terça-feira, 28 de outubro de 2014

Peter Pan. Talvez aquele personagem clichê estivesse certo

Infância.
Eu nunca quis crescer, nem mesmo quando eu era criança. Nunca quis ser adulto. Nunca quis carros, morar sozinho, viver sozinho, ser de maior, beber, trabalhar, ganhar dinheiro. Era uma criança estranha que não gostava de crianças. Eu queria ser criança para sempre e todas as crianças deveriam pensar assim. Crescer é triste. Ser adulto é perturbador. Viver maduramente é difícil. Hoje sou um velho chato com apenas 23 anos de idade. Sou inconstante e confuso, mas sempre sei o que quero e onde quero chegar. Cresci, vivi demais, sofri demais, amei demais, confiei demais e hoje sou apenas um velho insuportável. Virei alcoólatra e escritor. Tornei-me qualquer coisa. Uma vez me disseram que eu deveria ser menos maduro, discordo disso. Esse foi o argumento mais imbecil e inútil que tive em toda a minha vida. Ninguém pode viver a vida toda sendo criança. Ninguém pode ter pensamentos de crianças. A gente brinca. A gente sorri. A gente finge ser criança, mas não o tempo todo. A vida é muito mais que isso. É crescer, amadurecer, sofrer, amar, viver, adoecer e morrer. Minha infância passou há alguns anos atrás e sinto falta dela. Não das surras que tomei na escola, dos amores que não me correspondiam, nem por ser uma criança estranha. Não sinto falta disso. Sinto falta em não ter responsabilidades. Sinto falta em sentir prazer facilmente com situações e relações simples. Sinto falta de escrever palavras clichês e gostar de todas elas, mas hoje me encontro escrevendo essas palavras clichês e me sentindo um completo inútil por não estar escrevendo algo melhor. Existe uma coisa muito boa em crescer, o fato de poder beber livremente. Sentindo a cerveja ou vinho ou vodca ou outra coisa que contenha álcool descendo pela minha garganta, consigo suportar mais o mundo e as pessoas.

Infância.
Fique de olho em minhas repetições. Preste atenção em minhas pequenas repetições que podem se tornar chatas. Minhas palavras e pensamentos repetidos sempre mostram alguma coisa obscura e desesperadora de mim. São em repetições que mostro o meu melhor e o meu pior. Eu repito palavras para as pessoas entenderem claramente e tediosamente que têm algo de errado comigo. Na minha infância. No meu amor. No meu choro. Nas minhas palavras. Nos meus pensamentos. Na minha vida. Existe algo errado. Pelo amor do seu Deus, acredite. ACREDITE. Existe algo muito errado dentro de mim. Eu não lembro de nada que tenha feito eu me tornar isso que me tornei hoje. Chato, insuportável, maduro demais, gênio demais, depressivo demais, triste demais. Eu não lembro. Não lembro da existência de alguma pessoa que seja capaz em me salvar. Estou escrevendo tediosamente hoje. Eu jurei e pensei que iria escrever algo sobre a infância, algo que fizesse as pessoas sentirem falta da infância delas e se identificarem com a minha, mas não estou conseguindo pensar em nada. Não estava pensando direito nem no título desse conto. Sou a pior pessoa para escrever contos. Acho que pelo fato de estar muito cedo para escrever ou pelo fato de não estar bêbado o suficiente. Quem sabe eu devesse estar mais triste. Quem sabe eu devesse me aprofundar mais na minha infância, mas tudo fica clichê demais quando se fala dos desenhos animados e surras no recreio. Eu não quero mais escrever sobre nunca sentir vontade de crescer. Não quero deixar tudo isso mais clichê do que o normal.

Infância.
Eu morri na infância e renasci. Eu morri na adolescência e renasci. Eu morri na fase adulta e renasci, mas ainda irei morrer de novo e, talvez, renascer. Irei morrer na velhice e permanecer morto. Ainda bem. Peter Pan estava errado. Eu amo ser adulto. Trabalhar. Estudar. Ganhar dinheiro. Beber. Escrever. Transar. Olhar todas aquelas bundas e peitos e pernas no meio das calçadas. Eu amo ter força para poder bater em alguém ou ter idade maior para entrar em qualquer bar de esquina. Posso entrar nos bordéis. Sair sem dar satisfações. Falar palavrões e beber. Beber e beber e beber. Posso cometer o erro infeliz de amar ou apenas me apaixonar. Amar uma outra vez, outra vez, mais uma vez. Posso odiar e praguejar contra quem eu quiser. Posso assassinar alguém, me sentir a pessoa mais imunda do mundo e ser preso, assim como posso salvar a humanidade e ser a pessoa mais importante do mundo. Posso conviver com as pessoas e também odiar todas elas. Posso acordar meio dia e não me importar com o resto do meu dia, assim como posso acordar seis horas da manhã e me preocupar com todas as coisas que tenho para fazer.
Espera. Isso aqui está tudo errado. Não quero cometer o erro infeliz de amar. NÃO. ESPERA. QUE DROGA. DROGA. DROGA - sinta as minhas repetições, não esqueça -. Eu não quero me apaixonar de novo, mas eu já estou apaixonado. Estou apaixonado e amando, mas não quero sair de casa. Quero me trancar aqui até isso passar. Quero sofrer calado. Bem quietinho. Bem aflito. Bem angustiado. Quero virar doses de vinho e chorar e sofrer e surtar. Quero ama-la, mas quero odiá-la. Quero esquecer. Quero viver. Quero renascer. Mas tudo isso sem o amor. Sem amor e estando apaixonado? Tem alguma lógica? O amor é uma navalha que te corta lentamente. Vai te matando. Ele está me matando. E eu só quero continuar aqui, bem quietinho.

Talvez Peter Pan estivesse mesmo certo. Não deveríamos crescer, amar, sofrer, amadurecer, trabalhar, beber, envelhecer, adoecer, morrer. Talvez deveríamos ser crianças para sempre. AH, PARA O INFERNO esse personagem clichê. Crescer é uma delicia. Amadurecer é necessário. Amar é uma desgraça cancerígena. Viver é difícil, mas ser adulto tem seus momentos lindos e de muito glamour. Ser adulto tem seus desprazeres, mas também existe seus fetiches. Eu seria bem mais infeliz se todos nós fossemos crianças para todo o sempre. Esse personagem de desenho animado é muito clichê para mim, ainda mais agora que me tornei esse velho chato realista.
Meu peito está doendo. Minha alma está sangrando. E isso não é pela falta que estou sentindo dela. Não. Eu não estou em condições de continuar amando e não quero isso. Estou assim porque meu vinho acabou.

Maldito Peter Pan. Maldita infância. Maldito amor. Me fizeram escrever o conto mais medíocre e tedioso e sem sentido de toda a minha vida.

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