quarta-feira, 6 de março de 2019

E eles disseram que ela é uma música triste sem nada para me dizer. O pior é que amo blues!

Imagem relacionada

- O que você faz antes de escrever?
- Fico sozinho.
- E o que te leva a escrever?
- Me sentir sozinho.
Silêncio. Dei um gole na cerveja.
- Mas...
- ..."mas você escreve tanto"?
- ...sim. - respondeu baixinho com a voz engasgada.
- Exato. É ai que está todo sentido da coisa.

E eu queria flutuar por este meu jardim sem um peso em minhas costas. Navegar em águas desconhecidas sem essa tristeza em meu coração. Queria sonhar dentro do sono dos justos de todas as pessoas que exibem seus sonhos mais fantásticos num mundo onde tudo é surreal. E eu vejo todas aquelas pessoas me contando sobre sonhos extraordinários e incrivelmente alucinantes e eu penso "Não consigo sonhar, não mais". E eu queria não ter que passar por balcões de bares e pedir uma cerveja sabendo que ao final dela escreverei mais uma carta triste sem nada a dizer para pessoas que não dão a mínima para toda essa merda que sou capaz de escrever em apenas alguns minutos. E bebo. E bebo. E escrevo. Escrevo demais. Bebo muito mais. Me embriago. E deito em minha cama com algum blues do mais triste tocando baixinho. E leio Bukowski. E Nietzsche. E Kubrick. E Chaplin. E leio poemas. E leio poesias. E bebo dilemas dentro de uma mente cheia de pensamentos sobre o fascínio alucinante que seria voltar a sonhar. E eu gostaria de apenas conseguir dormir. Dormir de verdade. Não sonhos com intervalos pequenos. Não cochilos que intervalos minúsculos ou noites inteiras acordados sem saber o que fazer ou para onde ir ou para onde sonhar. E vejo meu jardim tão obscuro quanto todos os romances que fui capaz de passar. E eu gostaria de não escrever mais sobre essa merda. E eu gostaria de escrever histórias clichês sobre isso que chamam de sentimentos mútuos por outra pessoa. E existe isso? Existe um sentimento tão profundo quanto o amor ou são só sonhos em nossas mentes carentes de sentimentos e presenças? O amor é como a felicidade? Em poucos momentos. Felicidade não existe, porra! Existem momentos de alegria. O amor é isso? O amor é um Deus? Que ninguém nunca viu ou ouviu ou tocou, mas muitos acreditam. MUITOS! E eu deixei de acreditar em toda essa merda desde que perdi meu amor. Se é que essa merda um dia existiu também!
E eu queria poder sonhar. Queria poder viver sabendo que não teria esse peso em meu coração de que um dia tive meu amor em minhas mãos e deixei ele escorrer por minhas entranhas. Porque eu sei bem que não sou mais capaz de amar. Sei que não sei mais como amar. Me perdi. Não sei onde me encontrar. Estou num sonho de outra pessoa que nem sei quem é flutuando por jardins com romances mortos e navegando por águas que nunca ousei passar antes. E esses são meus poemas. Esses são meus pedidos de socorro. E todos eles continuam não dando a mínima. Acabei de ter uma das piores crises mais absurdas de ansiedade. Meu peito gritou e surtou e pulou para fora de minha boca. E eu perdi o ar. E perdi o fôlego. E perdi as forças. E me perdi. Me perdi dentro de mim mesmo mais perdido que todas as flores perdidas em canteiros que ninguém se importa. Todos passam em frente a esse canteiro, mas ninguém o nota. Ninguém quer saber. São só flores. São só fôlegos. São só ares. São só ansiedades. É só mais uma vida. Vida jogada fora pelo meu amor. E desde que ele se foi, confesso, tudo está o mais belo cemitério de tédios e poemas e flores e paixões onde não sei o lugar exato que devo me encaixar. E todos eles continuam dizendo "Sua carta está muito boa", "Você escreve tão bem", "Triste, mas tão lindo", "Nossa, a pessoa que estiver com você deve ser uma pessoa de sorte de estar com alguém que revela tão bem teus sentimentos". OH CARALHO! Eles não entendem. Nunca irão entender a essência da merda toda. E não por serem idiotas ou ignorantes ou enxergarem só a beleza das coisas, mas...mas...mas porque eles não se importam, porra! Todos fingem se importar, mas se meu peito explodisse, se eu fosse para a mais profunda escuridão de uma vez por todas, sofreriam durante alguns dias, meses, quem sabe um ano. Seria lembrado pelas coisas boas que um dia fiz para as pessoas ou pelas risadas que arranquei delas ou até mesmo pelas cartas e livro que escrevi. Por ser quem eu sempre fui. Por falar todas as coisas do jeito que sempre quis. E por manter as pessoas que me importo sempre aqui comigo. Aqui do meu lado. Mas me esqueceriam. Lembrariam de mim vez ou outra. Sorririam ou socariam um móvel qualquer ou falariam "Ah é, aquele filho de uma bela puta existiu". Nada além disso. Nada mais que isso. Somos poerias estelares feitas para serem esquecidas. E quando tudo acaba, esquecimento se torna nosso segundo nome. E venha tratar isso como um drama ou melancolia qualquer. Não. Não. Não. Não tem absolutamente nada a ver com essa porcaria toda. E sim, com verdades que tanto guardamos dentro de todos nós. Existem verdades cabíveis dentro de nós mesmos que ninguém é capaz de revelar. Mas existem verdades sobre todos nós que o mundo precisa enxergar. E essa é a verdade de todos nós. Não passamos de flores murchas profundamente esquecidas dentro de nós mesmos nesse mundo que é como o nosso jardim. Viramos adubos e uma mancha escura num universo paralelo muito, mas muito distante daqui, cuja escuridão toma conta de todos nós. Apenas.

Já leu minhas cartas? Lembre-se delas quando eu partir.

- Você está bem?
- Sim.
- Bem de verdade?
- Acredito que sim.
- Não estou  te sentindo bem. Toda vez que olho para ti, vejo lágrimas distantes em teus olhares.
- Eu estou bem.
- Mas...toda vez que olho para ti, estas com a cabeça para baixo como de quem quer dizer alguma coisa e não sabe como.
- Por isso eu escrevo.
- Mas ninguém se importa com as coisas que tu escreve.
- Eu sei. Por isso escrevo. Um dia elas irão se importar.
- O que quer dizer?
- As pessoas são assim. Elas sabem que as pessoas passam por problemas. Elas sabem. Eu sei que sabem. E elas não tem a capacidade de perguntar para a outra pessoa se ela precisa de algum tipo de ajuda. Uma conversa. Um abraço. Um silêncio. Um amparo. É triste demais.
- É triste demais. Quer uma cerveja?
- Quero sim.
- É triste demais ser triste demais.
- É triste demais estar triste demais. Esqueci qual foi a última vez que estive verdadeiramente bem.
- Esqueceu mesmo ou finge esquecer?
- Finjo não lembrar.
- Você acha que a gente precisa de um amor para ser feliz? Alguém para compartilhar nossas vidas, tudo que a gente faz. Conquistas, sonhos, cama, cheiros, comida, perfumes, sabores, banhos, romances, livros, músicas, calor, sexo, amor? Acha mesmo que fomos feitos para isso?
- Não sei, meu bem. Mas meu peito arde por saber que escrevi a porcaria de uma carta em 12 minutos e ninguém irá entender porcaria nenhuma do que está escrito nela.
- Elas entenderão, querido. Um dia.
- Aumente o som, querida. Mighty Sam McClain é bom demais para tocar baixinho e essa cerveja está boa demais para conversas fiadas.

"Baby, você me machucou
e eu sei que te machuquei
nós dois prometemos
para sempre ser verdadeiro

Senhor, talvez o amor fluirá
Eu disse quando a mágoa acabar, querida
E toda a dor se for
Talvez eu reaprenda como amar novamente

Quando a mágoa acabar
Querida, quando toda a dor se for"


Nenhum comentário:

Postar um comentário