quinta-feira, 23 de julho de 2020

Eu vi um senhor vendendo potes de felicidade por R$5,99

Bukowski além da boa e limpa poeira « Blog da L&PM Editores
- Querida, tu vistes minha felicidade por aí?
- Não, querido, perdeste de novo?
- Não consigo encontrar em lugar algum, meu bem, mesmo quando bebo.
- Já olhou nas gavetas do seu guarda-roupa?
- Já sim, meu bem.
- Já olhou no banheiro?
- Porque diabos minha felicidade estaria no banheiro?!
- Não sei, meu bem, última vez tu perdeste embaixo da cama. Já olhou por lá?
- Já sim, querida, não encontro essa desgraça em lugar nenhum?
- Embaixo do tapete? Em cima dos armários? No meio dos seus livros?
- Já olhei em tudo que é caralhos, querida.
- Então, não sei como te ajudar, meu bem.
- Tu não levantaste a bunda do sofá para me ajudar com nada e diz que não pode me ajudar?! É o fim da picada mesmo.
- O fim da picada mesmo é você esperar a ajuda de outra pessoa para encontrar tua felicidade.
- Ah, vai te foder, meu bem.
- Toquei na ferida, não é mesmo?
- Querida, estou a ponto de desistir. Não sei mais onde procurar essa desgraçada.
- Tudo bem, querido. Sossega. Senta. Respira. E sossega.

...sossega.

Eu escrevo coisas simples.
Fáceis de serem entendidas.
E não me importo com isso.
Gostaria muito mais de ser assim do que escrever coisas sábias e difíceis de serem compreendidas.
E por mais que eu fale palavras simples, dificilmente sou compreendido.
Gênio não tão absurdo assim com verdades que só ele mesmo entende.
Talvez, nem tão gênio assim.
E tão absurdo.
Muito absurdo.
Se eu fosse gênio, saberia te dizer exatamente onde se encontra a felicidade.
E não te escreveria tais palavras simples com tanto sentimento cinza envolvido.
Meu mundo seria colorido se eu fosse um gênio.
Todos nós seríamos felizes.
E, provavelmente, eu seria muito rico por falar ao mundo qual a verdade fórmula da felicidade.
A gente acredita ser feliz.
A gente acredita em estar feliz.
A gente acredita nos momentos felizes.
Mas a gente não sabe, ao certo, o que é nossa felicidade.
E, escrevendo tais palavras simples, eu me sinto um desses treinadores de relacionamentos que escrevem livros de auto-ajuda.
Quanta besteira!
Estou longe de ajudar alguém.
Estou longe de me ajudar.
No momento, não quero te ajudar.
E não sei como me ajudar.
Só gostaria de entender onde foi que caralhos escondi minha felicidade.
Onde está a felicidade?
Num quarto escuro?
Num quarto colorido?
Num copo de cerveja?
Num abraço apertado?
Num beijo roubado?
Num momento vivido?
Num trabalho de sucesso?
Num reconhecimento?
Num relacionamento?
Numa mesa farta de amigos bêbados?
Num poema?
Numa pintura?
Onde caralhos eu escondi essa tal felicidade?!
Numa esquina deserta ou embaixo das escadas?
Num abraço de mãe?
Numa conversa com o pai?
Num sorriso da senhora do mercado?
Em pensamentos bons e agradáveis?

...pensamentos.
...agradáveis.
Não sei mais o que é isso.
Onde eu escondi a minha felicidade?
E a tua?
Onde você escondeu tua felicidade?
Eu gostaria de pensamentos alegres e felizes e bobos na minha mente.
Mas eu só enxergo o mundo muito cinza, cinza escuro. Quase preto.
Quase se apagando.
E eu gostaria que meus pensamentos fossem, pelo menos, neutros.
O cinza combina com tudo.
E meu coração não combina com nada.
O preto é a nova e antiga moda.
E meu coração não se encaixa mais nessa cor.
E eu gostaria de te pedir para me salvar.
Gostaria que me ajudasse a descobrir onde foi que eu enterrei minha própria felicidade.
Isso soaria egoísta e burro.
A gente tem que procurar nossa própria felicidade, é o que todo mundo diz sem nem saber o que é felicidade.
Levanta do sofá, garoto.
Vai trabalhar.
Vai ser alguém na vida.
Vai ganhar muito dinheiro.
Vai se entupir de amigos. Se rodeia dos melhores.
Vai conhecer uma garota linda e se casar e ter filhos maravilhosos com ela, menino.
Levanta dessa porra de cama e vai ser alguém na vida, PORRA!
Dinheiro. Amigos. Sexo. Sorrisos.
Futilidades!
Onde foi que eu perdi minha felicidade?
Quando foi que eu comecei a pensar tantas coisas ruins a ponto de querer desistir?
UÉ!
Quando foi isso?!
Desistir, talvez, não seja tão ruim assim.
Morrer.
A morte.
Deve estar lá.
Talvez, a verdadeira felicidade deve estar no último suspiro de vida.
Não me leve a mal. Entenda e compreenda o que eu quero dizer.
Talvez, a verdadeira felicidade esteja no sorriso interno em nosso último suspiro.
Morrer é muito fácil. Viver que é difícil.
Talvez, antes mesmo que tudo se apague, a gente sorri por dentro, apesar das circunstâncias, e pense "Essa é a felicidade".
Talvez, o êxtase da verdadeira felicidade seja no nosso último suspiro. A morte é tão incompreendida e pouco estudada que a gente nem sabe mais se é bom ou ruim.
A morte é aquele romance chato que sempre bate a nossa porta quando a gente menos espera ou, simplesmente, aquela pessoa inconveniente que você não quer ver nunca mais.
Pensando bem, acho que sou um gênio absurdo.
Veja bem o que eu teorizei em uma carta miserável.

Sinto saudades de escrever sobre amores e romances numa época em que eu acreditava ser feliz.
Tu viu a felicidade por aí?!
Me conta!

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