segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Querida, o psiquiatra me demitiu pela terceira guerra mundial dentro da minha cabeça!

Luna Buschinelli - Projeto Curadoria
E o que eu faço, meu bem?!
Meu bem!
Sem ti.
E sem mim.
E não existe nada aqui dentro que faça eu ter autocontrole. 
Minha cabeça viaja em meus próprios pensamentos e sentimentos.
Nunca sei o que é real.
Nunca sei o que é ilusão.
Nunca sei se te quero.
Nunca sei se torço para que partas.
Meu bem, eu não sei mais o que fazer.
Te escrevo esta carta para que encontres em algum canto de meu quarto escuro.
E me mostre que sou capaz de sair dessa.
Que existe alguma coisa lá fora capaz de me deixar são novamente.
Cansei da falsa felicidade, meu bem.
Cansei de esperar a alegria bater em minha porta dizendo que tudo está bem de novo.
Cansei de sonhar com dias melhores onde todas as pessoas são e estão felizes.
Cansei, meu bem. Apenas cansei.
Cansei de ti. 
Cansei de mim.
Cansei das flores.
Cansei dos poemas.
Cansei das ruas, dos bares, das festas.
Dos amores. Dos romances. Das pessoas.
E a minha mente me mostra apenas o pior de tudo isso.
Sinto um medo repentino que chega e não se vai. 
Medo constante de que todas as coisas vão, finalmente, ruir sobre a minha cabeça.
E vem os tremores.
Vem os suores gelados como a neve.
Vem as dores no estômago.
A mente cega.
Os olhos embaçados.
E eu não sei o que fazer. 
Então, eu bebo. Bebo mais um pouco.
Escrevo. Escrevo muito mais do que costumo escrever.
E as mãos tremem. Nunca sei bem o que estou preparado para as pessoas capazes de lerem minhas cartas.
Penso em parar tudo que estou fazendo.
Quero fugir.
Quero sumir.
Quero desaparecer.
Acreditar que existe algum canto no horizonte que me faça ser eu mesmo novamente.
Não enxergo absolutamente nada!

Te escrevi mais uma carta para apenas eu mesmo entender o que se passa aqui dentro.
Quem sabe não consigo tirar esse borrão de nuvem escura de cima da minha mente.

- Querida, o psiquiatra me mandou embora!
- E o que dissestes a ele?
- A verdade, meu bem. Ouvi uma vez que se tu fostes sincero, a verdade te libertará.
- E qual a tua verdade, querido?

...
qual a minha verdade, meu bem?

Às vezes, quero tudo.
Outras vezes, não quero nada.
Vez ou outra, penso em tudo que sonhei.
Por muitas vezes, quero apenas desistir.
Às vezes, quero o nosso romance.
Muitas vezes, quero apenas ficar sozinho.
Existem dias que acordo e não quero ver ninguém.
Não quero me deparar com todas as coisas e pessoas do mundo e saber que existe muita maldade nele.
Mas o dia está tão lindo, eu deveria tanto sair para tomar um sol e fazer todas as coisas que eu deveria fazer.
E eu absorvo tudo que está lá fora.
Trago aqui para dentro.
Dentro de mim.
E é então onde mais me perco.
Eu sugo todas as coisas ruins do mundo e das pessoas e vivo acreditando que sou capaz de viver com tanta maldade.
Que eu poderia ser assim.
Muitas vezes, acredito que eu deveria ser assim.
Tão ruim quanto todas as pessoas que me fizeram chorar de alguma forma, em gritaria ou em silêncio.
Mas sinto que eu poderia ser como todas elas e viver muito bem comigo mesmo.
Mas eu sinto que não consigo.
Eu sei que não consigo.
Chega o ponto em que sofro.
E choro.
E tremo.
E sinto medo, muito medo, de perder o controle de mim mesmo e me tornar tudo de ruim que todas aquelas pessoas são.
Eu não quero perder esse controle de mim mesmo e me transformar em algo extremamente ruim da forma que o mundo não deveria ser.
É nesse momento que choro em silêncio, mais uma vez.
Fecho os olhos.
E imploro para não sair de mim mesmo.
Se eu tiver que sair, que seja para sumir para bem longe onde eu não possa sofrer tanto quanto tenho sofrido nessa luta constante em ser alguém melhor do que costumava ser.
Do que eles jamais serão.
E eu não quero ser algo ruim para ninguém.
E eu não quero que algo de ruim aconteça para ninguém.
E eu não quero ouvir histórias tristes sobre ninguém.
E o mundo é escuro demais para todos nós.
Isso me deixa tão, mas tão para baixo que já não me encontro em posição nenhuma de desejar coisas boas.
Se vocês soubessem o quanto isso me afeta, leriam todas as minhas cartas para continuarem sabendo como me posiciono em relação ao mundo e como eu deixei de escrever sobre romances bobos para alguém que escreve sobre todas as suas fraquezas quando as situações não estão nada bem.

Eu gostaria de te pedir para entrar.
Gostaria de te pedir para ficar.
E se sentar.
E tomar uma cerveja comigo.
Gostaria de te mostrar todos os poemas que escrevi noite passada.
Ou naquela noite em que eu estava me sentindo feliz.
Mas eu não consigo mais pensar que ficarás e fará com que eu sorria de verdade.
Não consigo mais olhar para o olho das pessoas e acreditar que algo de bom sairá de lá.
Eu não me sinto bem comigo mesmo já faz um tempo.
E não quero te passar essa energia.
É triste demais saber que estou passando tudo de ruim para alguém que não tem, absolutamente, nada a ver com meus problemas.
Mas eu gostaria de te pedir para ficar. Gostaria que ficasse.
Gostaria que entrasse e se sentisse a vontade.
Por mais que eu não me sinta a vontade com todas as coisas que o mundo me entrega.
Mas eu gostaria de te ver confortável.
Gostaria de te ver sorrindo.
Gostaria de te ver se sentindo bem ao meu lado.
E sim, eu te pegaria uma cerveja. Te faria um café.
Faria com um belo sorriso em meus lábios.
Voltaria.
Te entregaria tua bebida.
E perguntaria como foi o teu dia.
E sorriria, de verdade, ouvindo tuas histórias e teus problemas e tuas loucuras.
Mas saiba, meu bem, que dentro desse coração, nada está bem.
Está tudo escuro.
Apagado.
Vazio.
Solitário.
Triste.
E desapegado.
Mas é nesse coração que se encontra a força para não desistir de tudo que o cérebro insiste em me mostrar.
Mas é nesse coração que se importa com a forma que você se sente.
E é nesse coração, estrangulado pelo mundo, que se encontra a preocupação sobre como você se sentiria se eu desistisse de tudo essa noite.

E que não faz nada porque eu sei a decepção que seria para ti se eu partisse sem dar tchau.
Mas é nesse coração que se encontra a verdadeira solidão de saber que ninguém se importa com o que se passa aqui dentro.
E isso, meu bem, não me faz nada bem.

Mas está tudo bem, meu bem. Tudo está sempre bem. 
É assim que eles me enxergam. E é assim que eu gostaria de transparecer meus sentimentos mesmo quando tudo está apenas desmoronando dentro de mim.

Qual é a tua verdade, meu bem?

Nenhum comentário:

Postar um comentário