quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Eutanásia de um jovem ancião (sou atestado de óbito esperando o tempo ter tempo para assinar)

Série Sentimentos — Luna Buschinelli
*Desculpa a falha de não conseguir escrever textos bons!*

Solta a minha mão.
Me larga.
Deixa-me tentar respirar pelos cantos desse enredo todo.
Tu tem noção do tamanho do nosso universo?
Somos apenas um grão de areia no meio disso tudo.
Nossos medos, aflições, amores, receios e virtudes não significam nada.
Nem para mim.
Nem para você.
Nem para ninguém.
E a gente espera algo que nunca vêm.
Um abraço forte.
Uma palavra amiga.
Um aconchego qualquer.
Uma notícia boa.
Uma saudade persistente.
A gente espera que os amigos nos telefonem.
A gente espera que a família nos entenda.
A gente procura falar sem ter que ouvir.
E gritar muito alto para que nos ouçam.
Mas ninguém nunca nos ouve.
A gente procura uma saída para tudo que se passa dentro de nós.
A gente não encontra essa saída.
E a gente só quer bater a cabeça em qualquer canto da parede até que tudo de ruim saía de dentro de nós.
A gente falha.
E a gente procura nossos erros.
Nossos defeitos.
Nosso passado.
Nossos sonhos. 
Nossos tormentos.
A gente procura os motivos.
A gente procura as causas.
E a gente falha no erro.
Nossa falha é procurar demais sem saber por onde começar.
De onde a gente deve partir?
Onde está o nosso fim?
Cadê essa tal felicidade?
E a gente esmaga a cabeça contra os travesseiros na esperança de que algo surja como um super herói sorridente pronto para nos libertar de todo mal.
A gente atravessa o nosso peito com esperança de que algo de bom ainda se encontre dentro de nós.
Mas a gente não encontra nada.
E nos pegamos atravessando noites e noites e noites sem sono, vivendo dentro do nosso próprio pesadelo.
Solte a minha mão.
Deixa eu me arriscar nesse abismo.
A escuridão pode ser melhor que tudo isso aqui.
Deixa eu apagar a luz.
Solte...
a...
minha...
mão!

Me deixa ser um pouco mais.
Me deixa ter um pouco mais.
Me deixa acreditar um pouco mais.
Apaga esse desespero que corrói o meu peito.
Traz o personagem de mim mesmo para dentro de mim que fazia eu sentir tesão pela vida.
E a gente acorda.
Olha para o teto.
Olha para os cantos do quarto.
E a gente enxerga que nada mudou.
O telefone não tocou.
Tua carta não chegou.
A família não te entendeu.
Os amigos sumiram acreditando que tudo está bem.
E a gente só quer desistir.
E jogar todas as coisas que construímos fora.
No abismo.
Acreditando que esse sim é o alívio que a gente sempre procurou.
Mas são nos telefonemas, nas cartas, na família e nos amigos que a gente pensa quando a gente mais quer desistir.
Meu coração não encontra sossego.
Meu peito está sempre carregado de raiva e tristeza.
Minha mente sempre me dizendo todas as coisas malditas que ela consegue dizer.
E minha alma mais apagada que todas as histórias contadas por pessoas importantes desse mundo.
Te escrevo esta carta na esperança de que tudo esteja bem quando eu termina-la.
Te escrevo essa carta na audácia de que tu estejas bem quando eu te entrega-la.
Que tu não se sintas da forma que me sinto.
Que tu não se identifique com estas palavras.
E se conseguires sentir o que eu sinto em cada palavra, te peço para não desistir de si mesmo como há tempos desistir.
Não apaga teu personagem de ti.
Não edita tua forma de formas erradas.
Não deixa essa nuvem nebulosa encobrir tudo de bom que tu és.
Não desiste como eu desisti de mim mesmo.
E acredita que tudo pode melhorar.
Que tudo pode passar.
Que tu podes amar alguém te novo.
Que tu podes sorrir de novo.
Que tu podes ler poemas e acreditar que aquelas histórias trarão borboletas para teu estômago novamente.
Eu sei, o sabor da vida é amargo demais.
Eu bebi esse azedo copo da vida várias vezes e só queria apagar a luz.
E escrever em meu jazigo "Vocês que se aguentem! Vocês que se virem! Essa porra não é mais minha".
Mas eu queria não decepcionar as pessoas.
Não queria deixa-las sentindo saudade.
Ou tristeza.
Ou solidão.
Até mesmo angústia.
E gostaria de dizer, as palavras que sempre temi em proferi-las, "eu te amo" para todas as pessoas que sempre estiveram aqui e que sempre passam por minha mente quando o assunto é crises de ansiedade.
Mas são palavras difíceis demais de serem ditas quando o coração já não sabe mais o que quer.

Eu não quero ser um sinônimo de auto-ajuda. Estou longe de ser algo assim. Sempre te escrevi isso. Sempre te disse que sou acidente grave. Barco afundado. Desastre que acabou com todos os dinossauros há um tempo atrás. Quero apenas que enxergue a pessoa que tu és. E que se sinta bem quando esta carta acabar. Que se lembre que tudo vai ficar bem. Que a nossa mente não está trabalhando direito esses dias. E está tudo bem não se sentir bem, meu bem. As pessoas não se importam com a forma como a gente se sente. Se preocupe com você. Cuide de você. Lembre-se sempre de quem você costumava ser e o que costumava sentir quando tudo estava bem. Tu és uma pessoa boa. As coisas ruins irão te acontecer. A gente vai perder o controle de muitas coisas incontroláveis, mas tudo irá ficar bem uma hora. Não deixe esse pensamento permanente te consumir e te confundir fazendo tu se esquecer de quem tu és. 
Não me leve a mal!
A nossa mente é nossa própria inimiga nesses tempos em que nada faz sentido.
Nossos monstros nos dizem quem e o que deveríamos ser e fazer.
Por mais que a gente lute e saiba que está tudo errado.
A gente insiste em acreditar que os nossos monstros estão certos.

E eles nunca estão!

Eu gostaria de te dizer adeus.
E te peço para soltar a minha mão.
Gostaria que me deixasse cair nesse abismo em que eu mesmo me coloquei.
E enxergar a escuridão.
Fiz uma rima boba sem nem pensar.
Para te dizer que eu não quero teu perdão.
Nem teu aconchego.
Nem seu abraço.
Nem teu apego.
Só queria teu telefonema para me dizer tudo ficará bem, novamente.
Mas eu sei que tu não sabes mais de todas as coisas.
Então, eu sei que tu irás me deixar gritar muito algo em silêncio.
E eu vou gritar.
Vou espernear. 
E pedir para tudo passar.
Ou que seja tudo um sonho.
Vou pedir para essa raiva ser passageira. Para a angústia não me levar.
Para a tristeza não me carregar. E a revolta não se alastrar.
Vou implorar para que eu consiga amar alguém, mais uma vez.
Para que eu me sinta, verdadeiramente, bem ao teu lado, outra vez.
E, quando eu estiver do teu lado, que eu esteja me amando por completo para saberes te amar como tu mereces.
Eu não quero desistir.
Mas eu quero me jogar.
Eu não quero ir embora.
Mas eu quero apagar a luz.
Eu não quero virar uma memória.
Mas eu quero sentir saudades.

Saudades de ser.
De ter.
De sentir.
De falar.
De amar.
De buscar.
De ser eu mesmo.
Saudades de amar muitas coisas.
E não ser esse vazio constante.
E te pedir para soltar minha mão.
Solte a minha mão.
Larga ela.
Deixa eu viver esse abismo.
Deixa eu apagar a luz.
E virar memória.
Mas eu lembrei que tem muita gente que me ama pelos cantos do planeta.
Droga!
Pensei mais neles do que em mim. Outra vez.
Para variar.
Esse sou eu, sempre pensando nos outros antes de tomar minhas decisões.

Não desiste não!
Tem muita gente que te ama.
Tua mente diz que a ansiedade depressiva constante nunca vai passar.
Mas ela vai passar.

Ela tem que passar.
Uma hora...ela tem que passar.
Ela vai passar.
Eu acho que vai passar.

Não desiste não!
Mas se desistires...
Me chama!
Eu largo tuas mãos junto das minhas.

Eu entendo tua dor.
Eu entendo teu vazio.
Mas sabe o que mais machuca do que a própria angústia?
Não entenderem, absolutamente, nada do que eu falo.

E escrevo.

As pessoas estão tão perdidas quanto eu. 
Eu cansei de escrever.
Poucos vão entender que desisti.
Muitos não vão se importar.
Alguns vão entender que eu quero pular da sacada esta noite.
Outros vão sacar que estou a beira de fazer isso.
De apagar a luz.
Talvez, a escuridão seja mesmo melhor do que tudo isso aqui.
Mas todos irão ler e me dizer "Nossa, tu escreves muito bem. Parabéns. Continua escrevendo".

Eles nunca entendem meus pedidos de ajuda.
Mas está tudo sempre bem, meu bem.
As coisas sempre ficam bem.
Uma hora tem que ficar.

Eu cansei de te escrever, queria te falar. 

Desculpa, novamente.

Eu cansei.

Cansei.

Escrevi.

Chorei. E cansei.

Mas nada mudou!

Como uma peça de teatro, as luzes se apagam.

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