segunda-feira, 11 de março de 2019

Poema ao descaso (eu não sei ficar só)

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E eles falam que eu só escrevo sobre o amor sem ao menos lerem minhas cartas. É estranho. Nem sempre escrevo sobre o amor. Se tu leu minhas cartas e acreditou que todas as minhas palavras giram em torno disso, volte. Eu imploro. Volte. Leia todas. Entenda. Me entenda. Se entendeu que eu estou tão perdido quanto você. Volte! E entenda. Nem tudo é sobre o amor, mas quando escrevo sobre meus romances e coração partido e tudo de ruim que vivi em prol de amores que acreditei ser meu mundo, é quando eu mais preciso de ajuda. É quando penso em desistir. Não amar. Me render. Implorar por socorro. Fugir e suplicar anseios de uma alma que não sabe para onde ir. Estenda-me a mão. Não me sinto bem. Estenda-me teus braços para um abraço que me acolherá e me levará para o melhor caminho que não seja a escuridão. E entenda, entenda de coração, é difícil não escrever sobre algo que eu mesmo assassinei. Consegue me entender?
E eles dizem para eu parar de escrever tanto. Dizem para eu parar de fumar minhas besteiras. Dizem para eu beber menos. E veja só, me pego escrevendo depois de uns tragos e bebendo numa segunda-feira cinza em que não acordei bem. E tudo por conta de um amor. E eles não sabem que passei meses sem conseguir deitar direito em minha cama por conta de um amor. Porque o perfume de um romance ainda estava nela. E eles não sabem que mal conseguia entrar em meu quarto sem derramar uma lágrima sequer por conter partes e estilhaços de um tiro que dei em meu próprio coração. Coração esse que foi destruído e jogado fora por conta do acaso do meu descaso com romances que eu mesmo fracassei em ser forte em aceita-los. E eu me culpo por todas as minhas lágrimas. Me culpo por sentir falta. Me culpo por sentir saudades. Me culpo por não saber amar. Me culpo por ter jogado tudo fora da forma mais absurda possível por não saber lidar com meus próprios sentimentos. Me culpo por ter sido jogado fora. Me culpo por deitar em minha cama e sentir falta de uma companhia que continha um amor sincero. Me culpo. Estupro minha mente e a destruo da pior forma possível dia após dia. E eu não sei amar. Não sei lidar comigo mesmo. E eu quero desistir. E eu já desisti. E é difícil demais levantar a cabeça do travesseiro que tanto foi compartilhado e aceitar que estou só. Sem ti. Sem ninguém. Sem um romance. E eu já não quero isso. Não quero compartilhar minhas loucuras com alguém que pensa me amar. Quero compartilhar minha bipolaridade com quem me aceita como sou e que sabe me amar. Pois eu não sei me amar. Não mais. Se é que um dia soube. E eu penso todos os dias em desistir a partir do momento que abro os olhos e lembro que sinto falta de algo. Algo em mim. Algo em ti. Algo no mundo. E esse amor corrompido por mim é escrito diversas vezes em cartas minhas que contém trajetos e desprezos de um amor estraçalhado por mim mesmo. E eles nunca irão me entender. Isso já entendi. E eles sempre acreditarão e falarão que sou aquele que sofre demais por amor. Que bebe demais por tão pouco. Que sofre demais por um descaso. Que pensa demais em quem não está nem ai para o seu coração enfraquecido pelo tempo. E eles tem total razão. Esse sou eu. Eu sou assim. Sozinho. Solitário. Pensativo. Bêbado por causa da saudade. Triste por causa de amores. E minha depressão toma conta de mim. E ela me apaga por completo de um mundo que eu queria enxergar mais colorido e não consigo. E eu gostaria de escrever mentiras sobre minha vida, mentiras que contém tudo de bom que o mundo supostamente pode me dar. Gostaria de ser como músicos que escrevem canções bonitas e pessoalmente não são nada daquilo. Gostaria de escrever textos e mais textos lindos só para fantasiar uma vida de relações e pensamentos super vangloriados pelo ser humano que sonha com um final feliz. E eu gostaria que existisse um final feliz. Gostaria de não olhar para minha cama e ver que estou sozinho. E sentir falta de um amor que preenchia o meu quarto por completo. Gostaria de não olhar minhas roupas e ver que elas não estão sendo compartilhadas com mais ninguém. De olhar fotografias e enxergar o eu sozinho em todas elas. Gostaria de lembrar da voz que me entregava paz e tranquilidade. Lembrar do olhar que me entregava carinho e aconchego. Gostaria de sentir o cheiro de um corpo que me preenche por inteiro. E lembrar que ainda sei amar. Queria o calor infernal que seja capaz de me lembrar que ainda sei amar. E esse vazio que me consome por inteiro não é capaz de ser esquecido jamais. E eu penso em desistir. Eu quero desistir. Mas não quero que sofram. Não quero que chorem. Não quero que sejam obrigados a me esquecer da mesma forma que fui obrigado imensamente a esquecer o meu amor. Não quero mesmo que chorem por alguém tão triste como eu. Veja bem, não sou egoísta, eu penso bem mais nas pessoas que não entendem nada do que quero dizer do que em mim mesmo. Acredita nisso? E mesmo que eu as entenda demais, elas nunca me entendem. E julgam. E julgam. E me insultam. Em formas de brincadeiras e piadas e carinhos. Mas eu sei que me julgam por continuar sendo esse burro bêbado que ama demais. E ainda sim, não sou egoísta de acabar com tudo da forma que planejo em minha mente. Eles sentiriam falta desse jovem idoso burro que não sabe amar. E que, quando amou, errou por diversas vezes até ser esquecido. E o teu amor não aceitou teus erros, por mais que eu tenha acertado incansavelmente inúmeras vezes. É tão triste estar só. Sabe o que é mais  triste? Não ter a esperança de olhar o mundo lá fora e encontrar, em meio à bilhões de pessoas, alguém que preencha, de fato, este vazio diário que insisto em sentir.

- Você escreve tão bem, né? Até parece que tem coração!
- Não entendi o que quis dizer.
- Olho para você e vejo um ser humano tão forte. Tão indestrutível. Tão sem se importar. Olho para você e sinto que nem se importa com isso de amor.
- Você não entendeu nada do que escrevi, querida. Volte! Sabe essas músicas românticas que tu escuta e super venera o músico acreditando que ele é aquilo?
- Sei.
- Sabe esses escritores baratos que escrevem clichês sobre amor e tu quer viver aquele conto de fadas?
- Sei.
- Sabe esses filmes românticos que tu assiste e sonha em ter um igual, com final feliz, e acha o escritor do filme o ser humano mais amável do mundo?
- Sei sim. E o que tem?
- Dificilmente eles são aquilo em vida. É tudo para vender. E eles conseguem. Ficam ricos. Vende muito. Ficam famosos. Viram artistas, famosos, escritores e tudo mais. Mas é tudo mentira. Eles escrevem aquilo, mas não vivem aquilo. Não são aquilo que escrevem. E isso torna a arte muito mais triste do que ela realmente é. Não pelo conteúdo e sim por mentiras. Por serem mentiras. E eles são de mentira.
- Você é assim?
- Não. Essa é minha maior tristeza. Eu vivo tudo aquilo que escrevo. E não me importo de ser um pé rapado que nunca ganhou nada com isso. Mas eu vivo tudo aquilo que escrevo em todas as cartas minhas. E sinto. Sinto muito mais do que aquilo que escrevo. Sinto até chegar o ponto de não conseguir escrever mais. Essa é minha maior tristeza, mas esse é o meu maior valor. E não me importo. Não me importo.
- Você escreve sempre quando está bêbado, meu bem?
- Eu só escrevo quando estou bêbado, querida. E infeliz. E me sentindo sozinho. E num ponto tão imenso de solidão que fico entre o suicídio e as escrituras. Nunca escreverei algo quando estiver verdadeiramente feliz.
- Você escreve tanto.
- Entendeu a moral da história?

E eu gostaria de não sentir essa falta absurda de ser amado. E não amado por formas carnais em que querem matar teus próprios desejos contidos dentro de um peito vazio. Amado na forma mais simples de amor. Amor sem interesses. Sem exageros. Sem pedir nada em trocar. Gostaria de ser amado em uma cama apertada que mal caiba nós dois e teu cheiro se encontre nela sem que eu fique com medo de dormir onde você esteve. Sinto falta de acordar e saber que o amor sincero existe. Que abraços longos e apertados continuam sendo verdadeiros sem serem descartáveis. E eu vivo nos velhos tempos onde andar de mãos dadas significa muito mais do que o próprio sexo. E eu não sou de amores vagos. Amores vazios. Amores rasos. Não quero isso. Nunca fui disso. E eles não me entendem. Não sou de só beijos ou só sexo. Sou de amores. Sou do puro. Do verdadeiro. Do simples. De aceitar a outra pessoa como ela é e ainda sim sorrir. Sou de abraços quentes. Beijos longos. Mensagens ao amanhecer e de desejos ao anoitecer. Sou de escrever sobre ti, sobre mim, sobre nós. De planejar. De querer. De entender. De compartilhar. Sou esse poço de profundidade obscura que tanto pensa em ser amado da forma mais simples que existe. Sem cobranças. Sem exageros. Com defeitos, mas aceitáveis. Somos esse corpo preenchido de defeitos que o universo nos deu, mas que saibamos entender o lado um do outro num extremo abraço apertado e um beijo que signifique muito mais daquilo que o mundo é capaz de nos dar. E ninguém vai entender tudo isso que quero escrever. E irão dizer que são só palavras bonitas para surpreender alguém. E não. Não é nada disso. Leia de novo. Leia devagar. E entenda. Eu odeio o amor, mas quero ser amado. Eu odeio romances, mas quero viver um. Eu odeio sentir borboletas em meu estômago, mas estou sentindo todas elas neste exato momento e assassinando uma por uma. Eu odeio suicídio e penso nele o tempo todo. Entendeu a moral da coisa toda?

 E eu poderia escrever sobre minha vida suja. Sobre bebidas. Tragos. Tristezas mundanas. Até sobre prostitutas. E cafetões. E a vida suja de um mundo que não sou capaz de viver. Poderia escrever sobre mentiras. Clichês. Felicidades. Alegrias. Amigos. Bares. Poderia escrever sobre qualquer coisa cabível em um mundo em que eu só receberia elogios e dinheiro, mas prefiro escrever sobre você, sem citar teu nome, receber todas as criticas que recebo e ainda sim, aceitar que meu coração ainda é capaz de bater por alguém.

Sabe todas essas palavras? Nunca chegarão ao meu amor da forma que quero, e ainda sim, insisto em escrevê-las. E eu me sinto tão só, sem nunca ter aprendido a ficar tão só. E eu não quero aprender. Mas tenho que aprender. Eu preciso aprender. E eu choro ao me lembrar disso. Eu preciso aprender ou o caminho para a escuridão será extremamente curto e não pensarei mais sobre egoísmo e pessoas e choros e lágrimas e saudades. Eu preciso aprender, antes que seja tarde demais. Mesmo sabendo que o teu descaso me deixou pensativo sobre tudo ser tarde demais. Eu sou descartável. Fui jogado fora. Sem reciclagem. E estou no fundo dessa lixeira sem uma mão para me resgatar, porque, quando me encontram, enxergam a tristeza vazia que sou e não conseguem me salvar. Triste, você não acha? A escuridão seria menos triste que todos os versos meus, e você não derramaria uma lágrima sequer pela minha memória. Esta é a parte mais triste nessa vivência toda. Teu descaso é o que me faz ser só. E esse poema cheio de palavras fortes não significa mais nada.

E mãe se pergunta porque eu bebo tanto. Amigos me perguntam porque fico tão distante. Pai me pergunta porque fico tanto tempo sozinho. E eu digo que estou bem. Mas não estou bem. Definitivamente não estou bem. Preciso de ajuda. Mas estou bem. Eu estou bem. E minha mãe volta a dizer "Se não estiver bem, conversa com mainha, viu?".

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