segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Os mais vividos sempre sabem o que dizer sobre a vida

E porque eu deveria salvar o mundo? O mundo está acabando. As pessoas estão acabando com ele. Porque eu deveria salvar todas essas pessoas? Porque eu deveria ao menos tentar? Eu me sentiria um tolo em acreditar que posso salvar o mundo. Acreditar que poderia salvar algo ou alguém com todas as coisas que ouso e sinto em escrever. Sou um tolo aprisionado dentro de mim mesmo quando paro para pensar que eu poderia fazer desse mundo um lugar melhor. Nossa. Como eu me sinto um tolo desprezível em acreditar que eu posso salvar alguém com minhas palavras. Estou fugindo dessa. Estou fugindo desse pensamento de que posso salvar essa humanidade patética com todas as minhas cartas. Para falar a verdade, estou fugindo de qualquer pensamento que venha passar pela minha cabeça agora. Estou com o meu físico e o meu psicológico cansados. Acredito que eu esteja morrendo. Morrendo aos poucos. O ontem acabou e eu morri um pouco. Amanheceu hoje e também morri mais um pouco. Estou apenas morrendo e tentando acreditar que posso salvar as pessoas antes mesmo de estar enterrado. Sou um louco por acreditar nisso ou eles são loucos de lerem cada conto que escrevo? Estou prestes a desistir de escrever. Perto de desistir da humanidade. Prestes a desistir do mundo. Bem perto de desistir de mim. A vida é feita de algumas desistências, assim como a minha vida foi feita em base de minha desistência do meu amor. Eu já não amo mais e já não sinto falta disso. Mais uma vez, para o inferno com o amor.

Os mais velhos deveriam salvar o mundo. Digo, eles tentaram. Eles, com toda a certeza absoluta do mundo, tentaram salvar o mundo. E desistiram. Meu bisavô desistiu. Meu avô desistiu. Meu pai desistiu - se é que ele um dia sequer tentou salvar o mundo -, todos eles tentaram. O seu bisavô desistiu, assim como o seu avô e o seu pai. E desistiram. E morreram. Morreram de verdade ou morreram apenas hoje e amanheceram para mais um dia de morte. Aliás, o dia está quase chegando ao fim, você está morrendo e não fazendo nada para salvar o mundo. E eu, o que eu estou fazendo para salvar o mundo? Isso é fácil de responder: Escrevendo essa merda de carta para que alguém leia e perceba que sou um louco tentando salvar o mundo.
O mundo é feito pelos loucos ou pelos sãos? O mundo é feito por aqueles que amam ou por aqueles que odeiam? Os velhos dizem o que devemos fazer. Será que eles sabem a resposta para todas as minhas perguntas? Mas, se eles sabem a resposta para todas as perguntas e conseguem fazer a gente se sentir melhor com suas estratégias sobre a vida, com suas formas de saberem viver, com todos os seus conselhos e ordens e mandamentos e vivências, porque eles não conseguiram salvar o mundo? Muitos desses velhos estragaram o mundo. Muitos desses velhos, esses mesmos velhos que nos dão conselhos sobre como devemos ser e sobre como devemos agir, cagaram na terra, cagaram para o mundo, cagaram em cima de nós e assim nos encontramos em cima de toda essa merda que é essa grande bola azul pela qual vivemos. Droga. Os velhos também estragaram o mundo. Eles já podem parar de acreditar que são as melhores pessoas do mundo por apenas terem vivido mais que nós, mas ainda assim, respeitai-vos os mais velhos. Eles sabem de muitas coisas boas pelas quais não sabemos. Ah, eles sabem. Eles poderiam salvar o mundo se quisessem, mas eles preferem passar esse trabalho em vão para todos nós, os mais novos.

Que eu não vire um velho chato já sendo esse jovem chato. E bêbado. E louco. E acreditando que posso salvar o mundo. Não caguem mais em cima do mundo. Não defequem mais depressão e melancolia para cima de mim.

*

E o amor? O que eu fiz com o meu amor? O que eu fiz com a minha vida? 
Eu já não sei amar. Eu não lembro em qual lixeira joguei fora o meu amor. Eu estraguei minha vida.
Eu escrevo para não amar. Eu joguei o amor no lixo, mas o peguei de volta. Eu estraguei minha vida.
Eu amo para escrever. Eu tranquei o meu amor dentro de um quarto escuro. Eu poupei a minha vida.
Eu escrevo por amor. Eu fui visitar o amor naquele quarto escuro. Eu estraguei a minha vida, mais uma vez.
Eu sou louco? O que está acontecendo? Jurei nunca mais escrever sobre o amor, mas eu ainda tenho em mente uma escrita geniosa sobre um romance. Eu escreverei um belo romance, um dia. Um dia eu estragarei a minha vida, mas escreverei um romance por amor. E amarei cada palavra escrita naquele romance. E amarei ter escrito por amor em cada noite de insônia que vem me visitar. Por amor, pelo amor e para o amor. Eu escreverei por noites e mais noites algo sobre um romance e terminarei, mas entrarei em coma. Acordarei com um velho me dizendo que eu deveria amar de novo. Acordarei com um velho me dizendo que eu posso ser melhor que isso e que tenho o direito em amar de novo. Sinto falta de me apaixonar, joguei o meu amor fora e o velho me dirá tudo o que devo fazer. 

E quem é esse velho? Fácil de responder também: Aquela velha lembrança boa que eu tinha do amor.

Eu já amei e sorri. Eu já amei e fui feliz. Eu já amei e fui amado. Eu já amei e fui estraçalhado. Eu já amei e me jogaram fora. Eu já amei e chorei. Eu já amei e fui infeliz. Eu já amei e morri.

Eu já amei e morri. Por isso eu não amo mais. O amor me matou, mas antes eu o assassinei. Que alguém me prenda por isso, mas morrerei com orgulho no peito. Antes ser preso com orgulho no peito do que ser preso com amor ou pelo o amor. 

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