terça-feira, 2 de abril de 2019

Amores e Libélulas

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E eu te pedi, meu bem. Abri minha porta e te pedi para entrar. Te ofereci uma cerveja e você mal tocou nela. Disse que tinha cigarros e você nem fuma. Recusou. Coloquei o melhor blues que conheço e você não achou a mínima graça. Eu te pedi para me deixar entrar, querida. Me deixar entrar dentro de você, e não como pensas, mas sim dentro do teu coração. E você pouco se importou. Te pedi para respirar o teu ar e você se sentiu sufocada. Te pedi para deixar o coração bater livremente e você se sentiu presa. Eu te pedi, meu bem. Eu te pedi para me abraçar e você me afastou para longe. Eu disse "olá" e você disse "adeus". Eu disse que tudo ficaria bem e você não acreditou em nada do que eu estava te dizendo. E permaneceu encostada no pior canto de minha casa. E eu te pedi, meu bem. Te pedi para não me deixar ir embora de tua vida e tu mesmo abriu as portas e me mostrou o melhor caminho para me manter longe de ti. Eu busquei outra cerveja, essa fiz questão de abrir para você, e tu mal deu duas goladas. Acendi um cigarro. Te indiquei outro. Você recusou. Se fumasse saberia o valor da ansiedade de te ter em meus braços que eu sinto cada noite que me assola. E eu te pedi, querida. Te pedi para ficar. Implorei para ficar. Você não deu a mínima, novamente. Por medo, meu bem. Por medo. Tentou abrir a porta e encontrar teu próprio caminho. Te puxei pelas mãos e pedi para ficar. Com carinho. Com calma. Com o melhor jeito que uma pessoa pode ter. "Fica", eu disse. "Permaneça", eu pensei. Te ofereci abraços, mas eles não te aquecem em nada. Te ofereci beijos, mas eles não te satisfazem. Te ofereci palavras, mas elas não te significam nada. E você continuou ali, parada, estática, me olhando. Esperando eu pedir algo melhor que pudesse te fazer ficar. E eu pensei, repensei, relutei. E bebi um pouco mais. E fumei um pouco mais. E te olhei. E pensei em poemas. Não consegui escrever nada. A música que tocava ao fundo não me ajudava. Eu te pedi um abraço, você recusou. Te pedi um beijo, você virou o rosto. Te pedi um sorriso, você mordeu os lábios. Te pedi belas palavras, você se virou. Te pedi para olhar em meus olhos, você recuou.
E eu te pedi, meu bem. Abri meu coração e deixei você entrar. Te ofereci cervejas e cigarros e poesias e músicas, nada te impressionou. Te pedi amor, você não tinha nem paixão. Te pedi desejos, você me entregou promessas. Te pedi paciência, você disse que tinha muito que viver. Te pedi para ficar, você disse que tinha medo. Não te pedi mais nada, você disse que teus amores passados te machucaram o suficiente para não amar mais ninguém que não seja você mesmo. E eu nem te pedi mais nada. E você me entregou isso sem cobrar valor algum. Abri mais uma cerveja. Outra cerveja. Mas essa foi para mim. Você ficou olhando. Acendi outro cigarro. Você disse que sou fotogênico. Que todos os ângulos de meu rosto soam como primaveras com muito a ser decifrado. Eu pouco me importei. Dei mais um trago. Dei mais um gole. E pensei "O amor é está droga que insisto em usar todas as noites". Você perguntou o que eu queria de você. Eu não respondi. Terminei minha cerveja. Abri outra. Dei mais um trago. Bebi mais do que a metade da cerveja em apenas um gole. E pensei. Repensei. E refleti. Você perguntou de novo "O que você quer de mim?". E eu respondi "Eu quero tudo. Eu quero você". Tu deu de ombros. E sorriu. Disse que não sabia o que fazer. E eu sorri. Por dentro, mas sorri. Olhei para as frestas de minha janela. Abri a janela. Acendi mais um cigarro. E pensei "O amor é mesmo esta droga que ninguém sabe usar, só eu". Porque insisto em usar esta droga?! Porque caralhos existe este vício dentro de mim em tentar amar da maneira certa a pessoa mais errada do mundo que tanto me faz bem de todas as maneiras certas possíveis?! Você disse que iria embora e eu te pedi para ficar mais um pouco. Você revirou os olhos, mas permaneceu. Porque insisti?

- Sabes que não posso te amar como queres, não é?
- Ah, querida, ninguém pode me amar como eu quero.
- E como queres um amor? Qual teu tipo de amor?
- Um que seja completo. O tudo. O todo. Sem meio termo. Sem mais ou menos. Sem as palavras de "Não sei".
- Querido, tu estas velho demais pensando assim. A modernidade e os medos privam todo mundo de sentir o amor por completo.
- Ah, querida, eu sinto amores completos. Tenho quase 30 e penso no futuro em que amores sejam verdadeiros. Sem medos nem anseios. Sem erros nem acertos. Sem promessas nem falhas. Apenas o amor. Estar perto dos 30 é pensar sabiamente sobre o teu amanhã. Não quero amores que não me completam. Quero amores loucos, porque eu sou um louco bêbado que escreve todas as noites e sente falta de amores sinceros. Quero longas conversas. Quero saber como foi o dia de minha amada. Quero saber como ela se sente. E se estiveres triste ou para baixo, quero levanta-la com todas as minhas forças. Quero faze-la sorrir. E dizer "irei dormir bem porque tenho você". Sonhos, meu bem. Sonhos que jamais serão realizados porque meu peito insiste em sonhar demais. Esta bosta de coração insiste em desejar demais algo que nunca será alcançado. E sabe o que mais me machuca, meu bem?
- Não sei, o que?
- Saber que a existência de amores é algo tão abstrato e amedrontador que ninguém pensas sequer em palavras bonitas para se escrever sobre outro alguém.
- Não te entendi, meu bem.
- Ninguém nunca me entende. Sou apenas o escritor de quinta categoria, triste e bêbado, que escreve palavras que ninguém se importa em ler ou entender.
- Querido, você está bêbado?
- Bastante!

Eu te pedi, meu bem. Te pedi para ficar, mas você quer ir embora. E sabes porque as libélulas são minhas formas de escrever sobre o amor? Porque elas tem a incrível simbologia sobre transformação e liberdade. Tu me transformou, querida. Me transformou neste velho de quase trinta anos apaixonado e bêbado e insano que escreve quase todas as noites sobre ti, mas que mantém toda a liberdade de você partir de minha vida sem ao menos exitar pela solidão que jamais será passageira sem o toque de teus lábios. Lábios que eu pedi um beijo e você os mordeu e recuou. Te pedi suspiros ofegantes e você suspirou. Te pedi sentimentos e você não tinha nada para me entregar. Te abri todas as cervejas que eu tinha. Te acendi todos os cigarros que eu também tinha. E você recusou tudo. Não disse nada sobre o meu amor por ti. Nem aceitou, mas também não recusou. E isso me mata. E a libélula mais deslumbrante pousou em minha janela ao terminar da madrugada e eu percebi que era o amor pousando, mais uma vez, na minha frente. Meus olhos brilharam. Meu coração palpitou. Meu estômago estremeceu. E a névoa fria que se esvai pela madrugada foi embora como todas palpitações cintilantes de meu coração que tanto eu poderia te entregar, mas você não sabia se queria saber o suficiente sobre o meu saber constante de te querer cada vez mais. E eu deixei tu ires embora. E tu foi. Foi com um sorriso em teu rosto, me olhando sob os ombros, acenando com as mãos e deixou um bilhete em meu criado-mudo: "Não sei se posso te amar como as libélulas amam o ar.".
E partiu. Mesmo quando eu queria pedir para ficar. Partiu. E eu sorri. E pensei "Deixa ir". Tudo bem. Tudo bem, meu bem. Acendi outro cigarro. Abri outra cerveja. Madrugada terminou. Dia amanheceu. Não dormi. Mas já sinto tua falta como sentirei falta de minha cama neste dia que virá.

- Querido, sabes o que encontrei?
- Minhas cervejas vazias e todos os cigarros que fumei que você acha demais?
- Não. Uma libélula morta. Sabe o que isso significa?
- Não sei, querida, não faço a mínima ideia.

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