quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Consegues me ouvir, querida?!

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Te pedi um momento. Você me deu segundos.
Te pedi cigarros. Você me deu cinzas.
Te pedi cerveja. Você me deu latas vazias.
Te pedi poemas. Você me deu clichês.
Te pedi saudade. Você me deu descaso.
Te pedi amor. Você me deu desprezo.
Te pedi abraços. Você fez questão de me mostrar seus braços abaixados.
Te pedi desejos. Você me deu a falta deles.
Te pedi para não ir embora. Você me fez te mostrar a saída.
Te pedi para ter calma. Você me disse que a calma já havia se esgotado.
Te pedi. Te pedi. Te pedi.
Você não tinha nada para me entregar.
Flores mortas!

E eu estou perdendo o meu momento. Fumando todos esses cigarros. Bebendo todas essas cervejas. E escrevendo todos esses poemas que ninguém nunca irá ler. E a minha visão está sempre ficando embaçada quando penso em escrever alguma coisa, ainda mais quando é algo sobre ti. E eu já não sei mais o que escrever. E eu já não sei mais como escrever. E isso tem se tornado algo derradeiro. E eu sinto saudade. Sinto falta. Sinto tua falta. Te queria aqui comigo. Mas sinto que meu amor não é o suficiente para teu amor. E o que eu queria mais era os teus abraços me pedindo para ficar e me dizendo que tudo não passa de um pesadelo. E eu gostaria que fosse um pesadelo. E eu morro de desejos de que não se vá. Não dessa forma. Não sem antes me pedir para ter calma o suficiente para não te esquecer jamais. E que me lembre todos os dias que eu não fui e nunca serei capaz de te esquecer tal como já desejei. E você é irreparável como todas as flores mortas no jardim de minha casa sem nada a me entregar.

- Acredito que estou perdendo a fé na humanidade, meu bem.
- E você já teve fé nessa porra de humanidade, caralho?
- Um dia eu tive.
- Ah, conta outra. Você é a pessoa que menos tem esperança na humanidade. Você nada diz, mas está em seus olhos. Você é essa pessoa triste e melancólica porque já não acredita em mais nada e mais ninguém.
- Ah, querida, vez ou outra a gente tem que tentar.
- Tentar o que, caralho? Você nunca acreditou na humanidade. Mal acredita em si mesmo.
- Eu acredito em mim, querida, senão mal escreveria.
- É, tu tens escrito bastante ultimamente. O que tens acontecido?
- Não sei, meu bem, existe uma voz pertinente que fala ao meu ouvido todas as noites e não me deixa dormir.
- E o que essa voz te diz?
- Para eu acreditar mais na humanidade.
- E isso te tira o sono, caralho?
- Claro que me tira o sono, porra. A maior ignorância que alguém pode cometer é no ato de acreditar e confiar em outro ser humano.
- Mas...e o amor?
- Lá vem você com essas merdas. O que tem o amor, caralho?
- Você não acredita mais nele?
- Acredito. Todos os dias. Senão já teria me mandado desse mundo.
- Então você acredita em alguma coisa.
- Somos obrigados a acreditar. A sociedade de entope todos os dias com merdas e mais merdas e somos forçados a acreditar em alguma coisa. O amor é uma delas. O amor é um pássaro preso em nossos corações pronto para ser libertado, mas a gente nunca liberta.
- Uma hora ele escapa.
- E ele não sabe conviver com o mundo lá fora e acaba morrendo. Morrendo de fome. De sede. De tédio. De perda. Ou alguém simplesmente atira em teu coração e ele cai do céu como se nada mais em sua volta existisse, mas está tudo lá, o amor uma hora morre e o mundo continua sendo o mesmo.
- E depois?
- Depois a gente se entope de cerveja e cigarros e poemas e blues e não quer mais saber de nada.
- E se transforma nesse velho chato e ranzinza, escritor de meia tigela que você se transformou.
- Exato. Você está sempre certa, querida.
- Tens dormido, meu bem?
- Nada bem.
- Tens comido, meu bem?
- Quando lembro.
- Tens se cuidado, meu bem.
- Quando lembro, nada bem.
- Tens se sentido para baixo, meu bem?
- Todos os dias.
- E ansiedade?
- Companheira.
- E depressão?
- Sempre me levando para o mesmo abismo.
- E suicídio?
- Tentando não pensar.
- E o amor, meu bem?
- O amor é um companheiro que tento não me lembrar dele pois me leva sempre para o mesmo esconderijo da alma.
- Você precisa se cuidar mais, caralho.
- Você está sempre certa, querida.
- Para de encher a cara, seu velho escroto.
- Sempre certa, querida. Sempre.

Te pedi rascunhos. Você me deu poesias.
Te pedi conselhos. Você me deu listas.
Te pedi cigarros. Você me deu maços.
Te pedi abraços. Você me deu todos.
Te pedi cerveja. Você me deu fardos.
Te pedi carinho. Você me acalmou.
Te pedi flores. Você comprou todas as que podia, regou e cuidou de todas elas.
Te pedi para me ler. Você me decifrou.
Te pedi para não me perder. Você me encontrou.
Te pedi para me ouvir. Você fez uma música.
Te pedi para me sentir. Você me embrulhou dentro de ti.
Te pedi para ser. Você foi muito mais.
Te pedi perfeição. Você sorriu.
Te pedi nobreza. Você sorriu.
Te pedi felicidade. Você sorriu.
Te pedi amor. Você sorriu.
Pegou o telefone. Discou meu número. Me ligou

Eu atendi.
Tremendo, pois tenho pavor de telefones.

- Alô!
- Alô?
- O que é o amor para você?
- É a porra de um sorriso que não sai nunca da minha cabeça, caralho!

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