quarta-feira, 18 de setembro de 2019

...aqui e agora, perdoo todos os meus pensamentos

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Calma!
Não entre.
Espere. Não entre.
Não agora. Espere mais um pouco.
Estou arrumando todas as coisas da minha casa.
Calma!!!
Não entre. Me espere. Espere.
Estou arrumando todas as coisas da minha casa para você entrar e bagunçar de novo.
E eu te pedi para voltar para casa. Te pedi para esperar.
Calma. Não entre. Não se apresse. Me espere.
Não me atormente. Nem se atormente. Não se manifeste. Nem me manifeste.
Espere. Calma. Muita calma. Aqui, agora. Assim. Bem assim. Do outro lado.
Aguarde!

Se entregue. Me entregue. Me espere. Me soberbe. Me ame. Me espere mais um pouco. E venha até mim. Me usa. Me usurpa. Me corroa as entranhas. E digas que sentiste minha falta tanto quanto sinto da tua. Me espante. Me encontre. Me assuste. Me persiga. Me ache quando eu mais estiver perdido. E eu estou perdido. E bêbado. E deprimido. E emotivo o suficiente para te escrever tal carta que amanhã ou depois jogarei no lixo. E você não entende a mínima. E nem quer entender.
E entenda. Me entenda. Me compreenda. E não se surpreenda. Essa é a minha mente. E eu sento aqui  de frente com esta página em branco, bêbado, muito bêbado, e sozinho, e escrevo. Te escrevo. E te surpreendo. E você passa em minha mente. E escrevo. Continuo te escrevendo. Meus dedos de velho louco e poeta falam por mim e eu não dou a mínima para o que irei te entregar, porque aqui existe o meu melhor, mas também existe o meu pior. Como blues. Uns alegres. Outros tristes. Como poemas. Uns entendíveis. Outros nem tanto. Como álcool. Saboroso, mas te mata. Como tragos. Te acalmam, mas também te matam. E eu caio de encontro ao pensamento que me leva até você e sinto que estou cada vez mais distante como se tu fosse uma agulha no palheiro que eu não faço questão nenhuma de dar de caras. Distante. Pensante. Desgastante. E o pensamento constante de que esse é o instante que eu deveria amassar essa carta e coloca-la na estante. E você jamais acharia.
E minha depressão, meu bem? Tão constante quanto todas as folhas que caem pela cidade cinza amontoada de gente que não sabe o que quer.
E minha ansiedade, querida? Tão decorrente quanto todas as tristezas que as pessoas são capazes de jogar em folhas mortas pelos cantos mais coloridos da cidade.
E eu penso. Reflito. Insisto. E sinto. E choro. Te escrevo. E bebo. E fumo. E não te vejo. E arrumo minha casa para que você venha bagunçar, mas eu te pedi para voltar para cá e você não veio. Eu acredito ouvir o som da tua voz toda noite em que deito em minha cama, mas é apenas o som do ventilador de teto me dizendo que está tudo bem. E os demônios embaixo da minha cama são as únicas coisas que me abraçam sorrindo me dizendo que amanhã será um novo dia. E eu persisto, reflito, re-sinto, re-choro, e te escrevo de novo. E bebo. E fumo. Outra cerveja. Outro trago. E eu não te vejo.
Meu bem, meu bem, você ficaria surpresa com a quantidade de bobagens que penso dia após dia.
E a noite?
Minhas noites têm sido piores que os dias, meu bem. Minha cabeça ferve de tanto pensar. E eu sinto. Sinto muito. Sinto demais. E escrevo demais e choro demais e vejo demais e ouço demais. E te apago demais. E é tudo tão nublado quanto o dia ensolarado que se encontra lá fora. Os pássaros cantam, mas eu deixei de escuta-los. Os carros cantam, mas eu deixei de escuta-los. O mundo grita, e eu deixei de escuta-lo.
O que escutas então?
Uma voz me dizendo que eu preciso ser forte.
Mas isso é muito vago, não acha?
Acredito que não. Ainda estou sendo forte.
Mas isso é muito raso, não acha?
Acredito que não. Ainda estou levantando e vivendo a vida.
E o que mais querias?
Deitar em minha cama, me enrolar em meu casulo e não ver mais nenhum ser humano por pelos menos uns 7 anos.
Mas isso é muito pesado, não acha?
Claro que acho. Eles não me deixariam viver em paz por pelo menos 7 minutos.

- Meu bem, você já está bêbado novamente?
- Não estou bêbado, querida.
- Estas bebendo sozinho em plena quarta-feira.
- Mas ainda não estou bêbado, meu bem.
- Mas já está escrevendo essas porcarias que ninguém nunca entende.
- Mas ainda não estou bêbado.
- Você disse que iria se cuidar, não disse?
- Eu estou me cuidando, meu bem. São quase onze horas da noite e eu ainda não estou bêbado.
- Mas estas bebendo.
- Mas o fato de não estar bêbado é realmente importante, não é?
- O que queres da vida?
- Um pouco de paz, meu bem.
- E o que seria paz para você? Chegar em casa tarde da noite depois de um dia cansativo de trabalho, beber sozinho, ouvir esses seus jazz estranhos sozinho e escrever sozinho?
- Isso é blues, querida. Jazz não me entrega inspiração nenhuma para escrever, eu já tentei.
- É tudo a mesma coisa, caralho. Assim como tuas cartas, são sempre a mesma coisa.
- Tu tens lido minhas cartas, querida?
- Acredito que faz umas 9 cartas passadas que não leio mais.
- As coisas mudaram por aqui, meu bem. Mudaram bastante - e apontei para minha cabeça.
- O que queres dizer?
- Existe alguma coisa aqui dentro que está mais triste que os meses passados.
- E dentro do teu peito?
- Tentei enxergar alguma coisa.
- E então?
- Não enxerguei nada!

Amor, me encontre. Paixão, me ache. Paz, me procure. Porque eu deixo as coisas acontecerem de alguma certa forma e já não corro atrás de nada. E toda vez que eu acho que encontrei um romance certo, eu sorrio de verdade. Me sinto calmo. Me sinto bem. Me sinto leve. Me sinto em paz. Mas existe alguma coisa dentro de mim que faz questão de estragar todas as coisas boas, em relação a isso, que me entregam uma certa solidão. E eu já não me importo mais com a solidão como me importava há uns meses atrás.
Tempo do tempo perdido no tempo que tenho para te entregar de um tempo que eu gostaria de voltar para te dizer que tudo que passei ao teu lado não passa de um tempo que eu gostaria de voltar para te dizer que todos os minutos que andei gritando aos quatros ventos que o melhor dos tempos eu passo ao teu lado já não me invade mais a cabeça num tempo espaço corrido que tanto me faz correr para longe de ti. Entendeu alguma coisa? Quem se importa.
Espere. Me espera. Me acalma. Se acalma.
Abra a porta. Entre. Feche a porta. Me veja. E eu sorrio.
Me entrega. Se entrega. Me espera. Te entrega.
E veja, meu bem, que a espera do tempo foi necessária para nos mostrar algo.
O QUE?
Que o tempo não cura merda nenhuma!
O TEMPO CURA TUDO!!!
Não. O tempo é como a gripe. A gente acha que estamos livres e que nunca mais sentiremos essa merda novamente.
E ENTÃO?
E o tempo passa. A gente acorda um dia. Toca nas flores em nossos quintais. A gente sorri. A gente acredita que estamos bem, mas um dia a nuvem escura de uma doença que a gente nem sabe decifrar o nome invade nossas mentes e todos os nossos demônios começam a falar aqui dentro.
E O QUE ACONTECE?
Estamos de cama novamente. Sem se importar com o trabalho. Com o tempo. Com a família. Com os amigos. As coisas que gostamos de fazer já não nos satisfazem. E a gente não se importa com mais nada. E tudo fica tão cinza. Cinza. Quase preto. Quase tudo se apaga.
E O QUE VOCÊ FAZ?
Eu bebo. E escrevo. E tento não surtar. E escondo tudo atrás de cervejas, tragos e poemas.
E O QUE TE CAUSOU ISSO?
O amor, talvez.
O AMOR?! VEJA, CARA, VOCÊ CLARAMENTE NÃO ESTÁ BEM.
Eu estou muito melhor que outras crises que tivemos.
VEJA, CARA, VOCÊ ESCREVE ESSAS COISAS. PEDE AJUDA. ESCREVE CARTAS DE SOCORRO E QUASE NINGUÉM SE IMPORTA.
As pessoas se importam, elas só não sabem como demonstrar.
O PASSADO É UMA MERDA, CARA!
A gente bebe para esquecer essa merda, mas a gente nunca esquece.
TENS PENSADO EM SUICÍDIO?
Todos os dias. E ninguém está ali para me ajudar.
E ISSO APERTA AI DENTRO DO PEITO.
Todos os dias. E eu sempre me sinto sozinho.
UMA HORA TUDO PASSA!
Menos essa voz aqui dentro me dizendo como devo ou não me sentir.
VOCÊ, CLARAMENTE, NÃO ESTÁ BEM!
Já estive melhor, mas essa é apenas uma crise em que eu escrevo uma carta onde ninguém irá se importar e eu bebo e me sinto sozinho, solitário e triste o suficiente para fazer apostas comigo mesmo de que eu conseguiria escrever uma merda qualquer até as 23 horas de uma noite qualquer.

Falhei por dois minutos.
E QUEM SE IMPORTA, PORRA?!

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