segunda-feira, 16 de setembro de 2019

O sonho que te traz para perto é o mesmo que te cospe para longe

Resultado de imagem para luna buschinelli


Sonho. Disfarçado. Transmutado. Apagado.
É o sonho amaldiçoado. Condenado. Sabotado.
Que me fez acordar sufocado. Suado. Indesejado. E aprisionado.
E eu lembrei que não te esqueci. E lembrei em como te perdi. E lembrei do que sinto por ti.
E isso me levou para muito mais longe de ti.
E eu me perdi.
Ao lembrar que em algum lugar eu consigo te encontrar.
E escrever sobre ti minhas melhores poesias.
Que mostram sempre o meu pior sobre ti.
E eu gostaria de lembrar que te esqueci, mas apenas lembro que não sou feliz desde o dia em que partiu.
E me disse adeus.
E eu gostaria de te ligar para saber como andam as coisas?!
Gostaria de perguntar se o teu sorriso tem sido tão falso quanto o meu, dia após dias?!
E gostaria de saber se sempre finges amar outras pessoas como um dia me amou?!
Porque eu faço isso.
E eu gostaria de tentar entender onde estão tua poesias que um dia pensou em escrever.
Tentar entender o que foi que me deixou tão distante de ti.
E tentar lembrar onde foi que tuas mãos se afastaram das minhas e transformaram essa vida num piloto automático em que nada e tudo faz sentido.
E eu gostaria mesmo de saber como tens entregado o teu melhor sorriso, meu bem.
Gostaria de saber se sentes tanto minha falta como sinto a tua ou se apenas sou um quadro abstrato no teu livro de uma linha só que não mais contém o meu nome.
E gostaria de saber se tens superado os teus vícios depois que parti de tua vida. E gostaria de saber se tens fumado mais, bebido mais, se cuidado menos e amado menos ainda.
E gostaria também de tentar entender onde foi que a gente se perdeu e como nos perdemos. E que todas as cartas que eu escrevo todas as pessoas pensam em um único e exclusivo nome, o teu, mas geralmente eu só escrevo, meu bem, só cuspo tudo para fora na esperança de que aches algum poema meu e me diga que eu devo me cuidar tanto quanto tu deves estar se cuidando.
E me lembrar que minhas cartas nunca fizeram tanto sentido para ninguém. E gostaria de ouvir tua voz me dizendo que tudo que eu escrevo ninguém se importa, e os que se importam apenas acham uma coisa, quando na verdade, de fato, é o oposto de tudo que estou sentindo.
E eu gostaria, meu bem, de te enxergar em minha porta, abrindo a geladeira, pegando uma cerveja para mim e me dizendo que sentiu falta dos meus lábios com gosto de cerveja tocando os seus.
E dizendo que sentiu falta da minha pessoa tanto quanto sentiste falta de meus poemas que nada tem para dizer.
E eu gostaria, querida, de saber quais são suas canções preferidas hoje em dia. Teus restaurantes prediletos. E onde enterra teus domingos sem minha voz cansada te dizendo que não quer ir embora do teu lar.
E eu gostaria de te aceitar longe, mas tão longe de mim como se encontra nesse exato momento, mas a voz que me pede para não desistir da vida desde que partiu, é a mesma voz que me pede para ter paciência de encontrar um novo amor, porque o seu tu já não é capaz de me dar. Não da forma que eu sempre quis.
E eu gostaria de apenas olhar o teu jeitinho de ser pela janela da sala e te ver indo embora pela selva de pedra como a pessoa perfeita que és para esse mundo imperfeito.
E desde que se foi, a selva de pedra tens sido tão cinza quanto todos os prédios que insisto em ver todas as manhãs.
Mas isso teu sorriso e jeitinho de ser colorem as esquinas em que não passo mais na esperança de nunca mais te encontrar.
E meu coração estremece ao lembrar que posso dar de caras com você mais uma vez. Outra vez.
Outra vez mais.

- Meu bem, mal começou a semana e você já está bêbado?
- Não estou bêbado, meu bem. É apenas para matar o calor.
- E o tempo.
- E o tempo. Sim. O tempo. Tempo que nunca passa. Tempo que me estupra. E não me liberta. E quando eu acho que passou tempo suficiente, vejo que nunca é suficiente. E isso me intriga. Me mata. E eu sinto vontade de perder todo o tempo do mundo com qualquer besteira para apenas me lembrar porque estou vivo, e perder tempo é uma besteira, meu bem. Porque o mundo apenas me mostra que tudo mudou, que minha vida mudou e que meus amores sempre irão embora, mas o mundo continua.
- O que queres dizer, querido?
- Quero dizer que se eu fizesse a merda de acabar com a minha vida agora, neste exato momento, bebendo esta cerveja, amanhã o mundo lá fora continuaria o mesmo. O carteiro estaria em greve. Os banqueiros estariam indo para seus bancos. Os barbeiros para suas barbearias. Os músicos para seus estúdios. Os ônibus continuariam suas viagens, os aviões, os navios, os carros, as motos. Os bares estariam abrindo suas portas, as lojas de roupas, os shoppings, os botecos, os puteiros, as bocas de fumo. Tudo. Tudo estaria em seu devido lugar, sendo sempre o que foi. E eu estaria morto, e ninguém sentiria falta.
- Eu sentiria falta.
- Por um breve tempo. Depois me tornaria uma lembrança.
- Você não sabe o que diz, meu bem.
- Você lembraria de mim vez ou outra. Mas a morte é como o amor, meu bem. A gente se entrega, se apaixona. A gente se ama. E se torna tudo na vida de alguém. Mas o tempo passa e tudo acaba. A paixão acaba. O amor se apaga. E a gente parte da vida um do outro como se nunca tivéssemos nos conhecido. E a cada dia que passa o amor se apaga cada vez mais. E um dia, quando percebes, somos apenas estranhos que passaram na vida um do outro em algum momento. Viramos estranhos. Porque a morte seria diferente?
- Na morte a gente não se encontra por ai.
- Isso você tem razão. É o que faz da morte algo muito mais fácil do que um amor inacabado.
- Queres outra cerveja, meu bem?
- Sim, quero. E aumente o som, por gentileza, esse blues de Luther Allison é perfeito.
- Bad News is Coming, não é?!
- Exatamente, perfeita canção para uma segunda-feira quente.

Com os olhos fechados, ouvi o canto dos pássaros e o sol batendo pelas frestas da janela.
Acordei. Me peguei em teu quarto.
Olhei para os lados. Você não estava aqui.
Ouvi o silêncio da casa. Percebi que não tinha ninguém.
Levantei. De samba canção e a barba bagunçada.
Lembrei que precisava cortar os cabelos.
Fui até a cozinha para ver se tinha café. Não tinha.
Abri a geladeira. Peguei um suco de laranja amanhecido que estava lá.
Abri o armário. Peguei um copo. Coloquei o suco no copo.
Ainda ouvindo som dos pássaros, tomei o suco.
Vendo tudo que sempre enxerguei direto da sua sacada.
E sorri. E há muito tempo não sorria desta forma.
E meu coração respirou.
Te mandei mensagem perguntando se iria demorar. Você logo respondeu que estaria indo para casa.
Meu coração acelerou. Meus olhos se encheram de lágrimas. De felicidade.
Fui para o banheiro tomar um banho.
Eu não iria trabalhar naquele dia e o resto do dia seria nosso.
Tomei um banho. Me arrumei. Me perfumei. Preparei o teu café.
Te esperei.
Liguei a TV. Me deitei em seu sofá.
E te esperei.
Com o peito vibrando de ansiedade para te ver.
Ouvi o barulho da porta. O seu molho de chaves. Você abriu a porta. Entrou. Trancou a porta.
E sorriu.
O sorriso mais maravilho de todo o mundo.
E eu surtei, por dentro. E meus olhos se encheram de lágrimas. E eu sabia porque estava te esperando.
Te abracei. Te beijei. Te disse que tinha feito o café.
Você disse que eu estava lindo naquele samba canção com flores ridículas estampadas.
Sorrimos.
Te observei tomando café e me dizendo como tinha sido sua manhã agitada. Senti falta da sua voz. E do seu cheiro de quem acabou de chegar da cidade grande.
Você disse que queria tomar um banho. Foste para o banheiro. E antes de entrar, olhou para trás, sorriu e disse para eu te esperar.
Sorri.
E te esperei.
Na sua cama.
Tu saíste do banho. Com sua melhor camisola. Me viu em sua cama e sorriu.
Veio até mim. Sorriu, mais uma vez.
Te puxei pela cintura. Você deitou em cima de mim. E me beijou.
Me beijou e esquecemos do mundo lá fora.
E eu chorei. E para ti sorri.
E você me perguntou o que eu tinha.
E eu te disse "Você precisa saber que eu pensei em você todos os dias da minha vida desde que te conheci".
E você chorou e deixou a tua gota mais forte cair sob meu rosto.

Acordei. Suado. Sufocado. Atordoado. Chorando.
E eu pedi. E chorei. E implorei. E surtei.
Não.
NÃO!!!
Era apenas um sonho.
E eu não queria acordar.
Por lembrar o motivo do meu sorriso estar sempre apagado.
E lembrar o quanto finjo estar bem.
Por fingir que todos os meus poemas são só poemas.
Mas é muito mais que isso.
É um pedido de socorro.
E um pedido para que volte e me lembre que eu ainda sei amar.

- Qual foi a vez que esteve verdadeiramente feliz?
- Sei bem a resposta, só não quero te escrever.

Nenhum comentário:

Postar um comentário