terça-feira, 9 de abril de 2019

E neste mundo doente, doente mundo, os únicos salvos foram eu e tu

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- CORRA, QUERIDA, CORRA!
- Querido, olha lá, uma criança pegando lixo naquele latão!
- Continue, meu bem, continue!
- Querido, olha, veja, um jovem negro sendo espancado pela polícia!
- Meu bem, não olhe. Vamos, VAMOS!
- Querido, olha lá, uma garota sendo estuprada no meio da rua!
- QUERIDA, VAMOS. EU TE PROTEJO!!!
- Querido, olha ali, um velho indígena sendo expulso de suas terras!
- VENHA, meu bem, me dê a mão!
- Querido, olha daquele lado, militares atirando para todos os lados!
- Se abaixe, querida, vamos embora. Vamos. VAMOS!
- Querido, veja bem, ali, olha, um homem que se diz de Deus...SENHOR...o que ele está fazendo ali enganando todas aquelas pessoas?!
- MEU BEM, FALEI PARA VIR!!! VAMOS!!
- Querido, veja, ali naquela esquina, menores de idade vendendo seus corpos em troca de drogas e migalhas e moedas!
- Querida, vamos embora daqui, pelo amor de qualquer coisa que acredite!
- Mas eu não acredito mais em nada, meu bem.
- Eu também não, mas vamos, VAMOS!
- Querido, porque foges tanto? Olhe para os lados. Veja tudo que acontece!
- Eu já vi, baby, eu já vi. Por isso quero ir embora daqui. Se é para algo ser salvo, que sejamos nós dois.
- Que mundo, meu bem. QUE MUNDO!
- Querida, por favor, me dê a mão. Não solte. Não olhe. Não veja. Só enxergue a mim. VAMOS!
- MEU BEM, VEJA CARALHO, OLHA O MUNDO EXPLODINDO!!!
- NÃO EXISTE AMOR, MEU BEM. NÃO EXISTE!!! ACABOU TUDO!!!!

Que mundo doente. Mundo adoecido. Mundo perdido. Pessoas perdidas. Momentos perdidos. Migalhas. Tiros. Moedas. Miséria. Doenças. Vazio. Tudo explodindo do lado de fora e eu só pensando no amor. E eu querendo o amor. E eu querendo que alguém me encontre para me ajudar a se encontrar. Eu entregando meu coração para braços vazios na esperança de que seja a bussola capaz de ser preenchida com a minha e que nos mostre o caminho verdadeiro para a felicidade e romance que tanto procurei. E já não procuro mais. Não mais. Não tem como. Não tem jeito. Não tem saída. Tudo em crise e eu só querendo braços e abraços e poemas e romances e beijos e amores e momentos e domingos ao lado de alguém que me complete a alma e preencha esse vazio constante que me invade aqui no peito. Não existe mais saída. Eu sei que não existe. Não existe mais salvação. Nem nunca existiu. E a gente acorda com a esperança de que tudo será modificado de tal forma com tais formas e tais escolhas, mas nada muda. E todas as nossas escolhas sempre parecem serem escolhas erradas. E somos errados. Errados por querer demais. Errados por ter ganância demais. Desejo demais. Soberba demais. Tecnologia demais. Inveja demais. Ciúmes demais. Tudo no agora. O agora. O momento. O agora. No máximo O Amanhã e foda-se o futuro. Foda-se nossos filhos. Foda-se nossos netos. E bis-netos. Foda-se. Foda-se e FODA-SE! Quem se importa?
Tudo em crise e eu só querendo viver um romance. Tudo doente e eu só querendo alguém que me cure. Tudo em autodestruição e eu só querendo alguém que junte meus cacos. Sou tão egoísta assim? Sou tão inútil assim? Não. Eu sei que não sou. Sou tão burro assim? NÃO. Eu sei que não sou.
Ou melhor, talvez eu seja.
Sou tão patético assim? Talvez eu seja.
Talvez eu, realmente, seja. Talvez eu seja patético por acreditar no amor. Talvez eu seja burro por esperar um amor. Talvez eu seja inútil por ter um amor. Talvez eu seja egoísta por querer o teu amor. Tudo sempre no "talvez". E o amor é esse "Talvez". E o mundo é essa certeza a base de "Talvez" que tanto cobiçamos em mante-los em nossas vidas na esperança de que tudo mude. "Talvez, eu acorde melhor". "Talvez, eu seja alguém melhor". "Talvez, tudo mude". "Talvez, essa arma apontada em meu peito não me matará". E ela SEMPRE mata. Pessoas inocentes em momentos inocentes. E eu seria tão egoísta de pensar em uma única bala em um revólver que estaria apontado em minha cara e eu puxaria aquele gatilho para ver o fim de todas as minhas dores e temores e pensamentos e insônias e depressões e amores? Sim, eu seria!

- MEU BEM, ACORDE!
- Estou acordado, querida.
- Querido, não vê que o mundo está morrendo?
- Sim, eu vejo, faz tempo.
- Porque continua deitado em tua cama bebendo e escrevendo e pensando?
- Porque não existe nada mais que eu possa fazer pelo mundo.
- Veja todas aquelas pessoas, meu bem. Sofrendo. Chorando. Implorando. Morrendo. Deve existir uma saída.
- Não existe mais nada que possamos fazer, meu bem. Venha para cama.
- Porque estas tão descrente deste mundo, baby?
- Porque o mundo é descrente de nós.
- Você acha certo beber e escrever e me amar enquanto o mundo todo se destrói?
- Eu acho mais que certo. Bebo por causa do mundo. Escrevo para esquecer essas loucuras. E amo porque é a unica coisa que acredito ser a saída para tudo isso, mas o mundo esqueceu como amar, meu bem. O mundo esqueceu. Amar é tão démodé. Tão fora de moda. Não existe mais forma. Por isso a gente se xinga, se agride, adoece e se mata antes mesmo de nossas próprias doenças nos matarem.
- Porque sempre escreve tão mal sobre o amor, mas sempre fala que só ele pode te salvar, meu bem?
- Porque é a unica coisa que me mantém, verdadeiramente, vivo no meio de toda essa loucura em que mais da metade do tempo me sinto sozinho, lembrar que tu me amas e pensar que meu amor por ti pode me salvar em algum momento.
- O amor é a saída?
- Talvez seja a cura.
- O mundo não tem cura, eu acho, meu bem.
- O mundo é o mesmo, querida, o que mudou foram as pessoas. O amor é capaz de nos curar?
- Eles esqueceram, meu bem, esqueceram.

...e eu já morri faz...tanto...tempo.

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