...e se eu te pedisse para ficar? Te pedisse para entrar em minha vida? E se eu te pedisse para não ir embora? Te pedisse para esperar um pouco até que eu arrume meu quarto para você entrar? Toda a bagunça contida nele demonstra desesperançosamente o que sou de pior quando ninguém está aqui. E se eu te pedisse para vir aqui para casa? Te pedisse para dormir comigo está madrugada chuvosa? E se eu te pedisse para tomar aquelas cervejas restantes contidas na minha geladeira vazia? E te pedisse para compartilhar meus tragos? E se eu te pedisse para deitar na rede comigo na sacada e olhasse o céu escuro nublado enquanto meu cachorro passa por nós como quem não quer nada? E se eu te pedisse, meu amor, te pedisse para me beijar no silêncio do escurecer? E se eu te pedisse que não pensasse em mais nada, no amanhã, no depois, no que virá logo em seguida do beijo? E se eu te pedisse para dormir comigo? Te pedisse para segurar minha mão enquanto dormimos juntos? E se eu te pedisse para não pensar que terás que ir embora logo que amanhecer, porque precisamos seguir nossas vidas nesse mundo capitalista que tanto odiamos? E se eu te pedisse para ficar? Te pedisse para não ir embora, mas não da minha casa, e sim, não ir embora da minha vida? E se eu te pedisse para vir aqui para casa sempre que eu pedisse e sempre que quisesse? E se eu te pedisse para não me esquecer? Te pedisse para me amar? Te pedisse para sorrir ao lembrar do meu nome? E se eu te pedisse para morar dentro do teu peito da mesma forma que o meu se tornou tua moradia? E se eu te mostrasse todas as minhas cartas tristes sobre o amor, para que saibas que não sei viver um amor e que não sei amar e que não sei lidar com romances? E se eu te pedisse para me abraçar quando lembrar que romances nunca me fizeram bem, meu bem? E se eu te pedisse para acreditar em mim? Te pedisse para ter paciência com meus surtos e paranoias que nunca soube lidar, mas sempre em silêncio? Porque sempre que fico em silêncio, meu bem, são os momentos que tanto preciso de uma voz. E se eu te pedisse para ficar comigo aos domingos e que compartilhasse tua vida comigo e me dissesse todas as coisas bonitas que teu peito é capaz de me entregar? E se eu te pedisse o mundo, querida? Você me daria? Me daria sabendo que tu tens sido meu mundo nesses últimos dias? Ou me largaria? Me deixaria com saudades? Na saudade. Me deixaria sem ti. Sem mim. Levaria o meu melhor, sabendo sempre que dei o meu melhor e que fui capaz de deixar um romance arder aqui dentro de novo. E se eu te pedisse para me esquecer? Te pedisse para ir embora? Te pedisse para não entrar na minha casa? E se eu tivesse coragem de te pedir para não entrar tanto assim em minha mente? E se eu te pedisse para sair agora mesmo de minha vida e deixar esse pedaço destruído antes que enjoe o suficiente de mim e que peças você mesmo para que eu deixe você ir embora? Cadê a chave? Perdi a chave do portão da minha casa. Espera só um momento, meu bem, estou procurando. Irei achar. Estou procurando.
E achei...achei, meu bem. Vamos, eu abro a porta para ti. Deixo o portão escancarado. Só um minuto, meu bem. Só um minuto, querida.
Pronto!
Portas abertas. Portão escancarado. Pode ir embora. Meus romances são sempre livres para irem embora.
Ou fique! E se eu te pedisse para ficar, o que você faria?
- Seus textos são uma merda. Tudo tão poético. Tudo tão brega. Tudo tão démodé.
- Mas contém verdades e isso tu não podes discutir.
- Clichê romântico, mesmo que tristes.
- Mas eu sinto. E sou aquilo. É tudo de verdade. Só existe a verdade. A minha verdade.
- Trágico. Trágico. Trágico! Escreva coisas felizes.
- Escrevo o que me vem na telha, meu bem. Se você se importa tanto com isso, quero que se foda.
- Você está sendo rude, querido. Quer uma cerveja?
- Você está sendo fútil, querida. Quero sim.
Se levantou e foi pegar a cerveja. Voltou balbuciando.
- Trágico. Trágico. Clichê romântico. Super fora de moda. Acha mesmo que alguém se importa?
- Eu me importo!
- Acha que ficará famoso escrevendo todas essas tuas merdas?
- Não quero ficar famoso.
- E o que queres então? Escreves tanto e nem quer ficar famoso e ganhar dinheiro com isso?
- Quero ficar em paz.
- Com cartas démodé?
- Leia tudo de novo, querida. Leia tudo de novo. Você não entendeu um caralho sequer de palavra.
- Como assim, querido?
- Se o clichê romântico é ser sincero, então esse sou eu. Se o tal démodé é ser honesto com meus sentimentos, então esse sou eu. Se você não entendeu nada do que quis escrever, esse sou eu. Esse sou eu querendo que você se foda!
- Rude, querido. Rude. E trágico, trágico, trágico! O amor moderno descartável ainda irá te matar. Vai por mim, querido.
- Eu sei. Eu sei.
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