terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Ensaio sobre a saudade de todas as borboletas mortas em minha barriga

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E sinto saudades de situações e fatos que nem vivemos juntos ainda. E nem viveremos. Sinto saudade do teu beijo quente de boa noite enquanto me abraça para dormir com a cabeça em meu peito. Do beijo roubado depois de uma briga. Dos sábados a noite comendo qualquer besteira e assistindo a qualquer filme idiota e bobo. Das duas cervejas que não tomamos juntos. Sinto saudade das conversas fiadas e dos sorrisos sinceros numa tarde qualquer sem muito a dizer. Das viagens que planejamos. Dos domingos em que não me deixaria um minuto sequer sozinho. Dos cigarros que não compartilhamos. Da tua voz cansada me dizendo como foi o teu dia. E isso eu sinto falta. Sinto falta de borboletas soando fortemente dentro de minha barriga. E foram essas mesmas borboletas que matei pouco a pouco aqui dentro. E continuo a assassina-las como as piores devoradoras de almas que são. E eu sinto falta de momentos que nunca viveremos juntos. E eu sei que não viveremos. E isso nem passa mais por nossa cabeça. Pela minha ou pela tua. E tua saudade de mim é tão superficial quanto todas as garotas e garotos fúteis que insistem em passar por nossas entranhas falando coisas e bobeiras sem a menor importância. Me entende? Espero que não. E espero que não leia essa carta tão, mas tão sincera escrita por mim. E que não penses que minha saudade é esse infinito de questões sem interrogações. E não penses que minha saudade jamais sentida é esse tormento incapaz de ser mutilado por minha consciência que insiste em tentar te esquecer a todo momento. E que não penses que essa saudade é esse filme de terror sarcástico e irônico que insiste em passar em nossas tv's e que todo mundo tanto ama. Essa saudade é um filme romântico idiota que todos nós assistimos num domingo a noite quando não temos nada mais para fazer, senão a depressão de estar esperando mais uma segunda-feira de nossas vidas. E é assim que sinto esse romance escorrendo por minhas mãos e a saudade batendo fortemente em minha porta. E não penses que não sei lidar com este romance, porque eu sei, da pior forma, mas sei. E abstraio tudo que ouso sentir na esperança de que o cupido perca a noção do ridículo que ele está me fazendo passar. E ele sabe o ridículo que estou passando. E que ele perca a vontade de rir de minha cara sempre que eu caio com um romance tão ridículo quanto tua risada grotescamente escandalosa e insuportável. E eu sinto falta daqueles beijos que jamais daremos. E dos abraços que jamais sentiremos. E dos cafés que nunca tomaremos juntos. E eu sinto saudade desse aperto que dá quando estamos longe. E eu sinto falta de não sentir falta de ser a falta de alguém. Não temporária. Não momentânea. Faltas momentâneas são supridas com desejos e pessoas e situações temporárias. Não quero nada temporário. Não quero nada supérfluo. Não quero nada com data de validade. Não. Não. Não! Não quero gritar para todo mundo que o teu amor por mim é algo que irá acabar daqui um mês ou um ano. Quero o para sempre. Mesmo sabendo que o para sempre não existe. Quero essa falta que tu me faz sentir toda noite em que deito a cabeça no travesseiro sem conseguir fechar os olhos e dormir o sono dos justos. Não quero o agora. Quero o hoje. O amanhã. O depois. E depois é o eu e você abraçados num canteiro de um parque qualquer rindo de qualquer bobagem que seja dita por mim, por ti ou pelo mundo. E que essa merda de amor não se apague. Não se apague até o ponto em que eu esqueça que o amor é a maldição mais grotesca que o mundo é capaz de nos entregar. Ou não se apegue. Não se apegue a está bagagem que eu sei que serei em tua vida. E eu serei essa saudade passageira. Saudade menosprezada. Sem aperto. Sem carma. Sem carinho. Sem vacilos. Sem devoção. Saudade entristecida. Passada. Pouco sentida. Perturbada. Perambulando pelos quatro cantos de um quarto barato de hotel. Que eu não vire teu pior apego quando na verdade tudo é uma verdade de várias facetas. Me apague ou me apegue. Não se apegue e me apague. Escolha. Tens total livre arbítrio de tuas piores decisões. Consegues sentir saudade de mim? Aquela saudade verdadeira ou sentes saudades temporárias? Amor temporário? Apego temporário? De verdade? Temporário? Solitário? Esquisito? Sincero? Já matou todas as borboletas em tua barriga ou nunca sequer sentiu todas elas?
Acredito que nunca viveremos juntos todos os momentos que sinto tanta saudade. Momentos cruciais ultrapassados por todos os limites de meu peito altamente inconstante e tentando sentir, novamente, o auto-controle de uma vida e mente tão atordoada pelos passos de um amor tão...perverso.

- Como você consegue beber tanto sozinho? Não sentes peso na consciência? Não se sentes um alcoólatra?
- Muito pelo contrário. Sinto-me muito bem em beber sozinho, consigo escutar todos os meus pensamentos.

Em um dos menores cômodos de minha casa, cai em um dilema comigo mesmo. Aquele banheiro pequeno com um chuveiro quase que quebrado, que não existe o meio termo nele, cai em conflito com todos os meus pensamentos e me apeguei com aquele pequeno objeto que tanto explica tudo sobre mim. Sou como aquele chuveiro semi-quebrado. Sem meio termo. Sem inconstâncias. Muito frio ou muito quente. Não consigo ser pouco. Não consigo ser quase nada. Não consigo ser mais ou menos. Sou frio ou quente. Abrigo ou despejo. Amor ou nada. Não consigo sentir pouco. Não consigo amar pouco. Não sei dizer 'eu te amo' se não sinto aquilo de fato. Amo ou odeio. Adoro ou nem me importo. Sou tudo ou nada. Sou desejo ou esquecimento. Sou abraço ou desafeto. Não consigo não ser sincero sobre tudo que sinto aqui dentro de um coração que ainda tem uns bons anos pela frente para sentir tudo que lhe é capaz e cabível. Não consigo pensar em ti se tu não é nada para mim. Consigo pensar o bastante em você se tenho algum desejo ou amor ou abrigo ou carinho ou afeto pelo que você é. E eu sou assim. Frio ou quente. Não existe o morno. E me sinto completamente satisfeito em ser essa pessoa 8 ou 80. Inteiro ou vazio. E não me importo com julgamentos. Só que caio nessa constante distração de fatos em que escrevi antes. Caio nessa constante nuance de sentimentos em que digo sentir tudo ou nada. Porque sinto. Sinto até demais. Mas algumas vezes caio com esses assassinatos de borboletas tão inocentes quanto teu amor por mim. Quanto esses romances que começam devagarzinho. E isso me incomoda tanto, mas tanto, que desejo nunca mais sentir amor e viver romances. Acredito que a vida seria muito melhor sem todos esses romances existentes por esse mundo altamente devotado em abrigos e despejos. Amores e romances. Saudades e faltas. E eu gostaria que as feridas em meu coração fossem altamente curadas com aquele simples band-aid rosa com florezinhas desenhadas nele que estanca qualquer ralado no joelho. Minha vida seria um pouco mais fácil, mas tenho total e absoluta certeza que uma caixa cheia de band-aids eu já teria usado nesse coração tão fraco quanto amores de outras pessoas sentidos por mim. Meu coração seria totalmente rosado com flores desenhadas. Isso é fato. Não um drama. Não uma superfície em que tento ser um tanto quanto miraculoso com minhas palavras fazendo todas as outras pessoas sentirem tudo que sinto e serem salvas por tais palavras. Não. Isso é um fato, porra!
Lembrei de tuas mensagens em momentos que sentiu saudades. E dos carinhos e desejos e paixão que foste capaz de me dar. Meu coração palpitou. Meu estômago estremeceu. E todas as borboletas foram acordadas novamente. Aproveitarei este momento para assassina-las mais um pouco. Uma a uma. Sem dó. Nem piedade. Nem perdão. São essas mesmas borboletas que me fazem perder o auto-controle e cair nessa maldição de sentir que meus braços não é o abrigo de ninguém.
QUE SE FODA O AMOR! Ele é muito barato para vidas tão caras. E minha saudade de momentos históricos não significa nada. Nem para ti. Muito menos para mim.
Quem foi que me ensinou a mentir tão bem, meu bem?
Ah, verdade, foi o amor. Aquele fraco. Surrado. Desperdiçado. Jogado fora. Maltrapilho amor. Não posso esquecer.
E se pensas que é algo sobre você, estas enganada, é tudo sobre mim.

- Escreveu mais uma vez, cara?
- Escrevi na esperança de que eu tenha uma cara boa o suficiente para que minha mãe não me pergunte se estou bem. Sempre que ela pergunta se estou bem, tenho que mentir para não deixar ela triste também. E isso é triste.
- Eita, menino buscando auto-controle, com medo de se apaixonar, tentando conter as borboletas na barriga.
- Todas essas malditas borboletas foram criadas porque ele semeava flores em seu peito, em terra em que ele já imaginava ser estéril.
- Que projeto de saudade que tu és. Assim nunca será o amuleto que remete boa sorte para ninguém. Será sempre uma lembrança carinhosa.
- Cego pelo medo, o arqueiro de palavras engole todas elas e suas flechas matam as borboletas que pigmentam a insônia que ninguém é capaz de enxergar...

...só ele mesmo.

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