quarta-feira, 25 de setembro de 2019

A gente mente que não sente nada

Resultado de imagem para luna buschinelli

Ferida aberta. Não cicatrizada. Ferida que apaga. Que estraga. Que mata. Me traga.
Ferida que entrega. Me apega. Me esquece. E me adoece.
Que não cicatriza nunca. Que enfraquece. E me despe.
Que me cospe. Me arranha. Me morde. Me espanca.
Ferida que me mata. Me renasce. E me mata de novo por puro prazer.
Ferida aberta que surge, ressurge, me segue e não me supre.
Que mantém o vazio constante aqui dentro deste peito ferido que um dia abriu alas para o amor.
Que sorriu e se entregou. Que alegrou e se peitou. Que surgiu e se perdeu.
Por onde?
Não sei.
Não importa.
Não dou a mínima.
E a gente mente que não sente nada.
E eu sinto até demais. Porque o meu peito por horas atrás estava palpitando como se fosse explodir.
E eu quero por demais. Mas não sei bem o que eu quero.
E eu ainda amo alguém sem saber como amo. E onde amo. E quando amo. E até onde amo no peito que quando pensa em ti quase surta de tanta ansiedade.
E eu penso até demais. E te quero por demais. E sinto muito por sentir demais. E não me importo por te querer demais. Só queria te tirar da minha mente um pouquinho que fosse por um instante que fosse, para apenas sentir alguns minutos de paz que há um tempo já não sinto.
E desde que saiu por aquela porta deixando todas as tuas coisas bagunçadas em minha cama, eu sinto essa falta constante que aperta, que laça, que apaga e me traga aqui dentro de mim. E ela diz "Sinta muito. Sinto muito. Por ti. Não por mim". E isso me mata pouco a pouco.
E eu bebi mais uma vez para te esquecer e lembrar que aqui dentro do meu peito por ti não bate mais nada. E falhei em acreditar que enchendo a cara, outra vez mais, eu iria esquecer do teu sorriso que há um tempo já não vejo. E nem quero ver. E eu continuo sentindo.
E continuo olhando para baixo com vontade de chorar e não conseguindo. E em ti eu penso como o melhor caminho que eu tomei o rumo errado. E dentro desse teu peito já não bate um sentimento por alguém tão pequeno quanto eu. E o tamanho da bala que poderia acabar com tudo neste exato momento é menor do que aquilo tudo que ecoa dentro deste teu jardim enegrecido com o tempo.
E eu sinto essa tua falta constante. Que estraçalha. Me entalha. Me estraga. Me atrapalha. E eu gostaria de te encontrar para dizer que em todos os minutos que se passaram desde que fechaste as janelas do teu coração, tenho pensado constantemente no som da tua voz me dizendo que minha casa precisa de um ar para respirar.
E toda vez que eu penso no teu nome, perco o ar. E o ar já não passa aqui dentro, por mais que eu abra todas as janelas e todas as portas de minha casa, teu ar já não entra mais aqui. E meu quarto já não tem o teu cheiro. E meu banheiro já não tem tuas tranqueiras. E minha barba amanhece sempre bagunçada e continua do mesmo jeito porque já não tem teu carinho para me levantar a autoestima que muito não tenho.
E eu minto, meu bem. Eu minto muito bem, bem, bem. E eu digo que te esqueci, quando de fato jamais te tirei de minha cabeça. E todos dizem que eu ainda sei amar. Que existe algum ponto deste peito enfraquecido que ainda sabe amar e se entregar. Mas como se ama quando todo meu amor está nos braços de quem nunca se importou?
E eu gostaria de te dizer, querida, que eu minto muito bem quando todas as notas dessa nossa canção tem teu nome nos acordes. E que eu escrevi essa carta apenas deixando os meus dedos falarem por mim enquanto entrego goladas e mais goladas num caneco imenso de cerveja ao meu lado. E eu jamais lerei essas minhas palavras. E eu jamais colocarei os meus olhos em tudo que escrevi para ti e sobre ti. Porque em algum canto desta prosa, existe alguma mentira que eu não sei bem contar. E se esta carta caíres em teus olhos, tu saberás muito bem qual foi a mentira mais descarada que contei sobre nós.
Tu me conheceste bem o suficiente para saber que sempre menti que não sinto absolutamente nada.

- Meu bem, você está escrevendo bastante esses dias, você não acha?
- Estou cheio de ideias e inspirações. Me sentindo um verdadeiro artista.
- Meu bem, você sabe que todas as pessoas que disseram adeus de forma inesperada estavam inspiradas em fazer algo, não sabe? Teu cantor preferido era um deles.
- Quem sabe eu não faça algo grandioso escrevendo as minhas besteiras.
- Meu bem, você está bebendo mais que o normal esses dias, você não acha?
- É para minha inspiração ficar melhor, querida. E tens funcionado, você não vê?!
- Vejo muito bem, meu bem. Tu tens se cuidado?
- Tu me cuidas, querida.
- E tens se sentido bem esses dias, meu bem?
- Não sei ao certo. Tenho me sentido sozinho o tempo todo, mesmo rodeado de gente. Existe alguma coisa aqui dentro que chora e grita e sofre e se lamenta, mas eu não sei bem o que é. Não consigo enxergar nada que se passa dentro de mim.
- Sabe que todas as tuas inspirações se sentiram sozinhas antes de partirem, não sabe?
- Sei bem, querida. Mas não me sinto tão sozinho assim.
- Você nunca foi dos melhores mentirosos, meu bem. O que se passa ai dentro?
- Não entendo, querida. Existe alguma coisa aqui dentro de mim que faz com que eu me sinta sozinho o tempo todo. O tempo todo. Todo tempo. E existe alguma coisa aqui dentro de mim que sente uma vontade perturbadora de chorar e chorar e chorar, mas quando eu tento, nada sai de dentro de mim. E eu quero gritar, mas não consigo. E eu quero correr, mas não tenho forças. E eu busco ajuda, mas não sei onde. E isso me suga cada vez mais para baixo. E meu abrigo tem sido minhas cartas para dizer da falta que sinto.
- Do que mais sentes falta?
- De mim mesmo.
- Meu bem, eu vejo teu olhar marejando pelos cantos da casa, sem saber, sem entender. E vejo o sorriso forçado de quem quer viver e não sabe como. E teu sorriso tens sido tão triste. Tens dormido bem?
- Não lembro qual foi a última vez que eu dormi horas e horas a fio e acordei disposto. Talvez sejam os sonhos.
- Queres conversar sobre eles?
- Não sei bem.
- Tens algo que queres botar para fora? Pode me falar que de mim tu não consegues esconder nada.
- Não sei bem, meu bem. Apenas sei que vai chegando essas horas da noite e vai batendo uma angústia...longa...pesada...solitária...e triste.

Nenhum comentário:

Postar um comentário