segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Desculpe, meu bem, hoje senti saudade. E nem tem romantismo por aqui!

charles chaplin | Tumblr | Edna purviance, Chaplin, Charles spencer chaplin
Desculpe, meu bem...

Essa semana, te fiz chorar.
E não foi por mal.
Se tu soubesses o quanto choro em silêncio, nem se importaria com algumas lágrimas.
E tu disse que eu mudei demais.
E disseste que eu nem sou mais capaz.
Concordo com você.
Me perdi.
Me esqueci.
Me larguei.
Deixei de sonhar.
A ansiedade me come pelas beiradas.
E a depressão me come por inteiro.
Já nem ligo mais.
Escrevo algumas cartas.
Digito algumas poesias.
Finjo que tudo não passou de um sonho.
De mais um dia ruim.
E continuo acreditando que todas as coisas horríveis serão curadas amanhã de manhã.
Tudo não passa de um pesadelo.
Tento acreditar nisso todas as noites.
E que venha o amanhã.
Tudo estará em seu devido lugar.
Todas as roupas estarão dobradas e guardadas.
Todas as cartas em uma prateleira organizada.
A cama estará arrumada.
Os lençóis estarão limpos.
Minha barba menos bagunçada.
O cabelo penteado.
E sentirei vontade de tomar o melhor banho do mundo.
E ficar horas embaixo da água pensando o quão boa é a vida.
As prateleiras estarão todas limpas.
O guarda-roupa organizado.
As latas e garrafas de cerveja espalhadas pelo quarto estarão no lixo reciclável.
Meu cachorro estará tranquilo, sem aquele olhar de desespero para saber se estou bem.
As coisas estarão como eu sempre quis.
Limpas.
Claras.
Simples.
E cheias.
Cheias de vida. Cheias de tesão. Cheias de vontade.
Iluminadas pelo amanhecer de mais um dia que bate na nossa janela e nos lembre do quanto temos que viver.
Do tanto que nos falta para acreditar e vencer sempre.
E o amanhã nunca chega.
Ou melhor...
ele chega.
Sempre chega.
Mas não da forma que a gente espera e procura e quer.
A tristeza me puxa, mais uma vez, pelas beiradas.
E estou longe de uma manhã feliz.

Vem aqui para casa.
Puxa a minha mão.
Diz que tudo ficará bem.
Mas diz olhando nos meus olhos.
Não da forma clichê e sem preocupação que todos falam.
Me abraça logo em seguida.
Me beija no rosto.
Diz que me quer por perto.
Diz que não vai embora.
Tira essa angústia do meu peito.
Me traz para perto de ti.
E faça eu sonhar de novo com cenas incríveis.
Meu coração está acelerado.
Faz ele se sentir calmo novamente.
E puxa a minha mão.
Deixa eu te sentir.
Deixa eu sentir a pele com pele.
Acreditar que posso confiar em outro ser humano, mais uma vez.
Eu não quero me perder.
Me ajuda a se encontrar.
Seja a minha cura.
Seja a minha calma.
Seja a minha paz.
E deixa eu deitar a cabeça no teu peito para acreditar que o mundo não está tão ruim assim.
Deixa eu vivenciar esse pequeno momento ao teu lado.
Sem falar nada.
Apenas sorrindo.
Em silêncio.
Bem quieto.
Bem quietinho.
E deixa eu sentir o que é ser importante, outra vez mais.
Deixa eu sentir o tesão de viver.
Deixa eu sentir a alegria do sentir.
E a leveza do estar vivo.
E de bem comigo mesmo.

Eu sinto raiva o tempo todo. 
Eu sinto tristeza todo o tempo.
E angústia a todo momento.
A cabeça não funciona direito.
As ideias já não batem comigo mesmo como batiam antes.
Eu me perco dentro de mim.
Me perco nas palavras.
Me perco nos momentos.
Me perco nos sentidos.
Me perco no que estou fazendo.
O que eu estava fazendo?

O que eu estava falando?

Não lembro bem.
Outra ideia que saiu por ai.

Cazuza lia as poesias mais lindas.
Bukowski escrevia os poemas mais incríveis.
Chaplin citava a tristeza como algo lindo.
E eu procuro apenas minha paz através de todos eles.
E através de minhas poesias não encontro nada.
Não sei de nada.
Não vejo mais nada.
E é tudo tão chato.
E ruim.
E bobo.
E entediante.

Quando foi que a vida virou esse capítulo tão chato sem nada a dizer?!
Quando foi que eu senti vontade de te ligar para ouvir tua voz e ser capaz de seguir em frente?!

Eu gostaria muito de ouvir a tua voz, mas eu nem sei mais quem é você.
Não sei onde escondi o meu amor.
Não sei mais onde escondi meus sentimentos bons.
Devo ter perdido em algum canto do quarto.
Ou até mesmo naquela esquina que passei outro dia.
Eu queria tanto encontrar o meu amor.
Coço a cabeça e as entranhas e sinto falta dele.
Mas não tenho forças para procura-lo.
É muito difícil conviver com ele.

Mas eu gostaria de ouvir tua voz para saber que tudo está e ficará bem!

O amor é isso...
A gente olhar para o lado, ver a cama vazia e sentir falta de alguém ali.
A gente sentir falta de um abraço apertado.
A gente sentir falta dos gemidos fortes e altos na hora do sexo.
A gente sentir falta de estar carente e ter alguém para preenche-lo.
A gente sentir falta de fazer outra pessoa feliz.
E, por mais que todas as coisas estejam escuras, ficar preenchido com um sorriso claro no fim da rua.
Talvez, isso seja o amor.
Escrever as poesias mais escrotas e se sentir bem com todas elas.

Eu sei que ninguém irá gostar dessa carta.
Não estou bêbado o suficiente para escrever.
Mas teimei comigo mesmo.
E escrevi.
E senti falta de quando eu acreditava estar feliz.
Ninguém irá saber que estou numa crise de ansiedade absurda.
E pensando em todas as formas possíveis de ir embora sem sentir nada.
Irão apenas subentender que estou apaixonado por alguém.
E essa carta está muito longe de ser algo sobre isso.
Eu deveria estar apaixonado por mim mesmo antes de estar por alguém.
Como é que pode alguém estar apaixonado por si mesmo com pensamentos de acabar com a vida como os meus?!

Acredito que você entendeu o espírito de toda essa coisa.
Se não entendeu, leve isso apenas como mais uma carta ruim que você perdeu cinco minutos de vida lendo.

Obrigado por chegar até aqui!

AH, SOBRE O QUE ERA A MINHA SAUDADE?!
Desculpe, meu bem, esqueci.
A ansiedade tem dessas coisas.
Mil perdões!

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