Os mais velhos deveriam salvar o mundo. Digo, eles tentaram. Eles, com toda a certeza absoluta do mundo, tentaram salvar o mundo. E desistiram. Meu bisavô desistiu. Meu avô desistiu. Meu pai desistiu - se é que ele um dia sequer tentou salvar o mundo -, todos eles tentaram. O seu bisavô desistiu, assim como o seu avô e o seu pai. E desistiram. E morreram. Morreram de verdade ou morreram apenas hoje e amanheceram para mais um dia de morte. Aliás, o dia está quase chegando ao fim, você está morrendo e não fazendo nada para salvar o mundo. E eu, o que eu estou fazendo para salvar o mundo? Isso é fácil de responder: Escrevendo essa merda de carta para que alguém leia e perceba que sou um louco tentando salvar o mundo.
O mundo é feito pelos loucos ou pelos sãos? O mundo é feito por aqueles que amam ou por aqueles que odeiam? Os velhos dizem o que devemos fazer. Será que eles sabem a resposta para todas as minhas perguntas? Mas, se eles sabem a resposta para todas as perguntas e conseguem fazer a gente se sentir melhor com suas estratégias sobre a vida, com suas formas de saberem viver, com todos os seus conselhos e ordens e mandamentos e vivências, porque eles não conseguiram salvar o mundo? Muitos desses velhos estragaram o mundo. Muitos desses velhos, esses mesmos velhos que nos dão conselhos sobre como devemos ser e sobre como devemos agir, cagaram na terra, cagaram para o mundo, cagaram em cima de nós e assim nos encontramos em cima de toda essa merda que é essa grande bola azul pela qual vivemos. Droga. Os velhos também estragaram o mundo. Eles já podem parar de acreditar que são as melhores pessoas do mundo por apenas terem vivido mais que nós, mas ainda assim, respeitai-vos os mais velhos. Eles sabem de muitas coisas boas pelas quais não sabemos. Ah, eles sabem. Eles poderiam salvar o mundo se quisessem, mas eles preferem passar esse trabalho em vão para todos nós, os mais novos.
Que eu não vire um velho chato já sendo esse jovem chato. E bêbado. E louco. E acreditando que posso salvar o mundo. Não caguem mais em cima do mundo. Não defequem mais depressão e melancolia para cima de mim.
*
E o amor? O que eu fiz com o meu amor? O que eu fiz com a minha vida?
Eu já não sei amar. Eu não lembro em qual lixeira joguei fora o meu amor. Eu estraguei minha vida.
Eu escrevo para não amar. Eu joguei o amor no lixo, mas o peguei de volta. Eu estraguei minha vida.
Eu amo para escrever. Eu tranquei o meu amor dentro de um quarto escuro. Eu poupei a minha vida.
Eu escrevo por amor. Eu fui visitar o amor naquele quarto escuro. Eu estraguei a minha vida, mais uma vez.
Eu sou louco? O que está acontecendo? Jurei nunca mais escrever sobre o amor, mas eu ainda tenho em mente uma escrita geniosa sobre um romance. Eu escreverei um belo romance, um dia. Um dia eu estragarei a minha vida, mas escreverei um romance por amor. E amarei cada palavra escrita naquele romance. E amarei ter escrito por amor em cada noite de insônia que vem me visitar. Por amor, pelo amor e para o amor. Eu escreverei por noites e mais noites algo sobre um romance e terminarei, mas entrarei em coma. Acordarei com um velho me dizendo que eu deveria amar de novo. Acordarei com um velho me dizendo que eu posso ser melhor que isso e que tenho o direito em amar de novo. Sinto falta de me apaixonar, joguei o meu amor fora e o velho me dirá tudo o que devo fazer.
E quem é esse velho? Fácil de responder também: Aquela velha lembrança boa que eu tinha do amor.
Eu já amei e sorri. Eu já amei e fui feliz. Eu já amei e fui amado. Eu já amei e fui estraçalhado. Eu já amei e me jogaram fora. Eu já amei e chorei. Eu já amei e fui infeliz. Eu já amei e morri.
Eu já amei e morri. Por isso eu não amo mais. O amor me matou, mas antes eu o assassinei. Que alguém me prenda por isso, mas morrerei com orgulho no peito. Antes ser preso com orgulho no peito do que ser preso com amor ou pelo o amor.
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