quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O eu de barro, dando espaço para algo florescer em suas ruínas

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O céu chora lá fora. Vejo e sinto cada gota escorrer por minhas janelas. E o barulho ensurdecedor dos trovões fazem eu lembrar que ainda estou vivo. E ela pergunta "Como tu escreve tanto?" e eu respondo "Querida, se estou mal, tenho que colocar para fora de algum jeito". E a chuva faz eu lembrar que esse corpo feito de barro esteve em ruínas por um longo tempo, e ainda se encontra, de certa forma, tentando encaixar meios de ser um porto seguro novamente. Mesmo quando penso que nunca estive tão seguro de mim mesmo em um caminho contido e escolhido e definido pela solidão de passos tão meus, que ninguém pode tirar daqui e de mim o que realmente sinto. E eles que se danem por acharem que não tenho tantos sentimentos assim. E eles que pensem que eu não sei lidar com meus sentimentos, porque eu sei, da forma mais errada do mundo, mas eu sei. E eles que pensem que num só coração, não é capaz de caber tantos sentidos e formas da forma que vivencio cada um deles. E que em uma mente como a minha, pensamentos e devaneios e solidões e infelicidades e choros e vontades e desejos e amores e romances não se passam de uma só vez em tão poucas horas. Imagina dias. Imagina meses. Imagina anos. E ela me pergunta "Como tu escreve tão bem?" e eu respondo "Eu bebo demais, querida". Mas ela me diz que isso não é suficiente. E ela me diz que só beber não é capaz de alguém escrever tantas cartas deslumbrantes dessa forma. E eu digo "Ame, querida. Sinta, querida. Deseje, querida. E pense. Pense demais. E fique sozinha num quarto pequeno e barato e escuro. E escute tuas músicas, querida. E ame. E pense em outro alguém. Aquele alguém que tu queres mais que tudo do teu lado naquele exato momento. E pense nas coisas que o mundo é capaz de te dar e te tirar. E sinta o blues que toca em tuas caixas de som. E deixe o som da tua voz gritar tão alto dentro de ti até o ponto que não suportes mais. Que tu tenhas que colocar exatamente tudo para fora. Com exito, com paixão. Com sensações. E que tu se sintas livre. E ame, ame muito, querida. E sabe esse amor que sentes ou sentirá? É uma merda. Eu sei. Amar é uma merda. Mas se tu queres escrever tanto assim, sinta essa merda e cuspa tudo para fora.". E ela torna a olhar em meus olhos. Penetrantemente. Com um brilho incapaz de decifrar. Um brilho que penso comigo mesmo se disse algo tão maravilhoso assim, sendo que tudo que eu disse não faz sentido algum. E tudo que eu disse e penso é triste demais. E tudo que arquitetei em escrever e dizer para ela é em plena desesperança de uma pessoa que não pensa mais nada de bom sobre o amor. E ela continua a me olhar, e pergunta "Mas, e depois que escreves, o que fazes?". E eu respondo "Volto a beber, querida". E ela me olha com um olhar de desgosto e diz "Eu sei, seu tolo. Isso você faz sempre. Mas, e aquilo tudo que escreveu?". E eu, com toda sinceridade do mundo, respondo "Eu nem leio, meu bem. Jogo para o mundo. O mundo que se aproveite daquela carta da mesma forma que ele se aproveita de todas as coisas. E o mundo estraga tudo aquilo. Romantiza tudo aquilo. E eu apenas continuo sentindo e bebendo e fumando minhas besteiras. Minhas poesias se tornam besteiras de um ser humano que não sabe como caralhos amar outro alguém. E eu bebo. Bebo muito. E minhas poesias são algo que, quando eu morrer, continuarão aqui em terra e eles, talvez, farão de mim um grande escritor, como fizeram com todos os outros.". Ela pensa. Para de me olhar. E pergunta "Não se importas com o que as pessoas que caem de encontro com tuas cartas irão pensar de ti?". E eu, rudemente, respondo "Achas mesmo que o mundo se importa com amores? Com sentimentos? O mundo está cagando para nós. Nossos amores estão cagando para nós. Esse ciclo cansavelmente repetitivo é chato PRA CARALHO e faz o amor ser esse sentimento barato, imediato, cansativo e monótono. Pensas que sou o único em não saber amar? O mundo está cheio desses. Só que minha forma de amar é diferente da deles. Eles não se importam. E eu me importo demais. Eles sentem de imediato. Eu sinto por uma vida toda. Eles se cansam rápido. Eu demoro para cansar. E eles se entediam e partem para outros amores. Eu permaneço nessa droga de amor por tempos e tempos até que eu seja esquecido novamente.".
E eu queria ser como todos eles.

- E quantas vezes irei te procurar? E quantas vezes posso encontrar alguém em meu lugar?
- Um dia tu me disseste que se eu tentasse não amar quem me ama, iria aprender a odiar a mim mesmo.
- E então?
- Estou pagando este pecado.

Quarto bagunçado. Barba bagunçada. Cabelo bagunçado. Todas as minhas cartas de amor espalhadas pelo quarto. Todas as minhas garrafas vazias jogadas para fora da lixeira. Meu cachorro passando no meio de todas elas como se aquilo tudo fosse uma brincadeira. E percebo que a minha brincadeira mais sem graça é amar. E percebo que minha maior doença é compartilhar um amor que sei qual é o fim dele. E meus livros empilhados na estante dizem muito sobre mim. E minhas canções no computador dizer muito mais sobre mim. E percebo que lembrar do amor não se torna mais a minha cura. O amor é essa maldição que faz com que eu me perca no porto do cais solitário toda noite em que me pego de encontro com a distância de ti. E queria sentir teus braços e abraços. Queria sentir teus lábios e ver teu sorriso de perto. Ouvir tua voz super cansada me dizendo como foi teu dia. E esquecer todas as cartas tristes de amor que um dia tive a audácia de escrever. E que se encontram pelos quatro cantos de meu quarto. Minha barba desajeitada depois de um banho gelado mostra que não dou a mínima para minha aparência quando caio de encontro com o esquecimento de teu amor por mim. Se é que um dia foste capaz de sentir qualquer pingo de sentimento pelo que bate em meu coração. Se é que meu perfume passa pelas suas entranhas todas as noites antes de dormir. Se é que pensas em mim quando deita a cabeça no travesseiro que um dia desejei estar. Se é que tuas músicas fazem você se lembrar de um amor que um dia poderia ser sentido por mim. Se é que os filmes românticos que tu assiste fazem você se lembrar que existe alguém aqui capaz de fazer você sonhar com esse amor eterno que os filmes insistem em pregar nas tv's e cinemas. Se é que teus livros tem meu nome contido em cada entrelinha ali presente. Será que eu passo pela tua mente em algum momento do dia? Será que tu lembras de mim quando cai de encontro com algo que tu sabes bem que gosto? Uma música. Uma comida. Um romance. Um livro. Um lugar. Um perfume. Um pensamento. Uma teoria. Qualquer coisa. Será que algo do tipo passa pela tua mente quando se lembra do meu nome? Se é que se lembra. Será que um dia fui ou serei tua melhor poesia, mesmo que eu  não saiba se tu tens algum gosto por poesias ou poemas ou algo semelhante?! Será mesmo que tudo que penso e teorizo sobre ti pode ser verdade ou será que continuo sendo esse grande tolo estúpido com o desejo de renascer de suas próprias ruínas. Ruínas que ele mesmo se colocou. Que ele amou. E ele foi capaz de amar e entregar teu amor mais sincero e verdadeiro. E se destruiu. Ele mesmo foi capaz de se destruir por amar demais. Por não saber amar. Por não saber lidar com teus próprios sentimentos. Porque, pra ele, o amor é intenso demais e precisa ser vivido. O amor é raro demais e precisa ser sentido. E as pessoas não dão valor para amores vividos e sentidos e expressados. Essa é a pior realidade do mundo. Isso é o que torna o mundo esse pesadelo tão absurdo que vivemos hoje em dia. Nossos amores já não dizem mais nada. E sou o resultado de todas as pessoas que fui capaz de amar. Esse é meu carma. Essa é minha sina. E esse destino é a tristeza de saber que nunca terei um amor ou romance tão recíproco quanto o que sinto, porque eu amo demais ou não amo nada. Não existe o meio termo. Não existe o mais ou menos. Não existe o pouco. Existe o muito. E esse muito se encontra dentro de mim. Se eu fui capaz de expressar algum tipo de amor ou afeto por ti, saiba que isso nunca será esquecido e isso é tão intenso quanto essas flores que nascem diariamente dentro de meu peito ao lembrar do teu nome em meio a todas essas ruínas que fui capaz de me afundar. Que teu amor por mim, se é que existe, seja capaz de ser tijolos capazes de reconstruir esse porto seguro que um dia desejei em ser. E que teus abraços e lábios e carinhos e desejos sejam o meu forte mais bem preparado para qualquer guerra que o mundo for capaz de me desafiar. Teu nome é minha droga preferida. Meu vício por ti cresce a cada dia mais. Esse é meu tormento de ano novo.

- Tens algo para falar?
- Não. Nada. - enchi o copo com cerveja e dei um gole.
- Te conheço. Tens algo para falar. Cospe para fora.
- Mas não é para você. É para ela.
- Finjas que sou ela. E diz o que tens para dizer. Talvez se sinta melhor. Depois encheremos a cara até esquecermos quem somos.

...

- Que passe o tempo. Que ele escreva as linhas e deixe para mim somente a prazeirosa função de pontuar frases. Muitas exclamações, algumas interrogações e apenas um ponto final, que eu deixei reservado para ti. Faze o que quiseres com ele. É teu!

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