quinta-feira, 9 de julho de 2020

A salvação é uma carta desastrada sobre suicídio dos sentimentos jogada na imensidão

Bukowski, um velho safado apaixonado por gatos - Vegazeta
E está lá, nas minhas mãos.
A salvação está em minhas mãos.
Estou abrindo as portas da liberdade dentro desta prisão em que me encontro.
Cuspindo todos os meus problemas.
E eu queria te pedir para ficar, mas eu já não sei como faz para amar.
Esse é um fardo muito maior do que eu posso carregar.
E eu gostaria de te chamar para entrar, mas eu nem sei como faz para me amar.
Tu não aguentaria minhas loucuras.
Não suportaria minhas teorias.
Talvez, enjoaria da minha barba bagunçada pela manhã e a cara de ressaca.
Eu bebo muito.
E escrevo muito.
E sinto muito.
E, talvez, por isso esteja eu te escrevendo essas palavras que mal sei onde irão dar, mas eu continuo.
Eu sinto saudade de um abraço apertado.
De um beijo roubado.
Do sorriso lançado.
Sinto falta de te pedir para me tirar de casa.
De te ouvir pedindo para eu ficar.
Sinto falta dos momentos em que meu estômago não entende o que se passa dentro dele.
Falta dos aconchegos e apegos.
Dos carinhos e afagos.
Das brincadeiras e gargalhadas.
Sinto falta de sorrir te olhando nos olhos e nem saber do que se trata.
Gostaria de te pedir para entrar.
E te avisar que tem cerveja na geladeira.
E café no bule.
Sua caneca preferida está no canto esquerdo do armário.
Eu vou tomar um banho enquanto tu se aconchega.
E escrever meus próximos poemas na minha mente.
Gostaria de sentir o teu cheiro. De longe.
E deixar guardado na minha mente para os próximos roteiros.
Quero te dizer que sinto falta até das brigas.
Das discussões.
E até dos gritos.
Talvez, dos choros. Das lágrimas.
Isso mostra que a gente se importa.
Isso mostra que a gente sente.
E não existe nada melhor do que os nossos sentimentos.
São esses sentimentos que mostram o quão vivos estamos.
E eu cheguei onde eu queria chegar.
Já não sei quão vivo estou. Não sinto mais nada.
Há tempos não sinto o coração pulsar tão forte sem ser por crises de ansiedade.
Há tempos não sinto o frio no estômago que não seja pelas besteiras comestíveis que o empapuçam.
Há tempos não sinto tremores e suores frios nas mãos que não sejam por pesadelos noturnos.
E eu aprendi a lidar com isso.
Talvez, tu pense que a salvação das minhas loucuras seja um novo amor.
E eu te digo que pode ser.
Mas também pode ser uma nova terapia.
Uma nova canção.
Um novo trago ou porre.
Uma nova poesia.
Pode ser um Deus.
Pode ser os meus demônios internos.
Pode ser o meu trabalho.
Os meus desejos.
Os meus receios.
Amizades.
Não sei bem o que pode ser, mas eu sei que algo para mim está lá no fim do horizonte.
A linha onde o sol se põe pode ser a infinita alegria dos nossos corações.
Mas como posso buscar a felicidade se mal posso sair de casa?

- A poesia fala por mim o que eu gostaria de te dizer.
- E porque tu não me diz todas as coisas que queres dizer?
- Porque eu sei onde isso vai dar;
- E onde tudo isso vai dar, meu bem?
- No "seja feliz, eu só quero que você seja feliz", mas a gente sabe que no fim não tem ninguém que se importe que não seja tu mesmo.
- Tu devias olhar o lado positivo de todas as coisas, se um amor não deu certo, tu tens os seus poemas para serem feitos. Quanto tempo faz que não amas?
- Já não sei mais, talvez seja por isso que minhas cartas tem saído tão ruins.
- Viu?! O lado positivo de todas as coisas.

Eu sou aquele que acorda cedo e toma um chá na sacada pensando na felicidade que nunca chega.
Eu sou aquele que olha o sol nascer e fecha os olhos para senti-lo.
Eu sou aquele que abraça o canto dos pássaros e pensa em dividir esse momento.
Eu sou aquele que sonha alto e claro.
Eu sou aquele que grita calado.
Eu sou aquele que fala e ninguém entende.
Eu sou aquele que escuta e te sente, mas que ninguém compreende.
Eu sou aquele que sofre quietinho e que chora baixinho e que corre para o computador empoeirado para escrever mais uma carta muita louca sobre tudo que ele ousa sentir e que ninguém se surpreende.
E os que se surpreendem, são aqueles que não o entendem.
Eu sou aquele que pensa em suicídio quase todas as noites, mas que deseja se casar e chamar os melhores amigos para estarem lá.
E eu penso no sorriso da noiva, que eu nem sei quem é.
Eu sou aquele que pensa sempre em desistir, mas que sabe que existem tantas e tantas coisas para se viver e escrever, que ele vai deixando a desistência de lado para se proteger.
Eu sou aquele que usa camisetas rasgadas quando está em casa. Que sempre está cheio de problemas tanto quanto a cabeça lotada de pensamentos.
Eu sou aquele que sorri com os olhos quando eu mais quero chorar e te abraçar.
Eu sou aquele que te pede para ir embora quando eu mais gostaria de te pedir para ficar.
Eu sou aquele que mais lembra quando te pede para me esquecer.
Eu sou aquele que mais sofre quando diz que não está pensando em nada.
E meu coração amarrotado insiste em querer escrever todas as peças que ele e minha mente pregam em mim.
Eu sou aquele que está cansado de viver nesse mundo, mas é o dono do próprio teatro em que eu mesmo sou a platéia de um homem só e que grita e aplaude de pé, mas que passa também vergonha sozinho.
Eu sou aquele que te procura todas as manhãs sem nem saber quem você é.
Eu sou aquele que te liga quando tu se sentes sozinha, mas sou aquele que não te procuro quando a solidão me infesta.
Eu sou aquele que te leva ao médico quando estas doente, mas que sou aquele que só vai para o hospital quando está morto.
Eu sou aquele que fica orgulhoso com suas crenças e fé, mas sou aquele que não acredita em quase nada.
Eu sou aquele que vai chorar de alegria toda vez que você sorrir, mas também sou aquele que chora calado toda vez que você não está aqui.
Eu sou aquele que escreve cartas e mais cartas todas as noites, mas que odeia cada uma delas. E que nunca as lê.
Eu sou aquele que queria te pedir para entrar em minha casa, mas ela está muito bagunçada para a tua presença. Não quero nunca te dar o pior. Eu me arrependo toda vez que eu erro e durmo mal por isso até que você me perdoe e eu sinta que está tudo bem.
23:27h da noite e eu não encontrei ninguém para me dar uma boa noite. E essas são as horas em que mais costumo me sentir sozinho e demonstrar todas as minhas fraquezas. E chorar escondido respondendo mensagens de que tudo está bem, mas ainda sim, penso que amanhã pode ser o dia de encontrar alguém que me tira desse abismo em que eu mesmo me joguei.
E eu esqueci de deixar um mapa que diz certamente onde está a chave para me libertar dessa prisão em que eu mesmo me tranquei.
Tudo bem!
Eu escrevi mais uma carta biruta de gênio obsoleto que se sente burro por ter muito a dizer.
E eu queria ter todas as certezas das coisas.
Mas as pessoas nunca entendem bem o que eu quero falar.
E eu cansei de te escrever.

23:33h da noite e eu estou bêbado.
Talvez, amanhã eu me arrependa dessa carta.
Por ora, deixa eu lutar contra a vontade de partir lembrando de todas as vezes em que fui verdadeiramente feliz.
A gente sempre tem algo para dizer.
Eu sinto saudades e isso nunca passa.
Eu sinto culpa e isso nunca passa.
Eu sinto raiva e isso nunca passa.
Eu sinto tristeza e isso nunca passa.
Eu senti amor e isso nunca passa, mas eu finjo que passou.
E eu finjo que esqueci.
A gente sempre finge alguma coisa nessa vida.
E as piores mentiras que a gente conta são aquelas feitas para nós mesmos.

NÃO É POSSÍVEL QUE VOCÊ NÃO SE IDENTIFICOU COM NADA NESSA CARTA, CARALHO?!

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