terça-feira, 7 de outubro de 2014

É sempre tarde demais para dizer palavras bonitas


Cai em meu patético período de loucura. Eu poderia ficar por horas e horas dentro do meu quarto escrevendo cartas e contos e textos e livros. Mas espera, eu já faço isso. Eu já escrevo incontáveis contos deprimentes e vou jogando pelos ares para que essa humanidade monótona veja. E deixa eles verem. E deixa eles lerem. Deixa. Deixa eles sentirem que estão se identificando com tais palavras, enquanto isso estou aqui me embebedando ou entrando em uma overdose de cafeína. Deixa. Deixa eles acreditarem que sou um escritor sensacional. Deixa a humanidade acreditar que nunca irá morrer. Eu fico de longe observando cada ser humano e me sinto dentro de um teatro. Sou o único telespectador dentro de um teatro onde a humanidade é o personagem principal. Deixa eles apenas acreditarem que são felizes. Isso me faz bem. Isso me faz soar como um louco, mas me faz bem. Deixa essa humanidade chata acreditar que nada tem um fim. Que nunca é tarde demais. Que o amor perfeito está no ar. Deixa, mais uma vez, eles acreditarem que nunca irão morrer. Que humanidade chata e deprimente essa. Sinto que estou ficando mais chato do que o normal por conta deles. Eles poderiam morrer, poderiam se suicidar, poderiam se explodir, que eu continuaria preso dentro desse meu casulo. Não existe mal nenhum em acreditar que todas as coisas são perfeitas, mas a humanidade exagera até nisso. Não existe mal nenhum em amar, mas a humanidade também exagera nisso. Não existe mal nenhum desse ser o ultimo dia de nossas vidas, mas a humanidade idiota também acredita que esse pode não ser o ultimo dia de nossas vidas. Mas que diabos eles pensam que são? A gente nasce, cresce, envelhece, adoece e morre. Mas eles acreditam que não existe o fim. Eles acreditam mesmo que não existe o fim. Eles acreditam que seremos para sempre esse câncer aqui na terra. NÃO. Não podemos pensar assim, mas deixa eles acreditarem.

Cada carta que escrevo para as pessoas lerem, tento escrever melhor que a ultima, mas só tento. Minhas cartas são péssimas. Minhas cartas são horríveis. Minhas cartas são melancólicas. E de novo irei me encontrar com algum ser humano sentindo orgulho de cada palavra que escrevo. Droga. Não sejam tão patéticos quanto eu, por favor! Minhas cartas são desprezíveis. Eu tento escrever algo feliz e não consigo. Eu tento escrever algo sobre o amor e não consigo, meus romances são uma desgraça e não servem de exemplo para ninguém. Eu tento escrever sobre minhas melancolias e eles choram por mim. Eu abaixo minha cabeça, tento chorar e não consigo. Deixa eles chorarem por mim. Deixa eles sentirem por mim. Eles esqueceram que esse pode ser o ultimo dia de minha vida. E confesso que estou desejando isso desde a hora que acordei. Sinto-lhe informar que não estou dando muito valor para a minha vida nesse meu período de loucuras. E o que você irá fazer por mim? Dizer que sentiria minha falta? Dizer que eu deveria dar mais valor para as coisas? Dizer que eu deveria tentar ser mais feliz? Dizer que eu poderia procurar o seu Deus? Não. Não preciso desses conselhos. Eu já sei disso tudo e isso faz com que eu vomite cada vez mais as minhas palavras. Isso faz com que eu me torne mais melancólico e triste ainda. Deixa eles acreditarem que podem vencer minha depressão com seus conselhos chatos. Deixa.

Degusto um belo e quente café - mas preferia estar me embebedando numa garrafa de cerveja -, e penso: Eu poderia morrer hoje, mas o que eu fiz? O que eu escrevi? O que eu falei?
Que inferno. Eu gostaria de conseguir proferir um "eu te amo" para alguém e dizer as palavras mais bonitas que existem antes de morrer, mas isso eu não sei fazer há tempos. Eu poderia telefonar para todas as pessoas que amo e ouvir a voz deles acreditando que essa seria a ultima vez que eles ouviriam a minha voz, mas eu odeio telefones. Eu poderia escrever milhares de palavras lindas e fantásticas para as pessoas que mais me fazem bem, mas quando pego para escrever alguma coisa tudo sai tão triste e trágico e deprimente e patético. Joguem fora todas as minhas cartas, pelo amor de Deus.
Já pensou se você morresse hoje? O que você fez? O que você escreveu? O que você falou?
Dificilmente você pensará em sua morte, acredito assim. Se você é uma pessoa feliz, você dribla a morte com seus sorrisos e ela vai passando despercebida, mas veja que você deve estar sentindo falta de alguém hoje, você brigou com alguém na semana passada, você escreveu bobagens fúteis no mês passado e proferiu palavras que não deveriam ser ditas nem para o seu pior inimigo. De quem seria a ultima voz que você ouviu antes de morrer? Quem ouviria a tua voz antes de morrer? Quem ouviria o seu "eu te amo" pela ultima vez? Você lembra?

Essa madrugada eu pensei em cometer suicídio. Senti uma doce e grande vontade de abandonar esse mundo por não suportar mais todas essas coisas e toda essa humanidade. Do meu patético período de loucura passei para o meu patético período de desligamento. Foi triste e está sendo triste. Tente imaginar quantas vezes pensei em desistir. Apenas tente. As pessoas acreditarão que estou tentando chamar algum tipo de atenção por dizer sobre meu suicídio. Deixa eles acreditarem. Deixa. Outras pessoas acreditarão que estou ficando louco e doente, mas isso eu já sou, então deixa eles acreditarem. Deixa. E muitas ficarão preocupadas, que fiquem, mas joguem fora essa carta, pelo amor de Deus.

Desisti da minha tentativa frustrante de cometer suicídio essa ultima madrugada porque não tinha alguém para dizer eu te amo. Quem sabe essa madrugada eu tenha ou quem sabe a próxima. Quem sabe eu não me importe tanto assim. Quem sabe. Mas joguem fora essa patética carta, pelo amor de Deus.

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