terça-feira, 12 de março de 2019

Me consumiu sem pensar no estrago. Logo eu, droga barata!

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E eu tenho um quarto bagunçado e algumas contas para pagar. Tenho garrafas e tampas de cervejas espalhadas por todo o cômodo e alguns aromas para disfarçarem o doce perfume de depressão contido nele. Tenho também algumas bitucas dos meus tragos em algumas latas por cantos quaisquer e algumas cartas de amor amassadas por outros. E mesmo assim tu quis me consumir. Tenho minhas loucuras impregnadas em minha mente como demônios que tentam em todo momento me colocar para baixo e sussurram aos meus ouvidos que eu não deveria abrir as portas para o amor. Tenho também meu cachorro que se perde por toda a bagunça contida dentro dele e prefere ficar na sacada para não sentir o cheiro forte da fumaça exalada pelos meus pulmões. E até ele me olha com desdem quando começo a escrever minhas cartas. Tenho sons de blues ecoando pelos quatro cantos escuros do quarto e alguns que fogem pelas frestas de minha porta já antiga e janelas de madeira que muito tem a dizer sobre mim. E tu ainda sim quis me consumir. Tenho também minhas tristezas espalhadas pelo chão. Minhas ansiedades e medos encrostados nas paredes. Os quadros com caricaturas contidas de um tempo em que tudo era perfeito, caçoam em silêncio de minhas ternuras incompatíveis a qualquer pessoa que possa, de fato, ter a ousadia em deixar o peito bater mais forte ao lembrar de meu nome. Meus tênis estão amontoados num canto perto do banheiro, assim como meu coração que já nem sabe como é bater forte por conta de meus romances tão amontoados quanto. E tu quis mesmo me consumir. Minha tv passa tudo quanto é tipo de inutilidade que não me lembre que sou capaz de ter um sentimento de amor e paixão dentro de mim. Filmes românticos são mudados imediatamente. Canções de amor são afastadas dos meus ouvidos. E dentro deste cômodo existe apenas uma regra "Não fale ou ouça ou escreva ou sinta o amor". Apenas. E eu acordo amedrontado em todos os domingos, peito apertado, janelas fechadas. Medos e anseios. Esquecimentos. O eu esquecido enfurnado dentro de um universo criado por mim e para mim e nada mais. E tu ainda quis me consumir. Meus livros estão nas prateleiras. Dizem muito sobre mim. Mas escondi todos que eu sei serem capazes de falarem sobre o amor. Minhas revistas nem as folheio mais, algumas delas devem conter algo sobre romances. E eu sei que existe. E minha barba? Amanhece tão bagunçada quanto minha mente solitária que não tem a menor vontade de sair de dentro de onde acordei. Meu casulo. Minhas tristezas. Meus momentos. Meu mundo. Meu esquecimento. E lembrando que posso esquecer do amor, lembrei que posso te esquecer. E é muito mais fácil eu lembrar de esquecimentos do que lembrar que preciso te esquecer. E é muito mais fácil eu fingir esquecer do que de fato esquecer tudo que sinto e tudo que já és para mim. E meu cômodo já conteve amor. Já existiu amor. Agora são só estilhaços de um coração totalmente quebrado que já nem faço questão de juntar os cacos. E sei que tu não estará, jamais, aqui para tentar junta-los. Nem sei se queres. Mas sei que me consomes. E eu te avisei sobre os riscos. E mesmo assim decidiu me consumir. Pobre alma barata perdida escondida dentro de um mundo criado por ele mesmo na esperança de fugir, diariamente, de amores e sentimentos que sei que sou muito do capaz de sentir. E eu já nem vejo mais graça em escrever cartas de amor para quem sei que se recusa a me escutar. E tu diz que sente saudades. Diz que quer me ver agora mesmo. Diz que não consegue ficar longe. E eu ignoro esses diálogos criados em minha mente. Mente tão perturbada quanto um amor inexistente em um mundo onde sete bilhões de pessoas são capazes de terem o teu amor. Amor tão sincero. Tão simples. Tão puro. Amor que eu gostaria. Que eu queria. Que eu pretendia não sentir tanto medo, mas sempre que penso no amor, estremeço até o último fio de argumentos demonstrativos de um corpo em perfeito estado de insanidade que aqui vos escreve. Que cretino! E mesmo assim, querida, tu ainda quis me consumir. E eu avisei. Deixei todos os sinais bem claro. E ainda os deixo. E te mando mensagens. Em minha mente. Na esperança de que me ouça. Na esperança de que vá embora dessa bagunça que é o meu quarto. Não quero te prender dentro dele e te amar como se fosse a última noite de nossas vidas. E sempre que penso em você estando dentro dele, fujo, fujo para bem longe, porque sei que a vontade de te pedir para vir e ficar é maior que o medo contido dentro desse peito afugentado pelo destino de amores que eu nunca quis fazer parte. E você ainda quis me consumir. Que porra, eu te avisei sobre os riscos. Porque sempre tão teimosa? Porque sempre tão carente? Porque sempre tão perdida na esperança de que encontres algo em mim? E esse teu coração pulsa de que jeito ao lembrar do meu nome? E ele pulsa de que jeito quando sabes que sou capaz de te esquecer de tal forma que não signifique absolutamente nada para mim dentro desse meu universo que gostaria que fizesse parte? E essa minha bipolaridade de te querer demais, todos os dias, todas as noites, todos os momentos e não querer te ver nunca mais na minha frente, como se sentes com ela? E eu pedi para não me consumir. E você consumiu. E sei que, de certa forma, se arrepende. Se arrepende de não deixar eu pedir para ficar. Para não ir embora. E eu quero que vás embora, mas não para tão longe de mim. Perto o suficiente para que eu volte atrás e te peça para cuidar de mim, mas não me consuma, só me cuida. Longe o bastante para que eu lembre que sou capaz de esquecer o teu olhar tão faminto de desejos e tentações. Esse olhar que me assassinou no primeiro instante em que pus os meus olhos a ele. Eu esqueci de batizar essa morfina de amores com teu nome na esperança de que não me ouças nunca mais. E eu não uso mais essa droga que batizei com teu nome. Só algumas vezes. Vez ou outra. Noites perdidas. Momentos perdidos. Em que choro. Em que lembro. Em que quero voltar a esquecer. E esse amor é muito maior do que tudo aquilo que posso consumir. E meus tragos e cervejas e insônias e blues são mais do que o suficiente para eu ser feliz o bastante sem o calor de teus braços. E mesmo assim, você me consumiu.

E me consome. Consome minha alma. Meu espírito. Meu corpo. Minha calma. Meu amor. Meu romance. Minha paz. Consome minha raiva. Meu ódio. Meu desdem pelo mundo. Minha insônia. Minha depressão. Minha ansiedade. Consome todas as minhas palavras. As cospe de volta para dentro de mim. Cospe tanto que sinto essa vontade absurda de nunca mais parar de escrever, para que assim, consiga te esquecer de uma vez por todas, caralho! Teu lugar no quarto está vazio. Nunca mais será preenchido por ninguém. Nem quero que seja. Nem faço questão. Sinto saudades, mas não falta. E quando sinto falta, sinto de mim. Não de você. E você me consome. Me consome mesmo estando com a barba toda bagunçada e o cabelo desarrumado e o coração partido. Me consome quando estou fraco. E tu és minha fraqueza. E me consome, logo eu, droga barata comprada em qualquer esquina ou em qualquer bar. Sou tua droga que tu consome a hora que quer e depois me joga fora como se não fosse absolutamente nada. E quando a abstinência lhe bate o peito? És o momento de mandar mensagem para o teu traficante enfraquecido conhecido pelo meu próprio nome. E o mais engraçado, é que tu me pegas logo em momentos que não sei para onde ir. Quando estou perdido. E aflito. E ansioso. E triste. E sem esperanças que eu volte a encontrar um amor que me faça verdadeiramente bem. Quando estou com a corda em meu pescoço, tu lembras de minha existência e me clama para ti. Quando estou pronto para engolir todos os meus comprimidos com doses elevadas de uma bebida qualquer, teu peito pulsa de encontro ao meu. E me consomes. Como bem entende. Como bem quer. E eu, de mãos atadas, permito. Só queria que o amor não batesse em minha porta e me obrigasse a escrever cartas entediantes e chatas e nada empolgantes sobre o amor, porque é assim que eles me enxergam, como o poeta que sofre demais por amor e não sabe nem o que quer dele. E, ah, quer saber, que se fodam?!

- Mas sabe qual meu maior vício, que me faz até mal se eu ficar sem?
- Álcool?
- Você!
- Sou a pior droga para ser usada.
- Para mim é a melhor, gostaria de usar todos os dias.
- Sou um estrago!
- É a minha cura.

E o amor bateu em minha porta. Atendi para dizer: PUTA QUE PARIU, SEU FILHO DA PUTA!

*

"Não pense que te culpo se só penso em ti
Faça o que quiser agora
Mas não me deixe de fora dos planos

Porque você não me espera lá fora?
Enquanto eu arrumo a casa mais uma vez
Pra você desarrumar
Se o que você quer eu tenho nas mãos

Não viva assim, pensando que é maior que eu
Se o que sente é menor
As terças hão de se inverter"

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