domingo, 17 de março de 2019

O título não é importante quando se mata o amor com as próprias mãos depois de engolir 5 cervejas (grandes)

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- E como anda esse teu coração?
- Batendo, querida. No mesmo lugar de sempre. Do mesmo modo de sempre.
- Mas, e esse teu olhar?
- O que tem ele?
- Estou te observando há uns dias, vejo ele tão triste. Tão distante.
- Tudo batendo no mesmo lugar de sempre, meu bem.
- E o teu amor, querido?
- O amor, ah, o amor. É essa flor murcha que não faço questão nenhuma de jogar uma gota d'água sequer para ver se ele revive aqui dentro de mim.
- Você consegue deixar até flores com um ar de angústia e solidão. E desespero. E tristeza. Mas com um toque de esperança vazia.
- Esse é o amor. Tragos de esperanças vazias. Porres de goles rasos. O amor é isso, meu amor.
- E a tua saudade? Qual é a tua saudade?
- De mim mesmo.

E eu tenho essa essência desesperadora de arriscar escrever sentimentos cheios de amargura como Bukowski fazia para se libertar de suas loucuras e romances. Tenho essa essência cheia de porres e tragos dentro de um quarto escuro em que apenas ouço o som do ventilador de teto girando sob minha cabeça, na esperança de que ele caia por cima de mim e acabe de uma vez por todas com esses sentimentos que tanto me fazem escrever. E este mesmo quarto, era o quarto em que eu caia de cara com o amor sempre que queria e podia e sentia. E essa é uma de minhas maiores frustrações. A de não ter aprendido amar o suficiente para não deixar ele escorrer pelas minhas mãos como gotas de sangue após um corte profundo. E este corte é na alma. Este corte é no coração. Desta vez, eu mesmo me cortei e costurei com linhas finas que logo serão rompidas por um amparo que não faço questão nenhuma que seja minha salvação. Que ele se rompa. Se rompa de uma vez por todas e me engula de vazios e tristezas, tudo exatamente como tem sido. E que eu sangre. Sangre até morrer, mas, se eu não morrer, que ele me entregue forças o suficiente para escrever tudo que ouso, deliberadamente, sentir aqui dentro. E minha cama continua bagunçada. E vazia. E meu quarto continua bagunçado. E vazio. E cheio de saudade. E cheio de saúde em depressão de demônios que insistem em me visitar noite após noite desde que deixei meu amor ir embora por aquela porta. A mesma porta que insisto em manter fechada dia após dia. E eu tenho esse dom de brincar com as palavras. Noite após noite. E eu enxergo isso por aquela porta. Pelas frestas que insistem em me levar até você ao lembrar do som de tua voz. Voz que eu queria esquecer. Nome que eu queria apagar. Sonhos inúteis de quando me tornei tão fraco em me sustentar através de um amor e deixa-lo ele tomar conta de mim até que me sugasse por inteiro e levasse embora de mim mesmo. E meu olhar se apagou. O coração se frustrou. A mente permanece mais doente. E dia após dia penso e repenso todos os jeitos de esquecer um sentimento que jamais deveria ter existido em nossas vidas. O amor. Mas é o amor que nos salva, não é mesmo? É o amor que combate guerras, desordens, mundos, infinitos, universos, pessoas, tristezas, solidão e fracassos. O amor nos salva. Mas também nos mata. Quando algo consegue te salvar, ele se encontra no direito de te destruir no momento em que ele quiser, e são esses momentos em que você está completamente despreparado para qualquer destruição que se possa ser transpassada para nossas vidas. E esse é o caos. O amor é um caos. E estou dentro dele. Perdido. Sozinho. Angustiado. E bêbado. Quem foi que disse que o amor é algo nobre? Quem foi que inventou essa merda? Quem foi que disse que o amor é o sentimento mais lindo que nós humanos podemos sentir uns pelos outros? Quem foi que deixou essa banalização se tornar algo tão universal a ponto de deixarem essa mentira nos tomar por completo até chegar no ponto em que acreditamos precisar dessa merda para sermos felizes? E felicidade é o complexo de inferioridade que o mundo foi capaz de nos dar. Felicidade e amor são deuses do caos que insistem em nos atormentar desde sempre.

- Seu quarto é uma bagunça, não é?
- Sim, uma bagunça.
- Porque tantas coisas espalhadas pelos cantos?
- Uma bagunça. Nos identificamos com nossos quartos de acordo em como estamos em vida.
- Não entendi.
- Quando você está triste, escuta músicas tristes, certo? Um bom blues ou uma porcaria qualquer. Quando está feliz, escuta músicas felizes. Que te colocam para cima. Que te alegram. Certo?
- De certa forma, sim.
- Músicas já falam por mim sempre que posso. Meu quarto fala por mim agora que posso. Um jogo pelo qual faço parte. Vida bagunçada. Cama bagunçada. Vida vazia. Quarto vazio. E quando digo vazio, não é vida vazia de mentalidade e sentimentos, mas sim de amores. O amor me tornou esse ser vazio pelo qual já nem sinto vontade de fazer parte de um plano qualquer. Coração triste. Cartas de amor espalhadas pelos cantos.
- Meu bem, meu bem, seu amor te fez tão mal.
- Não, meu bem, eu me fiz mal.
- Não te entendo.
- Eu me fiz mal a partir do momento que me entreguei por completo.
- A culpa não é tua, querido.
- Eu sei que não. A culpa nunca é de quem se entrega demais. A culpa é de quem aceita o amor de acordo com tua porcentagem. Se a porcentagem é muito alta e tu se entrega demais, saibas que tem total e completa culpa nisso tudo.
- Você está perdido, meu bem.
- Sim, estou. E por culpa do amor, foda amor, meu amor.
- Um dia o amor te encontra.
- Não quero que me encontre. Não quero deixar de estar perdido. Assim posso ser feliz comigo mesmo. Outra vez.
- O amor sempre nos encontra, meu amor. Ele bate em nossas portas. Debocha. Sorri. Entrega o que existe de melhor.
- E o pior também.
- Exato, mas a gente aceita. E vive isso. E sorri. E vive toda essa porcaria. E acha que aquilo é o que mais importa. Começo de amores é a coisa mais pura que existe. Não saber se irá dar certo. Conhecer um ao outro. Mal saber onde estamos nos metendo. Compartilhar nossas loucuras.
- Que se foda, amor. Que se foda!
- Você está tão para baixo, meu bem.
- Que se foda, amor. Que se foda, caralho!

E eu escrevi tantas cartas na esperança que chegasse até meu amor, e até a melhor delas nem deu em nada. E eu cansei de escrever. Cansei de arriscar. Cansei de botar meus riscos detalhados em palavras que muitas pessoas sentem, mas não são capazes de se expressar de tal forma. Cansei de esperar. Cansei de te esperar. Cansei de me sentir cansado ao deitar a cabeça no travesseiro e sentir o peso que carrego nos ombros. E a mente flerta com minha solidão. E o prazer flerta com minhas más vontades. E minha sanidade flerta com minhas loucuras. E eu digo que estou bem, muito bem, sempre bem, bem, bem. E não estou sendo sincero. Nem com você. Nem com eles. Nem comigo. E eu sinto essa dor, meu bem. Dor de perder. Dor de arriscar. Dor de escrever. Dor de poemas. Dor que vem da alma. Que cai de encontro com meu cais de sentimentos e é totalmente afogado por uma âncora que não suporto o peso para puxa-la para cima. Mesma âncora que afogou meus sentimentos mais sinceros que sempre fui capaz de sentir por um outro alguém. E eu fujo. Sorrio. Me escondo. Debocho. Olho para trás e não sinto absolutamente nada de quando sentia quando acreditava ser feliz. E corro. E desapareço. E minto. Minto muito. Para mim mesmo. E para os outros quando digo que estou bem. Mesmo quando me sinto completamente sozinho e sem ti e sem mim. E sem nós. E sinto falta. E sumo. E choro por dentro, mas sorrio por fora. E enfraqueço. E escuto minhas músicas. E bebo. Bebo muito, meu bem. Até te esquecer. Até entrar em um porre profundo de cervejas e tragos e tristezas e solidão. E continuo fugindo. E correndo. E sofrendo. E sentindo. Tão fundo. Tão profundo. Tão exato. E esse não sou eu, mas continuo. E escrevo. Escrevo muito, meu bem. Muito mesmo, querida, pelo meu bem, bem, bem. E brinco com palavras, sempre na esperança que eu encontre alguma graça nisso tudo. E tudo por causa de sentimentos que nos são entregues de graça. Por graça. E com graça. A graciosidade de todos os nossos sentimentos estão exatamente acumuladas no fundo da alma de um ser lunático que contém a esperança da felicidade eterna. Pobre ser iludido por um mundo em que nos esquecemos de amar. E todos eles dizem sofrer por amor. E dizem amar. E acham que amam, mas ninguém mais se ama. O amor verdadeiro foi destruído por nós mesmos. E se tu não acredita nisso, volte para a primeira linha desta carta, leia tudo de novo e entenda que se não tivéssemos matado algo tão puro há anos e anos atrás, eu não estaria escrevendo tal carta neste exato momento. Logo eu, louco solitário, escritor barato e ruim, bêbado por conta da saudade, louco por conta da insônia, que sempre acreditou em amores e romances e esperou o melhor dele. E hoje já não espero mais nada. O mesmo amor que acreditei ter dentro do peito e sentir de verdade, foi o que me deu o tiro no meio do peito e sorriu maliciosamente enquanto eu agonizava caído no chão. E eu que nunca tive medo de amar, mesmo sem saber lidar com o amor, me encontro chorando em silêncio em momentos de gritos acumulados dentro de um peito tão solitário quanto mendigos de rua esperando uma esmola para conseguir beber um belo porre barato. O amor é esse porre barato que não sou mais capaz de comprar ali no bar da esquina da minha casa. E eu sou o mendigo que nunca sequer pensou em pedir esmolas quando se trata de amor. Prefiro morrer de fome do que mendigar tua atenção. E se tu achas que levantarei minha mão para pedir algo de ti, estas certa. Te peço para se retirar desse coração enfraquecido pelo tempo. Ele bate fraco, muito fraco, bem fraco, mas ele está muito bem, meu bem, muito bem, bem, bem!!!

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