa saudade sufocante não sair de dentro de mim desde que partiu.
E eu penso em ti sempre que meus dedos agem da forma mais errada escrevendo cartas e mais cartas que nunca chegarão a ti. Não como eu gostaria. Não como eu planejaria. E eu gostaria que todas as cartas minhas invadissem teu coração tal qual tua falta invade o meu.
E eu sofro por lembrar que você jamais voltará para meus braços e deixará escorrer uma lágrima me dizendo o quanto sentiu minha falta nesses dias em que estive longe.
E o que mais me machuca é saber que não consigo te amar da forma que você merece. E o que mais me corrói é saber que não consigo te amar tanto, mas tanto, a ponto de deixar de lado meus defeitos e esquecer dos teus defeitos que tanto me incomodam.
E eu gostaria de te amar da forma que planejamos, mas meu coração apenas sente essa necessidade de te deixar partir porque eu sei que não sou mais capaz de entregar meu amor mais sincero.
E isso a gente não se importa mais. Porque a gente entende que meu peito jamais baterá tão forte quanto um dia ele bateu. E não pelo fato de eu não querer. E não pelo fato de não te amar tanto quanto queres, mas pelo fato do meu peito ser medroso o suficiente para não se entregar para mais ninguém.

E esse tens sido meu maior defeito. Te deixei escorrer por meus dedos não pela falta de amor, mas sim, pelo medo contido em minhas entranhas que é muito, mas muito maior do que todo amor que eu seria possível e passível de te entregar. E todas as cartas que eu escrevi já não significam mais nada. Perdi meu super poder em amar as pessoas como um dia desejei. Não sei se tu me entendes.
Ou se um dia entendeu.
Mas hoje já não me preocupo tanto assim como esses entendimentos. Cabe a mim o valor de amar ou de te deixar ir.

- Sentes que conseguirá amar novamente?
- Faz um bom tempo que sinto que jamais conseguirei ser capaz.
- E porque escreves tanto sobre o amor?
- Porque ainda me encontro na esperança de que uma chama aqui dentro pode se acender de novo.
- Mas quem lê tuas cartas acredita sabiamente que és capaz de amar. E que sabes amar. Não entendes isso?
- Eu nunca dei esperanças nenhuma para as pessoas em relação ao meu jeito de amar. Eu tenho a capacidade de amar, claro que tenho, mas não quero tirar isso de dentro de mim e me machucar novamente daqui uns meses ou anos. Isso é muito mais do que posso suportar.
- E o que fazes?
- Amo de acordo com a minha maneira.
- Mas acreditas que seja por isso que as pessoas sempre vão embora?
- Não, acredito que as pessoas vão embora pelo fato de que não entrego e não falo aquilo que elas querem. Eu gostaria muito de entregar minhas melhores palavras para algum romance meu, mas não sei até quando aquilo irá durar, e isso me faz não gastar muita energia.
- Tens vontade de amar?
- Não. Tenho vontade de deixar de amar.
- Isso quer dizer que tu tens amado alguém?!
- A gente sempre estará amando alguém. Por bem ou por mal. Isso é o que nos deixa mais perto de nós mesmos, se chegares um dia em que algum ser humano não amas outro alguém, esse ser humano faleceu faz um bom tempo.
- E tu acreditas que sejas mais triste deixar de amar ou amar alguém por demais?
- Acredito que sejas mais triste o ponto em que me encontro, amar sem conseguir e poder expressar todas os sentimentos reais que em mim bate.
- E porque não fazes isso?
- Ah querida, deixa o álcool me amar um pouco mais. Talvez seja o que vale a pena.
- Vais acabar se matando!
- Talvez seja por isso que valerá a pena.

Se eu te pedir para sair, tu ficas?
Se eu te pedir para não me amar, tu me amas?
Se eu te pedir para não ter paciência, tu me acalmas?
Se eu te pedir para não sentires falta, tu vens me visitar?
Se eu te pedir para não me ligares, tu decorarás meu número?
Se eu te pedir para não me desejares, tu virás me beijar?
Se eu te pedir para não me lembrares, tu virás me avisar?
Se eu te pedir para não seres minha, tu amanhecerá em minha cama?
Se eu te pedir para não enxugares minhas lágrimas, tu virás me confortar?
Se eu te pedir para não veres meus olhos tristes, tu será meus sorrisos?
Se eu te pedir para não leres minhas cartas, tu irá teimar e lerás todas?
E ainda sim, gostaria de pedir todas estas coisas ao contrário, mas você és inteligente demais para saber que sou o acidente mais grave de tua vida. E ficarás longe. E em mim não pensará. E por mim não amará. E por mim nada sentirá. E eu te entendo, te compreendo, e não me surpreendo por saberes que tens feito a escolha mais certa de tua vida, que és ficares longe de tudo que sinto por ti.
Mas se sentires tanta saudade quanto sinto de ti, volte, meu bem, volte para minha vida e deixa eu te contar tudo que tens acontecido enquanto esteves longe.

Mas me avise, meu bem, me avises se fores voltar, eu preciso arrumar o meu quarto para veres que tenho me virado bem. Enquanto tu não voltas, meu quarto se encontra mais bagunçado do que minha vida amorosa e tudo que eu gostaria de te entregar de bom aqui dentro.
Me avise, meu bem, me avise. E deixa eu te mostrar que ainda sei como amar.
Mas se não voltares, espero que esteja sempre bem. E que acorde sempre com o teu sorriso maravilhoso e tua forma esplêndida de ver o mundo. Do teu jeito.
Do teu jeitinho!

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Oração aos desacreditados!

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E veja que em ti penso. Repenso.
Recrio. E revejo. Te penso. Te esquento. Em mente te represento.
E sinto que o teu peito já está muito distante do meu.
E com isso, me contento.
E te invento aqui dentro para que eu sinta o meu peito um pouco mais isento.
Isento de ti. Isento de mim. Isento de nós.
E o nós não existe mais. Nem nunca existiu.
Somos um! Eles falaram. Essa é a mais bela mentira criada por todos. E por nós. E por você. E por mim.
Te invento. Te escrevo. Te imagino. Te pinto. Te crio. Te recrio. E te apago.
Te esqueço. Por um tempo. Pouco tempo de um longo tempo em que penso em ti.
E te espanto. Te jogo para longe. Te estaciono aqui em minha mente onde meu coração cobra as horas em que esteve aqui.
E vejo e revejo e penso e repenso que tu és a minha melhor invenção onde eu mais sinto medo.

E veja bem, querida.
Quando eu te peço para ir, eu estou me sentindo sozinho o suficiente para ter medo de te pedir para ficar.
Quando eu te peço para me esquecer, eu estou me sentindo amedrontado o suficiente de ser esquecido por ti e por todos.
Quando eu te digo que não me importo, é porque eu quero te mostrar que meu peito chora e grita ao lembrar teu nome.
Quando eu te peço para não sentir saudades, é porque eu estou morrendo de vontade que venhas para minha cama me mostrar que aqui perto existe algo bom.
Quando eu te digo que te esqueci, é porque minha mente não para de te desenhar em sonhos meus e me leva para perto, muito perto de ti.
E eu sinto saudades, meu bem. E eu te peço, querida, te peço que não se vá.
E eu grito baixinho aqui dentro para voltar em braços meus e ouvir você me pedindo para não te esquecer.
Coisa que jamais fiz em todo este tempo.
E, meu bem, quando eu digo que não te escrevo, existem dez, onze, doze cartas escondidas todas com o teu nome na borda.
E quando eu te digo que estou bem o suficiente para viver sozinho, sem ti, sem nós, é porque meu coração pulsa forte o suficiente para me deixar com uma tremenda falta de ar de arregaçar os pulmões em lembrar que sem ti tudo é tão sem graça quanto todas as piadas chatas do mundo.
Quando eu digo que estou congelado por dentro, é porque o teu peito é a fagulha que seria capaz de tacar fogo em meu coração cheio de gasolina, mas você não está aqui.
E você nunca está aqui.
Nem nunca estará.
E eu te peço, meu bem, te peço que não me esqueças jamais.

Eu morro de medo da morte, meu bem, mas eu penso nela todos os dias. E crio formas e jeitos e planos para dar de caras com ela e arrancar essa dor daqui de dentro de uma vez por todas. Mas a vontade de te dizer um "eu te amo" é muito maior do que todas as vezes em que quase morri ou apenas pensei em trejeitos de partir.
E eu te peço, querida, eu te peço para acreditar em mim quando ninguém mais acredita.
E eu te peço, meu bem, eu te peço para lembrar de mim quando ninguém mais se lembra.
E eu te peço, meu anjo, eu te peço para me ver quando ninguém mais me enxerga.
Eu te peço todas as coisas incapazes de serem entregues pelo mundo porque eu sei que só você é capaz de me salvar.
Só você é capaz de me estender a mão e me tirar desse buraco em que eu me encontro desde que o amor fugiu de dentro do meu peito.
E eu te peço, querida, eu te peço demais que me deixe continuar tomando todos os meus porres e fumando todos os meus tragos, porque eles são meus próprios castigos por não saber amar da forma certa.
Eu não sei amar da forma certa, mas eu sinto falta de um amor de verdade.
Eu não sei lidar com toda esta porcaria, mas eu sinto desejo de ser o primeiro pensamento fixo na mente de alguém ao amanhecer.
Eu odeio toda esta porcaria de sentimentalismo, mas eu gostaria de saber que eu sou o motivo do riso no rosto de tal pessoa.

Muita baboseira para uma pequena carta, você não acha?
Eu acho.
E não me importo.
Eu nunca me importo com todas as coisas que eu cuspo aqui.
E eu nunca leio essas palavras vomitadas por mim.
Foda-se o que pensam. Foda-se o que acreditam. Foda-se o que querem.

Meu problema é acreditar que o motivo da minha vida estar de frente com o abismo escuro em que estou prestes a me jogar é o amor.
Minha decadência é lembrar que eu sou ignorante o suficiente em acreditar que o amor queimou minhas asas e hoje já não tenho forças para voar.
Minha derrota é crer que todas as decisões erradas que tomo sejam unica e exclusivamente porque meus amores nunca deram certo.

Tens noção da gravidade desta porcaria, meu bem?

- Querido, você tens entregado cada vez menos sorrisos nessas ultimas semanas.
- Eu sei, querida. Eu sei.
- Tuas olheiras aumentaram, meu bem. Sinto que tens dormido muito pouco.
- Quase nada, meu bem. Quase nada.
- Querido, como estão teus pensamentos?
- Todos rabiscados e pintados estranhamente como uma criança que pega papel sulfite e vários lápis e desenha qualquer porcaria.
- E teu coração?
- Tão dolorido quanto todas as atrocidades do mundo.
- Tens bebido?
- Todos os dias.
- Tens escrito?
- Quase todos os dias.
- Tens chorado?
- Não consigo.
- Sentes medo?
- O tempo todo.
- O que queres fazer agora?
- Esquecer que escrevi mais uma porcaria de carta triste para caralho e que ninguém dará a mínima para nada escrito aqui.
- O que queres dizer com isso?
- As pessoas só se importam com livros e textos felizes, elas nunca se importam com o que as pessoas sentem de verdade. E isso é o que mais me machuca, porque, por mais que eu escreva milhares e milhares de cartas, ninguém enxerga que eu desisti da vida já faz um tempo.
- Você precisa de alguma coisa?
- De ajuda, meu bem. Meus pedidos de socorro não tens funcionado e as pessoas acham que eu sou apenas um poeta triste que escreve muito bem, quando na verdade eu só tenho pedido ajuda da minha forma.
- E então...
- E ninguém se importa!

Existe uma voz aqui dentro que diz que nada disso vale a pena e que eu deveria desistir de uma vez por todas. E eu só te peço para parar de uma vez por todas.
Eu perdi meu amor, sumiu de dentro do meu peito. Foi para algum lugar. Eu tentei encontrar. Me entregaram uma bussola quebrada e eu me perdi mais ainda.
E eu resumo todas as minhas derrotas em prol do amor, mas eles não entendem que é apenas uma fantasia em prol da minha depressão.
Eles nunca entendem meus pedidos de ajuda. Talvez eu faça algo e eles falarão "Nossa, como eu nunca percebi essa tristeza nele?" e eu esteja em algum canto do universo gargalhando e dizendo para todos vocês "Eu tentei avisar", mas eles jamais se importariam.
A vida é valiosa demais para que a gente entregue nossas tristezas para o mundo, talvez seja por isso que eu sinto não ter valor nenhum no meio disso tudo.

- Acabou?
- Acabei, meu bem. Por hora!
- Quando se sentir mal, escreva. Escreva sempre. Tudo bem?
- Tudo bem.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A felicidade me pediu um tempo para pensar e foi dançar com um coração semelhante ao teu

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Me virei.
Me revirei.
Olhei para os lados.
Olhei para o teto.
Observei o ventilador girando e girando e girando.
Senti minha cabeça zonza. Senti meu coração estremecer.
Lembrei que eu precisava me levantar.
Senti as pernas bambearem. Senti o estômago embrulhar.
Coração acelerou.
Senti um frio em minhas mãos. Senti um calafrio na espinha.
Acorda. Acorda. Levanta. Anda. Levanta. Acorda. Agora. No agora.
Estiquei os braços até a mesinha de cabeceira. Peguei meu óculos. Enfiei os dedos nas lentes sem querer. Cocei minha cabeça. Levantei.
Limpei meu óculos. Coloquei-o em minha face. Olhei para a cama. Te vi em minha cama. Te olhei por cima das minhas lentes. E lembrei. Precisava desabafar antes de ir embora para um mundo que eu já não sei se quero enfrentar.
Perdido. Temido. Consentido. Espremido. Aqui dentro. Dentro aqui. Coração aperta e aperta e aperta. Estômago embrulha e embrulha e embrulha. E as pernas tremem que tremem e que tremem. Não quero sair daqui.
Tenho medo!
Te olhei, mais uma vez. Você se mexeu. Te chamei.

- Querida, acorde!
- O que foi, meu bem? Outro daqueles pesadelos?
- Não, querida, mal consegui pregar os olhos. Apenas queria ter certeza de que estas aqui para me ouvir.
- Sempre que quiseres, meu bem. O que te acontece?
- Querida, existe um pensamento fixo em minha mente há alguns poucos dias.
- Qual pensamento?
- Quando eu era mais novo, eu olhava todas aquelas pessoas tristes andando pelo mundo a fora e sempre me perguntava o porque delas serem tão e sempre tristes?!
- Pois bem, meu bem?
- Agora encontro o inverso de tudo.
- O que queres dizer?
- Hoje, eu olho todas aquelas pessoas felizes lá fora e não sei bem onde me encaixo. Me perdi, querida. Me perdi. E há tempos não sinto a verdadeira felicidade e alegria correrem por minhas entranhas e me cobrirem como há muito tempo me cobriram. E eu tenho medo, meu bem, muito medo. O tempo todo. No todo do tempo.
- Tu se perdeste desde que teu amor foi embora. Todas as coisas ficaram bagunçadas e você deixou tudo onde não deveria estar. E agora, o que pensas em fazer?
- Não sei, meu bem. Existe um pássaro preso dentro de mim que quer voar até alcançar a felicidade, mas existe também um gato pronto para come-lo assim que ele entregar a primeira batida para voar.
- Você precisa se encontrar, meu bem. O tempo nunca é suficiente para curar todas as coisas.
- E não existe nada que possamos fazer.

Está tudo apagado aqui dentro. E meu amor foi embora faz tempo.
Está tudo esquisito aqui dentro. E minha felicidade disse adeus faz um tempo.
Está tudo raivoso aqui dentro. E minha calma se partiu faz tempo.
Está tudo confuso aqui dentro. E minha racionalidade me disse adeus faz um tempo.
Está tudo amedrontado aqui dentro. E minha coragem me deu um murro na cara e foi embora faz tempo.
Está tudo triste aqui dentro. E meus demônios caçoam da minha cara.
E se você luta para deixar de amar alguém ou alguma coisa por medo de amar, você percebe que não ama nada. Nem a ti mesmo.
E você sai para a rua. Anda pelas calçadas. Procura qualquer boteco. Entra em qualquer boteco sujo que toque alguma música realmente significante, e enche o cu de cerveja a noite inteira. E se diverte por um período de tempo indeterminado. E você sorri. E enche o peito de alegria. Alegria. Alegria. Alegria. Passageira. Que não supre. Que não nutre. Que descumpre. E você se descobre e te encobre dos maiores vazios que o mundo pode te dar naquele momento. E foda-se o mundo. E foda-se a vida. E foda-se os amores. E os romances. E essa merda toda. A gente não se importa quando o caneco está cheio e os pulmões cheios de tragos e mais tragos. E foda-se as poesias. E foda-se o trabalho. E foda-se o futuro. E foda-se e foda-se e foda-se. E a gente comete erros e não se importa. E a gente se entrega ao vazio e não se importa. E a gente comete pecados e não se importa. E a gente bate em nossos egos amargurados com o passado e não se importa. Nos sentimos grandes. E importantes. E suficientes. Sempre suficientes. FODA-SE NOSSOS AMORES. FODA-SE NOSSOS ROMANCES.  E a gente bebe mais. Enche mais o cu de cerveja e outras drogas mais. E a gente machuca os outros porque a gente não se importa. E a gente se machuca. Se estraga. Se entrega. Se autoproclama o ser humano mais forte e suficiente de todos. Burros. Burros. E burros. Como a gente é burro!
E a noite acaba. E vamos para nossas casas. Entramos em nossos quartos vazios e não enxergamos absolutamente nada. Nem ninguém. E teu cachorro está lá fora latindo para algo que realmente o incomoda, porque ele quase nunca late em vão. E a gente percebe que nem ele está se importando com a tua presença assombrada pela embriaguez. E a gente tira a roupa. E a gente vai até o banheiro. E tomamos um banho daqueles. E a gente chora no banho por estar começando a sentir o maior vazio que a vida pode nos dar. A solidão!
E a gente se sente sozinho, mesmo sabendo que não estamos sozinhos. Porque o efeito dos canecos e tragos está passando e te mostrando que existe a vida real e que a gente está sozinho. E a gente pensa "Iremos morrer sozinhos" e a gente vai morrer sozinho. A gente sabe disso. Num segundo, tudo acaba.
A água cai em nossas cabeças. A gente abre mais o chuveiro para que a água bata mais forte e nos entregue o banho da realidade que nos mostra o motivo de estarmos tão solitários. E cada gota te mostra que o mundo é assim, descartável. Vazio. Escuro. Sozinho. E imundo. Com felicidades e alegrias passageiras encontradas no fundo de um caneco. Por vezes, ele é mágico. Por outras, surreal. Suficientemente lindo. Muitas vezes perturbador. E em muitas e muitas outras vezes o mundo te suga e te chupa e te come e te mostra que mesmo em dias de sol, tua vida se encontra tão cinza quanto a fumaça dos tragos que você digeriu na noite passada.
E a gente chora. E chora. E chora. E sente medo.
A gente se seca. A gente sai do banheiro. A gente coloca uma roupa para dormir.
Olho para minha cama e vejo o vazio. O nada. O ninguém. Ninguém. Ninguém. Ninguém.
Não era isso que eu procurava no mundo vazio e descartável?
Encontrei algo que sempre está do meu lado. O vazio. Vazio. Vazio.
Arrumo as cobertas. Preparo os travesseiros. Tiro o óculos. Ajeito ele na mesinha de cabeceira.
Me deito. Puxo as cobertas. Encosto a cabeça nos travesseiros. E deixo a escuridão do meu quarto me tomar por completo até que eu veja algumas pequenas luzes pelas frestas das janelas e da porta.
Vazio. Vazio. Vazio.
Escuridão. Sozinho. Sozinho. Solitário. Pensante. Gênio pensando na escuridão de um vazio em que ele sempre se sente sozinho e sozinho. Sozinho inho inho.
E quem se importa?

Sabe o que eu pensei?
Onde foi que me perdi quando o amor resolveu me encontrar?
Não. NÃO!
Espera.
Onde foi que eu me perdi quando eu resolvi dar adeus para o amor?
Não. Não era isso que eu tinha pensado.
Preciso me lembrar.
Calma!

Eu me perdi e procurei um abrigo quando o amor resolveu sair pelas portas da minha casa.

Era algo, mais ou menos, assim.

FODA-SE, PORRA!