quarta-feira, 27 de março de 2019

E nesta colisão de sentimentos, percebi - entre gritos de socorro - que o acidente grave sou eu!

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Sentado em minha poltrona surrada, assistindo o nada da TV, comecei:
- Querida, eu já te disse o quanto esse meu coração é miserável?
- Todas as noites, meu bem.
- Mas, querida, eu já disse que odeio ele?
- Sim, meu bem, todas as noites.
- Querida, eu já disse o quanto odeio o amor?
- Sim, meu bem, bastante vezes.
- Mas, querida, qual o sentido dessa merda toda?
- Você me pergunta isso todas as noites, meu bem.
- E, querida, porque não sabes o que me dizer?
- Você tem que descobrir sozinho o motivo de todas as tuas falhas, meu bem.
- Eu sei, mas, querida, minhas falhas têm sido amar.
- Mas são essas falhas que lhe trazem cartas muito boas, meu bem.
- Mas, querida, ninguém lê essa merda toda.
- Eu leio, meu bem, eu leio. Quer mais uma cerveja? Estou te sentindo angustiado, meu bem, meu bem.
- Essa merda toda se resume em amar demais, ser largado alguma hora, sofrer demais, escrever demais e beber demais, demais e demais. A humanidade sempre deixando tudo por demais e demais e demais, querida. Meu coração existe sempre o demais e demais E DEMAIS, querida, querida.
- Se acalme, meu bem. Se acalme! O amor é só uma falha que tu não consegues evitar.
- Não, querida, eu sou a falha que as pessoas não conseguem evitar. Eu sou o acidente grave infestado de sentimentos absurdos num coração que mal cabe a si próprio. Eu sou a colisão mais fatal que alguém poderia ter neste exato momento.
- E quem é louco de dar de cara contigo, meu bem? Não passa de um bêbado solitário que pensa por demais e escreve por demais e bebe por demais, e todo mundo acha super incrível isso, quando, na verdade, tu não passa de meras cartas tristes sem nada a dizer na esperança de que te ouçam gritar de alguma maneira certeira ao coração de quem é capaz de ler tais palavras.
- Querida, eu já te disse o quanto odeio este filme. Já sei o final. O mocinho morre de tristeza por conta de sua amada. É trágico, trágico. Ele ama demais e toma veneno porque ela não sabe amar demais.
- Trágico, meu bem. Clichê trágico e patético. Trágico. Trágico.

Não ouse, querida. Não ouse me amar da maneira que sou. Não ouse experimentar o que tenho de melhor para te entregar. Não, não ouse. Não ouse sentir o que ouso sentir aqui dentro deste coração tão perdido quanto o seu. Não ouse navegar neste mar de sentimentos e se afogar no que ouso te sufocar. Não quero ter que te sufocar com todos os sentimentos aqui dentro cabíveis por você. Não, não quero, querida. Não quero que se fruste com minhas cantadas baratas e sorrisos sinceros. Não quero que se entregue para mim da forma como sempre planejei que se entregasse. Não ouse, querida, não ouse me ter em teus braços na esperança existente de que podes me largar no momento que quiseres, mas, se fores capaz de pensar assim, que me largue logo, querida. Me tira de teus braços e tuas mãos antes que sejas tarde demais para um coração tão perdido como todas as falhas existentes no mundo. E eu sou uma dessas falhas existentes no mundo. E mesmo assim tu diz me amar. E mesmo assim tu diz me achar incrível. E mesmo assim, querida, tu tens a capacidade de ler todas as minhas cartas e acreditar que sou este poeta maravilhoso e genial que eu nunca fui e serei capaz de ser. E, meu bem, meu bem, não ouse acordar ao meu lado numa manhã de domingo logo após uma noite cheia de loucuras e bebedeiras, porque, meu bem, a barba é mais bagunçada que todos os sentimentos contidos dentro de meu coração e o cabelo é tão desarrumado quanto as roupas que usei na noite anterior. E os poemas ficam pelos cantos do meu quarto na esperança de que encontrem algo definitivamente bom que possa me tirar daqui. Ah, minha querida, minha amada querida que tanto penso dia após dia e noite após noite, não ouse entrar neste navio de sentimentos, não ouse, querida, não ouse. Não ouse deixar que eu te afunde junto comigo, a última coisa que eu gostaria era de te enxergar na imensidão do oceano, afogada sem um fim pacífico. E olha, querida, a brincadeira com palavras que eu consigo exercitar ao lembrar de ti. E eu sinto, meu bem, que eu consigo escrever qualquer coisa quando eu penso apenas em teu nome, e isso é perigoso demais, porque é complicado demais e vivido demais e sentido demais e existente demais. E eu gostaria de te tirar de dentro de mim da mesma forma que você ousa me sentir dentro de ti, por mais que eu saiba que eu não passe de um passatempo dos mais sem graça em tua vida que muito têm para ser vivida. Querida, querida, não ouse me amar da maneira que pensas. Não ouse sentir qualquer coisa por mim. Não deixe teu peito bater mais forte do que o normal ao lembrar de meu nome. E se isso acontecer, fuja, fuja para bem longe, fuja para onde eu não consiga nunca mais te encontrar. Fuja para qualquer canto dos quatro ventos onde minha bussola não seja capaz de cair de encontro a ti, porque, meu bem, é perigoso me amar. É perigoso qualquer tipo de sentimento que bata dentro de ti sobre mim que não seja indiferença. Não ouse, meu bem, não ouse me ligar para ouvir minha voz cansada. Não ouse me mandar cartas na esperança de que responda todos os teus desejos. Não ouse, minha linda, não ouse vir me buscar para me salvar de qualquer coisa que pensas que estarei me afundando de encontro com a escuridão. Não ouse vir me procurar no cais dos sentimentos enquanto escrevo qualquer porcaria de poema que tu nunca irás ler. Não ouse lembrar de mim ao ouvir uma música romântica ou assistir um filme de clichê romântico. Não ouse sonhar com um futuro onde teu sorriso é o motivo dos meus sorrisos. Não ouse acreditar num futuro onde todos os meus poemas mais bonitos e clichês e nada melancólicos são feitos pela tua existência ao meu lado que muito têm para me entregar e me salvar e me tirar do fundo do abismo mais profundo que fui capaz de me enfiar a partir do momento em que meu último amor me matou da pior forma possível.

Mas, meu bem, queres desafiar a vida e a morte e os amores e romances e o futuro? Me ame. Me ame como quero que me ames. Lembre de mim sempre que acordar. Não me esqueça sempre que for dormir. E pense em mim. E me sinta. E me tenha dentro de ti até que teu peito exploda de saudades e eu vá te buscar para passar mais uma noite ao teu lado. E jamais largue minha mão e, se tiver que largar, que seja apenas para me abraçar e sussurrar em meu ouvido que jamais sairá do meu lado. E me ame. Me ame como se não existisse o amanhã. Me aperte. Me beije. Me tenha. E deixe que eu seja teu até que teu peito enjoe de mim. E, meu bem, se ele nunca for capaz de enjoar, me deixe do teu lado sempre que puder. E beba todas as minhas cervejas. E fume todos os meus tragos. E ouça todas as minhas músicas. E assista todos os meus filmes. E leia todos os meu poemas. E me ame. Me ame quando os teus dias parecerem em vão. Me ame quando estiver feliz o suficiente para compartilhar teus momentos comigo. E me abrace quando não tiveres mais nada para falar ou botar para fora. Se entregue. E use minhas roupas. Meus lençóis. Meus livros. Meus sentimentos. Use tudo que puder. Me use. Use da maneira que desejar. Como desejar. E não me esqueças. Não enquanto não enjoas de mim. E não quero que enjoe, mas, se enjoar, saberei que usou meu cais de sentimentos da maneira mais surpreendente que alguém foi capaz de usar. E, se me jogou fora, como todas as outras vezes me jogaram, sei que tu virará os mais belos poemas que alguns gatos pingados lerão pelo mundo afora. Use meus defeitos. Minhas qualidades. Minhas teorias. Minha vida. Meu coração. Minha alma. E saiba que tudo que eu puder compartilhar com você, serei capaz de te entregar com um sorriso no rosto, mesmo que eu saiba o fim de tudo isso, mas sempre estarei com um sorriso no nele e uma lágrima contida por saber que tu se transformará nos meus melhores poemas que nunca fui capaz de escrever antes.

E eu te amo por isso!

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