segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Ninguém se interessa por isso aqui, pensava enquanto transávamos

Eu poderia dar um tiro em minha própria cabeça e ninguém iria se interessar. Ninguém iria notar. E, oh meu Jesus Cristo, lá vem ele de novo escrever sobre essas coisas trágicas e depressivas. Isso é um saco. Ninguém se interessa por nada que eu escrevo. Eu não me interesso. Eles não se interessam. E isso tudo faz eu soar como um ser humano patético. Acredito não estar passando além do que isso. Patético. Triste. Pensante. E sozinho. Sim, eu quero estar sozinho. Eu quero ser sozinho. Estou me apaixonando, mas estou matando isso. Eu matei o meu amor, lembra? Eu o matei antes que ele me matasse. Me senti feliz por isso. Eu jurei que não escreveria nada essa semana e olha onde estou. Olha essas palavras. Já reparou como sou desesperado e confuso e tolo e patético? Acredito que eu esteja me menosprezando demais, mas é assim que me sinto. Ah, e burro. Sinto-me bastante burro em meio a esse mundo estúpido. Por favor, me diz que todas essas palavras sairão um grande saco de lixo, porque é assim que eu me sinto. Um enorme saco de lixo solitário e bêbado. Um brinde a minha estupidez.
- Querido, pegue outra dose para mim - ela disse, enquanto se sentava. - Whisky, água e gelo, por favor.
- Você irá abrir as pernas para mim logo que eu fizer isso ou ficaremos aqui apenas bebendo? - perguntei e ela sorriu.

Porque estou escrevendo hoje? Porque continuo me sentindo assim? Cadê meus sentimentos, minha loucura, minha solidão, minha depressão? Oh, meu Deus, o que estou sentindo de verdade? Será que estou mesmo me apaixonando e entrando em caminho de uma perdição? NÃO, EU NÃO QUERO PERDER MINHA ALMA, querida. Tira-me dessa, por favor. E me sirva outro drinque. Sirva-me todos os drinques possíveis para eu brindar em nome da minha estupidez que tem se tornado imensa demais. Nem eu me suporto. Não suporto mais a minha maturidade, os meus amores, o meu jeito, o seu jeito, os meus amigos, a minha família, as minhas insônias, os livros, os carros, as calçadas. Não suporto mais nada. A minha paciência se foi. O meu amor se foi. A minha vida se foi. A morte levou tudo que existia de bom em mim e esqueceu de me levar também. Droga. Ela poderia ter feito algo apenas para ter me salvado disso tudo aqui. Não precisava ter me matado, mas também não precisava matar tudo que existia de bom em mim. Cansei de mim. Cansei de você. Cansei deles. Cansei de nós. E estou tão, mas tão cansado de sempre entregar tudo e não receber nada. Isso soa egoísmo, mas os egoístas são eles. Eles me pedem, me chamam, me ligam. Eu faço, eu vou, eu atendo. Que estúpido eu sou. Estou me perdendo. Estou me afundando mais ainda num abismo sem fim e não existe ninguém para me salvar. Eu não tenho um Deus. Eu não tenho um amor. Eu não tenho uma vida. Eu tenho apenas os meus demônios e as minhas bebidas, mas elas nunca me salvaram, apenas controlam um pouco tudo isso. E o que eu faço? Continuo aqui bebendo, escrevendo e lembrando que um dia amei de verdade.
- Você é um idiota. Você sempre escreve essas mesmas coisas tristes e nunca sobra tempo para mim - ela disse.
- Sim, eu sou um idiota, mas me torno menos idiota sempre que escrevo essas coisas idiotas para pessoas idiotas que nunca irão ler. Elas não se importam de eu ser um idiota, querida - eu disse.
- Pegue outra dose para mim? - ela perguntou.
- Pego. A hora de fazermos sexo está chegando ou apenas ficaremos brigando? - perguntei, ela não respondeu e fui até a cozinha pegar outra dose.

Que desperdício essas minhas palavras. Eu deveria guarda-las ou deveria escreve-las numa folha qualquer de papel, depois amassa-la e joga-la fora. Todas as minhas palavras soam terroristas demais, como se eu estivesse escrevendo tiros e mais tiros e estivesse prestes a matar várias e várias pessoas. Minhas repetições são fascinantes apenas para mim. Meus tormentos soam como música clássica apenas para mim. Tudo que escrevo é para mim e por mim. Ninguém se importa. Ninguém se interessa. Ninguém lê toda essa merda. Eu passei o dia todo solitário, sem escrever, sem fazer nada de muito útil e me senti uma merda. Ninguém me ligou e quando me ligaram era engano. Me senti uma escória nesse mundo e há tempos não me sentia dessa forma. Se fosse para escolher entre uma xícara quente de café ou uma cerveja gelada para dar alívio para a minha alma, confesso que eu escolheria uma dose bem forte e longa de veneno. Ninguém se importa com tudo isso aqui e eu ainda tentei virar um escritor. Isso gera uma piada. Aguardem.
- Você é um maldito escritor e miserável. Você só escreve, escreve, escreve e ninguém se importa com toda essa sua merda. Eles devem rir da sua cara - ela disse, enquanto bebia sua dose de Whisky com água e gelo.
- Você está certa. Eu sou um estúpido, querida. Ninguém se importa com nada que eu escrevo e essas suas pernas são deliciosas - sentei no sofá e fiquei de frente com ela, enquanto bebia a minha vodca.
- Você gosta das minhas pernas, querido? - ela perguntou e levantou a saia.
- Gosto. Poderíamos transar a noite inteira e eu ficaria olhando para as suas pernas por um bom tempo - virei a minha dose.
- Você é um escritor de péssima qualidade. Você é triste, frustrante, depressivo e bêbado. Pensa demais. Escreve demais. Enxerga o mundo demais - ela disse.

E transamos.

A vida é esse saco de merda inventado por um Deus. Não. A vida é um Deus inventado por um saco de merda. Também não. A merda é uma vida inventada pelo meu Deus. Muito menos. A merda é um Deus inventado pela vida. Quem se importa com essa merda toda. Eu só quero beber e escrever e continuar sabendo que ninguém se importa. Eu não ia escrever nada hoje e olha o quanto escrevi. E você acha que alguém se interessa? HÁ HÁ HÁ! Dou risada porque daqui gerou uma piada: A minha vida é uma merda inventada por mim mesmo.

Droga. Porque não tinha pensado nisso antes?!

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