quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A felicidade me pediu um tempo para pensar e foi dançar com um coração semelhante ao teu

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Me virei.
Me revirei.
Olhei para os lados.
Olhei para o teto.
Observei o ventilador girando e girando e girando.
Senti minha cabeça zonza. Senti meu coração estremecer.
Lembrei que eu precisava me levantar.
Senti as pernas bambearem. Senti o estômago embrulhar.
Coração acelerou.
Senti um frio em minhas mãos. Senti um calafrio na espinha.
Acorda. Acorda. Levanta. Anda. Levanta. Acorda. Agora. No agora.
Estiquei os braços até a mesinha de cabeceira. Peguei meu óculos. Enfiei os dedos nas lentes sem querer. Cocei minha cabeça. Levantei.
Limpei meu óculos. Coloquei-o em minha face. Olhei para a cama. Te vi em minha cama. Te olhei por cima das minhas lentes. E lembrei. Precisava desabafar antes de ir embora para um mundo que eu já não sei se quero enfrentar.
Perdido. Temido. Consentido. Espremido. Aqui dentro. Dentro aqui. Coração aperta e aperta e aperta. Estômago embrulha e embrulha e embrulha. E as pernas tremem que tremem e que tremem. Não quero sair daqui.
Tenho medo!
Te olhei, mais uma vez. Você se mexeu. Te chamei.

- Querida, acorde!
- O que foi, meu bem? Outro daqueles pesadelos?
- Não, querida, mal consegui pregar os olhos. Apenas queria ter certeza de que estas aqui para me ouvir.
- Sempre que quiseres, meu bem. O que te acontece?
- Querida, existe um pensamento fixo em minha mente há alguns poucos dias.
- Qual pensamento?
- Quando eu era mais novo, eu olhava todas aquelas pessoas tristes andando pelo mundo a fora e sempre me perguntava o porque delas serem tão e sempre tristes?!
- Pois bem, meu bem?
- Agora encontro o inverso de tudo.
- O que queres dizer?
- Hoje, eu olho todas aquelas pessoas felizes lá fora e não sei bem onde me encaixo. Me perdi, querida. Me perdi. E há tempos não sinto a verdadeira felicidade e alegria correrem por minhas entranhas e me cobrirem como há muito tempo me cobriram. E eu tenho medo, meu bem, muito medo. O tempo todo. No todo do tempo.
- Tu se perdeste desde que teu amor foi embora. Todas as coisas ficaram bagunçadas e você deixou tudo onde não deveria estar. E agora, o que pensas em fazer?
- Não sei, meu bem. Existe um pássaro preso dentro de mim que quer voar até alcançar a felicidade, mas existe também um gato pronto para come-lo assim que ele entregar a primeira batida para voar.
- Você precisa se encontrar, meu bem. O tempo nunca é suficiente para curar todas as coisas.
- E não existe nada que possamos fazer.

Está tudo apagado aqui dentro. E meu amor foi embora faz tempo.
Está tudo esquisito aqui dentro. E minha felicidade disse adeus faz um tempo.
Está tudo raivoso aqui dentro. E minha calma se partiu faz tempo.
Está tudo confuso aqui dentro. E minha racionalidade me disse adeus faz um tempo.
Está tudo amedrontado aqui dentro. E minha coragem me deu um murro na cara e foi embora faz tempo.
Está tudo triste aqui dentro. E meus demônios caçoam da minha cara.
E se você luta para deixar de amar alguém ou alguma coisa por medo de amar, você percebe que não ama nada. Nem a ti mesmo.
E você sai para a rua. Anda pelas calçadas. Procura qualquer boteco. Entra em qualquer boteco sujo que toque alguma música realmente significante, e enche o cu de cerveja a noite inteira. E se diverte por um período de tempo indeterminado. E você sorri. E enche o peito de alegria. Alegria. Alegria. Alegria. Passageira. Que não supre. Que não nutre. Que descumpre. E você se descobre e te encobre dos maiores vazios que o mundo pode te dar naquele momento. E foda-se o mundo. E foda-se a vida. E foda-se os amores. E os romances. E essa merda toda. A gente não se importa quando o caneco está cheio e os pulmões cheios de tragos e mais tragos. E foda-se as poesias. E foda-se o trabalho. E foda-se o futuro. E foda-se e foda-se e foda-se. E a gente comete erros e não se importa. E a gente se entrega ao vazio e não se importa. E a gente comete pecados e não se importa. E a gente bate em nossos egos amargurados com o passado e não se importa. Nos sentimos grandes. E importantes. E suficientes. Sempre suficientes. FODA-SE NOSSOS AMORES. FODA-SE NOSSOS ROMANCES.  E a gente bebe mais. Enche mais o cu de cerveja e outras drogas mais. E a gente machuca os outros porque a gente não se importa. E a gente se machuca. Se estraga. Se entrega. Se autoproclama o ser humano mais forte e suficiente de todos. Burros. Burros. E burros. Como a gente é burro!
E a noite acaba. E vamos para nossas casas. Entramos em nossos quartos vazios e não enxergamos absolutamente nada. Nem ninguém. E teu cachorro está lá fora latindo para algo que realmente o incomoda, porque ele quase nunca late em vão. E a gente percebe que nem ele está se importando com a tua presença assombrada pela embriaguez. E a gente tira a roupa. E a gente vai até o banheiro. E tomamos um banho daqueles. E a gente chora no banho por estar começando a sentir o maior vazio que a vida pode nos dar. A solidão!
E a gente se sente sozinho, mesmo sabendo que não estamos sozinhos. Porque o efeito dos canecos e tragos está passando e te mostrando que existe a vida real e que a gente está sozinho. E a gente pensa "Iremos morrer sozinhos" e a gente vai morrer sozinho. A gente sabe disso. Num segundo, tudo acaba.
A água cai em nossas cabeças. A gente abre mais o chuveiro para que a água bata mais forte e nos entregue o banho da realidade que nos mostra o motivo de estarmos tão solitários. E cada gota te mostra que o mundo é assim, descartável. Vazio. Escuro. Sozinho. E imundo. Com felicidades e alegrias passageiras encontradas no fundo de um caneco. Por vezes, ele é mágico. Por outras, surreal. Suficientemente lindo. Muitas vezes perturbador. E em muitas e muitas outras vezes o mundo te suga e te chupa e te come e te mostra que mesmo em dias de sol, tua vida se encontra tão cinza quanto a fumaça dos tragos que você digeriu na noite passada.
E a gente chora. E chora. E chora. E sente medo.
A gente se seca. A gente sai do banheiro. A gente coloca uma roupa para dormir.
Olho para minha cama e vejo o vazio. O nada. O ninguém. Ninguém. Ninguém. Ninguém.
Não era isso que eu procurava no mundo vazio e descartável?
Encontrei algo que sempre está do meu lado. O vazio. Vazio. Vazio.
Arrumo as cobertas. Preparo os travesseiros. Tiro o óculos. Ajeito ele na mesinha de cabeceira.
Me deito. Puxo as cobertas. Encosto a cabeça nos travesseiros. E deixo a escuridão do meu quarto me tomar por completo até que eu veja algumas pequenas luzes pelas frestas das janelas e da porta.
Vazio. Vazio. Vazio.
Escuridão. Sozinho. Sozinho. Solitário. Pensante. Gênio pensando na escuridão de um vazio em que ele sempre se sente sozinho e sozinho. Sozinho inho inho.
E quem se importa?

Sabe o que eu pensei?
Onde foi que me perdi quando o amor resolveu me encontrar?
Não. NÃO!
Espera.
Onde foi que eu me perdi quando eu resolvi dar adeus para o amor?
Não. Não era isso que eu tinha pensado.
Preciso me lembrar.
Calma!

Eu me perdi e procurei um abrigo quando o amor resolveu sair pelas portas da minha casa.

Era algo, mais ou menos, assim.

FODA-SE, PORRA!

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