terça-feira, 3 de setembro de 2019

...saudade, é o que eu matei de fome e joguei em algum lixo de minha casa

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Se acalma. Me acalma. Respira. Me tira ou me atira. Me tira de tua vida ou me atira em teus braços. Me escolhe. Me encolhe. Me esquece ou me acolhe. Me traga. Me apaga. Me solta ou me apega.
Saudade. Translúcida. Estranha. Constante. Preguiçosa. Você e eu quero você. E eu sempre quis você. E eu sinto saudade de nós. De mim. De ti. Do blues. Dos tragos. Das cervejas. Dos poemas. De ti. De ti. Em mim. Por mim. E pra mim. Sem ser minha. Só minha. Não quero. Jamais quis. Te quero como um todo. Em liberdade. Liberta. Discreta e linda. Como sempre foi. E incrível. E para mim. E aqui. E agora. Me expõe. Me impõe. Foge para mim. Seja para mim. Pelo menos essa noite. E nada mais. O amanhã não importa. Porque eu te encontrei e te despi com os olhos, não com olhos perversos, mas com o olhar de quem quer te ver, apenas te ver, e te enxergar por completa. Linda. Preciosa. Querida. Amada. Protegida. E liberta. Estranha e linda. Esquisita. E linda. Do teu jeitinho. No meu jeitinho. Do nosso jeitinho. Me acompanha. Me descompanha. Tira-me do compasso do teu despasso sobre o completo passo de nossa dança em minha cama bagunçada que tanto precisa do teu jeito, teu cheiro, teu preço, teu peito, tua ternura, teu sorriso. Tanto quanto eu preciso. E eu quero deixar de ouvir minha cama implorar por tua companhia. Ela grita tua companhia muito mais que meu grito raivoso por lembrar que te perdi, te senti, te lembrei, te esqueci. E te escrevi. Ah, como eu escrevi. Me morde. Me mastiga. Me engole. Deixe-me passar por tuas entranhas até que lembre que sou capaz de passar por um fio sequer de dentro do teu corpo. E lembre-se que te escrevi. Por ti bebi. Por ti traguei. Por ti dormi bêbado e acordei de ressaca na esperança de que uma luz acesa de dentro de mim encontre uma saída para te esquecer e te deixar ir embora. Me apanha. Me desmonta. Me ataca. Não na maldade, não com raiva, não com teu olhar de destruição. Me apanha de ternura. Me desmonta com teu sorriso. Me ataca com teu amor. E quando o amor deixar de bater por mim dentro de ti, que seja quando eu te tirar do sério e tu me queira longe. Longe. Bem longe. Distante. E que esse amor volte. Volte depressa. Depressa. Depressa. Constante. Sorrindo. E brincando. Nos tragando e nos ameaçando por sermos tão feitos um para o outro tal como um abraço verdadeiro não pode ser dado sozinho. Se acalme. Me acalme. Transpasse. Não se desgaste. E não se vá. Não. Não. Agora não. Volte sorrindo e me odiando, mas só um pouquinho. Venha para os meus braços e lembre que tudo que fiz para te irritar foi para ver esse teu jeitinho. Jeitinho. Mais uma vez. Jeitinho. Só teu jeitinho. Que eu quero que seja O Meu Jeitinho. Teu jeitinho todinho para mim. E eu quero te ver mais uma vez. Outra vez. E eu te escrevi. Te escrevi tudo e esqueci de quase tudo. Tal como lembrei que posso te esquecer. Facilmente, não sei. Não agora. Mas posso te esquecer. Fácil como o amor nos torna fáceis e fracos e dispostos a qualquer merda que ele nos entregue. Mas deixa, deixa eu te lembrar que sou capaz de te lembrar que ainda não te esqueci. Deixa eu te lembrar que, vez ou outra, me pego pensando em ti, em nós. Por nós. E eu te escrevi para apenas te dizer que eu não esqueci de lembrar você que não sou tão feliz sem tuas palavras matinais me pedindo para ficar. E te deixar me entrega um aperto, querida.

- Tens escrito como antes?
- Não tanto. Desacelerei.
- Isso quer dizer que estas melhorando. Isso é um bom sinal, não é?
- Não. Não tenho melhorado. Isso é um sinal apenas de que estou juntando minhas melhores palavras para escrever algo grande.
- Mas, querido, você nunca foi desses.
- Eu sei.
- Estas tentando se enganar novamente?
- Sempre me pego fazendo isso.
- E o que ganhas com isso?
- Dependendo de minhas respostas, as pessoas me fazem menos perguntas.
- Tens amado alguém?
- Talvez.
- Ainda se lembra o que é amar alguém?
- Talvez.
- E o que é amar alguém?
- Uma névoa passageira pela madrugada que nos entrega uma coberta quente de saudade logo que ela vai embora.
- Acreditas mesmo nisso?
- Talvez.
- Ah, querido, a vida não é feita de "Talvez". Precisamos ter certezas absolutas do que queremos e como queremos e onde queremos e quem queremos.
- Acreditas mesmo nisso?
- Acredito.
- Tua vida deve estar sendo tão chata quanto a minha, meu bem.

Amor. Te trago. Te apago. Te puxo. Me estrago. Não me entrego. Não te quero. Não te venero. Não te espero. Amor amargo. Esculhambado. Batido. Surrado. Esquecido. E perdido. E eu não te quero. Não te acalmo. Não te peço. Não te imploro. E isso é triste. E eu escrevo palavras na esperança de que eu acredite em todas elas. Amor. Não preciso de ti. Te esqueci de te sentir. E isso me atrapalha. E eu me sinto sufocado. Perdido. Esquecido. Amargo. Esculhambado. Batido. Surrado. E poeta. Poetas sabem escrever sobre o amor, mas isso é contraditório, porque poetas são os que mais sentem e sofrem e mentem. Escrevi algumas palavras tristes sobre o amor na esperança de que eu não saia do meu ritmo e te mostre que eu ainda sei manter a tonalidade de todas as minhas cartas. Mas eu te pedi para ficar e você foi embora. Te abri a porta de minha casa e você nem quis entrar. Te puxei para os meus braços e você me empurrou para longe. Te pedi um beijo e você disse que agora não dava. Te pedi para ser o meu tempo num todo completo de um tempo perdido por completo e você disse que não tinha tempo. Te deixei partir. Não me esforcei. Nem te implorei. Jamais faria isso. Amores sentidos de verdade jamais nos dão trabalho. A gente não implora. A gente não grita. A gente não esperneia. A gente não luta. Amores simples e calmos vieram para serem sentidos e agarrados com todas as nossas forças, o amor quando entra dentro de nosso peito não tem que ser esperado por toda uma eternidade para que possamos sentir, de alguma maneira, o menor que seja. Amores não vieram para serem batalhados. Não estamos numa zona de guerra. E nem quero ser esse tipo de soldado. Amores não foram feitos para que corramos atrás, o tempo todo, todo tempo, mas, se eu tiver que correr, que seja para te perguntar onde foi que deixei meu último poema de amor inacabado para te entregar num amanhecer de domingo qualquer e fazer você sorrir antes mesmo do café.

Termino essas palavras com lágrimas em meus olhos para te dizer que eu te puxei para mais perto ao escrever tais palavras que foram feitas única e exclusivamente para ti. E o que tu irá fazer? Me tirar ou me atirar?

- Quer uma cerveja?
- Não posso beber, querida.
- Você me dizendo isso, seu cretino? Qual a piada da vez?
- Estou tomando medicamentos e não posso beber por alguns dias.
- Já vi que irás surtar, não aguenta ficar um dia sequer sem escrever.
- Posso escrever sóbrio, meu bem.
- Tuas cartas ficam uma merda quando estas sóbrio, querido. Ainda mais sóbrio, amando e com a saudade apertando em teu peito a ponto de sentir essa ansiedade absurda que te deixa com falta de ar e sem saber para onde andar, seu poeta bêbado e escroto - e ela caiu em risos.
- Meu bem, veja bem, eu escrevi esta carta e eu estava completamente sóbrio. Não estava com uma gota sequer de álcool na boca. Veja o que achas!
- Passe para cá.

Colocou o cigarro na boca. Deu mais um gole em tua cerveja. Pegou a carta. E começou:

"Se acalma. Me acalma. Respira. Me tira..."

 Encostei a cabeça no sofá e esperei teu julgamento. Mas não tem importância.

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